sexta-feira, 16 de julho de 2010

ONDE FORAM PARAR OS RECURSOS DOS ROYALTIES???

Municípios que mais ganham indenização pela exploração de petróleo amargam mau resultado na avaliação do MEC. Já cidades que recebem menos se destacam

POR CELSO OLIVEIRA

Rio - O dinheiro que jorra dos poços e cai nos cofres das 12 cidades fluminenses com maior receita dos royalties do petróleo não foi suficiente para ajudá-las no investimento em Educação. Quase todas tiveram notas baixas no Ideb, divulgado semana passada pelo MEC. Apenas Rio das Ostras ficou acima da média estadual nos dois ciclos do Ensino Fundamental. Em contrapartida, as 12 cidades com menos recursos do setor petroleiro deram aula de qualidade no Ensino Básico, superando as metas. Já no Ensino Médio, o estado todo teve desempenho pífio.


Edjane, 24 anos, estudou a vida toda na rede pública e sentiu dificuldades, mas vai se formar em Pedagogia | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia


Encabeçando a lista de municípios com maior participação dos royalties, com crédito neste ano de R$ 248,4 milhões, Campos tirou nota 3,3 no primeiro (de 1º a 5º ano) e 3,1 no segundo segmento (6º a 9º) — a escala do Ideb vai de 0 a 10 e as médias estaduais foram 4,7 e 3,8. Há dois anos, na segunda avaliação do Ideb, a maior produtora de petróleo do País já tivera desempenho ruim, com média 2,9, a menor entre as cidades mais ricas da região.

A secretária de Educação de Campos, Joilza Rangel, culpa as administrações anteriores pelo desempenho das escolas municipais e cita também as enchentes do ano passado, que comprometeram a estrutura de todas as 240 unidades.

“Estamos com pouco tempo de governo para recuperar uma rede que foi completamente abandonada. E o dinheiro dos royalties está sendo bem aplicado, sim, tanto que 169 escolas já estão concluindo suas reformas”, afirmou.



Macaé, que levou R$ 178,5 milhões de royalties, só conseguiu ultrapassar a média estadual no primeiro ciclo, com nota 5,0, mas tirou 3,7 no outro segmento. Marilena Garcia, secretária de Educação, reclama da evasão escolar. “Numa cidade com grande fluxo de alunos de outros estados, vindos com os pais em busca de emprego, sua curta permanência afeta nosso desempenho”, alegou.

Proposta pedagógica ruim só piora falta de recursos

Para a professora e ex-secretária municipal de Educação do Rio Regina de Assis, a falta ou aplicação incorreta de recursos não são a única razão da derrapada de alguns municípios na avaliação do MEC. “Há muito tempo o ensino no estado sofre sem proposta pedagógica consistente e capacitação de professores”, afirma.

“Essa situação só vai melhorar quando os secretários municipais forem profissionais do ramo e não só administradores. É preciso investir em carreira e salário, na infraestrutura das escolas e sua gestão”, sugere.

Ensino Médio herda erros de gestão

As escolas de Ensino Médio do Rio também obtiveram nota vermelha no Ideb 2009. O índice 2,8 foi o segundo pior do país, atrás só do Piauí. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o resultado foi reflexo do longo tempo de carência de professores e da aprovação automática, já extinta.

Prestes a se formar em Pedagogia na Uerj, Edjane Silva, 24, sempre estudou em escola pública, mas venceu as barreiras em nome do sonho da profissão. Filha de retirantes nordestinos muito pobres, passou por duas escolas municipais e uma estadual em Santa Cruz, sem conseguir base para o vestibular. “O ensino sempre foi ruim. Se não fosse o pré-vestibular comunitário que fiz e a perseverança, não teria conseguido”, conta.

Na contramão, Aperibé faz o dever de casa

Distante 262 quilômetros da capital, com pouco mais de 8 mil habitantes, a pequena Aperibé, no Noroeste Fluminense, mostrou que com pouca verba também é possível fazer bem a lição de casa. O município foi o único com média acima de 6 no Ideb, antecipando em 12 anos a meta que o MEC previu para 2022.

As escolas de lá tiraram 6,1 e 4,2 no primeiro e segundo ciclo. Tudo isso com apenas R$ 1,8 milhão dos royalties.

“A excelência dos nossos professores é a principal responsável por esse resultado, construído ao longo de muitos anos. Se o profissional é dedicado, ele dá aula até debaixo de uma árvore”, acredita a secretária de Educação da cidade, Cássia Rosane Amim Pontes.

(...)

FONTE: O DIA

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