quinta-feira, 31 de outubro de 2013

MANIFESTO PCB CAMPOS DOS GOYTACAZES/ RJ:



           O Partido Comunista Brasileiro(PCB) REPUDIA a intenção de vereadores da base  do governo Rosinha Garotinho, em CRIMINALIZAR ações legítimas de educadores em luta, na  defesa da educação pública de qualidade.
          O Partido Comunista Brasileiro (PCB) através de lutas históricas da categoria dos Educadores em Campos, hoje participando ativamente do Movimento Educadores em Luta, conjuntamente com a Corrente Sindical Unidade Classista – atuante no SEPE; defende um modelo de educação que dialogue com a realidade dos profissionais de educação, estudantes e pais de alunos sob a perspectiva de superação do modelo mercantil, concorrencial e privatista, infelizmente prevalentes em nossa sociedade. 
          O PCB está ao lado do Movimento Educadores em Luta e isso tem gerado reação no campo do governo municipal e, de veículos de comunicação – especialmente o Jornal O DIÁRIO -  defensores da política vigente no município de Campos dos Goytacazes. Estes no afã de sua defesa inconteste, não hesitam em fazer acusações levianas tais como, tentar “Fraudar”  avaliações externas. Ora, as avaliações externas ocorrem para além das já inseridas no planejamento escolar , ferindo a  autonomia pedagógica da escola e de seus professores.
         A Prova Brasil, é um modelo adotado pelo Governo Federal, através do MEC, para “avaliar” o desempenho da educação básica com o qual há divergência política e teórica, sem que isso caracterize dissimulação, Rejeitar o modelo adotado pelo Governo Federal, através do Plano Nacional de Educação, formulado em 2007 significa antes de qualquer coisa defender a escola pública, gratuita e de qualidade. O  SEPE, Sindicato dos Profissionais de Educação do Estado do RJ, legítimo representante da ctegoria da educação no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, no  seu acúmulo na defesa da educação pública e dos direitos da categoria,, lançou cartilha  específica para elucidar  dúvidas acerca do teor político do PNE e de seus eixos. Entre eles a Prova Brasil, aplicada entre estudantes da educação básica e o ENAD (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) uma espécie de regime de colaboração entre estados e municípios em torno do projeto conservador do PNE.
            Mas o que há de errado com o projeto do PNE, seus exames avaliativos, como a Prova Brasil e por que somos contrários ao mesmo?
           Em primeiro lugar, o projeto do PNE pretende associar a educação pública com a iniciativa privada, além de atribuir a gestão educacional toda a responsabilidade referente à qualidade da educação. Ora, essa estratégia busca minimizar as responsabilidades do Estado e de sua política quanto a precariedade do sistema público. (…)
           Num trecho da Cartilha do SEPE sobre o PNE é fácil identificar que:"a lógica que embasa a proposta do "compromisso Todos pela Educação" pode ser traduzida numa espécie de 'pedagogia dos resultados': o governo se equipa com instrumentos de avaliação dos produtos, forçando, com isso, que o processo se ajuste às exigências postas pela demanda das empresas"
          Não é possível que o sucesso da escola possa ser dissociado dos deveres que o poder público deve ter para com ela. A qualidade na escola pública é responsabilidade do Estado e, como tal deve defender uma política de Estado para a educação pública. Não a de governos como tem sido recorrente.
         Em Campos dos Goytacazes,  o fracasso escolar não deve ser atribuído aos profissionais de educação que sofrem com o descaso do poder público, tanto em relação as condições físicas das escolas municipais, falta de materiais para garantir uma prática pedagógica adequada as necessidades da comunidade escolar , etc., como na falta de valorização profissional.
       O PCB seguirá na luta pela educação pública!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O PCB-RJ repudia as acusações sofridas em Campos

terça-feira, 29 de outubro de 2013


O PCB-RJ repudia as acusações sofridas em Campos

Pela Comissão Política Estadual
29/ 10/ 2913

Repudiamos as acusações do vereador Paulo Hirano, líder do Partido da República (PR), na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes, em relação a nossa camarada Graciete Santana, militante do Partido Comunista Brasileiro no referido município.

Ressaltamos que a acusação, caluniosa, de crime, atribuídas pelo citado edil, a nossa camarada, pelo fato da mesma manifestar sua discordância em relação ao SAERJ e à Prova Brasil, demonstram que este cidadão não apenas desconhece as discussões que permeiam toda sociedade brasileira na busca por uma educação de qualidade, como também ignora a luta de toda uma categoria, os profissionais da Educação, no sentido de dialogar com a população, apontando caminhos para alcançar uma educação pública que emancipe a classe trabalhadora.

O SAERJ e a Prova Brasil fazem parte da mesma lógica pedagógica implementada pelos governos de Sérgio Cabral (PMDB) e Dilma (PT), e visam tão somente aferir dados estatísticos com o objetivo de adequar procedimentos pedagógicos à lógica do capital e não à da classe trabalhadora. Aliás, a defesa do citado vereador a essa lógica poderia causar estranheza, por ser implementada pelos governos de Cabral e Dilma, adversários políticos do seu líder Garotinho, o que demonstra na realidade a farsa dessa suposta oposição pois todos comungam do mesmo interesse: a defesa do capital, pois são gerentes de uma mesma causa que se contrapõe aos trabalhadores.

A camarada Graciete, brava militante do nosso Partido, não só traduziu a nossa linha política de combate ao capitalismo como também traduziu a construção da luta dos profissionais da Educação, através de seu sindicato, o SEPE, onde como educadora está inserida, no sentido de organizar a categoria nas ações deliberadas em assembleias do sindicato, nesse momento refletida na recusa em participar dos instrumentos de avaliação externa, como o SAERJ e a Prova Brasil.

Repudiamos a tentativa de criminalização do movimento social organizado, a fascistização do fazer político, com a invasão da privacidade e manipulação da opinião pública contra aqueles que lutam por uma sociedade mais justa.

LUTAR POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE NÃO É CRIME!

                                

 

    

  A Corrente Sindical Unidade Classista, em defesa da educação pública, laica, gratuita e de qualidade, parceira na luta dos profissionais de educação da rede municipal de Campos dos Goytacazes, DENUNCIA a tentativa de criminalização da luta da categoria da educação, por setores do governo e, meios de Comunicação-possivelmente- a ele ligado.

  A UNIDADE CLASSISTA é uma corrente sindical combativa que compõe a direção do SEPE-Campos e, tem participado da luta dos Educadores de Campos em Luta, compondo suas fileiras, intransigente na defesa dos direitos dos profissionais de educação bem como, contra a precarização e descaso com a educação pública.

        NOTA DE ESCLARECIMENTO

                                        Prova Brasil, SAERJ e SAERJINHO – O que são?

A Prova Brasil ou o SAERJ, como admitem governos, são avaliações externas para diagnóstico em larga escala. Todas tem caráter de provas externas para coletas de dados. Como a coleta de dados não é parte das nossas atribuições, nenhum professor pode ser obrigado a aplicar provas externas.

A elaboração do projeto político pedagógico é garantida na LDB, no seu Art. 14. Diz que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as  suas peculiaridades e conforme os princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola: e II – participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalente.


Por que NÃO aplicar o SAERJ?

Aplicar o SAERJ ou qualquer outra prova externa é admitir-se como responsável pelo fracasso escolar, cujo verdadeiro responsável é o governo, seus interesses escusos e sua política privatista e de favorecimento à iniciativa privada, como consultorias pagas a EXPOENTE e o Instituto ALFA e BETA.

                                        Prova Brasil, SAERJ e SAERJINHO – O que são?

A Prova Brasil ou o SAERJ, como admitem governos, são avaliações externas para diagnóstico em larga escala. Todas tem caráter de provas externas para coletas de dados. Como a coleta de dados não é parte das nossas atribuições, nenhum professor pode ser obrigado a aplicar provas externas.

A elaboração do projeto político pedagógico é garantida na LDB, no seu Art. 14. Diz que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as  suas peculiaridades e conforme os princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola: e II – participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalente.

A LDB também se pronuncia em relação ao tipo de avaliação de verificação de rendimento escolar na qual a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência de aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais. Portanto, a avaliação não se dá a partir de uma prova. Se o governo quer saber –de fato- do desenvolvimento pedagógico dos alunos, que recorra aos conceitos estipulados pelas escolas e seus professores. Se quer fazer levantamentos de dados, que pague profissionais para isso.

É inconstitucional, obrigar o professor a exercer atividades além das suas atribuições.

Somos professores e não consta entre nossas atribuições, a de aplicador de prova externa, pesquisa, levantamento de dados ou nenhum outro mecanismo de avaliação externa. Professor não é aplicador!.

               A UNIDADE CLASSISTA convoca unidade na luta da classe trabalhadora contra as mazelas promovidas pelo capitalismo e seus gerentes, sendo eles os mantenedores do neoliberalismo, com o objetivo principal da retirada gradativa dos direitos trabalhistas conquistados através das lutas.

A Prefeita Rosinha e sua famigerada política para educação são inimigos comuns ao campo combativo do SEPE-Campos e os que lutam contra a ausência de investimentos na educação do município. Rosinha e seus lacaios têm promovido o sucateamento da educação pública e precarização da força de trabalho.

Como se não bastasse, repetindo uma prática adotada enquanto governadora do Estado do Rio de Janeiro com a criação do Programa Nova Escola na educação estadual, programa de gratificações duramente combatido pelo SEPE e sua base, onde de forma obscura previa patamares de gratificação por escola, foi aprovado no dia 21 de agosto de 2013, pela Câmara de Vereadores projeto de Lei, enviado pela Prefeita Rosinha Garotinho, instituindo gratificação para professores que atingirem metas que tirem a educação de Campos do último lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-IDEB.

A UNIDADE CLASSISTA/ SEPE é contra políticas de gratificações na educação pública. Gratificação não é salário! É mais um recurso de desmonte da educação pública, onde o governo municipal investe cada vez menos na educação, sem oferecer condições dignas para que os profissionais desenvolvam suas atividades.

Além disso, as gratificações estão atreladas aos resultados da Prova Brasil e SAERJ onde professores municipais não participam de sua elaboração, fazendo com que essas avaliações não se articulem com a realidade da sala de aula. Portanto, os resultados não devem ser atribuídos ao desempenho do professor, como se estes fossem os responsáveis por Campos estar em último lugar na avaliação do IDEB, nem tampouco em reverter este quadro, já que as condições de trabalho, em escolas sucateadas, permanecem as mesmas.

O programa de gratificações tem servido para dividir os profissionais de educação, usando de sutilezas para promover a nefasta aprovação automática cuja prática sustenta o crescimento de analfabetos funcionais.

A UNIDADE CLASSISTA não se calará diante dos ataques à educação pública e sairá em sua defesa contra o descaso do governo municipal.

                   Principais bandeiras de lutas:

Revisão do PCS                                                                                     

Eleição direta para  diretores de escolas, sem lista tríplice;

Respeito ao limite de alunos por turma;                                                                       

Construção de escolas e creches;                                                                             

Cumprimento de 1/3 de carga horária para planejamento;

Contra a política de gratificações do governo Rosinha Garotinho;

Valorização dos Profissionais de Educação (professores e funcionários);

Reativação das escolas rurais fechadas arbitrariamente;

Escolas de educação do campo:

Piso salarial de 5 salários mínimos para professor e de 3,5 para funcionários administrativos;

Concurso público para auxiliares de creche;

Concurso público para funcionários administrativos;

Respeito aos direitos dos readaptados conforme seu edital de concurso.

Combate ao ASSÉDIO MORAL!

Boicote a aplicação de avaliações externas      

Nenhum direito a menos. Ousar lutar. Ousar vencer!


Email: unidadeclassistacampos@gmail.com  Tel. (22)9937 6057/8819 1723/ 8841 2698

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Liderança dos agricultores V Distrito recebe apoio após atentado e vê rede de solidariedade se ampliar


http://blogdopedlowski.com/2013/10/20/lideranca-dos-agricultores-v-distrito-recebe-apoio-apos-atentado-e-ve-rede-de-solidariedade-se-ampliar/

Liderança dos agricultores V Distrito recebe apoio após atentado e vê rede de solidariedade se ampliar

Noêmia Magalhães, liderança dos agricultores do V distrito de São João da Barra onde está sendo construído o Porto do Açu, e que teve a frente do seu sítio alvejada por tiros na noite da última 5ª. feira (17/10) está recebendo a necessária solidariedade para sair fortalecida do lamentável episódio. Assim, neste sábado (19/10), Dona Noêmia (como é conhecida no V Distrito) participou do Encontro da Rede de Advogados Populares que ocorreu no município de Petrópolis. Neste evento, a CPT re-afirmou seu apoio aos camponeses e camponesas do V Distrito de São João da Barra que sofreram ameaças durante toda a semana passada.
 Já de volta ao V Distrito, participou junto com agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da colheita de maxixe e quiabo junto com pequenos agricultores da localidade de Água Preta. Esta foi uma atividade preparatória para o Encontro Estadual da Rede de Agroecologia que unirá assentados ligados ao MST e pequenos agricultores do V Distrito em defesa da soberania alimentar e agroecologia. Este encontro irá acontecer no próximo dia 27/10.
noemia
 Esses fatos combinados mostram que as ameaças que estão sendo feitas contra Dona Noêmia e outros agricultores que resistem ao processo de expropriação de terras que está sendo feito pela CODIN em prol do Grupo EBX do ex-bilionário Eike Batista estão surtindo o efeito oposto, e que a rede de solidariedade está se ampliando.

sábado, 12 de outubro de 2013

Suspensão do governo nos EUA


11 OUTUBRO 2013 
Quem sofre?
Editorial de Workers World
Apesar das discordâncias que existem, o Tea Party, os republicanos e os próprios democratas compartilham um programa básico. Estão em princípio de acordo em que o défice orçamental deve ser reduzido e que a prioridade do governo deve ser continuar a pagar os juros dos empréstimos bancários enquanto prossegue o financiamento da máquina militar. Assim, o défice será reduzido à custa de cortes nos programas sociais.
Por incapacidade ou por falta de vontade para chegar a um acordo para ampliar a despesa do governo, o Congresso estado-unidense provocou uma suspensão (shutdown) do governo. Conduzirá rapidamente ao despedimento temporário de 800.000 trabalhadores governamentais, manterá outros empregados trabalhando sem vencimento e ameaçará cortes em alguns programas sociais essenciais como o de assistência a mulheres, crianças e jovens (WIC na sigla inglesa) e instituições como o Centro para o Controlo de Doenças, já diminuído pela retenção de verbas.
O conflito no Congresso confronta os republicanos do Tea Party com a administração de Obama, enquanto os outros republicanos têm – até ao momento - alinhado com a sua ala mais intransigente e reaccionária. A escumalha do Tea Party no Congresso não parece preocupar-se com a possibilidade de pagar um preço político se o seu obstrucionismo vem a retardar o crescimento da já frágil economia capitalista - o que ocorrerá se se verifica uma suspensão prolongada.
Este agrupamento, financiado por multimilionários ultradireitistas como os irmãos Koch, centrou-se sobretudo na nova lei dos cuidados de saúde, Obamacare. Esta tem muitas falhas e complicações que foram criadas a partir do momento em que os democratas permitiram que fossem as indústrias farmacêutica, médica e de seguros a delinearem-na. Se o novo plano tivesse simplesmente alargado o Medicare a toda a população, teria suscitado a oposição da indústria médica mas teria sido extremadamente popular entre a classe trabalhadora, como o são o Medicare e o Seguro Social.
O governo tomou medidas para manter a maquinaria repressiva do estado a funcionar. Antes da suspensão, Obama assinou um projecto de lei para continuar a pagar a todos os militares no activo. Os drones que disparam bombas no Paquistão e no Iémen continuarão a ser financiados, tal como os mísseis apontados a Damasco na Síria. Os veteranos, pelo contrário, vão deparar com demoras para receber os seus apoios, e 400.000 empregados civis do Pentágono serão enviados para casa de licença sem vencimento.
Ainda que o ataque republicano tenha o seu foco no Obamacare, a verdadeira questão reside no orçamento e na sua forma de financiamento. Embora estejam em desacordo sobre se alguns impostos devem ser aumentados, sobre quem devem recair ou sobre o ritmo a que devem verificar-se os cortes nos programas sociais, o Tea Party, os republicanos e os próprios democratas compartilham um programa básico. Estão em princípio de acordo em que o défice orçamental deve ser reduzido e que a prioridade do governo deve ser continuar a pagar os juros dos empréstimos bancários enquanto prossegue o financiamento da máquina militar.
Em resultado, reduzem o défice atacando todos os programas existentes que ou proporcionam benefícios aos trabalhadores e aos pobres – como as senhas de alimentação, o WIC, os almoços escolares - ou que vigiam a criminalidade patronal - como a inspecção de alimentos e a vigilância do meio ambiente - ou que proporcionam serviços essenciais, como os correios e o Centro para o Controlo de Doenças. Se se verificam estes cortes, o governo converte-se, mais ainda do que já é, num instrumento exclusivamente ao serviço dos bancos e dos super ricos.
Estes ataques fazem do Tea Party e dos republicanos inimigos óbvios dos pobres e dos trabalhadores. Mas do Partido Democrata, da mesma forma que deixou cair as melhores componentes de um plano universal de saúde, pode igualmente esperar-se que ceda em componentes dos programas que ajudam os trabalhadores, incluindo o Seguro Social e o Medicare.
Assim, a lição a retirar da suspensão do governo é a da necessidade de que os trabalhadores, as comunidades e todas as pessoas pobres se organizem de forma independente dos grandes partidos políticos capitalistas para defender os seus interesses de classe, por exemplo através da organização de assembleias populares e de trabalhadores.
Workers World, 2 de Outubro de 2013

Dilma indica dirigente do setor privado para a presidência da PPSA, a nova estatal do pré-sal

11 OUTUBRO 2013 
CLASSIFICADO EM PCB - OLHAR COMUNISTA

A nomeação, veiculada na imprensa, de Oswaldo Antunes Pedrosa, que, desde 2010, trabalha na empresa HRT, para a nova empresa estatal criada PPSA - Pré-Sal Petróleo S/A, é uma clara indicação das reais intenções do governo para o setor. Oswaldo é o gerente executivo do campo de Polvo, em Campos (RJ), explorado pela HRT.  O nome foi escolhido a partir de uma lista de indicações com “perfil técnico”, encaminhada à presidente, elaborada pelo ministro de Minas e Energia Edison Lobão e pela presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster.

A PPSA foi criada  para coordenar a gestão e fiscalizar a exploração de petróleo dos campos do pré-sal no regime de partilha e participará da gestão dos consórcios que vão explorar os campos, com poder de veto e voto, mas sem assumir riscos de investimentos.  Fiscalizará, também, os gastos feitos pelos consórcios para a exploração dos campos de petróleo, custos que serão ressarcidos quando a produção começar. A presença dessa estatal é apontada como uma das causas que levaram algumas das maiores empresas petrolíferas do mundo, como a Exxon, BP e Chevron, a desistirem de participar do leilão do campo de Libra, previsto para o próximo dia 21, com reservas estimadas entre 8 e 12 bilhões de barris. Entre as empresas que se inscreveram estão 3 estatais chinesas.
A forma com a qual o Estado brasileiro vem atuando no setor do pré-sal, com a criação da PPSA, aparentemente “dirigista”, não passa de um arremedo para disfarçar a sua verdadeira intenção: facilitar a exploração privada das reservas do pré-sal, reservas de grande magnitude, cujos lucros ficarão, majoritariamente, com as grandes empresas privadas. O ritmo da exploração, se ditado pelo mercado, tende a ser muito intenso e realizado no futuro imediato, dadas as elevadas taxas de lucro que se apresentam, possibilitadas pelos elevados e crescentes níveis de preços praticados no mercado mundial. A Petrobrás, infelizmente, vem se comportando e se estruturando, também, como uma empresa privada. Mantidas essas tendências, que confirmam o comprometimento do governo atual – assim como dos governos FHC e Lula – com o grande capital, as reservas durarão pouco e os recursos (minoritários) que o governo captará, a partir de sua quota nas partilhas, não serão utilizados para a viabilização de novas fontes de energia e muito menos para reversão do grave quadro de  desigualdade social que caracteriza o Brasil.
Nesse momento, todo o esforço das organizações políticas e sociais do campo popular e de esquerda deve ser voltado para impedir a realização do leilão das reservas do Campo de Libra. Como afirmou, na mídia, o diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobrás, “o melhor regime para países que têm grandes recursos de petróleo é contratar uma empresa 100% estatal, como ocorre,  por exemplo, com a Petróleos da Venezuela (PDVSA)”. Para Sauer, é assustadora a opção do governo federal pelo leilão de Libra e atribuiu  a pressa em licitar a primeira área do pré-sal ao acordo firmado pelo governo brasileiro com os Estados Unidos, em março de 2011, durante a visita do presidente Barack Obama ao Brasil. O acordo  visava a acelerar a produção  dos recursos do pré-sal, “que é o que está sendo feito com  Libra”, para benefício mútuo dos dois países.

O Porto do Açu como enclave estadunidense no Norte Fluminense


11 OUTUBRO 2013 
A definição de enclave aponta que este é um território ou trato de terra de um país, que acaba no território de outro. A recente venda do controle acionário da LL(X) para  o grupo estadunidense EIG certamente apontará neste caminho, dada as peculiaridades que cercarão o controle das atividades que ali ocorrerão. Essa condição de enclave certamente aparecerá na forma de um controle ainda mais apertado do território do V Distrito, com o fechamento de áreas que tradicionalmente eram utilizadas por pescadores e agricultores, Aos esperançosos de que o funcionamento do Porto do Açu num futuro não distante representará dinamização de negócios do ponto de vista local, a análise de outros enclaves multinacionais em outros países mostra que esses enclaves acabam tendo vida própria, e não será surpresa se a EIG construir o que seria a “Cidade X” (agora provavelmente rebatizada para New USA City), onde não faltará praticamente nada do que seus funcionários julgarem essencial para a vida.
A perspectiva acima é sombria? Pode até ser, mas é para essa direção que estamos caminhando com a derrocada de Eike Batista. A nova situação em nada resolverá as aflições criadas pelos danos ambientais e sociais causados pelo Grupo EBX e pelo (des) governo de Sérgio Cabral. Aliás, a simples sinalização de que as desapropriações continuam sendo feitas, mesmo que a passo de cágado, mostra que a desterritorialização imposta sobre centenas de famílias vai continuar sendo uma marcada desse empreendimento.
Como já tive oportunidade de apontar anteriormente, a própria noção de que é possível gerar dinamismo econômico sem se preocupar com os aspectos sociais e ambientais envolvidos é uma marca do “neodesenvolvimentismo” criado por Lula e Dilma Rousseff. E o caso do Porto do Açu é provavelmente o mais próximo para quem vive na região Norte Fluminense. Agora, com a entrada do Grupo EIG, o que teremos é a chance de ver de perto como o neodesenvolvimentismo colabora para a ampliação da desnacionalização da economia brasileira e, de quebra, possibilita a tomada absoluta do controle de porções do território brasileiro por corporações multinacionais, que deles se servirão para ampliar a exploração das riquezas nacionais e aumentar as desigualdades sociais já existentes. Isto tudo em meio a condições de ampliação da degradação e dos custos ambientais desses empreendimentos.
Por Marcos Pedlowski,
prof. da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos-RJ
http://blogdopedlowski.com/2013/10/11/o-porto-do-acu-como-enclave-estadunidense-no-norte-fluminense/

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PC da Grécia: Manifestações massivas do PAME: sem medo e sem ilusões



10 OUTUBRO 2013 
Partido Comunista Grego
Milhares de manifestantes, trabalhadores, jovens, desempregados e aposentados inundaram no sábado, dia 5 de outubro, o centro de Atenas, assim como o centro de dezenas de cidades em todo o país, nas concentrações e marchas massivas organizadas pela Frente Militantes de Todos os Trabalhadores (PAME).
Em Atenas, a marcha massiva militante do PAME chegou à praça Sintagma, em frente ao parlamento europeu. Tais manifestações foram organizadas contra a política governamental da ND e do PASOK, sob as reivindicações:
· Assinatura de Acordos Coletivos de Trabalho junto com o Acordo de Trabalho Coletivo Nacional e abolição das leis antitrabalhistas em matéria de acordos.
· Proteção dos desempregados, seguro-desemprego e assistência farmacêutica.
· Abolição das leis contra a seguridade social, abolição dos cortes e retorno do 13° e 14° salários, o retorno dos fundos de pensões roubados pelo Estado e pelos empregadores.
· Readmissão dos demitidos no setor público, fim das demissões no setor privado.
· Fundo para cobrir as necessidades básicas na Educação, na Saúde e no Bem-estar.
· Abolição dos altos impostos, prevenção das execuções hipotecárias e os leilões, em detrimento das famílias populares.
Ao mesmo tempo, as manifestações tomaram um caráter de clara condenação à atividade criminosa da organização fascista do “Amanhecer Dourado”. Os manifestantes fizeram um minuto de silêncio em memória do jovem Pavlos Fissas, assassinado pelo Amanhecer Dourado.
Comentário do Secretário Geral do CC do KKE, Dimitris Koutsoumpas
O Secretário Geral do CC do KKE, Dimitris Koutsoumpas, na manifestação do PAME na praça Omonia, fez o seguinte comentário:
“A única esperança e perspectiva é o reagrupamento rápido do movimento operário e popular, a organização da luta popular, a promoção da aliança popular entre a classe operária, os empregados, os desempregados, os trabalhadores autônomos da cidade, os campesinos pobres, os jovens, as mulheres. É a união de forças com o movimento sindical de classe, com o PAME, com as demais agrupações, a ação comum com o KKE, com a perspectiva do poder popular, na direção da luta contra os monopólios, contra o sistema capitalista podre.
A condição prévia para que o povo realmente tenha o poder é a socialização dos monopólios, a retirada da União Europeia, o cancelamento unilateral da dívida. Certamente, este poder planificará, a nível central, a economia desenvolverá o potencial produtivo do país a favor da classe operária, a favor de nosso povo”.
PAME: Não existe uma gestão do capitalismo favorável ao povo
Giorgos Skiadiotis, membro do Secretariado Executivo do PAME, ao iniciar seu discurso na manifestação do PAME, comentou que o movimento operário e popular, o movimento da juventude tem a força de isolar, de esmagar e erradicar da face da terra a formação fascista do Amanhecer Dourado. Disse categoricamente que: “A formação assassina fascista pode se enfraquecer caso cada trabalhador que sofre se der conta de que o Amanhecer Dourado não tem nada a ver com as preocupações e os problemas do povo. É uma força preparada e treinada para levar a cabo atos violentos, para intimidar, para atuar de modo criminoso. É uma organização racista e mafiosa. Foi criada pelo capital e é ele que a financia e a utiliza. (…)
Precisamente, o Amanhecer Dourado luta em oposição àquilo pelo qual nós e os trabalhadores em geral lutamos. Nós lutamos por salários dignos enquanto eles estão ao lado dos patrões para diminuir os salários. Nós lutamos para que os sindicatos estejam livres da influência patronal e do Estado e eles estão ao seu serviço, como um mecanismo de repressão. Nós lutamos para unir os trabalhadores, independente da cor da pele, da religião, das relações trabalhistas, contra o capital. Já eles, estão semeando o racismo, o ódio racial e religioso. Nós tratamos de modo organizado a resistência à violência patronal e estatal enquanto eles são parte da violência patronal e estatal contra o movimento operário. Nós lutamos para abolir o sistema de exploração e eles são uma das ferramentas assassinas do sistema contra nós, a fim de manter seu poder. (…)
Além disso, estamos aqui nesta concentração massiva proclamada e organizada pelo PAME, por um lado, para romper e responder ao clima de medo e, por outro, acabar com as esperanças e ilusões que o governo e as forças do capital pretendem impor.
Contra o temor de que se as medidas não forem implantadas, será ainda pior. Contra o temor devido ao autoritarismo e à repressão. Contra as esperanças de que estas medidas, supostamente, são as últimas. Contra as esperanças de que através destas medidas teremos desenvolvimento e que fará dias melhores para os trabalhadores. Sem medo e sem ilusões. (…)
Estamos aqui:
· Porque o movimento sindical, o movimento popular, não pode ter outra linha de luta além da unidade contra o capital, as multinacionais, que são a fonte do mal, o tirano comum de todos os setores populares. Sua linha não pode ser a da colaboração de classes. Sua linha não pode ser outra além do repúdio de todos os administradores do capitalismo.
· Porque a vida o confirmou muitas vezes: a gestão do capitalismo não pode ser favorável ao povo.
· Porque não queremos viver com as mentiras, com a utopia de um desenvolvimento mais justo, de uma distribuição supostamente mais justa da riqueza que nós produzimos e que nos é prometida pelo governo e o SYRIZA. Não pode existir uma distribuição equitativa entre os que produzem a riqueza e que lhes pertence e aos ladrões que se apropriam desta.
Propomos a todas as organizações da classe operária, como uma escalada da luta, a proclamação de uma greve geral nacional em 23 de outubro. Porque devemos, de qualquer maneira, impedir a nova barbárie que vem a somar-se à situação anterior, fazendo a nossa vida um verdadeiro inferno. Porque os empregadores e o governo, os aliados estrangeiros dos monstros locais devem sentir o estímulo quente no pescoço quando preparam novos pesadelos para nós. Porque devemos criar as condições prévias para derrotar totalmente estas medidas e as forças que as promovem. Todos os sindicatos compartilham a obrigação de tomar posição a respeito de nossa proposta e posicionar-se afirmativamente. Os trabalhadores devem adotar uma postura estrita frente aos sindicatos e aos sindicalistas que repudiarão esta proposta.
Alguns pretendem, supostamente, com greves de longa duração impedir as medidas e derrotar o governo. Sem a discussão com os trabalhadores, sem a preparação necessária, sem alianças. Em poucos dias levam as mobilizações a degeneração e à desmobilização e à maior consolidação do governo e da coalizão governamental.
Trata-se dos fantoches de ontem que constituem a maioria da Confederação de Trabalhadores no Setor Privado (GSEE) e Público (ADEDY), a ‘Intervenção Autônoma’ e a ANTAESYA, cujo voluntarismo e sua fúria contra o PAME não tem limites.
Nós queremos discutir até a realização da greve, se é possível, com todos os trabalhadores, com todo o povo. Queremos integrar milhares de trabalhadores nos sindicatos e que milhares tomem parte em suas assembleias gerais e decidam. Queremos que aquele dia paralisem as fábricas, com os próprios trabalhadores às portas. Que se inundem as ruas pelos trabalhadores das fábricas e dos escritórios. Que estejam conosco nas ruas milhares de desempregados, mulheres e imigrantes. Que estejam conosco os trabalhadores autônomos que sofrem sem salário, sem renda, os camponeses pobres que têm novos laços envoltos ao redor de seus pescoços.
Se conquistarmos tudo isto, se a greve for um passo para esta direção, então os tiranos locais e estrangeiros perderão seus sonos”.
O representante do PAME destacou que somente então se criarão as condições prévias para que se vá o governo. Não apenas para que se vá o governo, porém, além disso, para que não venha outra com outros argumentos e consignas que continuará a política antipopular.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Brasil volta a ter as maiores taxas de juros básicos do mundo


Banco Central eleva a Selic em 0,5 ponto percentual, para 9,5% ao ano. Ao repetir o comunicado de alta pela quarta vez, Copom deixa as portas abertas para encerrar o ciclo de aumento em novembro, a 9,75%, evitando desgastes para o governo em 2014
 
Correio Braziliense



O Brasil voltou a ostentar os maiores juros básicos do mundo. Ontem, o Banco Central (BC) decidiu elevar em 0,5 ponto percentual a Selic, que passa para 9,5% ao ano, a partir desta quinta-feira (10/10). Descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, o país tem uma taxa de 3,5%, ficando à frente de economias como Chile, China e Índia no ranking global.

O reajuste foi o quinto consecutivo desde abril, quando os juros estavam na mínima histórica de 7,25%. A maioria dos analistas espera que o Comitê de Política Monetaria (Copom) encerre o atual ciclo de alta na última reunião de 2013, marcada para ofim de novembro, quando a Selic teria um aumento de mais 0,25 ponto e chegaria a 9,75%.

Doutor em economia pela Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, e diretor de Assuntos Internacionais do BC durante o governo Lula, Alexandre Schwartsman observa que falta “espaço político” para taxas acima de 10%, tendo em vista a aproximação da corrida eleitoral de 2014, em que a presidente Dilma Rousseff deve buscar um segundo mandato. “Esse é um governo que não tem muito para mostrar no campo econômico. Então, o juro de um dígito é, certamente, uma bandeira política que ele não quer perder de forma alguma”, afirma.

MPA realizará jornada nacional por soberania alimentar no mês de outubro




10 OUTUBRO 2013 
CLASSIFICADO EM MOVIMENTOS - POPULAR

“Só o campesinato é capaz de produzir alimentos saudáveis e baratos para o povo”
Entre os dias 14 a 18 de outubro o MPA realizará manifestações em todo o país, o elemento principal da jornada é o dialogo com a sociedade sobre a soberania alimentar, que é fundamental para a qualidade de vida do povo no campo e na cidade, serão realizadas assembleias, marchas, ocupações em cerca de 15 estados brasileiros, tendo o dia 16 ( data que se celebra o dia internacional da soberania alimentar)  como dia D  da jornada, entre as ações da jornada, será realizada um audiência popular em Juazeiro- BA,  que reunirá cerca de 5 mil pessoas de todo o nordeste.
Para Raul Krauser da coordenação nacional do MPA a soberania alimentar é um direito  popular  que é negado pelo estado brasileiro “entendemos como soberania,  a condição de cada pessoa ter acesso  a uma alimentação saudável em quantidade e qualidade... alimentos que estão inseridos no contexto climático e cultural  de cada região, no então o que vemos e a aversão do estado pela soberania, no Brasil vivemos um contexto em  que transnacionais como Monsanto, Pepsico, Nestlé, dentre outras empresas  que controlam e decidem quem vai comer ou não todos os dias”. Afirmou Krauser.
O Brasil apresenta um dos quadros de desigualdade social mais grandes do mundo, cerca de 50 milhões de brasileiros passam fome todos os dias, ao passo que as empresas multinacionais atingem lucros exorbitantes.
O MPA é um movimento nacional que  organiza as famílias camponesas de todo o Brasil a mais de 15 anos, defende o fortalecimento da agricultura camponesa, e a agroecologia como  modelo de produção contrapondo as ações do agronegócio,  afirmando que a função fundamental da agricultura e produzir alimentos com qualidade e que estejam ao acesso do povo.
Audiência popular no Semiárido por um nordeste sem desigualdade
Encontramos no nordeste brasileiro um cenário de desigualdade muito latente, a cada dia que passa a invasão das multinacionais sobre tudo as do agronegócio aumentam, fazendo que  centenas de comunidades camponesas  sejam dizimadas, Maria Kazé   da coordenação nacional do MPA  relata sobre essa conjuntura de indiferença “O Brasil tem a maior reserva de água doce do mundo, e o nordeste brasileiro enfrenta a maior insegurança hídrica do país, ou seja, milhões de pessoas não tem acesso a água para beber porque a água no semiárido tem sido usada para matar a sede de lucro das empresas do agronegócio, transformando a água e o alimento nas mercadorias mais caras do mundo” disse Maria.
A audiência popular do sertão tem o objetivo de debater esses e outros problemas políticos e econômicos e afligem a  região, a audiência  terá inicio as nove horas da manhã do dia 16 de outubro na sede da CODEVASF em Juazeiro, Bahia.

Che Guevara



08 OUTUBRO 2013 

Dependência e Revolução Socialista: a contribuição de Ruy Mauro Marini




Eduardo Serra, Ricardo Costa, Rodrigo Castelo
Ainda pouco conhecido no Brasil, Ruy Mauro Marini foi um dos maiores críticos do nacional-desenvolvimentismo. O resgate da sua obra e militância é uma necessidade teórico-política para os comunistas brasileiros, hoje envoltos na luta contra uma nova etapa do capitalismo dependente, que alguns analistas chamam de neodesenvolvimentismo.
Nascido em 1932 em Barbacena, Minas Gerais, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1950, tendo estudado no curso de Direito na UFRJ, não concluído, e depois na Escola Brasileira de Administração Pública, ligada à Fundação Getúlio Vargas, onde teve contato com as ideias desenvolvimentistas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina, ligada à ONU). Em 1958, obteve bolsa de estudos para cursar o Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Paris.
No contexto mundial das lutas de libertação nas Américas, Ásia e África, as teorias do desenvolvimento, em voga nos centros imperialistas, começaram a se revelar a Marini como forma de mistificar a exploração capitalista e como instrumento de domesticação dos povos do Terceiro Mundo, que se levantavam contra o imperialismo. Com isso, Marini, influenciado pelas ideias marxistas, afastava-se das perspectivas apontadas pela CEPAL, segundo a qual seria possível aos países da América Latina avançarem no rumo de um capitalismo nacional autônomo, com vistas à superação do “atraso” econômico decorrente das trocas comerciais desiguais entre os países da periferia e do centro (mercadorias primárias por industriais).
A Teoria da Dependência
As ideias desenvolvimentistas ganharam força no Brasil na década de 1950. Impulsionadas pelas crescentes urbanização e industrialização, ganharam fôlego com a política adotada pelo governo JK sintetizada no Plano de Metas, pela qual se dava vazão a implantação da indústria de bens de consumo duráveis, além da expansão da infraestrutura. Mas a opção de JK pela ampla abertura ao capital estrangeiro colocou por terra a defesa do “capitalismo nacional autônomo”, projeto que, segundo os desenvolvimentistas, convergiria os interesses da burguesia e da classe trabalhadora por meio do aumento do emprego e da distribuição da renda. A burguesia brasileira se tornou, de fato, sócia minoritária do capital internacional e abandonou, de vez, qualquer projeto de uma revolução nacional-democrática.
Tal avaliação, divergente das teses então dominantes no interior da esquerda brasileira, foi difundida pelo coletivo de que Marini fez parte. Ainda na França, ele entrou em contato com o grupo que editava, no Brasil, a revista Movimento Socialista, da juventude do Partido Socialista Brasileiro, que, mais tarde, formaria a Organização Revolucionária Marxista - Política Operária (POLOP). Esta corrente, com bases no Rio, São Paulo e Belo Horizonte, seria a expressão de uma esquerda revolucionária que discordava das teses nacional-democráticas defendidas então pelo PCB e proporia, de forma isolada nos anos 1960, a bandeira estratégica da Revolução Socialista no Brasil, sem a etapa democrático-burguesa.
Em 1962, Marini foi convidado para dar aulas na recém-fundada UnB, onde conviveu com André Gunder Frank, Theotônio dos Santos e Vânia Bambirra. Ali nasceu a chamada Teoria da Dependência, fazendo frente às teses dualistas (atraso x desenvolvimento) presentes tanto nas análises dos partidos comunistas quanto da CEPAL a respeito da realidade latino-americana. A nova teoria rejeitava categoricamente a ideia do desenvolvimento capitalista para superar o atraso econômico dos países periféricos, afirmando, pelo contrário, que a independência da América Latina frente ao imperialismo somente ocorreria com a supressão das relações de produção capitalistas, não com a sua expansão. Esta, no fundo, representaria o desenvolvimento do subdesenvolvimento.
O Brasil e o subimperilaismo
Com o golpe de 1964, Marini foi para o México e para o Chile, retornando ao México após a derrubada do governo socialista de Allende. Neste período, produziu textos fundamentais para a compreensão de suas teses, como Subdesenvolvimento e Revolução (1969) e Dialética da Dependência (1973), onde aparece a categoria de superexploração do trabalho, que parte da ideia segundo a qual as perdas de mais-valia sofridas pelas burguesias latino-americanas em virtude do intercâmbio desigual levam-nas a “agudizar os métodos de extração do trabalho excedente”, pela combinação de baixos salários com a intensificação do trabalho, muitas vezes obtida com a extensão das jornadas.
Foi também neste período que Marini começou a dar corpo à  outra categoria fundamental de sua análise sobre o capitalismo dependente: o subimperialismo. Com esta categoria Marini tratava de compreender a entrada do capitalismo dependente na fase monopolista, o que se deu em especial após a 2ª Guerra Mundial. Isso acarretava uma mudança na divisão internacional do trabalho, com a emergência de centros intermediários de acumulação. Entre estes, se destacava o Brasil, que passou a adotar em certos períodos uma política de “cooperação antagônica” frente ao imperialismo. Daí que sua análise já apontasse para a crítica do subimperialismo brasileiro na América Latina e na África, na medida em que as burguesias locais, associadas diretamente ao capital internacional, buscavam ampliar a acumulação com a expansão, para o exterior, das empresas baseadas no Brasil.
As formulações de Marini foram criticadas por autores como José  Serra e F. H. Cardoso, que o acusavam de “combater moinhos de vento e remar contra a corrente”, dado que, na opinião destes, o capitalismo se desenvolvia pela introdução de tecnologias somente disponíveis nos países centrais. Também defendiam a entrada de capital estrangeiro como forma de superar a crise do início dos anos 1960, identificada por eles como uma crise do capitalismo nacional. Por outro lado, Ruy Mauro e outros autores marxistas viam a crise no Brasil e na América Latina como uma crise de acumulação capitalista, reforçada pela vinculação ao capital estrangeiro, materializada na presença das empresas transnacionais. Estas buscavam um sobre-lucro nos países periféricos, que, gerado pela superexploração do trabalho, só fazia agravar as desigualdades sociais.
Na década de 1990, escrevendo sobre a nova fase do capitalismo, que muitos denominavam apologeticamente de “globalização”, Marini identificava a configuração de uma nova divisão internacional do trabalho, com a constituição de um exército industrial de reserva “globalizado” e a tendência à generalização para o todo o sistema daquele traço que era próprio (embora não exclusivo) da economia dependente: a superexploração do trabalho.
Após o furor neoliberal da Era FHC, os rumos trilhados pela economia brasileira, durante os governos Lula e Dilma (que se assumem “neodesenvolvimentistas”), não se afastaram, no essencial, do modelo da dependência e subordinação ao imperialismo, garantindo ainda a plena expansão para o exterior das empresas sediadas no Brasil. Nesse sentido, é extremamente atual a contribuição de Ruy Mauro Marini para o entendimento e a reflexão sobre o quadro atual, assim como ganha relevo o projeto da Revolução Socialista como única alternativa real à dependência dos países e povos ao imperialismo.
Eduardo Serra é professor da UFRJ e do Comitê  Central do PCB; Ricardo Costa é professor da Faculdade Santa Dorotéia e do Comitê Central do PCB; Rodrigo Castelo é professor da UNIRIO e militante do PCB

A indústria da mentira, parte da máquina de guerra do imperialismo


09 OUTUBRO 2013 
Na história da indústria da mentira, parte integrante do aparelho industrial militar do imperialismo, 1989 é um ano de viragem. Nicolae Ceausescu ainda está no poder na Roménia. Como derrubá-lo? Os meios de comunicação ocidentais difundem de modo maciço junto à população romena informação e imagens do "genocídio" cometido em Timisoara pela polícia por indicação de Ceausescu.
Domenico Losurdo
1. Os cadáveres mutilados
O que acontecera na realidade? Beneficiando-se da análise de Debord sobre a "sociedade do espectáculo", um ilustre filósofo italiano (Giorgio Agamben) sintetizou de modo magistral a história de que aqui se trata:
"Pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres sepultados ou alinhados sobre mesas das morgues foram desenterrados às pressas e torturados para simular, frente às câmaras, o genocídio que devia legitimar o novo regime. O que o mundo viu direto como verdade real, na tela da televisão, era a não verdade absoluta. Embora a falsificação fosse óbvia, ela todavia era autenticada como verdadeira pelo sistema midiático internacional, porque estava claro que agora a verdade não era senão um momento do movimento necessário do falso. Assim, a verdade e a mentira tornaram-se indiscerníveis e o espetáculo legitimava-se unicamente mediante o espetáculo.
Timisoara é, neste sentido, a Auschwitz da sociedade do espetáculo: e como já foi dito que depois de Auschwitz é impossível escrever e pensar como antes, da mesma forma, depois de Timisoara não será mais possível ver a tela de televisão do mesmo modo" (Agamben, 1996, p. 67).
No ano de 1989 a transição da sociedade do espetáculo para o espetáculo como técnica de guerra manifestou-se em escala planetária. Algumas semanas antes do golpe de Estado, ou seja, da "revolução Cinecittà" na Romênia (Fejtö 1994, p 263), em 17 de novembro de 1989, a "revolução de veludo" triunfava em Praga agitando uma palavra de ordem de Gandhi: "Amor e Verdade". Na realidade, um papel decisivo coube à divulgação da notícia falsa de que um aluno fora "brutalmente assassinado" pela polícia. Vinte anos mais tarde, revela satisfeito um "jornalista e líder da dissidência, Jan Urban", protagonista da manipulação: a sua "mentira" havia tido o mérito de suscitar a indignação em massa e o colapso de um regime já periclitante (Bilefsky 2009).
Algo semelhante acontece na China: em 08 de abril de 1989, Hu Yaobang, secretário do PCC até dois anos antes, sofreu um enfarte durante uma reunião da Comissão Política e morreu uma semana depois. Para a multidão na Praça da Paz Celestial, a sua morte está ligada ao duro conflito político verificado no decorrer naquela reunião (Domenach, Richer, 1995, p 550.). De qualquer modo ele se torna vítima do sistema que se tenta derrubar. Em todos os três casos, a invenção e a denúncia de um crime são chamados a suscitar a onda de indignação de que o movimento de revolta tem necessidade. Se se consegue o êxito completo na Checoslováquia e na Romênia (onde o regime socialista havia-se seguido ao avanço do Exército Vermelho), esta estratégia falhou na República Popular da China que brotou de uma grande revolução nacional e social. E aqui é que tal fracasso se torna o ponto de partida de uma nova e mais maciça guerra midiática, que é desencadeada por uma superpotência que não tolera rivais ou potenciais rivais e que ainda está em pleno desenvolvimento. Fica definido que o ponto da viragem histórica está em primeiro lugar em Timisoara, "a Auschwitz da sociedade do espetáculo".
2. "Bebês à venda" e o corvo marinho
Dois anos depois, em 1991, verificou-se a primeira Guerra do Golfo. Um corajoso jornalista estadunidense explicou como se deu "a vitória do Pentágono sobre a mídia", ou seja, a "derrota colossal dos media por obra do governo dos Estados Unidos" (Macarthur 1992, pp. 208 e 22).
Em 1991, a situação não era fácil para o Pentágono (nem para a Casa Branca). Tratava-se de convencer da necessidade da guerra um povo sobre o qual ainda pesava a memória do Vietnam. E então? Espertezas várias reduziram drasticamente a possibilidade de jornalistas falarem diretamente com os soldados ou reportarem diretamente a partir da frente. Na medida do possível, tudo deve ser filtrado: o fedor da morte e sobretudo o sangue, o sofrimento e as lágrimas da população civil não devem invadir as casas dos cidadãos dos EUA (e dos habitantes do mundo inteiro) como no tempo da guerra do Vietnam. Mas o problema central mais difícil de resolver era outro: como demonizar o Iraque de Saddam Hussein, que ainda há alguns anos era considerado digno aos olhos dos EUA, agredindo o Irã, que brotara da revolução islâmica e antiamericana de 1979 e inclinado a fazer proselitismo no Oriente Médio? A demonização teria sido muito mais eficaz se ao mesmo tempo a sua vítima fosse angelical. Operação nada fácil, e não apenas pelo fato de no Kuwait ser dura e impiedosa a repressão de todas as formas de oposição. Havia algo pior. Para executar as tarefas mais humildes, os imigrantes eram sujeitos a uma "escravatura de fato" e uma escravatura de fato que muitas vezes assumia formas sádicas: não despertou particular emoção casos de "servos arremessados a partir do terraço, queimados ou cegos ou espancados até a morte " (Macarthur 1992, pp. 44-45).
E ainda assim... Generosamente ou fabulosamente recompensada, uma agência de publicidade encontra remédio para tudo. Esta denunciou o fato de que os soldados iraquianos cortavam as "orelhas" dos kuwaitianos que resistiam. Mas o golpe de teatro desta campanha era outro: os invasores haviam irrompido num hospital, "removendo 312 bebês das suas incubadoras e deixando-os morrer no chão frio do hospital de Kuwait City" (Macarthur 1992, p 54). Proclamada repetidamente pelo presidente Bush pai, confirmado pelo Congresso, endossado pela imprensa de referência, e até mesmo pela Anistia Internacional, esta notícia tão horripilante, mas mesmo assim circunstanciada para indicar com precisão o número de mortes, não poderia deixar de provocar uma onda avassaladora de indignação: Saddam Hussein era o novo Hitler, a guerra contra ele era não só necessária como também urgente e aqueles que se opusessem a ela ou fossem recalcitrantes deveriam ser considerados como cúmplices mais ou menos conscientes do novo Hitler! A notícia era obviamente uma invenção habilmente produzida e distribuída, mas foi para isso que a agência de publicidade bem merecera o seu dinheiro.
A reconstrução desta história está contida em um capítulo do livro aqui citado com um título adequado: "Bebês à venda" (Selling Babies). Na verdade, o "anunciado" não foram apenas os bebés. Logo no início das operações militares foi difundida por todo o mundo a imagem de um corvo marinho que se afogava no petróleo a jorrar de poços explodidos pelo Iraque. Verdade ou manipulação? A causa da catástrofe ecológica era Saddam? E há realmente corvos marinhos naquela região do globo e naquela estação do ano? A onda de indignação, autêntica e habilmente manipulada, varreu a última resistência racional.
3. A produção do falso, o terrorismo da indignação e o desencadeamento da guerra
Façamos um novo salto alguns anos em frente e chegamos assim à dissolução, ou melhor, ao desmembramento da Iugoslávia. Contra a Sérvia, que historicamente fora a protagonista do processo de unificação deste país multi-étnico, nos meses que antecederam o bombardeamento total desencadeou-se uma onda de bombardeamentos multimídia. Em agosto de 1998, um jornalista americano e um alemão
"Referem-se à existência de valas comuns contendo 500 cadáveres de albaneses, incluindo 430 crianças, perto de Orahovac, onde se combateu duramente. A notícia foi retomada por outros jornais ocidentais com grande destaque. Mas era tudo falso, como evidenciado por uma missão de observação da UE " (Morozzo Della Rocca 1999, p. 17).
Nem por isso a fábrica de falsificações entrava em crise. No início de 1999, os meios de comunicação ocidentais começaram a bombardear a opinião pública internacional com fotografias de cadáveres empilhados no fundo de um penhasco e, por vezes, decapitados e mutilados; as legendas e artigos que acompanhavam tais imagens proclamavam que se tratava de civis albaneses inermes massacrados pelos sérvios. Só que:
"O massacre de Racak é horrendo, com mutilações e cabeças decepadas. É um cenário ideal para despertar a indignação da opinião pública internacional. Mas alguma coisa parece estranha nesta modalidade de carnificina. Os sérvios matam habitualmente sem fazer mutilações [...] Como ensina a guerra na Bósnia, as denúncias de brutalidade sobre corpos, sinais de tortura, decapitações, são uma arma da propaganda difundida [...] Talvez não fossem os sérvios, mas sim os guerrilheiros albaneses que mutilaram os corpos" (Morozzo Della Rocca 1999, p. 249).
Ou, talvez, os corpos das vítimas de um dos inumeráveis confrontos entre grupos armados tivessem sido submetidos a um tratamento sucessivo, a fim de fazer acreditar numa execução a frio e num desencadeamento de fúria bestial, da qual era imediatamente acusado o país que a OTAN se preparava para bombardear (Saillot 2010, pp. 11-18).
A encenação de Racak foi apenas o culminar de uma campanha de desinformação obstinada e cruel. Alguns anos antes, o bombardeamento do mercado de Sarajevo havia permitido à OTAN erguer-se como suprema autoridade moral, que não se podia permitir deixar impune a "atrocidade" sérvia. Hoje em dia pode-se ler, mesmo no Corriere della Sera, que "foi uma bomba de paternidade muito duvidosa a fazer o massacre no mercado de Sarajevo provocando a intervenção da OTAN" (Venturini 2013). Com este precedente anterior, Racak aparece hoje como uma espécie de reedição de Timisoara, uma reedição prolongada por alguns anos. E no entanto, também neste caso, houve êxito. O ilustre filósofo que em 1990 havia denunciado "o Auschwitz da sociedade do espetáculo" verificado em Timisoara, cinco anos depois alinhava-se ao coro dominante, trovejando de forma maniqueísta contra "o deslize repentino da classe dirigente ex-comunista no racismo mais extremo (como na Sérvia, com o programa de limpeza étnica)" (Agamben 1995, pp. 134-35). Depois de haver agudamente analisado a trágica indiscernibilidade da "verdade e falsidade" na sociedade do espetáculo, ele acaba, involuntariamente, por confirmá-la, aceitando de modo precipitado a versão (ou seja, a propaganda de guerra) difundida no "sistema mundial de mídia", que anteriormente apontara como a fonte principal da manipulação. Depois de ter denunciado a redução do "verdadeiro" para "momento do movimento necessário do falso", feito pela sociedade do espetáculo, ele limitava-se a conferir uma aparência de profundidade filosófica a esse "verdadeiro" reduzido a "momento do movimento necessário do falso".
Por outro lado, um elemento da guerra contra a Iugoslávia, mais do que em Timisoara, nos leva de volta à primeira Guerra do Golfo. É o papel desempenhado pelas relações públicas:
Milosevic. "Milosevic é um homem tímido, não gosta de publicidade, não gosta de se mostrar ou fazer discursos em público. Parece que aos primeiros sinais de desagregação da Iugoslávia, a Ruder&Finn, empresa de relações públicas que trabalhara para o Kuwait, em 1991, apresentou-se para oferecer os seus serviços. Foi recusada. A Ruder&Finn foi, entretanto, contratada de imediato pela Croácia, pelos muçulmanos da Bósnia e pelos albaneses do Kosovo por 17 milhões de dólares por ano, a fim de proteger e promover a imagem dos três grupos. E ela fez um ótimo trabalho!
James Harf, diretor da Ruder&Finn Global Public Affairs , afirmou numa entrevista [...]:
"Fomos capazes de fazer coincidir na opinião pública sérvio e nazista [...] Nós somos profissionais. Tínhamos um trabalho a fazer e fizemos. Não somos pagos para fazer lição de moral" (Toschi Marazzani Visconti 1999, p. 31).
Chegamos agora à segunda Guerra do Golfo: nos primeiros dias de fevereiro de 2003, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, mostrava à plateia do Conselho de Segurança da ONU as imagens de laboratórios móveis para a produção de armas químicas e biológicas que o Iraque dispunha. Algum tempo depois o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, redobrava a dose: não só Saddam tinha essas armas como já havia feito planos para usá-las e era capaz de ativá-las "em 45 minutos." E mais uma vez o espetáculo, nada mais que o prelúdio para a guerra, constituía o primeiro ato de guerra, pondo em guarda contra um inimigo de que o gênero humano se devia absolutamente desembaraçar.
Mas o arsenal das armas da mentira executadas ou prontas para o uso foi muito além disso. A fim de "desacreditar o líder iraquiano aos olhos do seu próprio povo", a CIA propunha-se a "divulgar em Bagdad, um filme revelando que Saddam era gay. O vídeo devia mostrar o ditador iraquiano tendo relações sexuais com um garoto. "Devia parecer feito a partir de uma câmara oculta, como se fosse uma gravação clandestina". A ser estudada estava também "a possibilidade de interromper a transmissão da televisão iraquiana com uma pretensa edição extraordinária do telejornal contendo o anúncio de que Saddam havia renunciado e que todo o poder fora retirado de seu filho Uday, temido e odiado" (Franceschini 2010).
Se o Mal deve ser mostrado e marcado em todo o seu horror, o Bem deve aparecer em todo o seu esplendor. Em dezembro de 1992, fuzileiros navais dos EUA desembarcaram na praia de Mogadiscio. Para maior exatidão, desembarcaram duas vezes e a repetição da operação não se deveu a dificuldades militares ou logísticas imprevistas. Era preciso mostrar ao mundo que, mesmo antes de ser um corpo militar de elite, os fuzileiros eram uma organização beneficente e caridosa que trazia esperança e um sorriso ao povo somali devastado pela miséria e pela fome. A repetição do desembarque-espetáculo destinava-se a emendá-lo nos seus pormenores errados ou defeituosos. Um jornalista e testemunha explicou:
"Tudo o que está acontecendo na Somália e que se verá nas próximas semanas é um show militar-diplomático [...] Uma nova época na história da política e da guerra começou realmente, na noite bizarra de Mogadíscio [...] A "Operação Esperança" foi a primeira operação militar não apenas filmada ao vivo pelas câmaras, mas pensada, construída e organizada como um show de televisão" (Zucconi 1992).
Mogadíscio era a contrapartida de Timisoara. A alguns anos de distância da representação do Mal (o comunismo que finalmente desmoronou) seguiu-se a representação do Bem (o império americano, que emergia do triunfo alcançado na Guerra Fria). São agora claros os elementos constitutivos da guerra-espetáculo e do seu êxito.
Referências bibliográficas
Giorgio Agamben 1995
Homo sacer. Il potere sovrano e la nuda vita, Einaudi, Torino
Giorgio Agamben 1996
Mezzi senza fine. Note sulla politica, Bollati Boringhieri, Torino
Dan Bilefsky 2009
A rumor that set off the Velvet Revolution, in International Herald Tribune del 18 novembre, pp. 1 e 4
Jean-Luc Domenach, Philippe Richer 1995
La Chine, Seuil, Paris
François Fejtö 1994 (em colaboração con Ewa Kulesza-Mietkowski)
La fin des démocraties populaires (1992), tr. it., di Marisa Aboaf, La fine delle democrazie popolari. L'Europa orientale dopo la rivoluzione del 1989, Mondadori, Milano
Enrico Franceschini 2010
La Cia girò un video gay per far cadere Saddam, "la Repubblica", 28 maggio, p. 23
John R. Macarthur 1992
Second Front. Censorship and Propaganda in the Gulf War , Hill and Wang, New York
Roberto Morozzo Della Rocca 1999
La via verso la guerra, in Supplemento al n. 1 (Quaderni Speciali) di "Limes. Rivista Italiana di Geopolitica", pp. 11-26
Fréderic Saillot 2010
Racak. De l'utilité des massacres, tome II, L'Hermattan, Paris
Jean Toschi Marazzani Visconti 1999
Milosevic visto da vicino, Supplemento al n. 1 (Quaderni Speciali) di "Limes. Rivista Italiana di Geopolitica", pp. 27- 34
Franco Venturini 2013
Le vittime e il potere atroce delle immagini, in Corriere della Sera del 22 agosto, pp. 1 e 11
Vittorio Zucconi 1992
Quello sbarco da farsa sotto i riflettori TV, in la Repubblica del 10 dicembre