sábado, 31 de dezembro de 2011

Analfabetismo entre jovens em favelas é o dobro que em áreas urbanas regulares

- O dado faz parte do levantamento Aglomerados Subnormais – Primeiros Resultados, baseado em informações do Censo Demográfico 2010, divulgado ontem (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estudo revela que a situação mais grave é encontrada em Alagoas, onde 26,7% das pessoas que moram em assentamentos irregulares são analfabetas. Em seguida, aparecem a Paraíba (21,3%) e o Rio Grande do Norte (16,3%).
A taxa de analfabetismo no Brasil é 9,6%.
Ainda de acordo com o levantamento, mais da metade dos moradores de aglomerados subnormais (55,5%) são pessoas pardas, seguidas de brancas (30,6%) e de pretas (12,9%).
A maior parte da população (34%) dessas comunidades tem rendimento mensal na faixa que vai de mais de meio salário mínimo até um salário mínimo. Apenas 4,6% ganham mais de dois salários mínimos. Entre a população que vive nas áreas urbanas regulares em municípios com ocorrência de favelas, 26% têm rendimentos que vão de mais de meio salário mínimo até um salário mínimo, e 27,1% ganham mais do que dois salários mínimos.
O levantamento aponta também que a população das favelas é, em média, mais jovem do que a de áreas de ocupação regular nas cidades com comunidades carentes. Enquanto nos aglomerados subnormais a idade média dos moradores é 27,9, nessas outras regiões urbanas é 32,7.

Fonte:Diário Liberdade

Balanço do ano velho e perspectivas para 2012

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Brasil

Adital

O ano termina e, mais uma vez, temos o sentimento de dever cumprido por todas as nossas lutas, atividades e alianças que conseguimos construir e aprofundar com diversos setores da classe trabalhadora. Em mais um ano muito duro, tivemos que travar grandes lutas contra o latifúndio do agronegócio, que continua a sua ofensiva sobre as nossas terras, recursos naturais e investimentos públicos.
O agronegócio, que é formado pela aliança dos fazendeiros capitalistas com empresas transnacionais e o capital financeiro, controla a nossa agricultura e tenta aprofundar a sua dominação, lançando mão de iniciativas em várias frentes.
Uma das prioridades do agronegócio foi a flexibilização do Código Florestal. A legislação ambiental brasileira, que é avançada no sentido da preservação do meio ambiente, da produção sustentável e da geração de renda, é uma barreira para o avanço do capital na agricultura. Os conceitos de Reserva Legal e as Áreas de Preservação Permanente são obstáculos para que as empresas transnacionais avancem sobre as nossas terras para implementar a produção de monoculturas para a exportação, baseada na expulsão das famílias do campo e na utilização sem limites de agrotóxicos.

O projeto do senador Luiz Henrique, aprovado no Senado Federal, herdeiro do texto do deputado federal Aldo Rebelo, anistia os fazendeiros que desmataram e desobriga a recomposição de grande parte dessas áreas, cria a possibilidade de que, por meio de uma auto-declaração, qualquer um seja desobrigado de recuperar a área de Reserva Legal e não tem mecanismos para impedir mais desmatamentos.
Fizemos parte de uma grande articulação, que reúne os movimentos do campo, a agricultura familiar, o movimento sindical, as entidades de defesa do meio ambiente, cientistas, artistas e setores da Igreja Católica, das entidades de advogados e do Poder Judiciário para enfrentar o ofensiva do capital na agricultura e seus representantes, a bancada ruralista. No entanto, não tivemos força para tirar esse projeto da pauta e pressionar para que o governo tivesse uma posição firme para cumprir os compromissos de campanha da presidenta Dilma Rousseff.
Está prevista a votação do projeto na Câmara dos Deputados para o começo de março. Nesse período, temos a tarefa de fazer uma grande jornada de lutas, com a participação de todos os setores articulados na defesa das florestas, para impedir a aprovação do texto e pressionar para que a presidenta vete as mudanças que criem condições para ampliar o desmatamento e a controle do capital sobre a nossa agricultura.
Agrotóxicos
A sociedade brasileira está a cada dia mais atenta com os problemas causados com a má alimentação e problemas na saúde, especialmente com a contaminação pelos agrotóxicos. Os venenos são um dos eixos de sustentação do modelo de produção do agronegócio, como o latifúndio, a monocultura e a expulsão das famílias campo, para uma produção voltada para o exterior.
O Brasil ocupa desde 2008 o primeiro lugar no ranking mundial da utilização de agrotóxicos. Mais de 1 bilhão de litros são jogados nas lavouras. Em 2010, foi construída a campanha nacional contra os agrotóxicos, com a participação de entidades importantes como o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a Fiocruz e a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Especialistas têm apontado a relação dos agrotóxicos com o câncer. Nos próximos dois anos, mais de 1 milhão de brasileiros receberão o diagnóstico de câncer, de acordo com o Inca. Apenas 60% dos afetados conseguirão se recuperar. As contradições causadas na saúde de toda a população pelo uso sem limites de agrotóxicos levará a sociedade a questionar o modelo do agronegócio, que além de impor a concentração das terras, a devastação do meio ambiente e a expulsão das famílias do campo, contamina o organismo de toda a população.
Reforma Agrária
A ofensiva das forças do capital e a falta de iniciativa política do governo federal fizeram de 2011 mais um ano ruim para a Reforma Agrária. Apenas 35 áreas foram transformadas em assentamentos, beneficiando apenas 6 mil famílias. Os números correspondem a 20% do que o ex-presidente Lula realizou em seu primeiro ano de mandato, quando 135 assentamentos foram criados, assentando 9.195 famílias.
Ao mesmo tempo, 90 processos de desapropriação de terras amarelam nas mesas da Casa Civil e da Presidência da República. Para que estes processos, tecnicamente concluídos, transformem-se em assentamentos basta a assinatura da presidenta Dilma.
Durante todo o ano, realizamos mobilizações para denunciar a lentidão da Reforma Agrária, a inoperância do Incra e os crimes do agronegócio. No mês de abril, foram mais de 70 ocupações de latifúndios, além de marchas e acampamentos em 19 estados. Em agosto, os movimentos organizados pela a Via Campesina realizaram um acampamento com 4 mil trabalhadores rurais em Brasília, somado a mobilização de 50 mil agricultores em 20 estados. Essa jornada arrancou compromissos importantes do governo federal, que ainda não saíra do papel, e conquistou a suplementação de R$ 400 milhões para o orçamento da obtenção de terras.
Perspectivas
Com o avanço do capital na agricultura, a realização da Reforma Agrária depende tanto da luta dos trabalhadores rurais, com as nossas ocupações, marchas e protestos, como também de uma grande mobilização da sociedade brasileira por reformas estruturais, que serão impulsionadas a partir da organização e luta do povo brasileiro em torno de um projeto popular para o Brasil.
Por isso, temos acompanhado com bons olhos o aumento da quantidade de greves e mobilizações de diversas categorias por aumento de salários e melhores condições de trabalho, assim como os protestos dos estudantes nas universidades públicas.
As grandes empresas têm lucrado muito no último período, com o crescimento da economia, o que cria melhores condições de luta para os trabalhadores. Embora essas greves tenham na sua maioria um caráter economicista, demonstram que a classe trabalhadora está em movimento, abrindo um horizonte para intensificar as lutas e criando perspectivas de um debate político com a sociedade brasileira sobre a necessidade de transformações profundas no nosso país.
As políticas implementadas pelo governo desde 2003 conseguiram melhorar as condições de vida da população, mas não foram realizadas mudanças estruturais que transformassem o nosso país. Para enfrentar essas questões, as organizações da classe trabalhadora têm construído um programa político, tendo como pontos principais a redução da jornada de trabalho para 40 horas sem redução salarial, medidas para garantir melhores condições de trabalho e menor rotatividade, a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para educação, a realização da Reforma Agrária e a proibição de agrotóxicos, uma Reforma Urbana que garanta moradia, reorganização do sistema de transporte e melhores condições de vida nas grandes metrópoles, uma Reforma Tributária Progressiva para taxar aqueles que concentram a renda, a riqueza e o lucro e a democratização dos meios de comunicação de massa.
O desafio é construir a partir das lutas de todos os setores que defendem essas bandeiras um grande movimento de massas, que tenha organização e força para enfrentar a ofensiva do capital e garantir conquistas para o povo brasileiro. No próximo período, vamos participar dessas lutas e cobrar esses compromissos assumidos pelo governo, com muitas lutas, ocupações, marchas e mobilizações. Temos também a tarefa de avançar na organização dos nossos assentamentos para serem referência de produção de alimentos de qualidade e sem venenos para a população brasileira, organizar os pobres em novos acampamentos e ocupações e realizar alianças ainda mais fortes com a classe trabalhadora em todos os espaços. Os compromissos assumidos só se converterão em conquistas concretas com pressão social e unidade no programa e na luta com outros setores da classe trabalhadora.
Se o lema desse governo é "País rico é país sem pobreza”, temos que abrir os olhos da população brasileira que o modelo de desenvolvimento do agronegócio, baseado no latifúndio, na exportação, na exclusão social, no envenenamento da natureza e na destruição das florestas não poderá acabar com a pobreza no campo, pois é a própria raiz da pobreza. Com nossos lutas e campanhas, vamos avançar nas conquistas e a sociedade compreenderá que combater a pobreza no campo é fazer a Reforma Agrária. O ano novo será feliz com a força e mobilização do povo.
Secretaria Nacional do MST.

Fonte: Boas Festas! Veja cartão de final de ano do MST

Governo Colombo repassa gestão de escola pública a iniciativa privada!

Santa Catarina

Os ataques a educação publica catarinense seguem se aprofundando no estado. Após os ataques aos direitos dos trabalhadores em educação, da aceleração do processo de municipalização da educação fundamental, da terceirização dos serviços de limpeza e manutenção das escolas, agora Colombo abre uma nova ofensiva contra a escola pública. Repassa para a Rede Marista, a Escola de Educação Básica Lúcia do Livramento Mayvorne, do Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. Abrindo assim um precedente perigoso de privatização das escolas públicas em Santa Catarina. Abaixo seguem um relato da jornalista Elaine Tavares e a nota oficial da Secretária de Educação sobre o “convênio”.

GOVERNO CATARINENSE FECHA ESCOLAS EM FLORIANÓPOLIS

Uda Gonzaga tem 73 anos e sempre foi educadora. Formou-se no ano de 1963 e logo iniciou o trabalho de ensinar a criançada na sua comunidade, o Mont Serrat, no maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. As poucas famílias que então lá viviam construíram, elas mesmas, duas pequenas salas, onde a gurizada aprendia as primeiras letras. O tempo passou, a comunidade cresceu e o governo acabou construindo mais duas salas na área da caixa d´água. Mais famílias chegaram e foi preciso alugar três casas para transformá-las em escola, até que as aulas passaram a ser dentro da Copa Lord, a escola de samba da comunidade. De novo as famílias se mobilizaram e o governo alugou outras casas, maiores, para abrigar os alunos. “Tudo sempre foi na luta, tudo sempre teve de ser arrancado”, diz Uda.
Mais tarde, a escola foi para a creche, que era um espaço maior, e logo em seguida para o terreno em frente à igreja. Havia aulas da primeira a quarta série e eram mais de 500 alunos, tudo registrado nos livros da escola. Foi só em 1978 que se construiu o prédio da que hoje é a Escola Lúcia do Livramento Mayvorne e ali as demais crianças do morro aprenderam a ler e escrever, sempre perto de casa e com o acompanhamento das famílias. São 49 anos de história e de muita batalha para que esse direito pudesse ser vivido.
Pois neste dia 20 de dezembro, alguns dias antes do Natal, o governo do Estado, comandado por Raimundo Colombo (PSD, ex-DEM), desativa a escola (com mais de 200 alunos) e repassa o prédio para uma congregação religiosa, a dos Maristas. A comunidade do Mont Serrat está chocada. Ninguém jamais poderia esperar algo assim. “A notícia chegou no dia 24 de novembro. O diretor estava na escola e recebeu um telefonema dizendo assim: já tens lugar para ficar? E ele ficou sem saber o que dizer. Não sabia de nada. Ninguém sequer avisou, ninguém veio falar com os professores, com os alunos, com a comunidade. Foi um choque”, conta dona Uda.
“Tiraram o nosso chão” diz a mais conhecida professora da comunidade. Ela já perdeu a conta de quantas vezes desceu o morro atrás das autoridades para que o Mont Serrat pudesse educar seus filhos. E toda a gente sabe que essa não é uma comunidade qualquer. É a mais tradicional de toda a ilha, berço do samba, espaço de incontáveis lutas. “Não é justo o governo fazer isso com a educação, leiloar, fazer um quem dá mais. Nós seguramos essa escola essas décadas todas, sem ajuda, sem apoio. E agora, eles entregam para a iniciativa privada. Quem não gostaria de ganhar um prédio daqueles? Estamos muito tristes. No próximo ano a escola completaria 50 anos. Não há palavras para descrever a dor”.
Mas não foi só no morroA dor da dona Uda não é solitária na cidade. Desde o ano de 2007, o governo estadual fechou mais quatro escolas. A primeira foi a Antonieta de Barros, no centro da cidade, que tinha problemas estruturais, não foi consertada e jamais se devolveu à cidade, virou um almoxarifado da secretaria de educação. Abrigava mais de 252 alunos, a maioria oriunda dos morros da capital. Depois foi a Silveira de Souza, fundada em 1913, a segunda escola pública do estado de Santa Catarina, que funcionava num prédio belíssimo no centro. Ela foi municipalizada em 2009 sob a alegação de que tinha poucos alunos (224) e entregue à prefeitura que fez parceria com a iniciativa privada e transformou o lugar em espaço cultural. Em seguida fechou a Celso Ramos, no pé do Morro do Mocotó, outra comunidade tradicional da ilha. O prédio seria doado para a Assembleia Legislativa e só acabou se transformando em creche porque a comunidade empreendeu uma luta gigantesca para isso. E depois atacou a não menos tradicional comunidade da Coloninha, na área continental, fechando a história escola Otília Cruz, com o projeto de construir ali uma cadeia. E agora, isso, mais uma cartada, entregando a escola do Mont Serrat para os padres maristas.
Todos esses fatos não aconteceram sem luta. Entre os professores que levaram uma greve histórica esse ano, essa era uma denúncia recorrente, e a reabertura das escolas pauta de reivindicação. Mesmo assim, o governo permaneceu surdo. Os argumentos usados pelo governador são os mais absurdos possíveis. Segundo ele, as escolas foram fechadas porque havia muita evasão. Ora, mas por que acontece a evasão nas escolas das periferias? Qual estudo foi empreendido pelo estado para saber por que os jovens empobrecidos deixam a escola? Por que a secretaria de educação não realizou uma campanha de matrículas? Por que não foi conversar com os pais, com a comunidade? Não. Em vez de se preocupar em trazer de volta para a escola os jovens que evadem prefere fechá-las. Ou ainda melhor, entrega-las para as mãos privadas, repassando assim, sem maiores custos um patrimônio histórico, muitas vezes construído com as mãos, o sangue e o suor da comunidade.
O mais incrível nessa história de terror da educação catarinense é que o mesmo governo aprovou na Assembleia Legislativa uma verba de 360 milhões de reais para uso em propaganda em 2012. Isso significa o gasto de um milhão por dia para falar das belezas do governo, enquanto para a educação não há recursos. Também se sabe que dos 7% do PIB que deveriam ser investidos na educação, apenas 2,9% recebem esse destino, conforme lembra a dirigente do Sindicato dos Professores – regional de Florianópolis – Rosane de Souza. Segundo ela, o governo provocou a precarização das escolas e agora entrega aos privados, sem se importar com a juventude que fica ao deus dará. Ela acredita que a proposta de municipalização das escolas básicas deve piorar ainda mais a situação nas comunidades empobrecidas. “Se hoje apenas 18% das crianças da educação infantil são atendidas pelo município, e isso é um dado nacional, do IBGE, como vamos acreditar que o município vai dar conta da escola básica? Sabe-se que nas comunidades de baixa renda esse número cai ainda mais, fica em 11%. Então, qual será o futuro da educação”? Alguém tem alguma dúvida?
Segundo Rosane o fechamento da escola do Mont Serrat é mais um golpe na população catarinense. E mais ainda, um tremendo golpe nos professores. Imaginem um professor que atua há 20 anos numa escola, como é o caso de alguns na do Mont Serrat, ser, de repente enviado para outra escola, sem qualquer conversa, sem diálogo, sem preparação? “Todos os efetivos serão distribuídos pela rede e os contratados em caráter temporário, demitidos. E assim vai agindo o governo. Primeiro ele abandona as escolas, depois deixa às baratas e por fim, entrega para a inciativa privada”. Nessa lógica, que se danem os professores e que se danem as crianças.
Mas, o Sinte, sindicato dos professores, promete que essa não é uma guerra perdida. A luta vai continuar. Nesse final de ano a categoria ainda segue lambendo as feridas de uma longa greve travada para que o governador cumprisse a lei e pagasse o piso nacional. O movimento durou dois meses, foi desgastante e terminou sem maiores vitórias. Mas, com a retomada do ano letivo as privatizações de escolas estarão na pauta de luta. “Não estamos vencidos. Se o governo tem dinheiro para aplicar em propaganda e para financiar escolas privadas, haverá de ter dinheiro para recuperar as escolas e voltar a atender as comunidades que agora estão arrasadas com os fechamentos”.
Esse também é o sentimento das famílias do Mont Serrat, a quem está tocando agora esse momento de estupor. “Estamos no chão”, repete dona Uda. Mas, talvez, seja hora de levantar e lutar. A história da escola Lúcia do Livramento Mayvorne, que completaria 50 anos em 2012, não é coisa para ser derrubada assim, numa canetada. Ela é fruto da caminhada de toda uma comunidade e precisa ser respeitada.
Também é hora de a sociedade catarinense saber o que se passa, já que esses fechamentos saem na imprensa como drops informativos, sem contexto, sem histórias, sem humanidade. E assumir essa luta junto com as comunidades. Juventude precisa de educação, e educação de qualidade. Deixá-los fugir da escola, sem saber o que se passa, sem compreender esse movimento de evasão, fechando as escolas, é quase criminoso.

Fonte: http://pcbsc.wordpress.com/2011/12/29/governo-colombo-repassa-gestao-de-escola-publica-a-iniciativa-privada/

Mais de 3 mil palestinos presos pelas forças de ocupação em 2011

Um relatório publicado na segunda-feira revelou que mais de 3 mil palestinos foram presos pelas forças de ocupação militar de Israel em 2011. De acordo com a agência de notícias Ma’an, Abdul Nasser Ferwaneh, um pesquisador sobre questões relacionadas a prisioneiros, afirmou que a média de prisões em 2011 foi de 276 pessoas por mês, ou cerca de nove por dia. Um total de 3.312 palestinos foram presos por autoridades israelenses em 2011, 113 dos quais haviam sido libertos nas negociações de outubro entre o Hamas e Israel.
Os detidos representam uma seção transversal da sociedade palestina, disse Ferwaneh. O número de prisões anual diminuiu, acrescentou o pesquisador, comentando que em 2007 um total de 7.612 pessoas foram presas pelas forças militares israelenses.
A associação Addameer de direitos dos presos, baseada em Ramallah, disse no início de dezembro que Israel prendeu quase o mesmo número de palestinos que havia soltado no primeiro estágio das negociações de trocas de prisioneiros. Forças israelenses prenderam quase 470 palestinos desde 18 de outubro, quando soltaram 477 prisioneiros das cadeias israelenses em troca de Gilad Shalit, soldado israelense capturado, afirmou o grupo Addamer, de Ramallah.
"Esta onda de prisões revela que a negociação por troca de prisioneiros não deteve a política israelense de prisão dos palestinos; na verdade, as prisões israelenses estão sendo recarregadas com quase o mesmo número de palestinos que foram soltos em outubro,” disse a associação de presos. Palestinos são rotineiramente presos por forças de Israel, com alguns sendo interrogados por horas e outros são detidos por meses ou anos.
Existem atualmente 283 presos administrativos que estão sendo detidos sem acusação em prisões israelenses, em uma prática começou sob o mandato britânico. Um total de 4.937 palestinos estão atualmente detidos por Israel, segundo os últimos dados recolhidos pela Addameer.
Desde 1967, Israel prendeu mais de 750.000 palestinos, incluindo mulheres e crianças, disse a Autoridade Nacional Palestina. Cerca de 40% dos homens palestinos que habitam os territórios ocupados foram presos por Israel em algum momento de suas vidas.

http://www.maki.org.il/en/political/133-news/11285-study-over-3000-palestinians-arrested-by-occupation-forces-in-2011

AO POVO COLOMBIANO

SECRETARIADO DO ESTADO MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP

Em decorrência do ano novo, nós das FARC-EP queremos convidar o povo colombiano a um momento de reflexão sobre o futuro de nossa pátria. Nada nos importa mais que a sorte de nossos filhos e o bem-estar das novas gerações. Coincidentemente, as coisas no país em nada se assemelham às festas de fim de ano. Os reis magos não vêm saudar a boa ventura carregados de tesouros. No entanto, chegam avarentos e levam consigo toda a riqueza encontrada pelo caminho.
Além disso, são escoltados por gigantescos aparatos militares de repressão e de esmagamento. São defendidos por uma casta política antipatriótica, corrupta e entreguista que só pensa em seu bolso. Apresentam-se cheios de soberba porque contam a seu favor com o poderoso aparato midiático de propaganda e publicidade, que representam os monopólios informativos com seus jornalistas e articulistas assalariados.
O louvor à recuperação da economia
Quando a burguesia colombiana celebra seus índices recentes de crescimento econômico, juntamente com os que querem fazer acreditar que rios de leite e mel correm caudalosos por toda nação, oculta dos colombianos que as toneladas de carvão, gás e petróleo que empurram o produto interno bruto, representam o maior saque que já realizado neste solo. As poderosas companhias transnacionais aliadas à oligarquia colombiana são suas únicas beneficiárias.
O crescimento do investimento na agricultura não significa uma recuperação para a economia campesina e nem um alívio para o campesinato violentado, mas sim a ampliação da agroindústria dos biocombustíveis de propriedade dos grandes monopólios. Até a tradicional classe pecuária sofre o embate dos tratados de livre comércio que obscurecem o seu futuro. Muito se fala de arrancar do fundo da terra o ouro, a prata, a platina, o cobalto e o urânio, entre outros minerais, porém isso aconteceria por parte de grandes corporações multinacionais, que exigem como requisito prévio a aniquilação da média e pequena mineração artesanal, representada por centenas de milhares de famílias humildes.
O auge extraordinário da infraestrutura e construção anunciado por Santos, não possui outro objetivo que a criação das bases materiais para a operacionalização da espoliação de nossos recursos e o fortalecimento dos tentáculos financeiros nacionais e estrangeiros. Enquanto isso, mais da metade da população colombiana sobrevive graças às tentativas de burlar a ausência total de oportunidades de emprego. Historicamente, tal ausência vem demonstrando que as economias promovidas pelas atividades mineiras não geram bem-estar algum. Os postos de trabalho que criados são precários e submetidos às mais vis formas de exploração. A única contribuição que nos deixarão são os esconderijos.
A iniquidade social do regime
A escandalosa aceleração da injustiça social vem sendo reconhecida, formalmente, com a atribuição do antepenúltimo lugar mundial em matéria de desigualdade social. Isso se reflete na miséria e na pobreza que invadem todos os espaços urbanos e rurais habitados, em contraste com as zonas exclusivas dos bairros e fazendas pertencentes às altas esferas ou às áreas destinadas ao circuito turístico, comercial ou financeiro, com as quais se pretende comparar-nos ao primeiro mundo.
A crise hospitalar generalizada é um produto da privatização da saúde; as graves falências em matéria de educação, originadas no propósito de reduzi-la também a um negócio redondo, que produza ovelhas no lugar de homens e apenas as necessárias máquinas humanas insensíveis e robotizadas para acrescentar lucros aos grandes empresários; o vergonhoso déficit com relação às casas e condições de habitação; a cada vez mais grave situação dos camponeses amedrontados pelo paramilitarismo e pelas hordas de soldados profissionais que ocupam ameaçadoramente extensos territórios e que não vai ser solucionada por leis de terras concebidas para beneficiar aos expropriadores e não aos expropriados, constituem todos os flagelos que demonstram a hipocrisia das classes dominantes da Colômbia.
A cada mês se anuncia aos colombianos, por meio de publicidades, pesquisas de favorecimento do governo, que o preço da gasolina e demais combustíveis aumenta até o ponto de pagarmos o galão mais caro entre os países produtores e não produtores. Vale ressaltar que são extraídos quase um milhão de barris por dia em nosso solo. Por sua parte, os péssimos serviços públicos, somados à crise por conta do inverno e da apatia oficial, agravam aos usuários altíssimas tarifas, particularmente em matéria de água e eletricidade, provocando, por obra do desespero, repetidas ações contra as empresas prestadoras em muitas partes do país.
A verdadeira natureza do conflito
Além disso, o nosso país está em guerra. Esta não é mais que o produto da decisão oficial de dar uma solução violenta, a sangue e fogo, aos graves problemas sociais e políticos que afligem a vida nacional. Cada vez que dizemos isso, nossos inimigos e sua imprensa paga vêm em cima de nós, nos taxando de mascararmos de vítimas inocentes e mansas. Não se trata de nós.
Trata-se dos quatrocentos mil mortos sepultados para sempre na impunidade concertada pela Frente Nacional, dos cinco milhões de desalojados e despojados de suas terras nos últimos trinta anos, dos cinco mil dirigentes, ativistas e simpatizantes da União Patriótica que serviram para aniquilar essa inovadora opção política, de mais de duzentas mil vítimas do paramilitarismo fomentado pelas Forças Armadas, dos milhares e milhares de colombianos desaparecidos, torturados, encarcerados ou desterrados por obra da intolerância demente que fincou raízes na Colômbia, em benefício de um reduzido grupo de latifundiários, capitalistas, mafiosos e empresários estrangeiros.
Trata-se de todas essas vítimas do terrorismo de Estado imposto pela prática da Segurança Nacional, que vem sendo chamada de Segurança ou Prosperidade Democrática. A resistência popular e a heroica luta armada guerrilheira são as mais dignas e altas expressões da rebeldia e da dignidade de um povo que se nega a aceitar docilmente o destino imposto pelos poderes dominantes.
Essa resistência e essa luta vêm sendo palco das mais gigantescas arremetidas militares e de toda ordem, durante quase cinco décadas. E seguem erguidas, combatentes, apesar dos milhares de milhões de dólares fornecidos pelos norte-americanos, de sua grosseira intervenção, de seus recursos tecnológicos, das centenas de milhares de homens treinados para matar sem piedade, de seus devastadores bombardeios, de seus fuzilamentos e desembarques.
É isso o que os desespera de ódio contra nós. O que alimenta suas calúnias e desaforos. Que uma força de camponeses, índios, negros, estudantes e profissionais, mulheres e homens do povo sustente suas verdades e convicções em meio ao todo-poderoso domínio do grande capital transnacional e de seus regimes de morte. É por isso que se negam a considerar a possibilidade de um diálogo sincero de paz. Sabem que aqui não vão encontrar traidores dispostos a vender-se. Por isso, insistem em suas ameaças de extermínio.
O ano que termina e o significado do novo
2011, tal como prognosticamos, foi um ano de grandes jornadas populares. Demolindo a muralha do medo, da dissuasão criminosa do terrorismo de Estado, o povo se levantou contra a política neoliberal, contra a corrupção, contra a entrega da soberania e contra os desaforos do poder.
Com a água no pescoço, os prejudicados pelo inverno questionaram a demagogia e a negligência do governo. Os camponeses bloquearam estradas em repúdio às irresponsáveis fumigações indiscriminadas que arrasaram seus cultivos. Os mineiros artesanais resistiram à entrega da exploração aurífera às transnacionais. Os indígenas marcharam reclamando respeito a seus territórios e a sua identidade. As organizações agrárias exigiram a restituição de terras, o ressarcimento das vítimas do despojo e clamaram pela solução política do conflito. Os caminhoneiros puseram em xeque o governo pelo descumprimento dos acordos que atendem as suas reivindicações. O país inteiro se indignou pelo saque desavergonhado dos recursos da saúde e pelos escandalosos roubos da contratação.
Cresceram a exasperação e a inconformidade pela desconexão dos serviços públicos nos setores populares, porque foram convertidos em negócios privados. Os cortadores de cana se levantaram contra a nova escravidão, o que significa, de fato, a chamada flexibilização trabalhista. Os operários petroleiros enfrentaram a Pacífico Rubiales que, com a cumplicidade do governo, pretende avançar na imposição da precariedade e incerteza laboral. O movimento estudantil, com suas portentosas marchas, conseguiu frear o despropósito de Santos em privatizar a educação. Sem dúvida, o ano que culmina marcou o despertar, a ascensão da luta e da mobilização do povo por seus direitos.
Em 2011 foram assentadas as bases da rebeldia e da dignidade para encarar as decisivas lutas sociais e políticas de 2012. Lutas estas que estremecerão os cimentos do sistema apátrida que está entregando a soberania e as riquezas do país às transnacionais do capital. O TLC e as denominadas locomotoras neoliberais do desenvolvimento, não passarão. Em pé de combate, bem-vindo o ano novo com sua inconformidade e seus desejos de uma Colômbia Nova.
Os caídos na guerra
Ante o sagrado altar da pátria, oferecemos o sangue revolucionário e amoroso do comandante Alfonso Cano, caído em combate, consequentemente, em defesa dos pobres e excluídos, e pela Colômbia Nova de seu sonho. O sacrifício heroico de milhares de guerrilheiros e líderes sociais abatidos pela intransigência atávica do regime pró-ianque é poderosa força que se soma ao desejo popular de justiça e liberdade. O povo unido, insurreto resolutamente contra o sistema que o oprime, triunfará.
Passaram os tempos da manipulação midiática e do engano. Um abraço das montanhas ao povo que, em 6 de dezembro, rechaçou a marcha do ódio e da guerra, impulsionada pelo senhor Juan Manuel Santos. Com nenhum malabarismo podia o presidente evitar sua responsabilidade no resultado trágico. Foi ele quem ordenou o resgate militar dos prisioneiros em Caquetá e foi o Exército que penetrou a sangue e fogo o acampamento, como declarou o sargento Herazo.
As conversações de paz
Nosso povo deseja a paz. A insurgência sempre reclamou a solução política do conflito. Cada vez são mais os que não acreditam no conto mentiroso do Palácio de Nariño, o mesmo que agora apregoa que não houve massacre em Mapiripan. Por isso, a pretendida marcha contra as FARC se diluiu, melancolicamente, muito antes da chuva. Unindo vontades poderemos isolar os beligerantes de Washington e Bogotá. Como dizia o comandante Jacobo Arenas: o destino da Colômbia não pode ser o da guerra. Todos devemos apoiar o primeiro passo para a solução política, representado pela troca de prisioneiro entre as partes envolvidas.
A marcha requerida pela pátria é a grande marcha pela paz e justiça social
Numa eventual mesa de conversações, com um governo que, verdadeiramente, aspire à paz e não a uma rendição nacional, sempre apresentaremos as reivindicações de justiça, de soberania popular, de independência, de adoção de uma doutrina militar bolivariana, de uma nova política econômica, distante dos desiguais postulados neoliberais, de terra para os camponeses, respeito aos direitos indígenas, saúde e educação gratuita, defesa do meio ambiente, reformulação dos contratos leoninos que favorecem às transnacionais, política internacional que privilegie a irmandade de todos os povos, sentimentos todos que fervem no desejo centenário dos diversos setores sociais do país.
Que continue a marcha da pátria para a construção de alternativas que reafirmem a soberania e a justiça. As maiorias mobilizadas não poderão ser detidas por uma minoria que vende a pátria, atravessando os caminhos das mudanças políticas e sociais.
Com esta saudação de ano novo, recordando o compromisso que adquirimos com a senadora Piedad Córdoba e o prestante grupo de mulheres que trabalham pela paz na Colômbia, informamos os nomes de três dos seis prisioneiros de guerra em nosso poder, que serão entregues a elas, tão rápido como se acordem os protocolos necessários. Trata-se dos subtenentes da Polícia Nacional Jorge Trujillo Solarte e Jorge Humberto Romero Romero, além do primeiro-cabo da mesma instituição, José Libardo Forero Carrero. Em breve, anunciaremos a identidade dos outros três. Esperamos que o governo nacional e a cúpula militar não repitam o ocorrido em 26 de novembro passado, em Caquetá.

SECRETARIADO DO ESTADO MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 27 de dezembro de 2011

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Saudação do Partido Comunista Paraguaio

III Pleno do Comitê Central do PCP

O Comitê Central do Partido Comunista Paraguaio saúda os companheiros, companheiras, compatriotas, partidos políticos irmãos, organizações sociais, opinião pública nacional e povos do mundo, desejando-lhes que, durante o ano de 2012, nos encontremos em luta e em permanente mobilização por um mundo melhor, no qual a solidariedade revolucionária seja o grande vínculo que nos uma.

Situação Internacional

O capitalismo criminoso nos obriga a confrontá-lo, eliminá-lo e substituí-lo pelo justo sistema do socialismo.
Cada vez mais se somam elementos científicos que confirmam a multiplicidade da crise econômica, financeira, energética, alimentícia, climática, tecnológica, militar e cultural.
Todas estas crises são parte de uma crise civilizatória, da sociedade burguesa, ante a impotência que sofre o modo de produção capitalista cada vez que tenta resolver os grandes problemas do trabalho, da habitação, da terra, da alimentação, da saúde e da educação em toda amplitude do planeta Terra.
Entendemos que esta crise civilizatória do sistema dominado por uma minoria exploradora e opressora sobre uma maioria trabalhadora, só pode ser superada atacando a principal das contradições: a que existe no monopólio, em poucas mãos, na propriedade dos meios de produção e na apropriação privada e parasitária do dinheiro, além da produção social de bens e serviços, ou seja, a contradição capital-trabalho.
Dito de outro modo: a crise só será superada com a participação de trabalhadores e trabalhadoras tomando o poder político e a direção de todas as empresas, assegurando a propriedade social dos meios de produção e dos lucros, fomentando a unidade, a solidariedade e a justiça. Estamos seguros de que isso é possível, porque vemos esse potencial na humanidade e confiamos profundamente nos homens e nas mulheres de nosso país e do mundo.
Esta situação exige um profundo e humanista chamado à imaginação e à criatividade, com responsabilidade e seriedade, para construir um sistema que supere a criminalidade e a loucura do capitalismo que, dia após dia, oferece mais guerra, mais destruição da natureza, mais fome e mais morte no mundo.
Falamos da exigência, da necessidade de juntarmos homens e mulheres que apostam a vida e acreditam que, com a capacidade científica e tecnológica mais as riquezas naturais existentes, será possível viver melhor, sem fome, com justiça social e com uma verdadeira democracia.
Apelamos a este chamado porque, assim como vemos que o capitalismo está em decadência e que necessita ser superado, também identificamos que a confusão reinante pode nos levar a uma situação de barbárie pós-capitalista, onde a velha frase de Einstein pode se materializar: ele diz que não sabe como será a terceira guerra mundial, porém possui a certeza de que a quarta será com pedras e paus.
Infelizmente, com a demência do imperialismo mundial capitaneado pelos Estados Unidos em cumplicidade com a OTAN, é altamente provável que o planeta Terra não resista ao maltrato químico-nuclear, salvo que somemos forças a um grande movimento mundial pela paz e pelo desarmamento nuclear imperialista, gerando poderosas mobilizações e debates sobre como nós seres humanos queremos viver no planeta.
Existe um processo de aproximação, até agora mais comercial, de um bloco denominado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e, agora, África do Sul). Este bloco aglutina mais de 60% da população mundial e está se desenvolvendo por fora das potências imperiais (EUA, União Europeia e Japão). O resultado dessa aproximação pode ser positivo, inclusive para o Paraguai, tendo em vista o pertencimento e liderança do Brasil na América do Sul.
No entanto, para que BRICS se constitua num bloco que favoreça o progresso dos povos, temos que nos juntar e combinar nossas lutas. Do contrário, este novo bloco não passará de um novo administrador do capitalismo senil e decrépito.
Auspiciosas Perspectivas
No marco das lutas contra a loucura e o belicismo do capitalismo, observamos que a União das Nações Sul-americanas (UNASUR) e a recém-criada Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) podem ser uma colaboração importante para o processo de integração latino-americana e de construção de um bloco autônomo e independente, que pense nos povos e em suas necessidades reais e cotidianas no momento de elaboração de políticas públicas e convênios de cooperação.
Assim, também sabemos que a UNASUR e a CELAC deverão propor, em primeiro lugar, a superação das assimetrias estruturais entre nossos países, com financiamento para construções de infraestrutura, programas educativos e científicos, transmissão de tecnologia e conhecimentos, para avançar efetivamente na unidade e na integração. Está claro que para a realização desta proposta, nós, os povos, devemos priorizar efetivamente a unidade e a integração das lutas, denúncias e propostas populares de libertação e paz com justiça social e igualdade de oportunidades para todas e todos.
Neste contexto, a direita empresarial e política paraguaia, a mais retrógrada e néscia da América Latina, continua condenando nosso país ao isolamento. Assim, de maneira absurda, antepondo seus mesquinhos interesses e as ordens discriminatórias do governo norte-americano contra a Venezuela, impedindo seu ingresso no MERCOSUL e evitando, dilatando o estabelecimento pleno de relações diplomáticas, culturais, comerciais e de amizade com a China e Vietnã. Todos os países do continente americano, inclusive os EUA e o Canadá, mantém relações com os países mencionados.
O povo paraguaio possui o direito de relacionar-se plena e soberanamente com todos os países do mundo.
Nós do povo temos o direito de permanecer lutando por uma sociedade justa e melhor para desfrutarmos plenamente da vida na Terra.
Situação Nacional
A continuidade do processo de mudança implica superação.
Identificamos que o ano de 2011 foi positivo, no que se refere à capacidade das organizações sociais e políticas de retomarem as lutas e mobilizações.
Os festejos do Bicentenário da Independência da Comissão Oficial do Bicentenário deram conta do potencial de nosso povo no momento de se identificar com os genuínos sentimentos emancipacionistas e libertadores.
Durante todo o ano de 2011, as jornadas de lutas e mobilizações foram de vital importância, posto que a construção do poder popular deve se realizar de maneira independente e porque, em particular, o processo paraguaio requer um movimento popular protagonista, responsável e maduro que se exercite com mobilizações, debates, denúncias e propostas. Em síntese: que se prepare para dirigir soberanamente, como povo, toda a Nação.
O Governo vem desenvolvendo uma política contraditória, inconsequente. Por um lado, realizou sua melhor gestão, em termos democráticos, no ano de 2011. Porém, por outro lado, é preciso mencionar que este mesmo Governo foi o mais eficiente em administrar os interesses do capital transnacional e oligárquico. Como demonstração disso, podemos citar o extraordinário crescimento econômico de 2010, relacionado com a concentração de terras, agronegócios, gado, finanças e indústrias em poucas mãos, e uma permanente pobreza e extrema pobreza que não sentiu os benefícios do tal crescimento.
Sabemos que esta contradição se dá pelas limitações do Estado paraguaio. Ele foi desenhado pelo roubo e saque, como também pela falta de experiência dos setores democráticos e populares quanto às tarefas que devem ser priorizadas para desmontar a mencionada estrutura estatal e arraigar os cimentos para um Estado popular e democrático.
Também acreditamos ser de enorme importância que as organizações populares demonstrem, denunciem e ataquem os limites históricos do modo de produção capitalista, que fazem impossível a libertação das potencialidades dos homens e mulheres com a correspondente melhora da qualidade de vida e da eliminação da fome, da pobreza, do analfabetismo, da concentração da terra, do desemprego e da máfia.
É por isso que continuamos defendendo o aprofundamento do processo de mudanças muito além do Governo. Entendemos o Governo como uma parte do processo que não pode e nem soube refletir com muito mais força as enormes riquezas da mudança que permanecem registrando nas cidades, comunidade e bairros ao longo de todo país.
Avanços e Retrocessos
Os avanços se deram, fundamentalmente, no Poder Executivo. Sem dúvida, uma conquista histórica na luta pela soberania energética foi a aprovação das notas reversas do tratado de Itaipu, gerando para nosso país o ingresso de 360 milhões de dólares anuais. Em contraposição, novamente o congresso nacional tenta destituir nosso povo da dita conquista, desviando os citados ingressos financeiros para seus interesses mesquinhos.
Na mesma linha da soberania e defesa do patrimônio público, saudamos a defesa dos aeroportos contra as concessões e privatizações entreguistas, e o início da recuperação da fronteira contra a penetração estrangeira transnacional.
Aplaudimos a reorientação da política exterior e as propostas de integração e de relações multilaterais com soberania e independência, expressas pelo Ministério de Relações Exteriores (RREE).
Identificamos como positiva a proposta de ampliação orçamentária para estender a cobertura social às famílias mais empobrecidas por parte da Secretaria de Ação Social (SAS), proposta abortada pelo congresso nacional.
Não deixamos de reconhecer o posicionamento político firme do Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (INDERT), principalmente no que se refere à recuperação das terras desabitadas, a maior herança da corrupção e saque que existe no Paraguai. Todas as tentativas de resgate destas terras públicas foram boicotadas sistematicamente pela oligarquia.
Mencionamos também o saneamento institucional do Instituto Nacional de Desenvolvimento Indígena (INDI). É muito valiosa a posição do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (SENAVE) em defesa da produção nacional e das sementes nativas. Merece especial distinção o sustento da estratégia da Atenção Primária da Saúde (APS) e, sobretudo, a instalação e o acompanhamento das mais de 700 Unidades de Saúde da Família (USF).
Na política das comunicações, existe mais participação de representantes do movimento democrático e patriótico nos programas da Rádio Nacional, por exemplo, que antes estavam absolutamente vedados aos setores populares e de esquerda.
Valorizamos a criação e a abertura da televisão pública paraguaia, porém consideramos que o governo deve despender maior esforço para que a mesma se consolide e constitua uma ferramenta emancipacionista para nosso povo.
Reconhecemos como positiva a destituição de Rafael Filizzola como ministro do Interior, porém não podemos deixar de expressar nosso repúdio e preocupação pela proximidade dos atuais ministros do Interior e da Defesa com a embaixada norte-americana.
Exigimos uma política soberana e independente na administração de segurança interna e externa, como exercício obrigatório para qualquer gestão que pretenda aprofundar a democracia.
Questionamos duramente a gestão do Ministério de Agricultura e Pecuária (MAG – sigla em espanhol) por priorizar sua política em defesa do modelo agroexportador-pecuário, que concentra terras, lucros e aumenta a deterioração do solo e da saúde de milhares de compatriotas, defendendo o monocultivo extensivo da soja e a utilização de agrotóxicos.
Também identificamos a gestão do Ministério da Indústria e Comércio (MIC) como péssima por não projetar uma política seria de investimentos e de desenvolvimento industrial-comercial, conforme os interesses nacionais e a promoção de empregos. Esta situação fica exposta com a proposta de investimento da transnacional Rio Tinto Alcan, que não se ajusta às necessidades de nosso povo e pode constituir numa subjugação de nossa soberania e num novo grande roubo ao Estado e ao povo paraguaio.
Em síntese, a política econômica de nosso país, cuja responsabilidade administrativa recai, sobretudo, no Ministério da Fazenda, reforça o modelo produtivo vigente que se resume numa grande concentração de riquezas em mãos de poucas pessoas em detrimento de uma maioria explorada e excluída dos processos de produção e consumo de bens e serviços.
Frente Guasu e a diversidade de tendências no campo popular
Como Partido, somos membro fundador da Frente Guasu e, desde seu início, mostramos sua necessidade como força unitária, para que consiga sintetizar programática e organizativamente os milhões de compatriotas que desejam viver em democracia e liberdade. Este desejo obriga à ativa participação popular com o intuito de garantir a comida, o teto, a terra, o trabalho, a saúde e a educação, assim como a efetiva liberdade de associação, opinião, reunião e informação.
Reconhecemos que a Frente Guasu teve importantes avanços em seu processo de institucionalização e se converteu em referência política dentro do cenário nacional.
Acreditamos que a Frente Guasu está obrigada a reforçar estudos e debates sobre a crise civilizatória do capitalismo e da burguesia, atendendo o cenário de guerras a nível mundial e de inumeráveis crises que já se expressam e/ ou, lamentavelmente, se avizinham.
Ressaltamos que a unidade na diversidade é fundamental, porque essa diversidade existe no seio de nosso povo e deve ser expressa por uma força política que pretenda representar as maiorias. Assim, também entendemos que a ação política deve ser desenvolvida, inexoravelmente, no terreno científico. Estamos certos de que qualquer leviandade ou menosprezo à investigação científica e ao planejamento estratégico pode levar-nos a um fracasso esmagador, somando a tudo isso o espectro de forças políticas tradicionais que desenvolvem suas ações com enorme irresponsabilidade e muito distantes da construção de uma pátria verdadeiramente democrática e livre.
Por todo o apresentado, uma vez mais assumimos o compromisso de nos empenhar na Frente Guasu, pela construção de sua estrutura e de seu programa, insistindo na conformação de mecanismos efetivos de participação.
Nossa proposta. Olhando para 2013
A continuidade do processo de mudança implica superação. Para conseguir que nas eleições de 2013 se expresse essa maioria de paraguaios honestos, capazes, trabalhadores, patriotas, democráticos, é necessário o desenvolvimento de um imã de atração democrática, que busque estimular a participação organizada e comprometida dessa grande maioria.
Neste sentido, identificamos a Coordenação para Recuperação de Terras Desabitadas e a Coordenação para Orçamento Social, como os germens desse imã que, ao consolidar-se, assegurará uma vitória do povo e da democracia frente aos grupelhos de ricos e multimilionários que acumulam e seguem acumulando suas fortunas enganando, roubando, realizando tráfico de drogas e todo o tipo de ilegalidade, além de depredar e contaminar nosso meio ambiente e de explorar os trabalhadores e trabalhadoras, deixando de pagar o que justamente os pertencem.
Porque esses antipatriotas sustentam seus negócios sobre a posse ilegal da terra e sobre o manejo do orçamento em defesa de seus mesquinhos interesses, o que demonstra a necessidade dos setores populares em selarem uma grande unidade para o saneamento da Nação.
De fato, toda esta descrição do “modus operandi” da oligarquia local mafiosa se aprofunda na criminalidade e alta traição da pátria quando advertimos que realizam suas operações em cumplicidade com altos interesses estrangeiros do imperialismo mundial e seus amos: os Estados Unidos.
Nós comunistas sempre defendemos a unidade, a organização do povo, o encontro, o intercâmbio são de experiências e o planejamento coletivo de propostas. No ano passado, colocamos a necessidade de estender por todo o país os encontros, as assembleias populares, insistimos em recuperar o espírito do Ñemongueta Guazú para o projeto, a construção e a defesa coletiva e majoritária de um Projeto Democrático Nacional abarcante, que consiga sintetizar os anseios e interesses da maioria daqueles que habitam nosso querido Paraguai.
Propomos para o debate sobre o Projeto Democrático Nacional os seguintes grandes eixos: Soberania Nacional; Reforma Agrária Integral com industrialização sustentável e fortalecimento do emprego digno; Aprofundamento democrático e garantias de participação popular nas decisões de interesse nacional; fim da impunidade aos saqueadores do Estado e batalha campal contra a corrupção; fortalecimento da segurança com a participação cidadã e inclusão produtiva.
Sobre estes eixos, acreditamos ser possível projetar, construir e defender, de maneira coletiva e majoritária, o Projeto Democrático Nacional para o Paraguai do futuro.
Durante o processo de debates e trocas sobre o programa que objetiva dar continuidade ao processo de mudanças pela via da superação, propomos discutir sobre o perfil do candidato a Presidente da República que seja capaz de liderar este grande projeto unitário.
Propomos um 2012 de grande lutas e mobilizações, encontros ao longos do país para debater, refletir, compartilhar experiências produtivas, experiências de organização, experiências que reivindiquem o poder popular e patriótico.
Em definitivo, experiências que assegurem a necessária unidade popular para avançar no caminho da libertação e do socialismo, socialismo em guarani, com chipá, tereré e todas as raízes históricas de luta que teve e continuará tendo nosso povo, porque estamos certos de que assim como no socialismo se assegura o poder nas mãos do povo e a propriedade dos meios de produção nas mãos dos trabalhadores, também estamos convencidos de que socialismo não é um modelo, mas se faz modelo a sua prática.
Pelo cumprimento do Programa de Mudanças votado em 20 de abril de 2008!
Por uma democracia participativa com justiça social!
Pela recuperação de nossa Soberania!
Pela nossa segunda independência e contra a dominação imperialista!
Comitê Central do PCP.
Assunção/ Dezembro/2011.
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

Durban: o clima nas mãos do capitalismo depredador

Por Elisabeth Peredo Beltrán

Já dissemos e repetimos: o clima está nas mãos do “capitalismo selvagem” e de suas instituições. Não se avançou em praticamente nada de positivo para os povos nas negociações do último ano. Não se avançou em compromissos para uma maior redução e, com base nos acordos de Cancún, seguiu-se uma lógica suicida de “compromissos voluntários”, orientados ao desmantelamento do regime do clima e ao fomento de um novo instrumento que substitua o Protocolo de Kyoto, facilitando às grandes economias evitarem suas responsabilidades, em particular aos Estados Unidos.
Os EUA se apoderaram do Banco Mundial e de seu papel no Fundo Verde, abrindo espaço para uma maior privatização, endividamento e condicionalidades. Assim, se avança na afinação dos mecanismos de mercado para o “controle” das emissões, os compromissos não contam com fundos suficientes que respondam à catástrofe, na prática, se enfraquece a situação dos países em desenvolvimento e vamos, vertiginosamente, para temperaturas muito maiores aos 2º C.
Alguns grupos científicos falam, inclusive, de que, neste século, poderíamos superar uma elevação de 4º C em média: uma verdadeira catástrofe.
As decisões que estão sendo tomadas já são tardias. No entanto, promoveriam ao menos uma esperança ao fazerem saber que os Estados são conscientes da magnitude desta crise e de suas responsabilidades. Os governos devem dizer a verdade, explicar a seus povos o que acontece, pois os lamentos e promessas de um futuro não são suficientes. Necessitamos de medidas efetivas e imediatas para parar esta destruição.
Exigimos dos governos que, na COP 17, defendam os princípios da equidade e das responsabilidades históricas das grandes economias para com o mundo, e que os países responsáveis por esta catástrofe não só se comprometam a reduzir substancialmente suas emissões, mas também que deixem de impulsionar um desenvolvimento insustentável no sul, mediante suas empresas, suas políticas e seu afã de salvar o capitalismo de sua crise financeira. O planeta não tem por que pagar o custo da crise produzida por eles mesmos.
Exigimos também do nosso governo que defenda o regime climático, baseando-se nas responsabilidades históricas e diferenciadas entre as grandes economias e os “países em desenvolvimento”, além de atuar com coerência e consciência a nível internacional e local. Pois, se clamamos pelo direito ao desenvolvimento, devemos dizer claramente que o tipo de desenvolvimento que buscamos não é o mesmo que está destruindo o planeta.
Os representantes da Bolívia devem ser coerentes em como colocar na prática aquilo que chamamos de “direitos da Mãe Terra”. Esses temas incluídos nos textos apagados das negociações devem contar com explicações coerentes, refletidas, embasadas no que as realidades locais estão reivindicando.
E há aqueles que arrancam seus cabelos, afirmando que os que mais contaminam hoje são os países emergentes. De fato, para nós, não são nenhum modelo a ser seguido, porém lembramos a enorme dívida histórica que os países desenvolvidos e as grandes economias têm com os países pobres e que são precisamente as grandes transnacionais ocidentais que exacerbam o extrativismo e o desenvolvimentismo.
O argumento das economias emergentes está sendo usado pelos países desenvolvidos, em particular pelos Estados Unidos, para desmantelar o regime multilateral sobre o clima e destruir aqueles princípios expressos na Convenção e no Protocolo de Kyoto e, inclusive, excluir o que foi acordado na Agenda de Bali. Em paralelo, se afilam os sabres para as negociações da OMC que, sob o mandato do G20 na recente reunião em Niza, se constituíram em prioridades a serem concluídas.
São precisamente as profundas assimetrias e as leis do capital, como os sistemas de propriedade intelectual e as regras de investimentos, as que facilitam a estes países situarem-se a anos-luz em tecnologias e matrizes energéticas de baixo carbono. Certamente, tais inovações nem sequer são utilizadas enquanto políticas públicas, permanecendo nas mãos do poder corporativo.
Portanto, é fundamental jogar um olhar sob o poder das corporações, das elites dominantes nos países do sul e dos modelos de desenvolvimento, infraestrutura e energia por elas impulsionados, como no caso da América do Sul, além de sua relação com a crise climática e ambiental.
Faz-se necessário recordar que o próprio Painel Intergovernamental de Mudança Climática (PICC – sigla em espanhol) afirma que nenhuma experiência previa, em termos de infraestrutura, gestão de água, gestão ambiental, os graus de vulnerabilidade promovidos pelas mudanças climáticas que foram apresentados. Isso só comprova que é um antecedente para a magnitude dos desafios com que o futuro se depara.
Sem dúvida, as soluções de fundo virão de nós, que vivemos na própria carne as consequências da depredação ambiental. Como exemplos, podemos citar o ocorrido na Tailândia, na Colômbia, na Austrália, na América do Sul, as secas na África e em todas aquelas regiões golpeadas pela crise climática, ambiental e pela vulnerabilidade que se somou a esta situação o uso da energia nuclear, a construção de infraestruturas agressivas e o incremento dos agro-combustíveis. Somos nós, gente da terra, essa gente que não vai às conferências internacionais, somos nós que enfrentamos e resolvemos as crises e que merecemos uma esperança.
Assim, foi também com a agenda proposta pelo Acordo dos Povos, que sintetiza a coincidência do que reivindicamos em acordos globais baseados na ciência, na equidade e na justiça. Recordemos algumas propostas elaboradas coletivamente:
- Os acordos devem estar dirigidos a limitar o incremento da temperatura no presente século a 1ºC, para reduzir os efeitos da mudança climática.
- É preciso buscar a redução dos gases de efeito estufa em 50%, no que diz respeito ao ano-base de 1990, para o segundo momento do compromisso contido no Protocolo de Kyoto, entre 2013-2017.
- Os países desenvolvidos possuem uma dívida climática com os países pobres, a mãe terra e as futuras gerações e devem honrá-la.
- Os fundos para enfrentar os impactos da mudança climática devem superar, a nível mundial, os orçamentos de defesa, guerra e segurança dos países desenvolvidos.
- Nenhuma instituição de interesse privado, como o Banco Mundial e outras, poderão intervir na gestão dos fundos para o clima que são de interesse público.
- Não se pode submeter a redução de emissões, o desmatamento e a degradação de bosques aos mecanismos de mercado. (Acordo dos Povos, abril de 2010)
A cada ano, os meios de comunicação dizem que desta vez se trata da “última oportunidade para salvar o planeta”. Até as palavras estão começando a se esvaziar em termos de conteúdo.
O que está em jogo em Durban não é a vida, porque esta já foi rifada há muito tempo. Verdadeiramente, o que está em jogo é a possibilidade de encontrar caminhos reais e coerentes para deter a catástrofe e semear a ética e a justiça nas bases de uma sociedade transformada, que supere conscientemente os mecanismos e o aparato da destruição global no dia a dia.
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

FELIZ ANO NOVO!!!

A esquerda revolucionária tunisiana comemora o primeiro aniversário do começo da revolução

No 17 de dezembro de 2010, um jovem tunisiano, Mohamed Bouazizi, vendedor de frutas ambulante, imola-se como ato de protesto radical ante uma situação socio-econômica e política que combinava níveis infames de desigualdade, precariedade e empobrecimento generalizado com uma sistemática e sangrenta repressão por parte dos aparatos de Estado. Com este ato, se iniciava o processo revolucionário tunisiano que conquistou, mediante massivas mobilizações e lutas populares, derrotar o ditador Ben Ali e derrubar vários governos provisórios que pretendiam dar continuidade ao regime anterior.
Nosso povo celebra o primeiro aniversário do início da nossa gloriosa revolução, por cujo cumprimento sacrificaram suas vidas numerosos militantes, regando com seu sangue os sulcos desta terra fértil, abrindo-nos o caminho da liberdade, da dignidade e da justiça. Fiéis, pois, ao sangue de nossos mártires e às aspirações do nosso povo, os partidos políticos abaixo-assinados declaramos:
1 – Nosso rechaço a qualquer tentativa de trair nossa revolução ou interromper seu desenvolvimento político e social.
2 – Nossa oposição frontal a que nossa política nacional siga sendo refém dos círculos imperialistas e reacionários.
3 – Nosso propósito de lutar contra a continuidade ou permanência dos elementos do antigo regime, sobretudo no terreno judicial, policial e informativo.
4 – Nosso repúdio a tudo que atente contra as liberdades coletivas e individuais.
Neste grande aniversário, comprometidos a continuar os esforços para completar os objetivos da revolução, chamamos nosso povo a:
1 – Defender a soberania nacional frente ao imperialismo, o sionismo e as forças reacionárias.
2 – Declarar ilegal qualquer indício de normalização das relações com o inimigo sionista, estabelecendo este princípio na nova constituição.
3 – Garantir a dignidade de todos os cidadãos assegurando seu direito a um trabalho estável, à seguridade de saúde e social.
4 – Estabelecer uma verdadeira justiça, julgar os corruptos e recuperar o capital roubado dentro e fora do país.
5 – Garantir as liberdades públicas e privadas, consagrando o princípio da cidadania e de uma autêntica igualdade entre homens e mulheres.
6 – Trabalhar pelo estabelecimento de um crescimento equilibrado baseado na justa distribuição da riqueza.
7 – Estabelecer uma constituição civil que garanta a liberdade, a justiça e a democracia social.
8 – Apoiar as lutas dos povos árabes contra os regimes ditatoriais, contra a dominação imperialista e sustentar o combate dos povos e nações oprimidos. Para tudo isso é necessário que todas as forças patrióticas, progressistas e civis combativas, tanto partidos como organizações, associações e indivíduos, se unam para afrontar os perigos da tirania que ameaça as instituições do Estado e que se opõe à realização dos objetivos da revolução.
Assinaturas:
Partido Comunista Operário da Tunísia
Movimento dos Patriotas Democráticos (Watad)
Partido do Trabalho Patriótico Democrático
Movimento do Povo
Movimento Unitário e Progressista do Povo
Movimento Baaz
http://askapena.org/?q=es/node/1770

Declaração do Partido Comunista Peruano (PCP) sobre os recentes acontecimentos políticos no Peru

O PCP discorda de que as fortes tensões ocorridas no seio do governo, em relação ao conflito mineiro de Cajamarca, finalmente tenham se resolvido, excluindo valiosos aliados e cedendo em desnecessárias posições frente à direita política e empresarial.
O afastamento de Salomón Lerner Gittis, Presidente do Conselho de Ministros e um dos pilares fundamentais do triunfo eleitoral do Presidente Humala, assim como de vários de seus principais colaboradores, dificulta as posições unitárias e progressistas no seio do governo, além de abrir um perigoso espaço para posições direitistas, autoritárias e repressivas que vem sendo reclamadas pela direita com o intuito de calar os protestos e fazer com que os povos aceitem, como tábula rasa, as políticas depredadoras e abusivas das transnacionais mineiras.
A composição do novo Gabinete, presidido pelo ex-ministro do Interior Oscar Valdés Dancuart, reflete uma maior presença da direita neoliberal em setores-chaves do governo, sobretudo na Economia, Energia e Minas e Trabalho. São essas as mesmas pessoas que colocam sérias dúvidas quanto ao cumprimento dos compromissos de mudança que foram anteriormente iniciados. Recuperar a confiança demanda retomar o diálogo, ao mais alto nível, com os atores sociais e políticos que respaldamos o governo e logo uma mensagem clara e precisa do Presidente da República, assinalando sua posição frente às mudanças ocorridas e, sobretudo, requer medidas concretas que demonstrem nos fatos, que o governo mantém invariáveis seus compromissos com o povo.
Esta situação complexa não nos leva, sem dúvida, a romper, como deseja a direita, o Acordo Político Eleitoral e do Governo, que assinamos junto com a esquerda e o nacionalismo. O PCP se reafirma nas linhas programáticas assinadas e sobre essa base seguiremos atuando na batalha política, ideológica e de massas, frente ao modelo liberal, conscientes de que o processo de mudanças não se dá de maneira linear, mas que está sujeito a avanços e retrocessos, marchas e contramarchas. O importante para nós é perseverar na luta e não esmorecer ante as dificuldades.
Demandamos ao governo a retomada do caminho do diálogo, da união e restabelecimento das relações de entendimento e confiança com o povo trabalhador que só busca justiça e bem-estar para todos e não para uns poucos.
Lima, dezembro de 2011
Pela Comissão Política do PCP
Roberto de la Cruz Huamán
Secretário Geral do PCP
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

Entrevista exclusiva com Joaquín Pérez Becerra, diretor da ANNCOL preso em La Picota

Por Dick Emanuelsson*

Joaquín Pérez, diretor da ANNCOL, uma agência tão odiada que o Estado colombiano é capaz de correr o risco de ser repudiado pelos Estados de Direito do mundo por ter a obsessão dee calar as vozes e a oposição política no exílio. Por isso está sendo processado Joaquín Pérez, refugiado político colombiano, mas cidadão sueco desde o ano 2000. Até agora, nem as autoridades venezuelanas, nem as colombianas, e muito menos as autoridades suecas, mostraram a suposta “Circular Vermelha” da Interpol para sua captura.
Relata como a acusação constrói falsas provas utilizando a Rede de Informantes em Estocolmo, criada por Ernesto Yamhure, diplomata expulso da Suécia e assessor político de Carlos Castaño. A meta é calar a oposição no exterior.
Momento atual de uma injustiça

JOAQUÍN PÉREZ BECERRA, REFUGIADO POLÍTICO colombiano com residência permanente na Suécia desde 1994 - onde foi nacionalizado no ano 2000 - e diretor por 15 anos da Agência de Notícias Nova Colômbia, ANNCOL, foi detido quando chegou em Caracas em 21 de abril deste ano e foi entregue às autoridades colombianas em 25 de abril. Ele conta na seguinte entrevista que, até agora, nenhuma autoridade venezuelana nem colombiana mostraram qualquer Circular Vermelha que justifique sua prisão. Todavia, esse foi o pretexto alegado pelas autoridades venezuelanas para entregar o cidadão sueco ao Estado terrorista da Colômbia. Com isso foi confirmado que Chavez caiu na armadilha de Santos [1].
Os supostos 700 arquivos em formato Office Word “encontrados” no laptop do comandante guerrilheiro Raúl Reyes, morto num bombardeio em 1 e março de 2008, reduziram-se a apenas quatro arquivos. Contudo, estes arquivos já não servem para seu julgamento por decisão da Corte Suprema de Justiça da Colômbia.
Cabe perguntar-se, então, quais são as acusações contra Pérez, que teve que fugir do terrorismo de Estado com o aval e respaldo de seu partido, a União Patriótica e do Partido Comunista Colombiano, organizações políticas na Colômbia vítimas do genocídio político instalado há tantas décadas. Pérez foi conselheiro pela UP, agora a promotoria concentra suas acusações contra ele por ter sido representante da Agência ANNCOL.

Ernesto Yamhure, (à direita), assessor político de Carlos Castaño, é también cúmplice do genocidio ao movimento popular colombiano que a acusação colombiana calcula somar 150.000 assassinados. Todos os jornalistas na Colômbia sabiam que Yamhure estava a serviço das AUC, mas mesmo assim, veículos como Caracol Radio, El Espectador e Radio Super o contrataram como colunista em seus veículos.
TÃO POBRE TEM SIDO A ACUSAÇÃO e as supostas provas contra Pérez, que os agentes do Estado colombiano viajaram a outro ponto do planeta, indo buscar provas no país nórdico. Encontraram um senhor na colônia colombiana, supostamente integrante desta Rede de Informantes chamada por Uribe de “Rede dos 100.000 amigos da Colômbia no Exterior”, fundada e dirigida por Ernesto Yamhure, primeiro secretario da embaixada colombiana em Estocolmo até ter sido desmascarado e também flagrado como espião, tendo que ser retirado do posto por Uribe.
Em setembro passado foi denunciado [2] Yamhure, não apenas por ser assessor político de Castaño [3], mas também por ser ghostwritter de Carlos Castaño, chefe dos Esquadrões da Morte, responsável, segundo a mesma acusação, de ter assassinado mais de 150 mil colombianos civis. A “testemunha chave” que a acusação colombiana encontrou na Suécia é um dos tantos colombianos civis no exterior que se venderam ou que teriam recebido diretamente a tarefa do Estado colombiano de informar sobre a oposição política fora da Colômbia, neste caso, na Suécia.

"LIBERDADE AOS PRESOS POLÍTICOS NA COLÔMBIA", entre eles Mercedes Úsuga, 75 anos e líder comunista na região bananeira de Urabá, mulher e veterana na luta política por toda uma vida. Depois de três anos no presídio Bom Pastor, em Bogotá, foi libertada “sem méritos”. À esquerda, Joaquín Pérez junto com os colombianos refugiados na Suécia que se manifestam no centro de Estocolmo.
FOTO: DICK EMANUELSSON.

JOAQUÍN PÉREZ BECERRA, RESPONDEU a uma série de perguntas escritas que lhe enviamos e ora apresentamos nesta reportagem. Através de suas palavras nos damos conta que temos um entrevistado até o momento indecifrável, sua força é o que permite enfrentar esta situação tão difícil como complexa.
DICK EMANUELSSON: Como foram seus primeiros momentos na ocasião da captura e em que consistem as acusações que recaem sobre você? Temos lido na imprensa colombiana que a agencia de noticias ANNCOL agora está no centro dos questionamentos.
– Depois da legalização da minha captura, imediatamente me enviaram à Prisão Modelo, onde estive desde 25 de abril até 7 de julho. No dia 8, transportaram todo mundo que estava comigo e nos levaram para La Picota. Aqui estou em uma torre de alta segurança que se chama la Gerón, onde convive um amplo espectro de pessoas detidas, dentre as quais narcotraficantes, membros de grupos armados, paramilitares, gente de alta periculosidade, e lá me colocaram.
– Segundo a acusação, a agência Anncol é uma agencia das FARC, coisa que sabemos ser falsa. Eles disseram “então, o sujeito é guerrilheiro” e me puseram, na Modelo em uma outra torre de alta segurança, assim como esta, em La Picota.
– A primeira acusação no momento da prisão foi de formação de quadrilha, agravada pela acusação de financiamento e administração de bens do terrorismo. Registraram que pertenço a uma agencia das FARC e é assim que fazem este tipo de acusações.
DE: Omitiram que a agência Anncol está reconhecida, estabelecida nos países nórdicos, que além disso tem registro nas empresas de internet e que já tem mais de 15 anos de trabalho absolutamente normal nestes países.
– JPB: Não levaram em conta porque durante o governo de Uribe e um pouco antes, mas sobretudo durante este mandato, prepararam uma estratégia para demonizar, satanizar a Anncol, a Radio Café Stereo e a Associação Jaime Pardo Leal. Logo veio a Operação Fénix que matou Raúl Reynes e diz que encontraram os supostos computadores. Tendo em conta esses computadores, tentam justificar, pelos e-mails investigados, que a agência é das FARC, o que não é verdade.

QUANDO PÉREZ FOI DETIDO e levado para a Colômbia, o diario El Tiempo de Colômbia transmitiu e publicou fontes da inteligência militar onde constava que Pérez havia enviado mais de 700 e-mails a Raúl Reyes. Logo baixaram esta considerável cifra a 200 e, mais adiante, liberaram um arquivo de mais de 10 Mb onde figuravam trocas de e-mails entre pessoas dos países latinoamericanos e Reyes.
A última data destes e-mails é de 12 de setembro de 2007. No total aparecem quatro (4) e-mails de Pérez, supostamente enviados a Raúl Reyes.
JPB: – Não sabia sobre o arquivo (de 10 Mb), mas é evidente que a acusação o tem. Na audiencia anterior para indiciamento das acusações eles apresentaram como provas estes supostos 700 e-mails de Raúl Reyes. Mas você debe saber que em uma sentença da Corte Suprema de Justiça, no caso do senador Wilson Borja, a corte declarou que estes documentos encontrados no computador não tinham validade porque se havia violado a cadeia de custódia. A Corte Suprema de Justiça negou as provas encontradas e as invalidou. Não há sentido em continuar falando sobre isso.
DE: Também falaram algo sobre os supostos computadores de Mono Jojoy e Alfonso Cano?
JPB: – Você sabe que o povo colombiano não acredita muito nas atividades nem na seriedade das forças militares. Aos supostos computadores também vincularam o meu nome, mas você sabe, sabendo que as afirmações militares não são claras nem transparentes, esas acusações podem cair muito facilmente.
– Assim é a vida das forças militares na Colômbia: falta transparência, seriedade e credibilidade, porque em um país onde se plantam provas, um país onde se assassina pessoas e as vestem com uniformes guerrilheiros, onde promovem massacres, é um país que não tem muita credibilidade e as coisas podem cair muito facilmente.
– De todo modo a acusação trata de utilizar de tudo contra os lutadores sociais, os comunicadores sociais, como é meu caso, pois são coisas fáceis de se refutar em uma audiência posterior.
DE: O ponto central da promotoria nas acusações contra você considera a Anncol, a Radio Café Stereo e a Associação Jaime Pardo Leal como praticamente um ninho de terroristas no exterior?
JPB: – É mais ou menos o que se pode interpretar. De todas as formas eles seguem com a história dos documentos. Sabemos que não são documentos eletrônicos os encontrados nos computadores de Reynes, onde aparecem e-mails que uma pessoa envia e outra recebe. São documentos Word que ninguém sabe de onde vêm. Por isso é que eles continuam se baseando nestes supostos computadores e nas supostas comunicações para tratar de imputar outra acusações como o financiamento, o terrorismo, coisas que são absolutamente falsas.

ANNCOL não parou um só dia desde que foi preso seu diretor, em 21 de abril de 2011.
A PRÓXIMA AUDIÊNCIA EM JUÍZO contra Joaquín Pérez se realizará em 15-16 de fevereiro do próximo ano, ou seja, dentro de menos de dois meses.
DE: Tenho ouvido que a acusação foi para Estocolmo para obter testemunhos. Falaram com o senhor Miguel Ángel Andolín Estrada, considerado pelo exílio colombiano em Estocolmo como um delator a serviço justamente da rede do senhor Yamhure.
JPB: – Me dá a impressão de que a Corte Suprema considera nulos os supostos documentos Word apreendidos na operação Fénix contra Raúl Reyes. A acusação entende que este procedimento vai fracassar, então começa a se movimentar. Você sabe que no país, desde o governo de Uribe, um pouco antes também, porém sobretudo desde o governo Uribe, se instalou a compra de declarações, a chantagem, as acusações. Tem gente que é paga para acusar, e logicamente assim pareceram ser aqueles que supostamente me conheciam.
– Então aparece um senhor, Miguel Ángel Andolín Estrada, personagem que chegou há alguns anos em Estocolmo e começa a tomar contato com as organizações solidárias que existem na Suécia e a conhecer a Associação Jaime Pardo Leal. Agora aparece como testemunha, não chave, mas testemunha; a acusação lhe pregunta sobre minha vida em 12 de junho deste ano. Ele afirmou uma série de incoerências sobre minha vida em Estocolmo.
– Ele disse que nós pertencíamos à cúpula das FARC, que a Anncol, a Radio Café Stereo, somos uma agência de noticias deles, baseando-se no fato de que, como nas nossas programações não temos propaganda, haveria o argumento de que somos uma agência da FARC.
– Logo este senhor acrescenta que eu era membro da Juventude Comunista Colombiana (JUCO) quando eu nunca fui membro dessa organização nem estive em nenhum evento com eles. O que posso afirmar é que pertenci e continuo tendo muita simpatía pelo Partido Comunista em Bogotá. É ali que me formei e não tenho porque negá-lo. Fui conselheiro pela União Patriótica e pelo PCC antes de ter que sair da Colômbia por conta de ameaças de morte.
– Este senhor Andolín disse que havia se encontrado comigo em Bogotá e que eu lhe havia dito que me integrara às FARC, o que é uma tremenda loucura. Isto foi feito com o objetivo de me envolver, pois é este o desejo da acusação, para não me deixar sair da prisão. Quando viram que a respeito dos computadores de Reyes não teriam sustentação, e assim afirmou muito bem a Corte Suprema, começaram a inventar outras situações.

Uma festa típica e pública na sede da Associação Jaime Pardo Leal, onde muita gente vai para se divertir. As atividades não violam nenhuma lei, nem na Suécia nem em outro país. Foto: Dick E.
DE: Este senhor Andolín Estrada estava ligado à Associação, tinha sido integrante da Anncol, alguma vez participou das transmissões do Café Stereo?
JPB: – Não, pelo que eu saiba este senhor não era membro da Associação Pardo Leal, nem da Anncol, nem da Radio Café Stereo. Este senhor chegou lá (na Suécia) com uma história de que havia trabalhado nas FARC, que depois haveria saído de lá e que partiu, não sei se com ajuda da Cruz Vermelha ou da ACNUR, para Estocolmo, onde lhe deram refúgio. Mas não sei muito, por isso foi uma surpresa para mim. É evidente que a acusação diz “temos que buscar alguém que se ponha a falar sobre Joaquín Pérez a fim de envolvê-lo com estes fatos e evitar que saia às ruas, lugar onde deveria realmente estar”.
DE: Este senhor Andolín Estrada é conhecido na Colômbia nas organizações sociais? Alguma organização colombiana de direitos humanos, a UP ou o PCC deu aval para que se refugiasse no exterior?
JPB: – Não, desconheço, não soube que o conheceriam.
TENDO EM CONTA A DECLARAÇÃO do senhor Andolín Estrada, testemunha da acusação contra Pérez, há de se observá-lo em seu contexto político e no quadro da criação da Rede de Informantes, dos “100.000 amigos da Colômbia no Exterior” criada por Uribe quando assumiu a presidência em agosto de 2002.
Era, sem dúvida, de vital importância tanto para o governo de Andrés Pastrana (1998-2002) como de Uribe (2002-2010), que em Estocolmo existisse tal rede de espiões contra uma colônia de exilados muito bem organizados. Esta colônia tem sua própria organização, intocável para a embaixada colombiana, e que tem feito grandes trabalhos de solidariedade e de informação sobre o genocídio que o Terrorismo de Estado comete na Colômbia.
Pois não é nada estranho que ali se crie esta rede de informantes e que o DAS, Departamento Administrativo de Segurança, a política política de Uribe, enviasse seus agentes para criar a rede na capital sueca. Agora temos uma parte do balanço de como os agentes do DAS e os delatores locais da Rede operaram em diferentes países europeus sob a sombra da “OPERAÇÃO EUROPA”, muito bem relatado pelo jornalista e escritor colombiano Hernando Calvo Ospina [4], um exilado desde os 25 anos em Paris, França. A espionagem foi efetuada tanto na Suécia como na Bélgica, mas também na Espanha [5].
Em 3 de fevereiro de 2008, a embaixada colombiana em Estocolmo organizou uma manifestação contra as FARC na Praça de Sergels Torg. Foi a estréia pública da Rede de Informantes na Suécia. O organizador da rede, homem invisível e já aposentado em 2008, foi o primeiro-secretário, 2004-2005, da embaixada colombiana em Estocolmo, Ernesto Yamhure.

ESTE É UM SINISTRO PERSONAGEM que em 25 de julho foi desmascarado como espião, quando fotografava uma manifestação pacífica e pública no porto de Estocolmo, quando ancorou o navio Gloria da marinha colombiana.
Yamhure foi chamado pela policía de imigração, acusado de espionagem contra refugiados políticos, um delito no país escandinavo. Foram tão grandes as pressões contra o “diplomata” de Uribe nos meios de comunicação suecos, que Uribe se viu obrigado a retirá-lo.

O informe do DAS-G3, ou seja, informe da Rede de Informantes em Estocolmo, certamente enviado por Yamhure a seu chefe Jorge Noguera em Bogotá, no qual se informa sobre a manifestação dos exilados em Estocolmo na chegada do navio Gloria da marinha colombiana. O comunicado é enviado em 8 de agosto de 2005 e consta na página 124 do processo de que foi vítima o jornalista e co fundador da Anncol, Dick Emanuelsson, um dos seis grandes jornalistas na Colômbia que foram vítimas do terrorismo do DAS-G3.
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Mas a história não termina aqui. Em setembro passado também foi desmascarado como “Ghostwritter” do chefe dos paramilitares colombianos, Carlos Castaño. Tanto a Caracol Radio como o jornal El Espectador, e até mesmo o sinistro fascista Fernando Londoño, da Radio Súper, o tiraram de seus quadros como colunista. Não sabemos se a revista mensal do Exército Colombiano também o retirou, porque foi ali que acusou [6] a Anncol, Radio Café Stereo e este repórter, de estar a serviço da guerrilha das FARC, acusação que agora a promotoria repete e legitima em suas ações contra Joaquín Pérez.

Yamhure escreveu quatro páginas na Revista do Exército Nacional onde acusa este repórter, a Anncol, Radio Café Stereo, de serem das FARC. A mesma acusação faz agora a promotoria contra Joaquín Pérez. Que informação vem do assessor de Calos Castaño?
Que comentário teria Pérez sobre o fato de que Yamhure dirigia a rede de informantes e que a Promotoria colombiana chega na capital sueca e recebe imediatamente o relato de um personagem desta rede?
JPB: – Você sabe que a promotoria é o “centro do mundo” em meio às embaixadas. Eu me recordo que os companheiros (em Estocolmo) da Associação Pardo Leal, com os quais tenho contato e com quem falo às vezes, me contam que desenvolvem suas atividades em termos legais, que é uma organização que tem seu número de registro (pessoa jurídica) tal como ali é exigido. Jamais haviam tido qualquer tipo de problemas com as autoridades suecas, nem foram sequer mencionados à polícia para averiguar o que fazemos.
– Logo Uribe, através desta lei imoral que implementou, foi “comprando votos”, dando dinheiro para fabricar acusações não apenas na Colômbia mas também no mundo, por isso têm sido presos tantos lutadores colombianos. E utilizam como ferramenta essa gente sem princípios, sem consciência, que se vende por um peso, por um passaporte, por um visto para os EUA e produzem provas falsas, crimes e assassinatos.
– As provas falsas não se dão apenas no âmbito da luta armada, mas também são úteis para a política, para a justiça, em processo judiciais, como o meu, para inventar acusações e indiciamentos.
As palabras de Joaquín Pérez coincidem ironicamente com as da procuradora-geral da Nação, Viviane Morales, que disse ao jornal El Tiempo de hoje que a Promotoria pedirá a prisão do ex-comissário Luis Carlos Restrepo, por haver criado falsas provas quando criou uma frente guerrilheira fictícia para um posterior show midiático e promove uma guerra psicológica contra a guerrilha das FARC.
Ao ex-comissário couberam quatro acusações: peculato, fraude processual, formação de quadrilha e tráfico e porta de armas. Que credibilidade tem então os regimes de ontem e hoje quando o mesmo Juan Manuel Santos trabalhava para Uribe como Ministro da Defesa?
VOLTANDO AO DEPOIMENTO DA ACUSAÇÃO, para ninguém na colônia colombiana em Estocolmo é um segredo que este senhor tem forte atritos com a Associação porque um ex–presidente da mesma conquistou a mulher da testemunha da acusação. Poderia ser ese também um motivo de suas declarações contra Pérez? – perguntamos.
Você se encontrou alguma vez com ele, em alguma atividade pública na Associação?
JPB: – Eu o encontrei uma vez na escola, quando estudava informática e cooperativismo. Começou a farejar para ver o que fazíamos. Certamente, neste revés contra este ex–companheiro da Associação - porque ele já não está mais lá, ainda que seja um excelente companheiro – se disse que este rapaz conquistou sua mulher e ali surgiu todo o ódio contra toda a organização que agora manifesta publicamente, ainda que não diga, quando vem à organização e se comporta como informante para ganhar beneficios e destruir a Anncol e a Pardo Leal. Nunca o vi na Associação.
DE: Como jornalista da Anncol, alguma vez fez reportagens em alguma zona sob controle guerrilheiro?
JPB: – Não, nunca fiz ese tipo de trabalho, mas a agência tem correios eletrônicos abertos, como El Espectador, como El Tiempo, como qualquer agência de noticias, onde escreve muita gente, onde qualquer um pode mandar comentarios, comunicados, artigos. Essa seria a única relação jornalística que se pode ter com as FARC.
DE: Você nunca pode ter sido visto como um desmobilizado, desertor?
JPB: – É o que se pode pressupor. Como fez a acusação, no caso dos computadores de Reyes, imediatamente depois da sentença da corte, a ver quem poderia dizer que me conheceu. Buscam encontrar qualquer argumento que avalize o que querem que seja dito, seja por meio de desmobilizados, desertores, quem quer que seja, contanto que eu não saia daqui da prisão.
DE: Você sabe que em 15 de julho de 2005, quando o porto de Estocolmo fez uma manifestação contra o Terrorismo na Colômbia, quando da chegada do Navio Gloria, Yamhure fez espionagem contra os manifestantes. Logo teve que ser transferido quando se soube que se fazia de ghostwritter de Carlos Castaño, o que mostrou seus vínculos com o paramilitarismo. É um homem que foi colocado por Uribe neste cargo sem ter carreira diplomática. Que leitura você faz disso?
JPB: – O que ocorre é que o governo de Uribe criou tentáculos no exterior e tanto Anncol como Radio Café Stereo conseguiram muita simpatia na Europa e no mundo, chegando a muitas esferas sociais. Como estávamos com o aval dos governos e não violamos nenhuma normatividade, havia de mandar pessoas para fazer espionagem contra estas organizações, como foi o que ocorreu com Yamhure. Conseguiu juntar informações e mandou para Colômbia – ao governo e à acusação – para marcar o pessoal de Estocolmo e processá-lo. Mas foi desmascarada a raiz da ligação de Yamhure em um prólogo como assessor político de Carlos Castaño, personagem com inúmeros assassinatos coletivos.
– Londoño (Fernando, da Radio Súper) também recebeu a denúncia. Suas atuações como espião (Yamhure) em Estocolmo não tem nenhuma validade jurídica porque foram ilegalmente processadas, sem ter permissão para atuar. Hoje ninguém fala dele.

Julho de 2011, quando os paramilitares, com complascência das autoridades do INPEC assassinaram 30 guerrilheiros desarmados na prisão La Modelo.
Foto: Dick E.
DE: Como você vê a Colômbia do horizonte carcerário? No exterior se fala desse país quando ocorre algum bombardeio a um acampamento guerrilheiro. Ou quando há algum fato especial com os prisioneiros detidos pela guerrilha, como a morte, há pouco tempo, de alguns desses.
JPB: O que posso perceber é que o cárcere é um reflexo da sociedade colombiana. O cárcere é uma pequena maquete do que acontece no país. Aqui você encontra pessoas vinculadas ao narcotráfico, vinculadas aos paramilitares, gente que esteve vinculada com a guerrilha, supostamente com a guerrilha das FARC, do ELN. Todos estes tipos estão aqui. Então é como se tivessem que abrir mais cem presídios a mais para, da ótica do governo, encarcerar todas as pessoas.
– Eu estou vendo, apesar do que dizem, que não só a insurgência armada está inconformada e mobilizada. Há lutas estudantis, lutas sociais, lutas das comunidades indígenas. Gestam-se novas modalidades de luta, as pessoas estão cansadas do que ocorre aqui. As pessoas estão exaustas e o reflexo disso é o que ocorreu na marcha do 6 de dezembro (contra as FARC). Vimos como as pessoas já não acreditam no governo de Santos. Na prisão se percebe perfeitamente esta situação, pode-se fazer análises mais precisas estando fora.

O movimento estudantil colombiano de massas derrotou a Lei 30 e registrou uma vitória importante contra o governo neoliberal de Juan Manuel Santos, para defender a educação e a Universidade pública, direito dos filhos das classes populares.
Os paramilitares falam que estão decepcionados com os governos, se sentem usados e especialmente por Uribe, que os enviou a uma guerra contra o povo. Se sentem traídos. Eles vêem que se, por exemplo, se extradita um homem como Don Berna, que lidava com dinheiro e poder através do Estado e é enviado aos EUA, o que pode esperar um pobre colombiano que foi retirado de um pueblo, da selva, do campo e o mandaram com um fuzil no ombro a assassinar pessoas? Hoje estão aqui esquecidos e entendem que foram ferramenta de Uribe para obrigá-los a matar outros homens tão pobres quanto eles.
DE: A imprensa colombiana tem solicitado entrevistas contigo? Qual foi a resposta?
JPB: – Solicitaram-me, porém eu não tenho aceitado porque não acredito na imprensa colombiana. Não acredito nos jornais, na rádio, na televisão, os jornalistas carecem de objetividade, não são transparentes nem informam da maneira como deveriam. E mais, sabemos como tergiversam as noticias. Se acomodam ao regime, então tudo que lhes disser poderá ser usado contra mim. Não quis falar com nenhum.
DE: A solidariedade mundial na ocasião de sua detenção e entrega a Santos foi incrível, qual é sua mensagem a esta comunidade internacional e ao povo bolivariano?
JPB: – Olha, antes de tudo gostaria de dizer que estou muito triste pelo que ocorreu na Venezuela. Foi um incidente muito desafortunado do governo bolivariano. Eu jamais imaginei que aconteceria e isto eu quero dizer a todos os amigos da solidariedade internacional, que tenho ficado muito decepcionado com a atitude do governo bolivariano a que temos dado tanto apoio e seguimos apoiando. Fico pensativo, confuso, sobre o que possa estar ocorrendo ali. Eu não creio que dando beneficios, prebendas, presentes ao Império através do governo colombiano, vão conseguir impedir qualquer coisa contra o governo Chávez, se o pensam estão equivocados.

Na Austrália manifestam-se pela liberdade de Joaquín Pérez.
– Creio que são concepções que haveria de analizar muito bem, os grupos ou movimentos que apoiam o governo para as próximas eleições, que estão muito complicadas para ele. Deveriam fazer uma análise profunda. O império não tem amigos, tem interesses. Os EUA, através do Caim da América, vai tratar de tragar o petróleo venezuelano, por todos os meios.
– Posso estar errado, mas não sei o que está pensando o governo de Chávez. Não sei se quer agradar o govenro de Santos, creio que foi uma política equivocada porque Anncol apoiou todos os processos, seja na Venezuela Bolivariana, o do Equador, da Bolívia, o de Kirchner, na Argentina.
– Portanto eu convidaría a comunidade internacional a fazer uma reflexão de solidariedade com a América Latina para que observasse detidamente o desenvolvimento do modo como está atuando o governo Chávez. Porque eu não entendo a razão por que eu, sendo jornalista, ao chegar no aeroporto de Maiquetía [Venezuela] logo tenha terminado aqui. Violaram-me todos os direitos, não me deram o tratamento que se dá às outras pessoas.

Em Estocolmo e outra cidades no mundo, o clamor para a liberdade de Joaquín Pérez.
– O governo colombiano, a partir do ministro do interior, senhor Vargas Llera, disse: “O diretor da Anncol tem de ser expulso imediatamente para evitar uma extradição que levaria mais tempo”. Ou seja, me violaram todas as garantias existentes e por existir. Sabemos que existe o objetivo de fechar todos os meios alternativos para que não falem dos massacres, das falsas provas, dos informantes, do que acontece na Colômbia.
– As pessoas sentiram um golpe duro na ocasião da minha prisão, porque sem dúvidas pensaram que, se prenderam o diretor da Anncol, o que pode acontecer com outros jornalistas, comunicadores sociais, solidários com a Colômbia? É por este fato que as pessoas têm de se guiar para impedir que fechem a Anncol e logo as outras agências ou que silenciem os jornalistas.
DE: Você é militante do Partido de Esquerda sueco (Vänsterpartiet) que tem mais de 95 anos de história com representação parlamentar. Este partido se reúne em congresso em janeiro de 2012. Qual é sua mensagem para os delegados, militantes e à Direção Nacional para este congresso?
JPB: – Todo meu apoio, entusiasmo, que não se esqueçam que há um militante preso aqui. Que não se esqueçam que eu, durante toda minha vida na Suécia, tive contato com dirigentes dos partidos e com os jovens. Minhas saudações fervorosas a este congresso. Que sigam sua luta contra o neoliberalismo! Aqui há um militante que necessita de seu apoio contra este governo fascista.
DE: Como tem sido a atuação da embaixada sueca em Bogotá?
JPB: ­– Eles têm vindo, têm me visitado, mas devem saber que preciso de algo mais do que atenção. Eu sou um cidadão sueco, prisioneiro político do terrorismo de Estado, necessito de mais respaldo jurídico. Não nego que venham me visitar, mas necessito que dêem um passo adiante para que eu possa regressar ao meu país, à minha segunda pátria. Sou um prisioneiro de opinião que necessita de um maior suporte. Também devem ajudar os seus cidadãos no exterior.
DE: Alguma vez você viu a Circular Vermelha que supostamente lançou a Interpol?
JPB: – Não, não a vi, ninguém pôde mostrá-la. Também não houve noticia desta circular na Suécia, não tenho nenhuma informação disso. Quando cheguei ao aeroporto de Maiquetía (Caracas), um homem da Guarda Nacional me fez a leitura da detenção. Eu tinha que de conhecer em detalhes o que foi que aconteceu para que me detivessem como fizeram.

ASSIM TERMINAM AS RESPOSTAS ESCRITAS dadas pelo preso político Joaquín Pérez a este repórter, também co-fundador da ANNCOL junto com Pérez.
A busca da acusação e as intenções de encontrar novas “falsas provas” jurídicas neste caso parece que não tem limites: arquivos que não são correios eletrônicos, ou migrantes que por vingança pessoal e ódio contra um ex-integrante da organização dos exilados, ou declarações e informações baseados em boatos arquivados por um assessor político de Carlos Castaño, dificilmente podem ser elementos para condenar um homem que em 1994 saiu da Colômbia para salvar sua vida e que agora se encontra na prisão onde deveriam estar os autores intelectuais e materiais desta guerra suja que a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem considerado ser um “Genocidio Político”.
* Co- fundador da Anncol com Joaquín Pérez
NOTAS
[1] Santos manda factura a Chávez y exige que extradite a colombiano que huyó de la Guerra Sucia en Colombia y que tiene ciudadanía sueca
http://dickema24.blogspot.com/2011/04/no-caigas-en-la-trampa-de-santos-chavez.html
[2] La línea directa entre el jefe paramilitar y el diplomático de Uribe, 31 de agosto de 2011
http://anncolprov.blogspot.com/2011/08/la-linea-directa-entre-el-jefe.html
[3] Ex diplomático Uribista en Estocolmo fue asesor político a Carlos Castaño que pagó por su trabajo. http://www.argenpress.info/2009/05/ex-diplomatico-uribista-en-estocolmo.html Miércoles 20 de mayo de 2009.
[4] Espionaje internacional del gobierno colombiano: La “Operación Europa”, Por Hernando Calvo Ospina. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=104746
[5] El espionaje de Uribe en España y en Colombia contra españoles
http://www.albatv.org/El-espionaje-de-Uribe-en-Espana-y.html
[6] Articulo en la reevista del ejército nacional de colombia, mayo-junio 2010 de cuatro (4) páginas, escrito por Ernesto Yamhure, el asesor político del jefe paramilitar Carlos Castaño.HTTP://ES.SCRIBD.COM/DOC/63701393