terça-feira, 17 de junho de 2014

SOBRE O PERIGO FASCISTA NO BRASIL:


17 JUNHO 2014 
Conversando com Frei Betto
Paulo Oliveira*
Frei Betto, num pequeno ensaio, repercute a onda midiática petista: votar em Dilma é votar contra o fascismo que ronda o Brasil.
De início, ao descrever a ascensão da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu, o decantado frei começa sua análise demonstrando que seus sonhos de liberdade do passado se transformaram em pesadelos pós-modernos. Melhor transcrever as assertivas do frei: “A queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias”. Portanto, quem está soterrado precisa de ar para respirar, senão morre. E este ar viria de onde? Do voto em Dilma, contra o fascismo que se avizinha. O frei não explicita é que, dentro da tão propalada “democracia brasileira”, o voto em Dilma vem num pacote que contém Sarney, Collor, Renan Calheiros, Maluf.
Continuando, nosso assustado frei constata: “A esquerda europeia foi cooptada pelo neoliberalismo”. Somos informados por frei Betto que os partidos socialistas de Portugal, da Espanha, da Grécia, eram partidos de esquerda. Talvez a distância geográfica tenha turvado a visão de nosso ensaísta, que poderia se valer das modernas mídias para saber que tais citados partidos de há muito, mais precisamente, até antes da crise de 2008, já se alinhavam dentre as formações políticas que procuravam uma “solução mais humana” dentro dos limites do capitalismo.
E prossegue o frei, falando do Velho Mundo: “...não há nenhuma força política significativa capaz de apresentar uma saída ao capitalismo”. Na primeira parte do pensamento exposto há um vício de análise, próprio dos comentaristas políticos burgueses que somente consideram significativas as ações daquilo que eles denominam de política, isto é os feitos e os “mal feitos” dos PMDB, dos PT, dos PSDB da vida. Numa vesguice política, o frei não leva em consideração as diversas manifestações e greves que os povos da Europa continuam fazendo, resistindo às agressões capitalistas, greves e manifestações, essas sim significativas.
Na segunda parte, a incapacidade de haver força política capaz de apresentar uma saída ao capitalismo. Os povos da Europa, principalmente nos países mais atingidos pela crise, como Grécia, Portugal e Espanha, já começam a se transformar nessa força política que frei Betto não é capaz de enxergar. Talvez a saída não seja do agrado do frei: pela via real do socialismo, rumo ao comunismo.
Agora, o trecho brasileiro do pequeno ensaio. Deixemos falar o frei: “Aqui no Brasil nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um futuro alternativo a esse sistema (capitalista)...”. Bem, quanto a nós do PCB, resta uma recomendação ao equivocado frei: a leitura de nossos textos, resoluções, notas políticas.
Após considerações sobre as experiências fascistas europeias no século XX, frei Betto se interroga: “Caminha-se de novo para o fascismo?”. E cita o escritor venezuelano Luís Britto Garcia, que frisa: “...uma das características marcantes do fascismo é a estreita cumplicidade entre o grande capital e o Estado”. Neste momento nosso indigitado frei parte para o suicídio analítico. Quem lê a frase do intelectual venezuelano, e olha para o panorama sócio-econômico e político do Brasil, vai identificar o grande capital no Bradesco, no Itaú, na Odebrecht, na Gerdau, no Grupo Votorantim, somente para exemplificar. E do lado do Estado? BNDES, Banco do Brasil, Caixa, todos cumprindo as diretrizes do Palácio do Planalto e sua Esplanada dos Ministérios, numa cumplicidade explícita com o sistema capitalista nacional e estrangeiro.
Por último, o frei revela sua verdadeira intenção nas frases finais: “Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.” No Brasil, o PARTIDO DOS TRABALHADORES, formação política de escolha de frei Betto, está há 12 anos governando com o escancarado apoio do grande capital. O mesmo grande capital que foi decisivo no golpe de 1964 e que financiou a famigerada Operação Condor e os porões dos centros de tortura da ditadura.
Assim, é uma falsa questão colocada pelo frei: Dilma ou o fascismo. Desde 2002, ao endossarem a Carta aos Brasileiros os intelectuais petistas, alguns por ingenuidade política, outros por má fé, continuam brincando com o ovo da serpente.
Sabemos, por experiência própria, que frei Betto pode ser tudo, menos ingênuo.
*Paulo Oliveira é Secretário Político do PCB-RJ e membro do CC

Corrupção e espetáculo no Mundial de Futebol

17 JUNHO 2014 
Marco A. Gandásegui.
’Do total de 5 bilhões de dólares que será gerado pelo Mundial no Brasil, a FIFA fica com 90%.”
ALAI AMLATINA, 12/06/2014.- A corrupção que corrói a organização da Copa Mundial de Futebol no Brasil, não foi surpresa para muitos. O que criou incerteza e preocupação nos círculos financeiros foi a falta de capacidade política dos governantes desse país para conter o descontentamento popular. Os gastos sem controle em obras suntuosas provocaram um repúdio generalizado por parte da população. Há várias décadas, a economia mundial tem vivido uma crise após outra. O setor produtivo – que era o motor do desenvolvimento – cedeu seu lugar para as atividades financeiras e especulativas. Em lugar de medir o crescimento econômico sobre a base da produção, atualmente se mede o ‘progresso’ sobre a base da transferência do dinheiro dos trabalhadores para os bancos.
Hoje, tudo tem seu preço, tudo se mercantiliza. ‘A política deixou de ser um serviço e se converteu num negócio’. O esporte não é a exceção. Ao contrario, se converteu numa das áreas que mais gera riqueza. Há um século, os esportes foram sequestrados pelo crime organizado (máfia e governo, associados) e posto a serviço dos exploradores que obtém lucros extraordinários mediante atividades ilícitas (as apostas e outras manobras). O que era considerado próprio do ‘submundo’, hoje, é parte do mundo dos negócios. Em fins do século XX, inclusive, os jogos olímpicos foram profissionalizados para fins mercadológicos. Os atletas competem por melhores remunerações. As sedes e seus dirigentes competem para apropriarem-se dos bilhões de dólares que são investidos nas obras e nos ‘sobrecustos’.
O evento esportivo mais valorizado, sem dúvida, são os Jogos Olímpicos. Geram milhares de milhões de dólares que o Comitê Olímpico Internacional (COI) maneja com o banco financeiro mundial. Com esmero, o COI consegue projetar uma imagem que se relaciona com seus fundadores, em fins do século XIX. Supostos cavalheiros que queriam ressuscitar o espírito olímpico da Grécia antiga: a cada quatro anos, as cidades gregas suspendiam suas guerras para que sua juventude competisse em esportes justos. Esse espírito tão nobre foi esquecido.
No caso da Copa Mundial, a Federação internacional de Futebol (FIFA) atingiu um ramo que se converteu num dos negócios mais bem sucedidos. A FIFA fatura anualmente vários bilhões de dólares. O Mundial organizado no Brasil gerará quase 5 bilhões de dólares, grande parte pela venda de direitos de televisão em escala mundial. A FIFA cobra comissões por todos os direitos vendidos por seus membros. Inclusive campeonatos nacionais e regionais. De cada camiseta, meia ou bota vendida, algum valor vai para a FIFA. Do total de 5 bilhões de dólares que será gerado pelo Mundial no Brasil, a FIFA fica com 90%.
Os protestos das mais diversas organizações em todas as cidades brasileiras são plenamente justificados. O governo está investindo mais de 20 bilhões de dólares na construção de estádios, ampliação de aeroportos e desenvolvimento da infraestrutura que beneficiará a FIFA, os especuladores e financistas brasileiros e internacionais. Parafraseando o sociólogo inglês, David Harvey, o Mundial de Futebol serviu para ‘despossuir’ o povo brasileiro. Aqueles que protestam não aceitam que suas riquezas e receitas sejam entregues aos construtores, financistas e especuladores sem receber alguma compensação. Neste saquei automático, a FIFA apenas serve de intermediário. É preciso reconhecer que o espetáculo apresentado está fora de serie: Ronaldo, Messi, Neymar e tantas outras superestrelas divididas em 32 equipes, 62 partidas num mês, que a tecnologia de ponta leva ao último confim do mundo.
Os brasileiros, obviamente, não se opõem ao futebol e nem ao Mundial. São os pentacampeões, os melhores jogadores – segundo muitos – da terra. Porém, rechaçam a forma tão arrogante com que a FIFA e o capital internacional chegaram a seu país, saqueando seu povo com a aparente cumplicidade do governo. A lição que é necessária aprender dos protestos no Brasil é que o esporte não pode continuar sendo manipulado pelos especuladores. O governo brasileiro enfrentará o povo, novamente em 2016, por conta dos Jogos Olímpicos no Rio, onde novamente fará gastos que não beneficiam o povo desse país sul-americano.
- Marco A. Gandásegui Filho, professor de Sociologia da Universidade do Panamá e investigador associado do Centro de Estudos Latino-americanos Justo Arosemena (CELA)
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Copa pra quem?

Um ano após as manifestações de junho, mês que escancarou a porta para a participação popular com grandes manifestações, lutas sociais, atos pela redução da tarifa do transporte coletivo, gritos contra a corrupção e o brado por mais saúde e educação ecoaram nas ruas, praças e avenidas de todo o país como o mais expressivo mecanismo de questionamento desse sistema que não prioriza o povo, e chegado o momento de dar um norte as mobilizações. O Brasil está realizando o maior evento de futebol, a Copa do Mundo, que traz com sua grande estrutura e espetáculo um rastro de sangue e repressão.
O megaevento se consagra como a Copa das empreiteiras, da mídia burguesa, grandes corporações e bancos. Um evento formatado para que essas empresas ampliem seus lucros, como se não bastasse a influencia desse setor que representa o maior financiador da política tradicional que tanto questionamos nas insurreições de 2013, essa Copa não é para o povo brasileiro, basta relembrar das remoções feitas nas cidades sedes dos jogos que retiraram 250 mil famílias de seus lares para a realização do megaevento, lembrar os 9 trabalhadores que morreram em condições degradantes na construção dos Estádios e pensar nos problemas sociais que assolam nosso país. Questionar a Copa é questionar a falta de investimento no ensino, é questionar a criminalização dos movimentos sociais, é questionar os altos gastos com o megaevento, é questionar os desvios da verba pública.
A FIFA irá lucrar R$: 9 bilhões de reais, onde um país a educação, a saúde, a habitação, transporte público, saneamento básico, estradas mal construídas, e a falta de segurança é precário ou inexistente. No caso do Paraná, devido a Copa as Instituições de Ensino Superior, Educação Básica e a Saúde passam por um processo de sucateamento e de privatização para garantir a construção do Estádio Arena da Baixada que custou R$: 326 milhões, muitas obras anunciadas pelo governo Federal e Estaduais de mobilidade urbana, lazer não estarão, prontas até o mundial e não tem garantias que serão concluídas e realizadas depois da copa, para mais além os ingressos que serão disponibilizados a venda está entre os valores de R$: 60,00 na primeira fase no pior espaço da arena a R$: 1.980,00 na fase de mata-mata. Por isso nós perguntamos: ESSA COPA É PRA QUEM?
A juventude de luta e os movimentos sociais de Foz do Iguaçu e da região Oeste do Paraná, ressaltam a importância do combate ao Estado de Exceção implementado pela ‘‘Lei geral da Copa”. Combater o estado repressor que perpetua a mesma base jurídico-filosófica de caça ao inimigo interno incorporada pela ditadura militar, continuar a luta para avançar nas conquistas sociais e não retroceder, denunciar os abusos da Copa e sua implicação nos problemas já existentes, é compromisso dos movimentos combatíveis da juventude resistente para a construção do poder popular.
Coletivo Negro MINERVINO DE OLIVEIRA
Coletivo Feminista ANA MONTENEGRO
Coletivo RUA Juventude Anti Capitalista

Movimento Universidade Popular
Unidade Classista
UJC (União da Juventude Comunista)
http://www.pcbfoz.com.br/noticias/copa-pra-quem/

sábado, 14 de junho de 2014

Todo apoio às manifestações Contra a violência da Polícia Militar

14 JUNHO 2014 
A Comissão Política Regional (CPR) do PCB de São Paulo manifesta seu repúdio à violência da Polícia Militar do Estado praticada contra os manifestantes que realizavam ato de apoio à luta dos metroviários em repúdio as 42 demissões realizadas pelo governador Alckmin. Durante toda a manifestação, a PM mais uma vez demonstrou o seu comportamento truculento e provocador, ao iniciar gratuitamente a repressão, mediante o lançamento de bombas de gás lacrimogênio e efeito moral contra os manifestantes, incitando o pânico, de forma a justificar a repressão.
A repressão foi tamanha que, mesmo ao final do ato, quando os manifestantes já estavam caminhando em direção à estação do metrô Tatuapé, a PM tornou a agredir manifestantes, jornalistas e, inclusive, o nosso camarada Wagner Farias, pré-candidato a governador de São Paulo, foi alvejado com um tiro de bala de borracha à queima roupa, além de sofrer ferimento no antebraço esquerdo por fragmentos de bombas de efeito moral, lançadas a curtíssima distância. Consideramos inadmissível que este comportamento da PM seja realizado em pleno Estado de Direito, violando a constituição, sem a punição de qualquer oficial ou policial militar.
Esse novo ato de repressão em São Paulo vem mais uma vez demonstrar que, tato para o governo Alckmin, quanto para o governo Federal, é mais importante garantir os interesses da FIFA, das grandes empreiteiras e do grande capital a atender as reivindicações da população que sofre nas filas dos hospitais, que é atendida por um sistema de transporte precarizado e caótico, vivendo em péssimas condições de moradia nas periferias, com uma educação de baixa qualidade e
salários de fome.
Vale ressaltar que mais uma vez os meios de comunicação manipularam as imagens das manifestações com o objetivo de satanizar os coletivos e ativistas adeptos da tática black bloc, transformando-os em bodes expiatórios, de forma a colocar a população contra os manifestantes e criminalizar todas as formas de protestos e luta.
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) entende que as manifestações são legítimas e representam a revolta dos setores mais marginalizados da população e dos trabalhadores contra o sistema e as classes dominantes, responsáveis pela tragédia social que o Brasil vive atualmente.
Comissão Política Regional de São Paulo
PCB- Partido Comunista Brasileiro

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Mobilizações devem tomar as ruas do país no primeiro dia da Copa do Mundo

11 JUNHO 2014 
Marcela Belchior
Adital
A abertura da Copa Mundial FIFA 2014, que começa nesta quinta-feira, 12 de junho, no Brasil, será marcada por atos públicos em várias partes do país. A expectativa é de que haja mobilização em quase todas as 12 cidades-sede, algumas delas com maior articulação. A pretensão é estar presente nas FIFA Fan Fests, arenas de festas oficial do megaevento para transmissão de partidas e shows, e principais pontos das cidades.
A ideia é levar o debate sobre a série de violações da organização do evento à população e aos visitantes que chegam nesse momento ao país para acompanhar o Mundial. Estão previstos: distribuição de panfletos, passeatas, oficinas de cartazes, dentre outras ações.
Os manifestantes adiantam que deverão fazer atos pacíficos e garantem que a transgressão às regras da Federação Internacional de Futebol (FIFA) será palavra de ordem. "Vamos dialogar com a população e fazer um ato pacífico, lúdico, com muita alegria, animação e orgulho por estarmos mudando o país, mas sem abrir mão de desobedecer as regras da FIFA, pois não são regras para o povo!”, garante o Comitê Popular da Copa da cidade de Brasília, capital do país.
"Não somos contra o futebol, mas denunciamos os absurdos que a FIFA impõe e dos quais o Estado é cúmplice”, destaca o Comitê Popular da Copa de Fortaleza, Estado do Ceará, que promoverá manifestação no dia da abertura dos jogos durante a Fan Fest, na Av. Beira Mar, a partir das 15h. No sábado, 14, será a vez da mobilização se concentrar nas imediações do estádio Castelão, onde haverá jogo da seleção brasileira. "É muito importante que seja socializado que a gente não tem nenhum problema com os jogos; este, na verdade, é o momento menos contraditório de todos”, explica Roger Pires, membro do Comitê, em entrevista à Adital.
No Rio de Janeiro, cidade do encerramento dos jogos e uma das mais visadas do país, o ato "Nossa Copa é na rua” deverá se concentrar a partir das 10h, na Candelária, com saída ao meio-dia em direção à Lapa. Será o primeiro de quatro atos programados para serem realizados na cidade. Em Cuiabá, Estado do Mato Grosso, haverá panfletagem e diálogo com a população da Fan Fest, com concentração a partir das 16h na Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). No dia seguinte, 13, haverá o ato público "Você foi escalado para manifestar! Copa pra quê(m)?”, com concentração no estádio Dutrinha, a partir das 10h.
"Chamamos a juventude a construir essa jornada assim como construímos as Jornadas de junho do ano passado: com independência política, combatividade, democracia, ação direta e internacionalismo. É de baixo para cima que vêm nossas decisões. Assim, vamos deixando para trás toda a poeira da velha burocracia, assim como fizeram os garis”, convida o Comitê dos Atingidos pela Copa de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais.

Em Recife, Estado de Pernambuco, o ato público de abertura do que a articulação nacional chama de "Copa das Manifestações” promoverá distribuição de panfletos, oficina de cartazes e apresentações culturais, dentre outras atividades. Além das cidades-sede, estão previstas manifestações nas cidades de Taubaté (São Paulo), Juiz de Fora (Minas Gerais), Barreiro (Minas Gerais), Macapá (Amapá), São Luís (Maranhão), Goiânia (Goiás) e Juazeiro do Norte (Ceará). Fora do Brasil, há informações de protestos agendados na cidade de Turim (Itália) e Paris (França).
Megaevento se prepara com força policial
A Assessoria de Comunicação do megaevento divulgou que um total de 180 mil agentes policiais e R$ 1,87 bilhão serão o investimento em segurança durante os jogos em todo o Brasil. Haverá atuação conjunta dos Ministérios da Justiça, Defesa e Casa Civil, assessorada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O sistema integrado de segurança e defesa atuará em 14 estados e no Distrito Federal.
Centros passaram a funcionar nas 12 cidades-sede dos jogos da Copa e outras três cidades onde há centros de treinamento de seleções que disputarão o Mundial — nos estados de Sergipe, Alagoas e Espírito Santo. Tropas das forças de contingência estarão prontas para agir em defesa de estruturas estratégicas em torno dos estádios, como torres de energia e de telecomunicação.
Segundo informações da Mídia Ninja, a Polícia Cívil do Rio de Janeiro já começou a executar uma série de detenções. Na manhã desta quarta-feira, 11 de junho, as ativistas Elisa Quadros (conhecida como Sininho), a advogada Eloisa Samy e o cinegrafista Thiago Ramos, foram presos em casa , e estão sendo levados para investigação na DRCI - Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Na última semana em Goiânia, mandatos de busca e apreensão já haviam sido utilizados como forma de cerceamento ao direito de manifestação e tática de coerção contra a parcela da população que pretende manifestar suas indignações durante o evento da FIFA.

CALENDÁRIO PARCIAL DE MANIFESTAÇÕES
Cidade-sede: BRASÍLIA
15/06 - Suíça X Equador (13h)
Tema: Saúde, educação e serviços públicos.
19/06 - Colômbia X Costa do Marfim (13h)
Tema: Desmilitarização da PM e contra o extermínio da juventude negra
23/06 - Brasil X Camarões (16h)
Tema: Saúde, educação e serviços públicos
26/06 - Portugal X Gana (13h)
Tema: Direitos das mulheres e da população LGBT
30/06 - Oitavas de final (13h)
Tema: Direito à cidade e pela tarifa zero
05/07 - Quartas de final (13h)
Tema: Reforma urbana, agrária e demarcação das terras indígenas e quilombolas
12/07 - Disputa de terceiro lugar (17h)
Tema: Democratização dos meios de comunicação
Cidade-sede: SÃO PAULO
11/06 - Copa Moinho Vivo - O pagode é nosso! (16h)
Local: Favela do Moinho
11/06 - Ato pelo direito de greve, contra as demissões do metrô (16h)
Local: Sindicato dos Metroviários de São Paulo
12/06 - Ato público (10h)
Local: Sindicato dos Metroviários de São Paulo
12/06 - Manifesta junina - Zona livre e do povo (14h)
Local: Favela do Moinho
16/06 - Futebol popular do povo da rua (17h)
Local: Sala São Paulo - Praça Julio Prestes
19/06 - Ato "Não vai ter tarifa / MPL”
Local: Praça do Ciclista (Av. Paulista)
Cidade-sede: CUIABÁ
12/06 - Panfletagem e diálogo com a população na Fan Fest (16h)
Local: Associação dos Criadores do Mato Grosso (ACRIMAT) (concentração)
13/06 - Ato "Você foi escalado para manifestar! Copa pra quê(m)?” (10h)
Local: Estádio Dutrinha (concentração)
Cidade-sede: RIO DE JANEIRO
12/06 - Ato "Nossa Copa é na rua" (10h)
Local: concentração na Candelária e saída até a Lapa
Cidade-sede: RECIFE
12/06 - Ato público (11h)
Local: Praça da Liberdade (Praça do Diário)
12/06 - Festival anti-fanfest: ato cívico contra a Copa da FIFA (10h)
Local: Cais José Estelita
Cidade-sede: FORTALEZA
12/06 – Abertura da "Copa das Manifestações” (15h)
Local: Beira Mar
14/06 - Ato público (12h)
Local: imediações do estádio Castelão
Cidade-sede: BELO HORIZONTE
12/06 - Ato "Copa sem povo, tô na rua de novo!” (12h)
Local: Praça 7
Cidade-sede: PORTO ALEGRE
12/06 - Ato Nacional Unificado "Copa sem povo, estamos na rua de novo!” (12h)
Local: Prefeitura de Porto Alegre (Praça Montevidéo)
Cidade-sede: SALVADOR
12/06 - Ato "Copa sem povo, tô na rua de novo - Resistência contra as injustiças da Copa da FIFA” (10h)
Local: Praça do Campo Grande
Cidade-sede: NATAL
12/06 – Ato público (17h)
Local: Saída da BR-101 em direção à Arena das Dunas.
(a confirmar)
16/06 – Ato Público (16h)
Local: cruzamento da Av. Bernardo Vieira com Av. Salgado Filho.
19/06 – Ato público pelo passe livre (horário a confirmar)
Local:(a confirmar)
21/06 – Ato público (16h)
Local: Av. Roberto Freire
*Até o fechamento desta matéria, não houve confirmação de mobilizações nas cidades-sede Manaus e Curitiba.
http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=81046

terça-feira, 10 de junho de 2014

Brasil: a luta dos trabalhadores triunfa sobre o espectáculo




James Petras
Durante décadas críticos sociais lamentaram a influência do desporto e de espectáculos de entretenimento que "distraíam" trabalhadores da luta pelos seus interesses de classe. Segundo aqueles analistas, a "consciência de classe" era substituída pela consciência de "massa". Argumentavam eles que indivíduos atomizados, manipulados pelos mass media, eram convertidos em consumidores passivos que se identificavam com heróis milionários do desporto, com protagonistas de novelas e celebridades do cinema.
O culminar desta "mistificação" – a ilusão em massa – era os
campeonatos mundiais observados por milhares de milhões por todo o mundo, patrocinados e financiados por corporações bilionárias: as World Series (baseball), a Copa do Mundo (futebol) e a Super Bowl (futebol americano).
Hoje, o Brasil está a viver a refutação desta linha de análise cultural-política. Os brasileiros têm sido descritos como "loucos por futebol". Suas equipes venceram o maior número de Copas Mundiais. Seus jogadores são cobiçados pelos proprietários das equipes mais importantes da Europa. Dizem que seus torcedores "vivem e morrem pelo futebol" ... Ou assim nos diziam.
Mas foi no Brasil que os maiores protestos na história da Copa do Mundo tiveram lugar. Já um ano antes dos jogos, programados para Junho de 2014, houve manifestações em massa de até um milhão de brasileiros. Apenas nas últimas semanas, proliferaram greves de professores, polícia, trabalhadores da construção e empregados municipais. O mito dos espectáculos de mass media a hipnotizar as massas foi refutado – pelo menos no Brasil dos dias de hoje.
Para entender porque o espectáculo de massa foi um fracasso de propaganda é essencial entender o contexto político e económico no qual foi lançado, bem como os custos e benefícios e o planeamento táctico de movimentos populares.
O contexto político e económico: A Copa do Mundo e as Olimpíadas
Em 2002, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula da Silva, venceu as eleições presidenciais. Seus dois mandatos (2003 – 2010) foram caracterizados por um caloroso abraço do capitalismo de livre mercado juntamente com programas populistas de [alívio da] pobreza. Ajudado por influxos em grande escala de capital especulativo, atraído por altas taxas de juro, e pelos altos preços das commodities para as suas exportações agro-minerais, Lula lançou um programa maciço quanto à pobreza proporcionando cerca de US$60 por mês a 40 milhões de brasileiros pobres, os quais constituíram parte da base de massa eleitoral de Lula. O Partido dos Trabalhadores reduziu o desemprego, aumentou salários e apoiou empréstimos com juros baixos ao consumidor, estimulando um "boom do consumidor" que levou a economia em frente.
Para Lula e seus conselheiros, o Brasil estava a tornar-se uma potência global, atraindo investidores de classe mundial e incorporando os pobres no mercado interno.
Lula foi louvado pela Wall Street como um "esquerdista pragmático" e como um estadista brilhante pela esquerda!
De acordo com esta visão grandiosa (e em resposta a um amontoado de bajuladores presidenciais, de Norte e a Sul), Lula acreditou que a ascensão do Brasil à proeminência mundial exigia que "hospedasse" a Copa do Mundo e as Olimpíadas e embarcou numa campanha agressiva... O Brasil foi escolhido.
Lula enfeitava-se e pontificava: o Brasil, como hospedeiro, alcançaria o reconhecimento simbólico e os prémios materiais que uma potência global merecia.
A ascensão e a queda das grandes ilusões
A ascensão do Brasil foi baseada em fluxos de capital estrangeiro condicionados pelo diferencial (favorável) de taxas de juro. E quando as taxas mudam, o capital flui para fora. A dependência do Brasil da alta procura pelas suas exportações agro-minerais baseou-se no prolongado crescimento económico com dois dígitos na Ásia. Quando a economia da China arrefeceu, a procura e os preços caíram e, assim, os ganhos do Brasil com exportações.
O "pragmatismo" do Partido dos Trabalhadores significou aceitar as estruturas políticas, administrativas e regulamentares herdadas dos regimes neoliberais anteriores. Estas instituições eram permeadas por responsáveis corruptos ligados a empreiteiros de construção notórios por derrapagens de custos e longos atrasos em contractos com o estado.
Além disso, a "pragmática" máquinas eleitoral do Partido dos Trabalhadores foi construída sobre comissões debaixo da mesa e subornos. Somas vastas foram desviadas dos serviços públicos para bolsos privados.
Inchado pela sua própria retórica, Lula acreditou que a emergência económica do Brasil na cena mundial era um "negócio feito". Ele proclamou que os seus faraónicos complexos desportivos – os milhares de milhões de dinheiro público gastos em dúzias de estádios e infraestrutura custosa – "pagar-se-iam por si mesmos".
O fatal "efeito demonstração": A realidade social derrota a grandeza global
A nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, protegida de Lula, concedeu milhares de milhões de reais para financiar os maciços projectos de construção o seu antecessor: estádios, hotéis, auto-estradas e aeroportos para acomodar uma prevista inundação de torcedores estrangeiros de futebol.
O contraste entre a disponibilidade imediata de quantias maciças de fundos públicos para a Copa do Mundo e a perene falta de dinheiro para deteriorados serviços públicos essenciais (transporte, escolas, hospitais e clínicas) foi um enorme choque para os brasileiros e uma provocação para a acção em massa nas ruas.
Durante décadas, a maioria dos brasileiros, que dependiam de serviços públicos para transporte, educação e cuidados médicos (as classes superiores e média podem permitir-se serviços privados), foi dito que "não havia fundos", que os "orçamentos tinham de ser equilibrados", que um "excedente orçamental era necessário para cumprir acordos com o FMI e atender o serviço da dívida".
Durante anos fundos públicos foram desviados por nomeados políticos corruptos para pagar campanhas eleitorais, levando a um transporte asqueroso, superlotado, frequentemente avariado, e a atrasos nas viagens diárias em autocarros abafados e a longas filas nas paragens. Durante décadas, escolas estiveram em ruínas, professores corriam de escola em escola para compensar os seus miseráveis salários mínimos levando a uma educação de baixa qualidade e desprezada. Hospitais públicos eram sujos, perigosos e superlotados, médicos mal pagos frequentemente aceitavam pacientes privados nas horas vagas, medicamentos essenciais eram escassos nos hospitais públicos e super-caros nas farmácias.
O público foi ultrajado pelo contraste obsceno entre a realidade de clínicas dilapidadas com janelas partidas, escolas superlotadas com goteiras e transporte de massa não confiável para o brasileiro médio e os enormes novos estádios, hotéis luxuosos e aeroportos para os torcedores e visitantes estrangeiros ricos.
O público foi ultrajado pelas óbvias mentiras oficiais: a afirmação de que "não havia fundos" para professores quando milhares de milhões de reais ficaram instantaneamente disponíveis para construir hotéis de luxo e atraentes camarotes nos estádios para torcedores ricos do futebol.
O detonador final para o protesto em massa nas ruas foi o aumento nas tarifas de autocarros e comboios para "cobrir perdas" – depois de aeroportos e auto-estradas públicas terem sido vendidas a baixo preço a investidores privados que elevaram as portagens e comissões.
Os manifestantes que marchavam contra o agravamento das tarifas de autocarros e comboios foram apoiados amplamente pelas dezenas de milhares de brasileiros que denunciavam as prioridades do governo: Milhares de milhões para a Copa do Mundo e migalhas para a saúde pública, educação, habitação e transporte!
Desatento às exigências populares, o governo avançou na tentativa de acabar seus "projectos de prestígio". No entanto, a construção de estádio ficou atrás do programado por causa da corrupção, incompetência e má administração. Empreiteiros de construção, que foram pressionados, reduziram padrões de segurança e pressionaram trabalhadores mais duramente, levando a um aumento de mortes e lesões nos estaleiros de obras. Trabalhadores da construção entraram em greve protestando pela aceleração e deterioração da segurança do trabalho.
Os esquemas grandiosos do regime Rousseff provocaram uma nova cadeia de protestos. O Movimento d
os Trabalhadores sem Teto ocupou lotes urbanos próximos a um novo estádio exigindo "habitação social" para o povo ao invés de novos hotéis cinco estrelas para estrangeiros ricos adeptos do desporto.
A escalada dos custos com os complexos desportivos e o aumento das despesas governamentais atearam uma onda de greves sindicais para exigir salários mais altos superiores aos objectos do regime. Professores e trabalhadores da saúde foram apoiados pelos trabalhadores fabris e empregados assalariados em greve em sectores estratégicos, tais como o transporte e os serviços de segurança, capazes de desestabilizar gravemente a Copa do Mundo.
A adopção pelo PT dos espectáculos desportivos grandiosos, ao invés de enfatizar o"arranque do Brasil como potência global", pôs em destaque o amplo contraste entre os dez por cento ricos e seguros nos seus condomínios de luxo no Brasil, em Miami e em Manhattan, com acesso a clínicas privadas de alta qualidade e escolas privadas exclusivas para seus rebentos, com a massa de brasileiros médios, fincados durante horas em auto-carros cheios de suor e superlotados, em encardidas salas de espera para conseguir meras aspiras de médicos não existente e em dilapidar os futuros dos seus filhos em salas de aula dilapidadas sem professores adequados e a tempo inteiro.
A elite política, especialmente o círculo em torno da presidência Lula-Rousseff, caiu vítima das suas próprias ilusões de apoio popular. Eles acreditaram que pagamentos de subsistência para os muito pobres lhes permitiria gastar milhares de milhões de dinheiro público em espectáculos de desporto para entreter e impressionar a elite global. Eles acreditaram que a massa de trabalhadores estaria tão fascinada pelo prestígio de abrigar a Copa do Mundo no Brasil que ela passaria por alto a grande disparidade entre despesas do governo para grandes espectáculos da elite e a ausência de apoio para atender as necessidades quotidianas dos trabalhadores brasileiros.
Mesmo sindicatos, aparentemente ligados a Lula, que alardeavam o seu passado de liderança dos metalúrgicos, romperam as fileiras quando perceberam que "o dinheiro era para fora" – e que o regime, pressionado pelos prazos finais de construção, podia ser pressionado a elevar salários a fim de ter o trabalho feito.
Os brasileiros, sem dúvida, são voltados para o desporto. Eles seguem entusiasticamente sua equipe nacional. Mas eles também são conscientes das suas necessidades. Não se contentam e aceitar passivamente as grandes disparidades sociais reveladas pela actual corrida louca para encenar a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil. A vasta despesa do governo com os jogos tornou claro que o Brasil é um país rico com uma multidão de desigualdades sociais. Eles perceberam que há vastas somas disponíveis para melhorar serviços básicos da vida diária. Perceberam que, apesar da sua retórica, o "Partido dos Trabalhadores" estava a jogar um jogo esbanjador de prestígio para impressionar uma audiência capitalista internacional. Perceberam que têm poder estratégico para pressionar o governo e tratar de algumas das desigualdades em habitação e em salários através da acção de massa. E eles agarraram-na. Perceberam que merecem desfrutar a Copa do Mundo em habitações públicas adequadas e a preços acessíveis e viajar para o trabalho (ou para um jogo ocasional) em auto-carros e comboios decentes. A consciência de classe, no caso do Brasil, triunfou sobre o espectáculo de massa. O "Pão e circo" cedeu aos protestos em massa.
03/Junho/2014
Ver também:
  • A explosão social bate às portas do Brasil , Edmilson Costa
  • O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...
    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • segunda-feira, 9 de junho de 2014

    Pré-candidato do PCB à Presidência defende fim da PM e ação de black blocs em protesto

    09 JUNHO 2014 
    UOL – 7-6-2014
    Hanrrikson de Andrade
    Do UOL, no Rio
    06/06/2014
    Mauro Luís Iasi, 54, é o pré-candidato do PCB (Partido Comunista Brasileiro) à Presidência da República nas eleições de outubro. Avesso a costuras políticas, o professor da Escola de Serviço Social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) afirmou ter consciência das limitações de sua campanha, mas disse não abrir mão de compor uma alternativa socialista em um cenário eleitoral que, segundo ele, resume-se a "aspectos superficiais". Ao UOL, ele declarou ainda ter abraçado bandeiras das manifestações que eclodiram em junho de 2013 e argumentou em favor de temas como o fim da Polícia Militar e a ação dos black blocs, entre outros.
    Iasi, que participou da fundação do PT, na década de 80, integrou o time que coordenou a primeira campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, quando o ex-presidente e símbolo do Partido dos Trabalhadores duelou com Fernando Collor de Melo. "Eu tenho experiência de fazer campanha, um pouco contra a minha vontade", disse ele, que deixou o PT em 2004. "Nós atuávamos desde o marketing até o planejamento da campanha. (...) era um esforço monumental para apresentar o Lula não do jeito que ele era, mas sim para fazer com que ele parecesse um candidato. Isso em questões mínimas, como a forma de se colocar. A grande força dele era a autenticidade".
    Apesar de ter acumulado experiência com as campanhas petistas, o pré-candidato comunista disse querer se distanciar da metodologia eleitoral que norteia as grandes legendas. Sua candidatura será divulgada basicamente com atividades nas ruas, o que inclui ir às manifestações. "Nossa campanha é coletiva, fizemos um processo de quase um ano de congressos. (...) A decisão por uma candidatura vem diretamente ligada ao fato de que a conjuntura brasileira não pode limitar às alternativas que hoje estão colocadas no que chamamos de campo da ordem. São candidaturas que, no máximo, divergem sobre aspectos superficiais, mas não a fundo em questões que consideramos prioritárias hoje para o Brasil", declarou.
    As questões "prioritárias", na visão do pré-candidato, estão diretamente vinculadas às pautas que emergiram dos protestos. "As manifestações expressaram, ao contrário do que muitos disseram, uma politização do debate. Elas trouxeram temas importantíssimos para o debate de fundo da sociedade brasileira. (...) O que surgiu nas manifestações tem que ganhar uma densidade de um projeto político e um projeto alternativo para o Brasil", afirmou. "Um projeto de poder. Isso dificilmente brota da própria manifestação. Isso exige um segundo grau de luta."
    Iasi destacou que, em sua perspectiva, o "aparato repressivo" do Estado tentou conter o ímpeto das manifestações, mas isso não funcionou. "A repressão acabou levando a uma radicalização das manifestações, e elas se generalizaram. Isso provocou formas de autodefesa. Desde o início, nós tomamos muito cuidado para não criminalizar e condenar essas formas de autodefesa", disse. "Mesmo aquelas praticadas pelos chamados grupos adeptos de uma tática black bloc. (...) Somos obrigados a sofrer uma repressão brutal do aparelho policial, de forma muitas vezes ilegal, extremamente ilícita, forjando provas e tudo mais, em uma violência totalmente descabida. Todo mundo viu isso ocorrer nas manifestações."

    domingo, 8 de junho de 2014

    PCB presente na comemoração dos 50 anos das FARC-EP na Venezuela




    Stefano Motta (*)
    Como parte do firme compromisso do PCB com o internacionalismo proletário e a solidariedade internacional com os povos que lutam contra o imperialismo e a barbárie capitalista, nosso partido participou da atividade de comemoração dos 50 anos de fundação das FARC-EP, Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejercito del Pueblo, realizada em Caracas.
    Foi uma atividade de solidariedade cheia, emocionante e muito importante politicamente, pelo papel chave que joga hoje o conflito colombiano no cenário politico latinoamericano. Hoje o futuro da América Latina está sendo jogado na luta do povo colombiano e venezuelano contra as oligarquias locais e o imperialismo e nos diálogos de paz entre as FARC-EP e o governo colombiano em Havana. Assim, foi importante que, desde a Venezuela, desde um teatro e uma praça publica de Caracas lotados de lutadores sociais de vários países pudéssemos mostrar ao mundo inteiro aquilo que o mesmo Estado terrorista, fascista e paramilitarista da Colômbia foi obrigado em reconhecer, que as FARC não são nenhuma organização terrorista mas sim uma força politica encarnada no povo colombiano que defende um projeto politico do qual nos sentimos parte, projeto da classe trabalhadora colombiana contra os interesses oligárquicos e imperialistas.
    A atividade se desenvolveu em vários momentos ao longo do dia, entre o Teatro Cantaclaro, na sede do Partido Comunista de Venezuela, um dos principais organizadores da atividade junto com o Movimento Continental Bolivariano, e o 23 de Enero, conjunto de favelas bastião da revolução, de onde desceu em 2002 o povo a resgatar Chávez e derrotar o golpe de estado. A celebração começou no Teatro Cantaclaro com uma apresentação fotográfica e de vídeos em que pôde-se dar a conhecer a história e o trabalho politico das FARC ao longo desses 50 anos. À continuação, se realizou um ato político, no mesmo teatro lotado, com a intervenção de varias organizações politicas venezuelanas e de outros países, entre outras a do nosso partido que reportamos abaixo, com uma linha politica unificada de apoio firme à insurgência, a sua forma de luta e ao projeto politico por esta defendido, assim como de crítica forte ao reformismo e à aquela esquerda que de forma irresponsável pede às FARC que deponha as armas.
    No mesmo ato houve a participação em videoconferência (https://www.youtube.com/watch?v=FMYrYZoLPaE&feature=share&list=PL4BUlQBKuHemBgA5JEUAimjdyGknZDO04) da comandância das FARC através de seu Comandante e chefe da delegação de Paz, Ivan Marquez, que saudou a emocionante atividade que estávamos realizando em Caracas e enviou uma mensagem sobre o atual momento histórico que se vive hoje em Colômbia. O Comandante Marquez destacou a importância desse atual momento onde as FARC e o povo colombiano estão travando a batalha decisiva e mais importante dos últimos 50 anos, chamando a unidade dessas forças para integrar uma frente ampla e um sólido bloco de poder que permita exercer o direito de ser governo. Sobre os diálogos de paz em Havana, relatou que as bandeiras radicais contra a injustiça se mantem vivas e fortalecidas pelo forte movimento popular que enche hoje as ruas colombianas. Também que estamos frente a uma disjuntiva, que antes a situação de crise em todo os níveis que vive hoje Colômbia, ou se produzirá a consolidação do regime fascista e de suas políticas neoliberais ou entraremos num processo constituinte capaz de produzir uma força social para uma transformação radical da Colômbia. Sinalizou a necessidade de lutar por uma Assembleia constituinte como condição para refundar o Estado colombiano mas ao mesmo tempo destacou um elemento importante, que manda um recado àquelas forças politicas presas a uma fé nas constituições, nas leis e as reformas politico-jurídicas do Estado burguês: “nossa visão de pais não está limitada a uma nova Constituição”, assinalou Marquez, e chamou à criação de um processo constituinte que não termine nos marcos da Assembleia mas que encontre nela um lugar para potencializar o bloco de poder revolucionário e levar a luta a um outro patamar, num contexto caracterizado pela continuidade do conflito e do antagonismo de classe. Essas reflexões limpam o terreno de visões oportunistas sobre a paz que utilizam esse termo com fins eleitorais e nos lembram que só conseguiremos a paz com a extinção das classes, o que supõe muita luta e enfrentamento dos trabalhadores ao poder burguês. Finalmente o Comandante Marquez apresentou a plataforma programática que as FARC foram construindo junto com as diferentes organizações populares colombianas: 1) democratização real e participação na vida social; 2) reestruturação democrática do Estado; 3) desmilitarização da vida social; 4) desmonte dos poderes mafiosos e das estruturas narcoparamilitares; 5) justiça para a paz e materialização dos direitos das vitimas do conflito; 6) desprivatização e desmercantilização das relações econômico-sociais; 7) recuperação socioambiental dos recursos naturais e reapropiação social dos bens comuns; 8) reorganização democrática dos territórios urbanos e rurais; 9) novo modelo econômico e instrumentos de direção da economia para o bem-estar e bom viver; 10) reestabelecimento da soberania e integração da Nuestra America.
    Sucessivamente, a atividade teve continuidade numa praça publica no 23 de Enero, num clima de festa, com a apresentação de vários grupos musicais e a participação de vários coletivos e organizações populares das favelas que foram e são ainda hoje chave para a consolidação de um poder popular revolucionário e comprometido com a radicalização do processo venezuelano para a transição ao socialismo: entre outras, lembramos algumas dessas organizações como o Movimento Tupamaru, o Coletivo Alexis Vive, o Coletivo Fabricio Ojeda, a Coordenadora Simon Bolivar, a Radio “Al son del 23” com as quais nosso partido estabeleceu ótimas relações de solidariedade. Fomos já convidados duas vezes em programas de rádio da “Al son del 23” e em um cine-forum e esperamos manter e fortalecer nossos laços de solidariedade com todas essas organizações revolucionárias do povo venezuelano e colombiano com as quais, hoje mais do que nunca, precisamos reforçar nossa ação internacionalista.
    Intervenção do PCB no ato político
    Companheiros presentes, lutadores sociais e militantes das diferentes organizações revolucionárias recebam um forte, cálido e solidário saludo de parte do Partido Comunista Brasileiro. É para nós um grande orgulho participar desse importante ato de comemoração dos 50 anos das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejercito del Pueblo. O que celebramos hoje são os 50 anos de luta heroica do povo colombiano, 50 anos de uma guerrilha encarnada em seu povo e com um claro projeto político, projeto do qual nos sentimos parte, o da superação de toda forma de exploração humana e opressão e a construção do socialismo, a superação da ordem capitalista que na Colômbia assume as facetas mais fascistas e barbaras.
    Não quero me estender em minhas palavras, pois gostaria de ler uma mensagem do nosso Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro, assim como membro da Presidência Coletiva do Movimiento Continental Bolivariano, Ivan Pinheiro:
    Viva o cinquentenário das FARC-EP
    As comemorações pelo aniversário de 50 anos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –Exército do Povo (FARC-EP) coincidem com um momento em que ocorrem os Diálogos de Havana, em que a insurgência e o governo colombiano buscam caminhos para uma solução política para o conflito militar e social que marca esse país desde muito antes da constituição formal da guerrilha.
    Surgiu como consequência da necessidade, muitos anos antes, que os camponeses colombianos tiveram de criar organizações de autodefesa armada, para enfrentar a violência dos latifundiários e da oligarquia colombiana na defesa de suas famílias, seus lares e suas pequenas lavouras que garantiam o seu sustento. Surgiu na esteira do assassinato do líder da luta contra os conservadores,o liberal Jorge Eliézer Gaitán e a consequente grande revolta popular que ficou conhecida como El Bogotazo, em 1948.
    Na primeira década do presente século, o imperialismo e a oligarquia a seu serviço coincidiram em montar contra as FARC um aparato militar sem precedentes em nosso continente. Haviam resolvido exterminar a insurgência a qualquer custo e fazer da Colômbia um bunker militar na região, para exercer papel semelhante ao que Israel desempenha no Oriente Médio e seu entorno.
    As Forças Armadas colombianas chegaram a um contingente de 400 mil efetivos; os Estados Unidos instalaram sete bases militares no país e o transformaram num dos principais destinos da “ajuda militar” norte-americana. O estado terrorista colombiano criou e armou bandos paramilitares, assessorou-se de agentes da Cia e do Mossad. Foram assassinados centenas de militantes dos movimentos sociais, expulsos de suas terras dezenas de milhares de camponeses. Até hoje, são mantidos 9.500 presos políticos no país.
    Mas esse macabro plano do imperialismo fracassou. As FARC sobreviveram. Apesar de algumas perdas significativas, como a morte natural do Comandante Manuel Marulanda Vélez, o covarde assassinato de Raul Reys e as perdas em combate dos comandantes Jacobo Arenas, Ivan Rios, Alfonso Cano, Jorge Briceño e de centenas de heroicos guerrilheiros e guerrilheiras, a insurgência não se abateu. Resistiu de forma organizada e impôs duras baixas aos inimigos, mostrando se tratar de uma organização enraizada na massa, firme ideologicamente e com direção política coletiva. Entre perdas e ganhos em duras batalhas, mantém-se invicta na guerra.
    O fato de o estado colombiano procurar sentar-se à mesa, em Havana, com uma delegação oficial das FARC significa o reconhecimento de sua força e da impossibilidade de resolver o conflito pela via militar. Em toda a história – e o Vietnã é o maior exemplo – o imperialismo e a burguesia só negociam com os que não se deixam derrotar.
    Com o advento dos diálogos, as FARC se transformaram em porta-voz da pauta dos trabalhadores e proletários colombianos, o que contribuiu para o ressurgimento e crescimento do movimento de massas mais expressivo da história da Colômbia, quiçá da América Latina. O imperialismo e as oligarquias colombianas, ao que parece, fizeram um cálculo errado, achando que a guerrilha estava derrotada e a ponto de depor suas armas. Achavam que conseguiriam uma paz rápida e sem custos sociais, econômicos e políticos. E que depois exterminariam os insurgentes e militantes políticos e sociais, como fizeram nos anos 80, no genocídio da União Patriótica, quando o estado burguês traiu o acordo de paz que havia firmado.
    A vitória do povo colombiano, no rumo ao socialismo, não depende do resultado eleitoral deste dia 25 de maio, mas da manutenção da capacidade de resistência das guerrilhas e da organização e do protagonismo das massas populares.
    O PCB tem militado no apoio internacionalista à luta do povo colombiano, por entender que nesse país se joga uma batalha decisiva contra o imperialismo e pelo futuro da América Latina.
    Ivan Pinheiro
    Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e membro da Presidência Coletiva do MCB (Movimento Continental Bolivariano)
    Para terminar, queria ler um poema de outro heroico guerrilheiro e poeta salvadorenho, Roque Dalton; um poema que gostaríamos dedicar a todos os heroicos guerrilheiros e lutadores sociais que caíram nesses 50 anos de luta contra o Estado terrorista colombiano e para a construção de uma nova sociedade. Sabemos que suas mortes não foram em vão e que seu exemplo de luta refloresce todos os dias nos milhares de combatentes que hoje enchem as ruas e as montanhas da Colômbia.
    El Descanso Del Guerrero
    Los muertos están cada día más indóciles.
    Antes era fácil con ellos:
    les dábamos un cuello duro una flor
    loábamos sus nombres en una larga lista:
    que los recintos de la patria
    que las sombras notables
    que el mármol monstruoso.
    El cadáver firmaba en pos de la memoria:
    iba de nuevo a filas
    y marchaba al compás de nuestra vieja música.
    Pero qué va
    los muertos
    son otros desde entonces.
    Hoy se ponen irónicos
    preguntan.
    Me parece que caen en la cuenta
    de ser cada vez más la mayoría.
    Companheiros combatentes caídos na luta…. presentes, presentes… agora e sempre!!!
    Que Viva a heroica luta do povo colombiano!!! Que Viva os 50 anos das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia!!!
    (*) Stefano Motta é militante do PCB do Rio de Janeiro