sábado, 30 de junho de 2012

FUPO confirma Erik Schunk

Folha da Manhã

A convenção dos três partidos – PSOL, PCB e PSTU - que compõem a Frente de Unidade Popular (Fupo), foi na sede do PSOL. Sem surpresas Erik Schunk (PSOL) é o candidato a prefeito da Fupo, com Amaro Sérgio (PCB) na vice. Exibindo confiança e disposição de enfrentar uma campanha sem os recursos materiais dos demais adversários, Erik se disse feliz. “O processo nos mostra que atingimos as pessoas com certo nível de consciência. Os indicadores nos sinalizam positivamente, a conjuntura nos favorece. A sociedade está cansada das práticas políticas demagógicas e clientelistas e somos nós a opção nessas eleições”, falou

PSOL CONFIRMA ERIK SCHUNK

SITE DO URURAU


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Já o PSOL, confirmou a chapa Érik Schunk e Amaro Sérgio na coligação que ainda conta com PCB e PSTU. Para Schunk, sua candidatura é uma opção para aqueles que querem uma mudança radical no que considera uma política “paternalista e clientelista”.

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

A dura lição do Paraguai


imagemCrédito: RLA


Escrito por Javier Salado (Correspondente do Resumen Latinoamericano em Cuba)
O “candidato dos pobres”, Fernando Lugo, ganhou as eleições presidenciais de agosto de 2008 com uma clara maioria de votos sobre os seus concorrentes Blanca Olevar e Lino Oviedo. O povo paraguaio se pronunciou pela mudança, para iniciar seu caminhar distante dos interesses oligárquicos. As esperanças dos trabalhadores rurais pobres renasceram perante a terrível realidade onde 75% da terra estava nas mãos de apenas 2,5% dos proprietários.
Iniciou-se então naquele ano uma etapa semeada de sonhos no Paraguai. O implacável tempo transcorreu, e ainda que muitos sonhos populares se viram frustrados, e o presidente Lugo negociou e renegociou com a oligarquia nacional, concedeu e voltou a fazer concessões ao poder econômico e político dos setores direitistas teleguiados desde Washington, o povo guarani não deixava escapar a Esperança, aquela luz que indicava que deviam ter paciência, que este era o presidente dos pobres, eleito por eles, que logo viria uma verdadeira reforma agrária que entregaria a terra a quem nela trabalha.
A oligarquia, direta representante dos interesses imperialistas no Paraguai, se preparava para arrebatar a Esperança ao povo, e começaram a buscar as vias, afrontaram intenções do governo, se encastelaram nos “interesses pátrios” para manter distante o Paraguai da onda progressista e nacionalista que recorre a América Latina e o Caribe, buscaram nas leis emitidas por eles mesmos para proteger seus interesses frente aos interesses populares, esperaram o momento e criaram as condições para preparar uma emboscada contra o presidente Lugo: ocupação de terras (algo cotidiano no Paraguai) de um dos homens mais ricos do país, presença policial que utiliza a violência para a desocupação, e mortos, os tão necessários mortos para declarar a ingovernabilidade do país.
Não importa que os policiais mortos tenham sido baleados, enquanto os trabalhadores rurais estavam armados somente com seus instrumentos de trabalho; a suspeita decisão de não investigar a profundidade dos fatos demostram por si mesmo o objetivo perseguido.
Um julgamento político relâmpago solicitado e executado em algumas horas e um golpe de estado parlamentar, consolidaram a queda do presidente eleito pela maioria do um milhão e meio de eleitores que o escolheram. A Esperança foi sitiada “legalmente” com o voto de apenas 40 pessoas. A emboscada foi exitosa.
Os ensinamentos para nossos povos e processos são preciosos. Em Assunção, o imperialismo e a oligarquia empregaram o mesmo esquema de abril de 2002 em Caracas: obter uma justificativa a partir da criação de atos violentos e a morte de participantes. Em 2002, os assassinos foram francoatiradores postados previamente para massacrar pessoas de um e outro grupo; em Curuguaty somente podemos assegurar algo por agora: estavam ali presentes e portavam armas de fogo de alto calibre. Por outra parte, com a experiência de Honduras, repetida agora no Paraguai, o imperialismo compreende que não é necessário organizar um golpe de estado sangrento ao estilo dos anos sessenta.
Fórmula semelhante trataram de aplicar no Equador com uma suspeita greve de policiais, abortada pelo valor do presidente Correa, a mobilização popular e as forças armadas constitucionais. No momento em que estou escrevendo este artigo, o presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrenta uma estranha mobilização da polícia por reivindicações econômicas que transita pela inusitada concentração de armamentos e efetivos nas instalações policiais.
Há uma mudança de modalidades de golpes de estado, subversão, ingerência, com a mesma finalidade de manter no poder seus fantoches.
Devemos estar alertas, todos os povos do rio Bravo à Patagônia. O Paraguai foi um ensaio, o verdadeiro objetivo é a ALBA e Hugo Chávez. A sombra do fascismo como um vírus se espalha como uma teia; a unidade dos nossos povos, a mobilização popular, a solidariedade são o melhor antivírus. As horas vindouras serão cruciais.
Fonte:

UJC (UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA)


quinta-feira, 28 de junho de 2012

DECLARAÇÃO FINAL CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20


imagemCrédito: Cúpula dos Povos


Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos e organizações da sociedade civil de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.
A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.
As instituições financeiras multilaterais, as coalizões a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferência oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.
Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema economico-financeiro.
As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista associado ao patriarcado, ao racismo e à homofobia.
As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistemática violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade.
Avança sobre os territórios e os ombros dos trabalhadores/as do sul e do norte. Existe uma dívida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos do sul do mundo que deve ser assumida pelos países altamente industrializados que causaram a atual crise do planeta.
O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre os recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessários à sobrevivencia.
A atual fase financeira do capitalismo se expressa através da chamada economia verde e de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento público-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.
As alternativas estão em nossos povos, nossa história, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemônico e transformador.
A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economía cooperativa e solidária, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética,  são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.
A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e povos. A construção da transição justa supõe a liberdade de organização e o direito a contratação coletiva e políticas públicas que garantam formas de empregos decentes.
Reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação, e à saúde sexual e reprodutiva das mulheres.
fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A maior riqueza é a diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada e as que estão intimamente relacionadas.
Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para corporações.
A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas comuns a partir das resistências e proposições necessárias que estamos disputando em todos os cantos do planeta. A Cúpula dos Povos na Rio+20 nos encoraja para seguir em frente nas nossas lutas.
Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.
Comitê Facilitador da Sociedade Civil na Rio+20 - Cúpula dos Povos

AOS SERVIDORES DAS CARREIRAS DE ESTADO



imagemCrédito:googleusercontent
O Governo Dilma impôs a maior perda da história do funcionalismo federal, ao privatizar a previdência dos servidores, entregando-a aos grandes bancos e fundos de pensão. Agora, depois de anos sem reajuste salarial, o Planalto comemora a redução das despesas de pessoal em relação ao PIB, que atingiram o menor patamar da última década. Em contraposição, o resultado do superávit primário dos últimos 12 meses é o melhor em 10 anos. Deve-se lembrar, no entanto, que boa parte do crescimento econômico e do equilíbrio fiscal decorre do empenho das carreiras de Estado.
Neste sentido, a aliança inédita dessas carreiras foi construída para dar um basta à protelação das negociações salariais. Desde 2011, são realizadas reuniões estéreis com o Governo, situação que vem se repetindo neste ano de 2012. Assim, os sindicatos e associações signatários deste documento, representando cerca de 100.000 servidores, decidiram intensificar a luta salarial.
O ato público em frente ao Ministério do Planejamento no dia 28 de junho, a partir das 14h, será uma manifestação de protesto. É fundamental a participação de todos em apoio às diversas categorias que já estão realizando paralisações no país e no exterior. A janela orçamentária está fechando e o momento é o de imprimir força máxima à mobilização!
Brasília, 25 de junho de 2012

Camarada Herzog, presente!


imagemCrédito: PCB
Nesta quarta-feira, 27 de junho, o militante do PCB Valdimir Herzog completaria 75 anos se vivo fosse. Assassinado pela ditadura em 1975, sua morte - como a do operário metalúrgico Manoel Fiel Filho, também militante do PCB - marcaram profundamente a sociedade brasileira e foram determinantes para levar ao público as torturas e assassinatos que ocorriam nos porões da ditadura.
Reproduzimos abaixo matéria escrita em 2005 pelo jornalista Celso Miranda sobre como se deu a morte de Herzog e suas consequências para a vida política brasileira, além de uma carta divulgada na última semana por seu então colega de trabalho e camarada de Partido, Paulo Markun, endereçada a Vladimir.
Vladimir Herzog: Mataram o Vlado
Celso Miranda - 01/10/2005
Há 30 anos, a morte do jornalista Vladimir Herzog em um quartel do exército em São Paulo escancarou para o Brasil os porões da ditadura militar. Causou a mobilização inédita da sociedade contra a tortura, encurralou o governo geisel e acelerou o processo de abertura política
Vladimir acordou mais cedo que de costume no sábado, 25 de outubro de 1975. Fez a barba, tomou banho e se despediu da mulher Clarice, ainda na cama, com um beijo. Ela quis se levantar e preparar o café, ele disse para não se preocupar, que no caminho pararia em um bar e tomaria café com leite. Vlado chegou ao número 1 030 da rua Tomás Carvalhal, no bairro do Paraíso, em São Paulo, perto das 9h. No prédio de muros altos guardados por sentinelas armados, onde funcionava o Destacamento de Operações Internas - Comando Operacional de Informações do 2º Exército, o DOI-CODI, Vlado entrou pela porta da frente. Disse ao atendente seu nome completo, sua profissão e o número de seu RG. Informou que na noite anterior, por volta das 21h30, dois homens que se identificaram como agentes de segurança do Exército o tinham procurado na TV Cultura, onde trabalhava, e que, para não ser detido, se comprometera a se apresentar ali no dia seguinte. E assim o fizera. Depois disso se pôs a esperar, sentado em um dos bancos de madeira que margeavam o largo corredor que levava a uma porta fechada de aço e vidro. Minutos depois, quando foi levado para interrogatório, ele permanecia tranqüilo.
O Brasil de 1975 não parecia ser um lugar em que um jornalista com emprego fixo e endereço conhecido, casado e pai de dois filhos, devesse se preocupar com a própria segurança. Mas era. Em março de 1974, o general Ernesto Geisel assumira a presidência com a promessa de promover a abertura do regime ditatorial. A palavra usada na época era “distensão” e significava aliviar a censura, investigar denúncias de tortura e aumentar a participação da sociedade civil na política. A ditadura light de Geisel, porém, encontrou duas contrariedades. Primeiro a derrota do partido do governo, a Arena, nas eleições para a Câmara e o Senado. Em novembro, o oposicionista MDB fizera 16 dos 22 senadores e 160 das 364 cadeiras da Câmara. Depois, o impacto da crise do petróleo, que colocava fim aos anos do milagre, quando a economia brasileira cresceu mais de 5% ao ano.
Nos bastidores da política dominada pelos quartéis, esse cenário despertou o medo da chamada linha dura do regime. Gente que via qualquer oposição como subversão e que combatia qualquer subversão com violência, tortura e assassinato. Gente que se apoiava no CIE – Centro de Inteligência do Exército – e encontrava nos DOIs espalhados pelo país guarida para atividades ilegais e violentas. Gente que preferia o inferno à “distensão” e ao que ela representava. Em menor ou maior grau, essa gente viveu nos porões da ditadura e, dependendo da ocasião e do apoio oportunista de políticos e militares às suas práticas, teve menor ou maior influência sobre o governo. Foi maior entre 1969 e 1973, depois da publicação do AI-5, quando o combate ao terrorismo e focos de guerrilha os alçaram à linha de frente do regime. Foi menor em 1974, quando Geisel assumiu. Entre outubro de 1969 e dezembro de 1973, 2 mil pessoas passaram pelo DOI-CODI em São Paulo: 502 reclamaram de tortura e pelo menos 40 foram assassinadas. Em 1974, apenas uma foi presa.
Em 1975, porém, a repressão estava de volta. “Sem terroristas para caçar e com o guerrilha do Araguaia devolvida ao silêncio da floresta, o Centro de Informações do Exército avançou contra o Partido Comunista”, diz o jornalista Elio Gaspari, autor de A Ditadura Encurralada. Em 13 de janeiro o CIE invadiu a gráfica da Voz Operária, o jornal do partido, que operava na clandestinidade, num sítio no Rio de Janeiro. No dia seguinte, Elson Costa, um dos responsáveis pela gráfica e dirigente do PCB, desapareceu. Foi morto numa casa mantida pelo CIE na periferia de São Paulo, segundo testemunho do sargento Marival Chaves Dias do Canto à revista Veja, em 1992. Entre janeiro e julho, pelo menos 500 membros do partido foram identificados, 200 foram presos e pelo menos 14 morreram. Em outubro, nova onda de prisões: 61 pessoas foram detidas. A intenção era demonstrar a tese do CIE de que o PCB havia se infiltrado no MDB, na imprensa e até no governo. Essa última acusação era, inclusive, foco das desavenças entre o comandante do 2º Exército, o general Ednardo D’Avila Mello, e o governador do Estado, Paulo Egydio Martins.
Aos 38 anos, Herzog assumira, em setembro, a diretoria de jornalismo da Cultura, emissora do governo. Era militante comunista, mas não desenvolvia atividade clandestina e sua participação se limitava a ir a reuniões. Em sua direção, porém, confluíam três crises, todas regadas de ódio. “Uma era o choque da linha dura com Geisel. Outra, a caçada ao PCB. A terceira era o conflito entre o general Ednardo e o governador Paulo Egydio. A prisão de Vlado servia a todas”, diz Gaspari.
Tortura e morte
Antes de ser preso, em 17 de outubro, Paulo Markun, também jornalista da Cultura, conseguiu mandar um recado aos colegas, indicando quem seriam os próximos. Anthony de Cristo, George Duque Estrada e Rodolfo Konder foram presos antes de serem alertados. Fernando Morais conseguiu escapar. Vladimir foi avisado, mas não quis fugir.
Depois que entrou no DOI, Vlado trocou de roupa e vestiu o macacão dos presos. Ainda pela manhã, foi acareado com dois presos. Com as cabeças cobertas por capuzes de feltro preto, eles não podiam se ver. Mas um deles, Konder, reconheceu o amigo: “Empurrei a borda do pano e vi o preso que chegava. Eu o reconheci pelos sapatos: eram os mocassins pretos que Vlado usava.” Nessa hora, Vlado negou que pertencesse ao PCB e Konder e o outro preso foram retirados para um corredor, de onde ouviram os gritos de Vlado e a ordem para que fosse trazida a máquina de choques elétricos. “Os gritos duraram até o fim da manhã. Os choques eram tão violentos que faziam Vlado urrar de dor”, diz Konder. Um rádio foi ligado em alto volume para abafar os sons. Meia hora depois, por volta das 11h, Vlado foi para a sala de interrogatórios.
“Mais ou menos uma hora depois, me levaram a outra sala onde pude retirar o capuz e ver o Vlado. O interrogador, um homem de uns 35 anos, magro, musculoso, com uma tatuagem de âncora no braço, mandou que eu dissesse a ele que não adiantava resistir”, lembra Konder. Vlado estava com o capuz enfiado na cabeça, trêmulo, abatido, nervoso. Sua voz estava por um fio. “Fui obrigado a ajudá-lo a redigir uma confissão que dizia que ele tinha sido aliciado por mim para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido.” Konder foi levado e os gritos recomeçaram. Essa foi a última vez que Vlado foi visto e ouvido. “No meio da tarde, fez-se silêncio na carceragem”, diz George Duque Estrada que também estava preso no DOI, em relato no livro Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte, de Fernando Pacheco Jordão.
Às 22h08 a Agência Central do SNI, em Brasília, recebeu uma mensagem: “Info que hoje, dia 25 out, cerca de 15 hs, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército”. Seria o 38º suicida, o 18º a se enforcar e, de acordo com o Laudo de Encontro de Cadáver, emitido pela Polícia Técnica de São Paulo, teria feito isso com uma tira de pano. Herzog teria se amarrado pelo pescoço numa grade a 1,63 metro do chão. Sem espaço para que seu corpo pendesse, teria ficado com os pés no chão e as pernas curvadas, como mostrava a foto anexada ao laudo. Segundo comunicado do comandante do DOI, a tira de pano era a “cinta do macacão que o preso usava”. Os macacões do DOI não tinham cinto. “Suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até. O último, em São Paulo, acontecera cerca de um mês antes, na mesma cela. Dos 17 casos anteriores de suicídio por enforcamento, oito não tiveram vão livre. Em dois, os presos teriam morrido sentados”, diz Gaspari.
O morto fala
Sem notícias do marido desde a manhã, Clarice estava preocupada. Por volta das 23h bateu à sua porta um grupo de diretores e funcionários da Cultura. Entraram calados, sentaram-se na sala e disseram-lhe que as coisas se complicaram. “Mataram o Vlado!”, ela teria dito, segundo seu relato no livro Vlado, de Paulo Markun. “Eles me falaram que Vlado estava morto e que fora suicídio. Senti ódio. E uma grande impotência.”
“Eles mataram o Vlado”, disse o amigo e jornalista Fernando Pacheco Jordão, autor de Dossiê Herzog, em telefonema para Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalistas. Era quase 1 da manhã e Jordão ainda daria muitos telefonemas na madrugada. “Mataram o Vlado”, repetiu a dom Paulo Evaristo Arns. “Não sei se já não é hora de um protesto mais forte. Quem sabe sair pelas ruas”, respondeu o cardeal.
O jornalista Mino Carta, na época diretor da revista Veja, foi um dos primeiros a chegar à casa dos Herzog. Ele vinha de Santos, onde estivera justamente para pedir a ajuda do secretário de Segurança do Estado, Erasmo Dias, no caso das prisões dos colegas. Segundo depoimento a Paulo Markun, no livro Vlado, Mino ligou para o coronel Golbery do Couto e Silva, ministro da Casa Civil. “Vá ao Paulo Egydio”, teria dito o “feiticeiro”, como era conhecido por sua intimidade quase mágica com o poder. Golbery lhe disse, ainda, que aquilo, a morte de Vlado, era uma tentativa de golpe contra Geisel. Mino seguiu o conselho e procurou o governador Paulo Egydio, no Palácio dos Bandeirantes. Quando saiu, o governador chorava.
Desde a morte do ex-deputado Rubens Paiva, num quartel da Polícia do Exército no Rio, em 1971, era a primeira vez que morria no porão da ditadura alguém da elite, com vida profissional legal e atividade política praticamente nula. “Horas depois da morte de Herzog começou um daqueles processos em que reações individuais e desarticuladas desembocam em comportamentos que, sem coordenação ou planejamento, constroem os fatos históricos”, diz Gaspari.
Mas o DOI tinha sua própria estratégia para lidar com o assunto. O corpo de Herzog foi entregue à Polícia Técnica e levado ao Instituto Médico Legal, onde chegou sem a roupa com que fora fotografado, mas com os próprios trajes. O laudo do exame de corpo de delito, assinado pelos médicos Harry Shibata e Arildo de Toledo Viana, do IML, concluiu: “quadro médico legal clássico de asfixia mecânica por enforcamento”. Ainda na noite de sábado, o corpo foi enviado ao Hospital Albert Einstein. Estava tudo pronto para mais um sepultamento típico de mortes ocorridas nas dependências das Forças Armadas, durante a ditadura: rápidos e discretos.
Clarice não quis assim. Para que houvesse velório, ela marcou o enterro para a segunda. No domingo, cerca de 600 pessoas foram à cerimônia, entre eles o cardeal Arns e o senador Franco Montoro. “Era a primeira vez que um arcebispo e um senador da República velavam um morto do regime”, diz Gaspari. “Formou-se uma grande frente e, na segunda, todos estavam mobilizados pela morte de Herzog.”
No cemitério israelita do Butantã, os responsáveis pelo funeral apressaram tanto a cerimônia que dona Zora, mãe de Vlado, não chegou a tempo de se despedir do filho, viu apenas quando jogavam terra por cima do caixão. Quatro jornalistas que estavam presos no DOI-CODI foram levados até o local. Konder foi um deles: “Não deixaram a gente se trocar, me levaram com roupas sujas de urina, sangue e fezes. Foi assim que assisti ao enterro de meu amigo.”
“Senhor Deus dos Desgraçados, / Dizei-me Vós, Senhor Deus / Se é mentira, se é verdade, / Tanto horror perante os céus.” Depois de ler o trecho de Navio Negreiro, de Castro Alves, Audálio Dantas fez correr entre os presentes outro verso: “Reunião no sindicato”.
Ação e reação
“Se a tigrada quisera desmantelar o PCB, já o conseguira. Se queria outra coisa, era outra coisa que queria”, afirma Elio Gaspari. Pelo menos uma pessoa achou, assim que Vlado morreu, que era “outra coisa”: o presidente Geisel.
Ele só soube da morte de Herzog no domingo. Na segunda, em visita ao Rio, não tratou do assunto e parecia ter assimilado o golpe. Mas a linha dura queria mais. Na manhã de quarta, dia 29, o general Sylvio Frota, ministro do Exército, ligou para o ministro da Justiça, Armando Falcão. Falcão relata o telefonema em seu livro Tudo a Declarar. “O senador do Paraná, Leite Chaves, disse no Congresso que o suicídio do jornalista Vladimir Herzog não passa de ‘um crime ignominioso’. Estou reunido com o Alto-Comando e ninguém aceita o insulto. Queremos uma reparação imediata.” Era a “outra coisa que queriam”. Queriam atacar o Congresso, provocar cassações e, por tabela, jogar areia no projeto de distensão de Geisel.
Nas ruas de São Paulo, o clima era outro. Ainda na segunda-feira, cerca de 30 mil estudantes da USP, PUC e Fundação Getúlio Vargas entraram em greve. A garotada queria marchar pela cidade, mas aguardava a reunião com os jornalistas. Juntos, aprovaram a realização de um ato religioso pela memória de Vlado na sexta, dia 31. O cardeal Arns tomou a iniciativa: ofereceu a catedral da Sé e disse que estaria lá.
Na quarta-feira, Geisel mandou chamar Frota. Há duas versões parecidas para a conversa dos dois generais. Uma narrada pelo presidente ao seu secretário Heitor Ferreira e relatada por Gaspari em A Ditadura Encurralada.“Vocês escolham lá um presidente e venham me substituir”, teria dito. A outra foi narrada por Frota a Falcão e reproduzida em Tudo a Declarar: “O presidente me disse que se quisessem insistir no caso tratassem de ir arranjando outro para colocar em seu lugar”. A ameaça encostou Frota na parede. O ministro recuou.
Até o fim da semana, os dois lados temeram que o outro reagisse e fosse para a rua. Em Brasília temia-se que os universitários promovessem passeatas. Em São Paulo, o medo era de que o regime proibisse a manifestação. Geisel foi a São Paulo na quinta e se hospedou no Palácio dos Bandeirantes, onde se reuniu com os chefes militares do Estado. Para começo de conversa, perguntou ao general Ednardo sobre o Inquérito Policial Militar a respeito da morte de Herzog. Não fora instalado, porque o ministro Frota determinara que não fosse. Pois seria. Embora não se destinasse a apurar as causas da morte de Vlado, mas “as circunstâncias em que ocorreu o suicídio do jornalista”, a instauração do IPM já era uma derrota para Ednardo, Frota e a turma do porão.
“À noite, o governador promoveu uma festa em homenagem a Geisel. Entre os 1500 convidados estava a bancada oposicionista, até o deputado Alberto Goldman, líder do partido na Assembléia e militante do PCB”, diz Gaspari. Goldman relata a rápida conversa que teve com o presidente em seu livro Caminhos de Luta. “Presidente, o MDB está apreensivo com o que vem acontecendo em São Paulo, quanto ao respeito dos direitos humanos”, disse o deputado. “Não pensem que eu não entendo o significado de suas presenças aqui, neste momento”, respondeu o general.
No dia seguinte, o povo estava na rua e fazia a primeira manifestação contra a ditadura após o AI-5. Um pouco antes da hora do culto, dois secretários do governador ainda procuraram o arcebispo de São Paulo e lhe pediram para cancelar o evento. “Fui informado que existiriam mais de 500 policiais na praça com ordem de atirar ao primeiro grito. Se houvesse protestos, eles metralhariam a população”, lembra dom Paulo. A estratégia dos manifestantes era chegar à praça em pequenos grupos, evitando aglomerações. Cerca de 8 mil pessoas se espalharam pelas escadarias da Sé. As que conseguiram entrar viram o cardeal, o rabino Henry Sobel e mais 20 sacerdotes, entre eles dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. “Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu do coração de Deus para ser fonte de amor”, disse dom Paulo. “Nas minhas dores, ó Senhor, fica ao meu lado”, respondeu a audiência.
Para Elio Gaspari, naquela tarde de 31 de outubro de 1975, a oposição brasileira passou a encarnar a ordem e a decência. “A ditadura, com sua ‘tigrada’ e seu aparato policial, revelara-se um anacronismo que procurava na anarquia um pretexto para a própria reafirmação.”
Veias abertas - Exumação refuta falsa versão de suicídio
Por Marina Della Valle
Durante mais de 30 anos, os restos mortais da psicóloga Iara Iavelberg (na foto) ficaram na ala dos sepultados “com desonras” do Cemitério Israelita de São Paulo. O motivo foi que o laudo oficial não era claro sobre a causa de sua morte. O legista anotou: “Suicídio?” – assim mesmo, com ponto de interrogação. Segundo a versão dos militares da Operação Pajussara (que perseguia Iara e seu companheiro, Carlos Lamarca), ela teria se suicidado com um tiro no peito em Salvador, em 1971, ao se ver cercada pelos agentes do governo. “No judaísmo, o suicídio é um crime tão grave quanto o assassinato”, diz o rabino Henry Sobel. Na época, a família de Iara não teve acesso ao corpo, que foi enterrado num caixão lacrado. Em 2003, após anos de brigas na Justiça contra o cemitério, a família conseguiu encaminhar os restos mortais para a exumação. A análise do legista Daniel Muñoz, da USP, mostrou que a distância do disparo que matou Iara era incompatível com um ato suicida. O jornalista Samuel Iavelberg, irmão da vítima, falou sobre o resultado. O que a exumação significou para a família?
A vitória foi saber a verdade tantos anos depois. É o primeiro indício concreto sobre a maneira como ela morreu. O importante é que a tiramos da área de suicidas. Para lá ela não volta. O que será feito com o corpo? Gostaríamos que ela fosse colocada ao lado de meus pais, como eles pediram, mas, se não houver lugar, ela pode ser enterrada por perto, em terra consagrada. A entidade que dirige o cemitério alega motivos religiosos, mas na verdade não quer que um crime militar seja esclarecido.
A gota d’água - A morte de Manoel Fiel Filhoteve impacto inédito: custou acabeça de um general
Erasmo Dias, coronel reformado do Exército, viu coisas muito sujas durante a ditadura – e fala delas com uma mórbida naturalidade. Em janeiro de 1976, quando era secretário de Segurança do Estado de São Paulo, teve que ir verificar mais uma morte ocorrida nas celas do DOI-CODI. “Fui lá e levei o Rodrigues comigo. Combinei com ele que íamos ver se era mesmo suicídio. Ele me diria, em uma escala de 1 a 100, se era possível”, relembra Dias, referindo-se ao legista Armando Canges Rodrigues. O médico logo afirmou que a chance de que aquele homem tivesse tirado a própria vida era de apenas 0,1 em 100. “Bem, aí fizemos a autópsia, porque 0,1 era uma chance e precisávamos verificar. E deu suicídio. Foi assim: ele enrolou três lenços, fez um nó, e apertou no pescoço até morrer”, afirma o militar. O laudo oficial sobre a morte do operário Manoel Fiel Filho (na foto), porém, não corresponde ao relato de Dias – na melhor das hipóteses, por falha na memória do velho ex-secretário. Segundo a versão divulgada, o metalúrgico de 49 anos, pai de duas crianças, teria se enforcado com um par de meias de náilon azuis. Na manhã do dia 16 de janeiro, uma sexta-feira, Fiel Filho foi retirado da Metal Arte, onde era chefe de setor de prensas metálicas, e conduzido por agentes armados para sua casa. Eles buscavam exemplares do jornal comunista Voz Operária, do qual o metalúrgico era acusado de ser distribuidor. Não acharam nada e o levaram para o DOI-CODI, sob os protestos da esposa Teresa – a quem foi dito, segundo Carlos Alberto Luppi, autor de Manoel Fiel Filho – Quem Vai Pagar por este Crime?, que seu marido retornaria em breve. Ele foi levado de volta no sábado. Morto. A tragédia teria um grande impacto nos bastidores da ditadura. Enforcar alguém no mesmo lugar em que, 84 dias antes, haviam matado Herzog soava como uma grande provocação à autoridade do presidente. No domingo à noite, quando soube do “suicídio” pelo governador paulista Paulo Egydio Martins, Geisel não conseguiu dormir. Na segunda-feira, o comandante do 2º Exército, Ednardo D’Avila Mello, responsável pelo DOI-CODI, recebeu um telefonema durante uma reunião com seus generais subalternos. Levantou-se, saiu da sala e foi atender. Ao voltar, conforme relata Elio Gaspari em A Ditadura Encurralada, disse: “Fui exonerado”. Era a primeira vez em toda a história brasileira que um general era destituído de seu cargo. Quando D’Avila Mello tentou voltar a presidir a reunião, foi interrompido por Ariel Pacca da Fonseca. O comandante da 2ª Região Militar era seu sucessor imediato e não perdeu tempo em assumir a nova função.

Meu querido Vlado
16 de junho de 2012
Na próxima quarta-feira, amigo, você fará 75 anos. Por razões alheias à nossa vontade, não vou poder lhe dar os parabéns pessoalmente e assim, aproveito para fazer isso aqui – e contar algumas coisas que aconteceram desde a última vez que nos vimos, numa sexta-feira, 19 de outubro de 1975 – sim, há 37 anos!
Você certamente não ficou sabendo, mas no sábado seguinte, 25 de outubro, um carcereiro chegou diante da grade e chamou meu nome. Eu estava com pelo menos uma dúzia de presos na última cela de um corredor do Doi-Codi em São Paulo, o centro de tortura do regime militar. Todos vestidos com macacões verdes do exército, sem cinto e no meu caso, sem botões também. O fulano abriu a cela, colocou o capuz preto sobre a minha cabeça e começou a me guiar como um cego. Imaginei que pudesse ser uma acareação com outro preso, mais um interrogatório, nova sessão de tortura, quem sabe uma excursão pelas ruas da cidade em busca de outro companheiro. Já passara por tudo isso e por muito mais – até mesmo a insólita saída para batizar Ana, a minha filha (virou atriz), acompanhado por uma equipe com as armas enfiadas em duas sacolas de lona preta. Mas quando o sujeito tirou meu capuz, havia diante de mim uma carteira de fórmica, dessas de escola, com uma espécie de prancheta do lado direito. Sobre ela, uma pilha de papel almaço e uma caneta. Antes de me deixar ali, recebi uma ordem curta e grossa:
- Escreva tudo o que você sabe sobre Vladimir Herzog.
Embora já ganhasse a vida escrevendo há quatro anos, foi meu texto mais difícil.  Quase trinta anos mais tarde, encontrei as folhas amareladas no Arquivo do Estado, quando buscava as informações para contar nossa história.
Lembro que nos conhecemos na redação da Folha de São Paulo, em março de 1975, provavelmente. Você assumira a chefia da sucursal do Opinião e queria que eu fosse um dos colaboradores. O jornalzinho era o sonho de consumo, se é que a metáfora se aplica, para os jornalistas que viam a profissão como uma trincheira de luta pela democracia. Não conseguia noticiar quase nada, barrado pela censura, mas se dispunha a fazer o que muito jornalão evitava.
Escrevi umas matérias – um punhado passou pela censura – e substituí você na direção da sucursal, durante uma viagem aos Estados Unidos. Na volta, emprestei uma casinha de praia pra você escrever o roteiro do Doramundo, aquele filme que você queria fazer e o João Batista de Andrade realizou e ficamos amigos. Mas, caramba, você nunca me contou sua história. Nem deu tempo. Fiquei sabendo em 1985, quando escrevi meu primeiro livro sobre sua história e descobri sua infância como refugiado judeu na Itália, vivendo sob nome falso, seu pai fingindo ser mudo para esconder o sotaque iugoslavo, o resto da família indo parar num campo de concentração. Aos oito anos, quando os Herzog chegaram a São Paulo e foram morar na Mooca, o Brasil vivia a abertura democrática. Eu tinha seis anos quando você se preparava para o vestibular e fez um teste no jornal O Estado de S. Paulo. Começou a estudar filosofia, mas já tinha mergulhado no jornalismo. Integrou a equipe pioneira que implantou a sucursal de Brasília. No final de 1962, conheceu Clarice, com quem se casou pouco antes do golpe de 1964. Em 65, com uma bolsa de estudos, você foi trabalhar na BBC e Clarice o seguiu seis meses depois.
Em setembro de 1975, você se tornou diretor de jornalismo da TV Cultura e teve a coragem de me transformar em chefe de reportagem (eu tinha 23 anos, lembra?). Bom, o resto da história, a gente conhece: fomos alvejados por uma campanha destinada a abater o governador Paulo Egydio Martins e, por tabela, o general Ernesto Geisel, que era presidente. Campanha facilitada pela repressão ao Partido Comunista, onde nós dois militávamos, em posições secundárias e acreditando que era um caminho para reconquistar a democracia e construir um Brasil socialista e livre.
Naquele sábado, 25 de outubro, os militares do Doi-Codi reuniram os jornalistas que estavam presos e nos disseram que você tinha se suicidado e que era agente da KGB! Ninguém aceitou a ideia e para provar que choque não mata ninguém, me fizeram acionar a máquina chamada pimentinha com um torturador segurando os fios. No dia seguinte, fomos soltos temporariamente para ir ao seu enterro.  Tinha muita gente, todos chocados.
Voltamos ao Doi-Codi e dali para o DOPS, onde ouvimos os policiais treinando tiro para reprimir o culto ecumênico que aconteceu na catedral da Sé. Primeira grande manifestação contra a tortura, resultado da ação de dom Paulo Arns, do rabino Henry Sobbel e do reverendo James Wright, com respaldo do Sindicato dos Jornalistas, de estudantes e políticos da oposição.
Depois disso, amigo, muita coisa aconteceu. Um inquérito armado pelo governo e manipulado concluiu que você se matara, apesar de todas os depoimentos em contrário. O general Geisel demitiu o comandante do II Exército quando outro comunista desimportante, o operário Manoel Fiel Filho foi “suicidado” no Doi-Codi. O problema do presidente era a desobediência, não a tortura.
Clarice entrou com uma ação na Justiça e provou que o Estado era responsável pela sua morte. Não pediu indenização, só justiça. Houve a anistia, os exilados voltaram e com eles, as eleições diretas para governador – a oposição ganhou em dez estados. A campanha das diretas parou o país e se não acabou com o colégio eleitoral, garantiu a eleição indireta do Tancredo Neves, que morreu antes da posse. José Sarney virou presidente, fez a Constituinte e em 1989, elegemos um certo Fernando Collor, de que você nunca ouviu falar. Acabou saindo pelo impeachment.
Fernando Henrique, que era do conselho editorial do Opinião virou presidente, foi reeleito e passou a faixa para o Lula (lembra?) que também governou oito anos e foi sucedido por uma ex-guerrilheira, Dilma Roussef, que afinal criou a Comissão da Verdade para apurar casos como o seu e tantos outros menos conhecidos.
Seu filho Ivo criou o Instituto Vladimir Herzog, para valorizar a liberdade de imprensa e os direitos humanos. Está fazendo um belo trabalho de resgate da história dos jornais alternativos e uma programação de festa pelos seus 75 anos. Quando lembro dele e do André garotinhos, me sinto meio velho. André trabalha em Washington no Banco Mundial com políticas públicas para Ásia e África. Clarice vai muito bem, obrigado.
O Brasil também vai bem. Não tanto quanto sonhamos, mas muito melhor do que no tempo em que convivemos. A democracia tem seu valor, apesar (ou por causa) das denúncias e das CPIs, que não existiam na ditadura. Ah, vivo parte do tempo em Florianópolis. Escrevi uns livros, fiz uns documentários e fui presidente da TV Cultura. Mas um dia conto como foi essa experiência.
Abraços, saudades e parabéns.
Markun

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O escárnio de Maluf: 'Perto do Lula, sou comunista'


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Olhar Comunista desta terça comenta as declarações de Paulo Maluf, indivíduo que está no índex vermelho da Interpol por ter cometido lavagem de dinheiro nos EUA, para a Folha de S. Paulo.

As pérolas de Maluf:
"Encontraram a mim e ao Lula. [rindo] Caiu o mundo. Mas não caiu mundo nenhum. Em 2002, nós apoiamos o Lula e o Genoino no segundo turno. Em 2004, apoiei a Marta [Suplicy]."
"Marta não reclamou do meu apoio [em 2004], ficou feliz da vida. Nunca ouvi ela falar mal de mim. Mas eu entendo a Marta. Ela julgava que seria candidata a prefeita [neste ano]. Se fosse, ela teria sido agraciada com nosso apoio."
"Fechado o acordo com o PT, fizemos um almoço em casa, algumas pessoas compareceram. E o Lula foi convidado. Constrangido? Ao contrário, ele estava alegre e feliz. Eu que inibi o presidente, 'não fala, presidente', por causa do problema na garganta."
"Em 2014, a minha chapa vai ser Dilma [Rousseff] para presidente e Geraldo Alckmin para governador."
E, por último:
"Quem mudou? O Lula assumiu em 2003 sob a desconfiança de que era um Fidel Castro brasileiro. Achava que ele tinha que ter estágio no governo brasileiro até para o povo se decepcionar com ele. Mas, da maneira que exerceu a Presidência, diria que ele está à minha direita. Eu, perto do Lula, sou comunista.
Eu não teria tanta vontade de defender os bancos e as multinacionais como ele defende. Quando ele tira imposto dos carros, tira da Volkswagen, da Ford, da Mercedes. Quando defende sistema bancário, defende quem? Os banqueiros. Eu, Paulo Maluf, industrial, estou à esquerda do Lula. De modo que ele foi uma grata revelação do livre mercado, da livre iniciativa."
Exceto a parte em que se diz comunista (mesmo que quando comparado a Lula), verdadeiro ultraje a milhões de revolucionários de todo o mundo, somos obrigados a admitir: mentira não houve em tais declarações. Vão dormir com essa, petistas e serviçais..

terça-feira, 26 de junho de 2012

Paraguai: é formada Frente pela Defesa da Democracia



imagemCrédito: Redebrasilatual


A Frente Guasú, que em 2008 levou Fernando Lugo à vitória presidencial, e uma ampla gama de outros movimentos sociais e políticos acordaram a criação da Frente pela Defesa da Democracia (FDD) que “rechaça e condena o governo golpista de Federico Franco” e convoca “a defesa do processo democrático e da institucionalidade da República com uma mobilização permanente”. Com tal propósito, a FDD antecipou que se encontra articulando um plano de luta e que terá como porta-voz Secretário Geral da Frente Guasú, Ricardo Canese.
Por conta de sua importância, segue o primeiro comunicado da FDD.
Frente pela Defesa da Democracia (FDD)
Pela recuperação da democracia e da soberania popular

Ex-delegado do Dops diz a Comissão da Verdade que incinerou corpos na Usina Cambaíba, em Campos dos Goytacazes

Brasília – Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Guerra reafirmou os crimes que cometeu durante a ditadura militar (1964-1985). Entre as denúncias, relatadas no livro Memórias de uma Guerra Suja, está a incineração de corpos de militantes de esquerda na Usina Cambaíba, em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro. 
De acordo com o coordenador da comissão, ministro Gilson Dipp, durante a oitiva, Guerra sugeriu que o grupo ouvisse algumas pessoas citadas por ele no livro. Em entrevista ao programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil, Guerra fez um apelo aos militares que atuaram com ele durante o regime militar para que falassem sobre os crimes cometidos. As denúncias de incineração de cadáveres feitas por Guerra estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Perguntado sobre a possibilidade de as investigações atrapalharem os trabalhos da Comissão da Verdade, Dipp disse apenas que é necessário esclarecer que o grupo não é jurisdicional ou persecutório, nem trabalha visando a fornecer dados para o Ministério Público.
 “O Ministério Público trabalha numa linha própria e eu não conheço nenhum detalhe. Se vai prejudicar, em um momento desses as pessoas podem ter algum temor”, disse o ministro. Dipp informou ainda que pretende convocar o tenente-coronel reformado Paulo Malhães, que em entrevista ao jornal O Globo nesta segunda-feira (25), disse que jacarés e uma jiboia eram usadas para torturar presos políticos. “Em uma conversa informal, demonstrei minha opinião de que devemos ouvi-lo. [Malhães] é alguém que estará na nossa pauta para oitiva”.

domingo, 24 de junho de 2012

CONTRA O GOLPE DE ESTADO NO PARAGUAI


imagemCrédito: 2.bp.blogspot


A América Latina novamente assiste um golpe de Estado. O país de turno é o Paraguai, mas agora no formato da suposta “legalidade”, assim como também o fizeram na Honduras em 2009 e como o tentaram fazer na Bolívia com a crise da Media Luna e na Venezuela em 2002.
Na sexta-feira 22 de junho o Parlamento do Paraguai representando os interesses da classe dominante oligárquicas em conjunto com multinacionais como a MONSANTO e a DOW CHEMICAL e dos Estados Unidos depuseram seu presidente Fernando Lugo sem permitir sua defesa. Presidente que foi eleito de forma democrática e dentro das normas legais de aquele país.
O Paraguai após sua independência da Espanha tentou desenvolver sua economia de forma endógena para poder ter autonomia, o que contrariava os ditados que orientava a Inglaterra, que estimulou e financiou uma guerra contra o Paraguai feita pela Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). O Paraguai jamais se recuperou daquela selvageria feita contra seu povo.
Depois as ditaduras determinaram um rumo de exploração, opressão e injustiça para o povo. As sucessivas ditaduras com pequenos períodos democráticos marcam a história desse país. Enquanto se fortalecia uma oligarquia latifundiária que aliada a setores financeiros imperiais desenvolveram negócios lucrativos para poucos, como o agronegócio da soja, a partir da apropriação ilegal da terra, de leis fraudulentas, da perseguição e ilegalização da oposição, como o mostra a historia do partido comunista do Paraguai, e por ultimo a instauração do narcotráfico para criar relações mafiosas na sociedade e não permitir a formação de processos que levem a verdadeiras mudanças estruturais.
A situação agrária paraguaia é fruto de toda essa complexa construção de exploração, exclusão e de uma acumulação por desapropriação feita contra os camponeses, os indígenas e setores minoritários de afro-descendentes que vivem nesse país.
As mortes violentas entre a resistência agrária e as forças da repressão não são de responsabilidade do presidente, mas sim da oligarquia paraguaia e seus aliados. O presidente Lugo poder ser acusado de suas tímidas políticas para levar avante mudanças estruturais em favor do povo que o levou à presidência e por seus errados cálculos políticos de achar que poderia governar em coligação com setores da burguesia.
O que acontece no Paraguai não só atenta contra a frágil democracia desse país, mas contra todas as democracias de América. A deposição de Lugo, um ano antes de terminar seu período, é uma ameaça para as construções populares democráticas que em nosso continente se estão gestando. É outro movimento na procura da criação de um bloco de países de direita ligados aos Estados Unidos na América.
Nossa solidariedade deve ser dirigida ao povo paraguaio apontando para que se respeite a decisão que fez este povo nas urnas quando elegeu Fernando Lugo como seu presidente. Há necessidade de denunciar, de mobilizar e de pressionar contra a ditadura no Paraguai.
Não ao golpe de Estado no Paraguai!
Agenda Colômbia - Brasil
A Solidariedade é dos Povos!

Secretário Geral do PCB faz palestra e se encontra com família de Luiz Maranhão em Natal (RN)



imagemCrédito: PCB


Na semana passada, o Secretario Geral do PCB, Ivan Pinheiro, acompanhado pelos camaradas Dinarco Reis Filho e José Carlos Vasconcelos, ambos do Comitê Central, estiveram em Natal, no Rio Grande do Norte, onde se encontraram com Alexandre e Haroldo Maranhão, sobrinhos-netos do dirigente desaparecido do PCB Luiz Maranhão.
Durante o encontro, foram tratados temas como o desenrolar da Comissão da Verdade, a trajetória de Luiz Maranhão e a futura entrega da Medalha Dinarco Reis in memorian à família do camarada, desaparecido desde meados dos anos 1970 após ter sido preso pela repressão da ditadura militar-empresarial que governava o país.
Aproveitando a estada na capital potiguar, Ivan Pinheiro proferiu palestra aos militantes, amigos e convidados do Partido no auditório da OAB-RN e se reuniu com o Comitê Regional do PCB. Todos os membros do Comitê Central que participaram dos eventos coincidiram em que o PCB cresce com consistência no Rio Grande do Norte, com o recrutamento de jovens e outros militantes dos movimentos sociais.
Na foto, aparece a mesa da palestra, quando falava o camarada Roberto, Secretário Político do Comitê Regional.

O que os EUA podem ganhar com o golpe no Paraguai



imagemCrédito: Diário Liberdade


Paraguai - Vi o mundo - [Luiz Carlos Azenha] A reação de Washington ao golpe "democrático" no Paraguai será, como sempre, ambígua. Descartada a hipótese de que os estadunidenses agiram para fomentar o golpe — o que, em se tratando de América Latina, nunca pode ser descartado –, o Departamento de Estado vai nadar com a corrente, esperando com isso obter favores do atual governo de fato.
Não é pouco o que Washington pode obter: um parceiro dentro do Mercosul, o bloco econômico que se fortaleceu com o enterro da ALCA — a Área de Livre Comércio das Américas, de inspiração neoliberal. O Paraguai é o responsável pelo congelamento do ingresso da Venezuela no Mercosul, ingresso que não interessa a Washington e que interessa ao Brasil, especialmente aos estados brasileiros que têm aprofundado o comércio com os venezuelanos, no Norte e no Nordeste.
Hugo Chávez controla as maiores reservas mundiais de petróleo, maiores inclusive que as da Arábia Saudita. O petróleo pesado da faixa do Orinoco, cuja exploração antes era economicamente inviável, passa a valer a pena com o desenvolvimento de novas tecnologias e a crescente escassez de outras fontes. É uma das maiores reservas remanescentes, capaz de dar sobrevida ao mundo tocado a combustíveis fósseis.
Washington também pode obter condições mais favoráveis para a expansão do agronegócio no Chaco, o grande vazio do Paraguai. Uma das preocupações das empresas que atuam no agronegócio — da Monsanto à Cargill, da Bunge à Basf — é a famosa "segurança jurídica". Ou seja, elas querem a garantia de que seus investimentos não correm risco. É óbvio que Fernando Lugo, a esquerda e os sem terra do Paraguai oferecem risco a essa associação entre o agronegócio e o capital internacional, num momento em que ela se aprofunda.
Não é por acaso que os ruralistas brasileiros, atuando no Congresso, pretendem facilitar a compra de terra por estrangeiros no Brasil. Numa recente visita ao Pará, testemunhei a estreita relação entre uma ONG estadunidense e os latifundiários locais, com o objetivo de eliminar o passivo ambiental dos proprietários de terras e, presumo, facilitar futura associação com o capital externo.
Finalmente — e não menos importante –, o Paraguai tem uma base militar "dormente" em Mariscal Estigarribia, no Chaco. Estive lá fazendo uma reportagem para a CartaCapital, em 2008. É um imenso aeroporto, construído pelo ditador Alfredo Stroessner, que à moda dos militares brasileiros queria ocupar o vazio geográfico do país. O Chaco paraguaio, para quem não sabe, foi conquistado em guerra contra a Bolívia. Há imensas porções de terra no Chaco prontas para serem incorporadas à produção de commodities.
O aeroporto tem uma gigantesca pista de pouso de concreto, bem no coração da América Latina. Com a desmobilização da base estadunidense em Manta, no Equador, o aeroporto cairia como uma luva como base dos Estados Unidos. Não mais no sentido tradicional de base, com a custosa — política e economicamente custosa — presença de soldados e aviões. Mas como ponto de apoio e reabastecimento para o deslocamento das forças especiais, o que faz parte da nova estratégia do Pentágono. O renascimento da Quarta Frota, responsável pelo Atlântico Sul, veio no mesmo pacote estratégico.
É o neocolonialismo, agora faminto pelo controle direto ou indireto das riquezas do século 21: petróleo, terras, água doce, biodiversidade.
Um Paraguai alinhado a Washington, portanto, traz grandes vantagens potenciais a interesses políticos, econômicos, diplomáticos e militares estadunidenses.

CONVENÇÃO DO PCB



EDITAL DE CONVOCAÇÃO DA CONVENÇÃO ELEITORAL DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

COMITÊ MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZES

Aos Filiados e militantes do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO no Município de Campos dos Goytacazes.
Atendendo aos preceitos da Lei 9504/97 e o estatuto partidário, venho por meio deste, publicar o horário, data e local da convenção eleitoral do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO - Comitê Municipal de Campos dos Goytacazes.

A Convenção Municipal ocorrerá no dia 30/06/2012 (domingo) às 15h na Sede do PSOL Campos, localizado na Rua Barão de Miracema, Centro - Campos – RJ

A presente reunião terá como pauta:

1) Informes Gerais
2) Aprovação da candidatura de Prefeito(a) e Vice-Prefeito(a);
3) Políticas de alianças;
4) Aprovação da nominata para eleição para Câmara Municipal;
5) Aprovação dos representantes legais junto ao TRE.

Aproveito a oportunidade para convocar todos os filiados, e informar que estaremos realizando a Convenção juntamente com os companheiros do PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), da qual nos orgulhamos de estar juntos nesta batalha, como também com o PSTU, cuja Convenção será em dia e local distinto desta!

Saudações Comunistas.
Atenciosamente,

Graciete Santana
Secretaria Política Municipal do PCB - Campos dos Goytacazes

sábado, 23 de junho de 2012

Por causa de 1 minuto de tempo na TV



Crédito: Amarildo

O GOLPE PARAGUAIO

imagemCrédito: imguol.com


Laerte Braga
O golpe sumário dado pelo Parlamento do Paraguai contra o presidente Fernando Lugo tem a marca registrada da classe dominante naquele país. Latifundiários associados a multinacionais, uma força armada corrompida e cooptada por interesses de grandes corporações, bancos e os donos da terra.
O Paraguai jamais se recuperou da guerra contra o Brasil, a Argentina e o Uruguai (1864/1870). O conflito foi estimulado pela Inglaterra, então maior potência do mundo, em defesa de seus interesses econômicos. O Paraguai não dependia de países da Europa, tinha uma indústria têxtil competitiva e era um dos grandes exportadores de mate, concorrendo com o império britânico.
O capital para a guerra foi dos ingleses e em meio ao conflito é que, praticamente, se construiram as forças armadas brasileiras, inteiramente despreparadas para um confronto de tal envergadura. Nos primeiros anos da guerra os soldados brasileiros passavam fome e os armamentos eram mínimos, insuficientes para o genocídio que viria mais à frente. Foi a conseqüência inicial da avidez do governo imperial de aceitar as libras inglesas.
Os países que formaram a chamada Tríplice Aliança, numa selvageria sem tamanho, mataram 70% da população paraguaia e até hoje a maioria acentuada entre os que nascem naquele país é de homens.
De lá para cá o Paraguai tem sido governado por ditadores, numa sucessão de golpes de estados e o breve período “democrático” que se seguiu à deposição do último general, Alfredo Stroessner (morreu exilado no Brasil, era capacho da ditadura militar brasileira), encerra-se agora com a deposição branca de Fernando Lugo. Um ex-bispo católico, conhecido como o “bispo dos pobres”. O mandato de Lugo terminaria no próximo ano. O vice-presidente é do Partido Liberal, aquele jogo político de amigos e inimigos cordiais, onde os donos se revezam no poder.
O pretexto para a deposição de Lugo foi um massacre de trabalhadores rurais sem terra, numa região próxima à fronteira com o Brasil. Morreram manifestantes e integrantes das forças de repressão. De lá para cá Lugo enfrenta um inferno.
Latifundiários brasileiros, a classe dominante paraguaia – subordinada a interesses do Brasil e de corporações internacionais – se uniram contra Lugo e o apoio de empresas como a MONSANTO, a DOW CHEMICAL. o silêncio formal e proposital dos EUA, todos esses ingredientes foram misturados e transformados em golpe de estado.
Tal e qual aconteceu em Honduras contra Manoel Zelaya. A nova “fórmula” para golpes de estado na América Latina. A farsa democrática, o rito constitucional transformado em instrumento golpista na falta de pudor da classe dominante. No caso do Paraguai, como no de Honduras, miquinhos amestrados do capitalismo internacional.
A elite paraguaia jamais permitiu ao longo desses anos todos, desde 1870, que o país se colocasse de pé novamente. Tem sido um apêndice de interesses políticos e econômicos de corporações estrangeiras e do sub-imperialismo brasileiro. Carregam as malas dos donos enquanto submetem os trabalhadores a um regime desumano e cruel que não mudou e nem vai mudar enquanto não houver resistência efetiva e nas ruas contra esse tipo de procedimento, contra essa subserviência corrupta e golpista.
E cumplicidade de governos vizinhos. Mesmo que por omissão, ou fingir que faz alguma coisa.
É necessária a consciência dos governos de países como o Brasil que situações de golpe são inaceitáveis. Que a integração latino americana é fundamental e se faz com democracia e participação popular. Não com alianças com Paulo Maluf.
Fernando Lugo cometeu erros. O maior deles o de acreditar que era possível governar o país com grupos da direita. As políticas de conciliação onde a elite é implacável e medieval, as forças armadas são agentes – em sua maioria esmagadora – de interesses estranhos aos nacionais e as forças populares sistematicamente encurraladas pela violência e barbárie.
Ou se percebe que o golpe contra Lugo é um golpe contra toda a América Latina, ou breve situações semelhantes em outros países. Por trás de tudo isso, em maior ou menor escala, mas de forma direta os EUA e o que significam no mundo de hoje.
No ano 2000 o economista César Benjamin, numa palestra na cidade mineira de Juiz de Fora espantou os ouvintes ao dizer que “o século XIX foi o dos grandes impérios colonizadores, o século XX o do fim do colonialismo, o século XXI vai assistir a um novo ciclo de colonização de países periféricos às grandes potências”.
A previsão está se confirmando.
O secretário geral da UNASUL, Ali Rodriguez disse em entrevista a vários jornalistas que “o Paraguai pode estar em meio a golpe de Estado devido à rapidez do julgamento político do presidente do país, Fernando Lugo” e mostrou-se preocupado com um possível “processo de violência. Tudo indica que uma decisão já foi tomada e que pela rapidez com a qual os eventos estão acontecendo, poderíamos estar perante um golpe de Estado”.
Basta que países como o Brasil e a Argentina, por exemplo, asfixiem econômica e politicamente o novo governo para que ele não se sustente. Depende da vontade política de um e outro de manter a democracia no Paraguai, mesmo frágil, de pé.
A classe dominante paraguaia nunca deu muita importância a isso, pois sempre consegue espaço para se acomodar e continuar a transformação do país em uma espécie de vagão a reboque principalmente do Brasil. Desde o fim da guerra, em 1870 tem sido assim.
Fernando Lugo foi acusado, entre as farsas várias, de humilhar as forças armadas (existem, ou são esbirros do capitalismo?) e colocar-se ao lado dos trabalhadores sem terra. É velho e boçal latifúndio que no Paraguai é a força econômica mais poderosa.
É preciso ir às ruas em toda a América Latina e é fundamental asfixiar essa elite que cheira a esgoto.
Se o governo brasileiro quiser não tem golpe que sobreviva. O problema é querer. A preocupação hoje, no entanto, é de “consenso possível” (um fracasso na RIO+20) e as eleições de outubro.
A mídia de mercado – fétida também – no Brasil já desestimula qualquer atitude mais forte do governo. O golpe no Paraguai fere o arremedo de democracia que sub existe no Brasil e outros países com o consentimento dos “poderes moderadores”. As elites políticas e econômicas são as mesmas, arcaicas, podres e totalitárias. Quando querem colocam as garras de fora.
Foi o que fizeram com Lugo. O que querem fazer com Chávez. Com Evo Morales e outros tantos.

DESMONTAR A MENTIRA PARA COMBATER A ALIENAÇÃO E DINAMIZAR A LUTA


Por Miguel Urbano Rodrigues

Repetir evidências passou a ser uma necessidade no combate à alienação das grandes maiorias, confundidas e manipuladas pelos responsáveis da crise de civilização que atinge a humanidade.

Talvez nunca antes a insistência em iluminar o óbvio oculto tenha sido tão importante e urgente porque a falsificação da História e a manipulação das massas empurra a humanidade para o abismo.

Essa tarefa assume um carácter revolucionário porque as forças que controlam o capitalismo utilizam as engrenagens do sistema mediático para criar uma realidade virtual que actua como arma decisiva para a formação de uma consciência social passiva, para a robotização do homem.

A compreensão pelos povos da estratégia exterminista do imperialismo que os ameaça é extremamente dificultada pela ignorância sobre o funcionamento do sistema de poder dos Estados Unidos e a imagem falsa que prevalece a respeito da sociedade norte-americana não apenas na Europa mas em muitos países subdesenvolvidos.

UM  MITO ROMANTICO
Não obstante serem inocultáveis os crimes cometidos pelos EUA nas últimas décadas em guerras de agressão contra diferentes povos, uma grande parte da humanidade continua a ver na pátria de Jefferson e Lincoln uma terra de liberdade e progresso. O mito romântico dos pioneiros do Mayflower é difundido por uma propaganda perversa que insiste em apresentar o povo e o governo  dos EUA como vocacionados para defender e liderar a humanidade. Os males do capitalismo seriam circunstanciais e a grande república, presidida agora por um humanista, estaria prestes a superar a crise que a partir dela alastrou pelo mundo.

Não basta afirmar que estamos perante uma perigosa mentira. Desmontar o mito estadounidense é, repito, uma tarefa prioritária na luta contra a alienação das maiorias. O politico negro cuja eleição desencadeou uma vaga de esperança entre oprimidos da Terra engavetou os compromissos assumidos com o povo e ao longo do seu mandato deu continuidade a uma estratégia de dominação mundial, ampliando-a perigosamente.
Diferentemente de Bush junior, Obama soube construir uma mascara de estadista sereno e progressista. A sua reeleiçao, não tenhamos  dúvidas, será facilitada porque o candidato republicano que o enfrentará,  Mitt Romney, é um político ultra reaccionario, sem carisma.

AS GUERRAS IMPERIAIS
No Iraque a violência tornou-se endémica, milhares de mercenários substituíram as tropas de combate e um governo fantoche actua como instrumento das transnacionais do petróleo.

No Afeganistão a guerra está perdida. Após onze anos de ocupação, as forças da NATO e as dos EUA somente controlam Kabul e algumas capitais de província. Todas as ofensivas contra a Resistência (que vai muito alem dos Talibãs) fracassaram e nos quartéis e nos Ministérios os recrutas matam com frequência os instrutores estrangeiros, americanos e europeus.

A retirada antecipada das tropas francesas do país colocou um problema inesperado ao Pentágono. Em Washington poucos acreditam que o presidente cumpra o acordo sobre a evacuação do exército de ocupação antes do final de 2014.

Em declarações recentes, Obama, já em campanha eleitoral, retomou o tema da defesa dos «interesses dos EUA no mundo». Essa política implica a existência de centenas de bases militares em mais de uma dezena de países. Na Colômbia, por exemplo, foram instaladas mais oito.

Numa inflexão estratégica, o presidente informou que está em curso uma deslocação para Oriente do poder militar norte-americano. O secretário da Defesa esclareceu que dois terços da US Navy serão deslocados para o Pacífico. Ficou transparente que o objectivo inconfessado é cercar por terra e mar a Rússia e a China.

Vladimir Putin interpretou correctamente a mensagem. Consciente de que na sua escalada agressiva os EUA teriam de reforçar a sua hegemonia no Médio Oriente, abatendo o Irã, antes de definirem aqueles países como «inimigos» potenciais, o presidente russo num discurso firme advertiu Washington de que está a ultrapassar a linha vermelha.

Contrariamente ao que afirmam alguns analistas que cultivam o sensacionalismo, a iminência de uma terceira guerra mundial, é, porem, uma improbabilidade. Mas isso graças à firmeza da Rússia. Putin não esqueceu Munique. Usou palavras duras, recordando a agressão ao povo líbio, para lembrar a Obama que já foi longe demais e que não tolerará uma intervenção militar USA-Uniao Europeia na Síria, qualquer que seja o pretexto invocado.

ASSASSINAR À DISTÂNCIA
O belicismo de Obama é, alias, tão ostensivo que até um jornal do establishment, o New York Times (que o tem apoiado), sentiu a necessidade de revelar que a lista de «terroristas» e dirigentes políticos a aniquilar pelos aviões sem piloto (os famosos drone) é submetida à aprovação do chefe da Casa Branca. Matar à longa distância, numa guerra electrónica de novo tipo, tornou-se uma rotina graças aos progressos da ciência. Leo Panetta, o actual secretario da Defesa não somente a aprova como a elogia, assim como o general Petraeus, o director da CIA.

O prémio Nobel Obama aprova previamente  os alvos humanos seleccionados cujas biografias lhe são enviadas. A esse nível se situa hoje o seu conceito de ética.
Os homens do presidente chegaram à conclusão de que essa modalidade de assassínio não tem suscitado grandes protestos internacionais e evita a perda de pilotos.

O principal inconveniente é a imprecisão desses ataques. No Paquistão, dezenas de aldeões foram mortos em bombardeamentos dos drones nas áreas tribais da fronteira afegã. O erro (assim lhe chamam no Pentágono) gerou uma crise nas relações com o Paquistão quando 26 soldados daquele país foram abatidos por um avião assassino. O governo de Islamabad proibiu a partir de então a travessia da fronteira pelos caminhões que carregam alimentos e armas para as tropas dos EUA e da NATO.

Não obstante os «inevitáveis danos colaterais», os generais do Pentágono definem como revolucionaria a guerra barata na qual basta carregar num botão, por vezes a centenas de quilómetros de distância, para atingir alvos humanos seleccionados em gabinetes nos EUA e aprovados pelo Presidente.

A esmagadora maioria dos estadounidense tem um conhecimento muito superficial do que se passa nas guerras asiáticas do seu país. Mas no Exército alastra um difuso mal-estar. No ano corrente registou-se um record de suicídios de militares .

O FANTASMA  DA AL QAEDA
São qualificados de especialmente satisfatórios os bombardeamentos frequentes a tribos «terroristas» do Iémen e da Somália. Se a CIA informa que uma tribo perdida nas montanhas da outrora chamada Arábia Feliz é acusada de ligações suspeitas com a Al Qaeda, envia-se um drone da base de Djibuti para liquidar o seu chefe. Obama dá o seu aval à operação.

O New York Times, no editorial citado, reconhece com pesar que o actual poder decisório presidencial de assassinar «terroristas» em regiões remotas «não tem precedentes na história presidencial». Monstruoso,  mas real: Obama comporta-se como um ciber-guerreiro.

Nessa estratégia criminosa, a invocação da Al Qaeda como a grande ameaça à segurança dos EUA é permanente, obsessiva.

Somente em Março pp. o Google registrou 183 milhões de entradas em busca de informações sobre a organização.

Os EUA planearam e executaram a morte de Ben Laden numa operação obscura de forças especiais, violadora da soberania do Paquistão. Mataram já ou afirmam ter assassinado os principais dirigentes da Al Qaeda. Mas o fantasma da Al Qaeda sobreviveu, e é esse dragão, invisível, medonho, que motiva os bombardeamentos dos drones, a guerra electrónica assassina.

O mito da Al Qaeda, o inimigo numero 1, tornou-se um pilar da estratégia «anti-terrorismo» dos EUA.

Quantas pessoas, mundo afora, sabem que Ben Laden foi um aliado íntimo dos EUA durante a guerra contra a Revolução Afegã? Poucas.

E poucas são também as que têm conhecimento das relações estreitas que a CIA e a inteligência militar dos EUA mantiveram e mantêm com organizações fundamentalistas islâmicas.

A necessidade de aniquilar a Al Qaeda foi o argumento básico que Bush filho brandiu para justificar o Patriot Act e a invasão e ocupação do Afeganistão, numa cruzada «antiterrorista» em defesa «da liberdade, da democracia, da paz…»
Obama, usando um discurso diferente, muito mais hábil, aprofundou a estratégia de poder dos EUA.

Ao assinar a lei da Autorização da Segurança Nacional, o presidente dos EUA tripudiou sobre a Constituição, transformando o país num Estado militarizado que exibe uma fachada democrática. Internamente subsistem  algumas  liberdades e direitos, mas a politica externa é a de um estado terrorista.

RUSSIA E CHINA AMEAÇADAS
A engrenagem imperial está em movimento. Primeiro foi o Iraque, depois o Afeganistão, depois a Líbia. Agora o alvo é a Síria

A máquina mediática trituradora das consciências repete o método utilizado na campanha que precedeu o ataque armado à Líbia. A CIA e o Pentágono prepararam e financiaram grupos de mercenários que instalaram o caos nas grandes cidades sírias. O presidente Bachar al Asad foi demonizado e, inventada uma realidade virtual- uma Síria imaginária – uma campanha massacrante  tenta  persuadir centenas de milhões de pessoas de que intervir militarmente naquele pais seria «uma intervenção humanitária» exigida por aquilo a que chamam «a comunidade internacional». Mas o projecto de repetir a tragédia líbia está a esbarrar com a oposição, até hoje inultrapassável, da Rússia.

Insisto: compreender o funcionamento da monstruosa engrenagem montada pelo imperialismo para anestesiar a consciência social e criar um tipo de homem robotizado é uma exigência no combate dos povos em defesa da liberdade, da própria continuidade da vida.

Não exagero ao definir como tarefa revolucionária essa luta.

Vila Nova de Gaia, 14 de Junho de 2012
O original deste artigo encontra-se em odiario.info

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