sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Contra a crise, organização e acção proletária


20 NOVEMBRO 2014 
Federico Piña*
No México o massacre de Ayotzinapa, somado a um longo e trágico historial de violência estatal e mafiosa, despertou uma profunda cólera popular e deu lugar a amplas mobilizações de massa. Manifestam-se sinais de uma crise geral para a qual o actual poder, com o programa e os meios de que dispõe, não tem solução. Mas está ainda em construção a força organizada, revolucionária e de massas, capaz de abrir caminho a uma solução.
A repressão de Estado contra os companheiros da escola do magistério manifesta os sinais evidentes de uma profunda crise do sistema capitalista mexicano. Uma crise que – tal como Lénine formulou - abre a possibilidade de que o regime social apodreça indefinidamente, se a burguesia não encontra uma saída estrutural ou se não se cria a força revolucionária que a resolva. Estamos perante uma crise estrutural que revela a incapacidade da burguesia monopolista para conduzir o desenvolvimento das forças produtivas do país.
A situação que o país vive reflecte claramente aquilo que o marxismo-leninismo denunciou: que o capitalismo na sua fase monopolista imperialista não só não pode desenvolver harmonicamente o crescimento das sociedades, como as conduz através de crises e comoções sociais que levam ao aumento da exploração da mão-de-obra assalariada, à miséria, à exclusão e à pobreza extrema de milhões de famílias mexicanas.
Sob a direcção do imperialismo, a organização económica actual não pode garantir a geração de empregos remunerados, nem o desenvolvimento das forças produtivas. O capitalismo monopolista requer a sua própria estrutura produtiva, a mesma que não permite o funcionamento separado da pequena e média produção, e que pelo contrário exige a sua subordinação, a sua reconversão em economia complementar, amarrada às leis e necessidades dos monopólios.
Esta crise de estrutura evidencia que se produziu a ruptura do equilíbrio das forças que tradicionalmente vinham participando na direcção do Estado e do seu governo. O actual bloco de sectores no poder está em crise e isso reflecte-se em todo o aparelho político da burguesia. É uma crise profunda porque rompe com os mecanismos tradicionais de dominação sobre os quais assentava o controlo social.
Sobre a base desta crise de estrutura surgiu uma crise política, e não é uma crise passageira. Trata-se da incapacidade da direcção política burguesa para resolver, com o programa e os meios de que dispõe actualmente, os problemas políticos e de desenvolvimento social que se colocam nesta conjuntura. Nesta crise os partidos são inúteis porque todos os que existem são parte do sistema de dominação, o oportunismo de direita, a social-democracia e os partidos pequeno-burgueses arrastam-se na crise do sistema.
As manifestações e mobilizações de estudantes, trabalhadores, assalariados, demonstram que cresce a desconfiança das massas e que os trabalhadores já não somos levados pela manipulação da burguesia através dos meios de comunicação que controla, sobretudo os meios electrónicos como a televisão e a rádio.
A resposta que Marx e Engels deram à pergunta de como vence a burguesia este tipo de crise continua sendo válida:preparando crises mais extensas e mais violentas e diminuindo os meios para as prevenir. Mas para os comunistas esta não é a única solução possível. Nas condições da crise da estrutura de dominação burguesa é possível e urgente à classe operária elaborar já uma alternativa própria face à solução burguesa cuja única proposta é incrementar a violência para recuperar o controlo perdido.
Existem as condições objectivas para que o proletariado conquiste a sua independência de classe e dispute o poder à burguesia. Mas para os comunistas do que se trata não é de enunciar este facto objectivo, trata-se de acelerar a construção do partido, da organização política dos operários e assalariados, uma organização que seja capaz de disputar a direcção da sociedade à burguesia e de lhe arrebatar o poder político. Aproveitar as contradições actuais para construir o partido da classe operária, orientado, tal como decidimos no nosso quinto congresso, a caminhar no sentido do cumprimento da missão histórica do proletariado: a revolução socialista.
*Membro do CC do México
Fonte: El Comunista, órgão do Comité Central do Partido Comunista de México

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Comunicado FARC-EP

16 NOVEMBRO 2014 
15 de novembro de 2014
O senhor general Lasprilla, comandante do Exército Nacional, foi aos meios de comunicação para mentir novamente com relação às FARC-EP e ao desenvolvimento do conflito armado interno.
Não é certo que unidades da Décima Frente Comandante Arcesio Niño e a Companhia Alfonso Castellanos prepararam um ataque contra a população de Tame, Arauca, em 09 de novembro passado, que supostamente foi frustrado pela ação das tropas oficiais. Nesse dia ocorreu a operação HONRA E GLÓRIA AOS NOSSOS MÁRTIRES, por conta dos atos comemorativos do terceiro aniversário do assassinato de nosso Comandante Alfonso Cano.
A operação desenrolada entre as 14:45 e as 15:30 da tarde de 09 de novembro passado, consistiu no assalto e tomada de uma patrulha da brigada móvel 34, pertencente à Força de Tarefa Quirón, na zona rural, em Esperanza, com o saldo de dois soldados mortos, quatro feridos, dois capturados e o seguinte armamento recuperado: uma metralhadora Neget calibre 2.23 com canhão de reposição, um lança-granadas múltiplo MGL com 6 granadas de 40 mm, 3 Fuzis M16 calibre 2,23 com miras, 9 carregadores, 5 cartuchos e um canhão para metralhadora M-60, 2.23 , 19 granadas M 26, 14 equipes com seu pessoal e abundante material de informação, ao que se soma variedade de material de intendência.
Tampouco é certo que as FARC-EP tenham sequestrado os dois soldados profissionais. Os soldados Paulo Cesar Rivera e Jonatán Andrés Díaz foram feitos prisioneiros depois de terem sido cercados em combate aberto. Muito menos é certo dizer que atuando desse modo estamos violando os direitos humanos ou o direito internacional humanitário. Pelo contrário, o que estamos fazendo é agir em cumprimento dos ditos preceitos legais, respeitando suas vidas e integridade física, dando-lhes o tratamento humanitário que merecem. Ao contrário do que fez o Exército Nacional, sob as ordens do Presidente Santos, que executou nosso Comandante Alfonso Cano após tê-lo bombardeado e cercado.
Muito menos é certo que as FARC-EP estão faltando com o compromisso de não realizar nenhum tipo de detenção. O general Lasprilla e todo país sabem que, desde o mês de fevereiro de 2012, as FARC-EP, de maneira pública, expressam sua decisão de não realizar prisões com fins financeiros, fenômeno completamente distinto da captura de prisioneiros de guerra. Depois de suas permanentes operações aéreas de bombardeio e com metralhadoras, a tropa desembarca e captura guerrilheiros feridos e sobreviventes, para conduzi-los às prisões do Estado, onde os submetem a tratamentos discriminatórios e desumanos. Diferente do Estado e do Governo, as FARC-EP manifestam sua vontade de dialogar acerca da libertação dos prisioneiros.
Finalmente, o general Lasprilla mente quando afirma que suas tropas podem perseguir, reprimir, bombardear, metralhar, assassinar, sequestrar, ameaçar e realizar todo tipo de ações criminosas contra a inconformidade popular e a insurgência armada. No entanto, condena a legítima resposta dada heroicamente pelo povo da Colômbia. Não se pode entender como um regime que fala de paz e reconciliação se nega teimosamente a pactuar um cessar-fogo armistício reiteradamente proposto.
ESTADO MAIOR DO BLOCO COMANDANTE JORGE BRICEÑO DAS FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 14 de novembro de 2014.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Recados eleitorais para a nova etapa do jogo político


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Hamilton Octavio de Souza
Correio da Cidadania
A esquerda precisa dar um passo adiante, livrar-se dessa incômoda extorsão praticada a cada eleição, por uma suposta esquerda que se alia na maior parte do tempo com a direita, age igual à direita e, só nos momentos eleitorais, evoca sentimentos racionais e emocionais da esquerda para socorrer o seu projeto de poder ameaçado por algo mais à direita ainda. Passado o risco eleitoral, adeus aos compromissos com a esquerda e com os movimentos sociais populares autênticos”.
Dilma Rousseff foi reeleita presidente da República com o apoio de 38% do eleitorado. De um total de 142.822.046 eleitores, 54.501.118 votaram nela. A maioria, 62% dos eleitores, não votou nela. Ou votou em Aécio Neves (51.041.155), ou em branco (1.921.819), ou anulou (5.219.787), ou simplesmente deixou de votar. A abstenção chegou a 21,1% do eleitorado, mais de 30 milhões não se manifestaram nas urnas. Assim, o bloco dos que não se comprometeram com as duas candidaturas do 2º turno atinge 27,4% do eleitorado, o que corresponde a um total de 39.133.228 eleitores. É muita gente que ficou de fora da escolha presidencial.
Os números falam por si. A presidente, o seu partido e a coligação eleitoral não contam, pelo menos expressamente, com o respaldo da maioria dos brasileiros. A oposição de direita, mais identificada com o discurso ortodoxo do neoliberalismo e mais conservadora na visão moralista que emana das elites e das classes médias, praticamente dividiu o eleitorado, ultrapassou os 50 milhões de votos. A se considerar a direita que integra a própria coligação vencedora, que está no PMDB, PP, PR, PSD, PRB etc., e que nas questões do dia a dia cerra fileiras com a oposição de direita (PSDB, DEM, PTB etc.), a reeleição de Dilma acaba sendo um grande cavalo de Tróia contra as forças que desejam as transformações estruturais no país.
Lula e os marqueteiros petistas podem até mobilizar as torcidas organizadas na luta dos pobres contra os ricos, dos assistidos contra o abandono social, dos progressistas contra o retrocesso conservador, do Estado contra o mercado, da difusa esquerda petista contra o balaio da direita. Mas, na verdade, no bloco liderado pelo PT estão também os representantes do capital, as grandes empresas, os banqueiros e o agronegócio; estão as velhas oligarquias entranhadas nos estados e municípios, aquelas que reproduzem as práticas seculares de oferecer os currais eleitorais em troca dos favores patrocinados pelo Estado. Desnecessário citar a longa lista de caciques e coronéis que contribuíram triunfalmente para a vitória da Dilma e que, agora, irão exigir a contrapartida.
Mais uma vez os trabalhadores, os movimentos sociais autênticos e a juventude inconformada foram sensibilizados a dar sangue, suor e lágrimas para barrar o retrocesso político e o avanço da direita. Mais uma vez a mesma ladainha de outras eleições surtiu efeito para impedir que o povão deixe de ser contemplado com Bolsa Família, Prouni, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos. A consciência dos que são solidários com os mais pobres falou mais alto. A consciência de esquerda, inclusive dos que já desistiram do PT há muito tempo, foi atingida pela ameaça aterrorizadora da volta dos privatistas que escancararam as portas do país para a exclusão social e a super-exploração do trabalho.
Muitos setores da esquerda que não acreditam nem em Dilma e nem no resgate do PT para o campo da esquerda acabaram por votar na Dilma acreditando estar votando contra retorno ao passado, contra os fantasmas que rondam a incipiente democracia brasileira.
Esses eleitores sensíveis ao significado histórico da esquerda precisam escapar da armadilha e da chantagem se não quiserem repetir o gesto, mecanicamente, pela eternidade. Fantasmas verdadeiros, fantasmas criados e fantasmas realimentados sempre estarão à espreita da luta dos trabalhadores e do povo.
A esquerda precisa dar um passo adiante, livrar-se dessa incômoda extorsão praticada a cada eleição, por uma suposta esquerda que se alia na maior parte do tempo com a direita, age igual à direita e, só nos momentos eleitorais, evoca sentimentos racionais e emocionais da esquerda para socorrer o seu projeto de poder ameaçado por algo mais à direita ainda. Passado o risco eleitoral, adeus aos compromissos com a esquerda e com os movimentos sociais populares autênticos.
No primeiro governo Lula, a chantagem em cima dos setores de esquerda e dos movimentos sociais combativos utilizou o argumento de que se tratava de um governo em disputa, que era preciso atuar por dentro, apoiá-lo, para tentar conquistar uma hegemonia de esquerda no governo. Muita gente bem intencionada e de boa fé acreditou mesmo que a disputa era um campo aberto que poderia favorecer as forças empenhadas nas transformações, nas reformas estruturais e nas grandes mudanças demandadas pelos trabalhadores e a maioria do povo.
Não funcionou, o governo ficou empacado nas arapucas da governabilidade e afundou no mensalão, de onde saiu com nova guinada para a direita. Vale lembrar que, em 2005, Lula trocou Zé Dirceu por Dilma, na Casa Civil; Eduardo Campos por Sérgio Resende, na Ciência e Tecnologia; Olívio Dutra por Márcio Fortes, no Ministério das Cidades, entre outros.
No segundo mandato Lula, os programas sociais asseguraram apoio popular ao governo porque milhões de pessoas deixaram a linha da miséria. Os programas sociais garantiram a eleição da Dilma em 2010, ao mesmo tempo em que o governo aprofundou o atendimento das demandas do capital, com juro em patamar de rentabilidade para os financistas e especuladores; novas privatizações de estradas, portos e aeroportos; dinheiro subsidiado do BNDES para grandes grupos empresariais; desonerações de impostos para vários setores da economia; incentivos ao crédito e ao consumo; câmbio favorável às importações de manufaturados. Tal receita inviabilizou o programa da direita na disputa eleitoral e deu respaldo para o primeiro governo Dilma.
Agora as faturas do segundo governo Dilma são bem maiores, seja para assegurar a confiança do capital (precisa resolver o desafio de conciliar a satisfação dos rentistas e dos setores industriais produtivos, dos investidores estrangeiros e do desenvolvimento nacional, e do câmbio ideal para importadores e exportadores), seja para construir um programa de agrado dos aliados (PMDB, PSD, PR, PRB), seja para atender as demandas sociais e populares dos setores que apoiaram a candidata do PT contra a “ameaça da direita”, e também dos setores combativos dos movimentos populares e das esquerdas que não se deixaram levar pelo canto de sereia do lulismo e do dilmismo. Todos, movimentos governistas e oposições de esquerda, tendem a ganhar as ruas para cobrar avanços sociais efetivos e concretos.
Como se vê, a equação do próximo governo não está nada fácil. Isso sem contar as disputas internas por cargos entre os partidos aliados, as explosões das ambições pessoais, a indicação de ministérios chave para o modelo econômico, as investigações de corrupção na Petrobras e outros casos pendentes que devem perturbar a condução do governo. Além disso, o Lula já começou sua campanha presidencial para 2018, o que será mais um fator perturbador no segundo governo Dilma, pois tende a agitar as torcidas organizadas e a acirrar as ações das oposições, tanto à direita quanto à esquerda.
Tudo indica que o país viverá um período de muita agitação social. A disputa maior não estará nos escaninhos institucionais. Estará nas ruas.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor.

PCB PARTICIPA DO ENCONTRO MUNDIAL DOS PARTIDOS COMUNISTAS




O PCB se faz presente no 16º Encontro Mundial dos Partidos Comunistas, de 13 a 16 de novembro de 2014, na cidade de Quayaquil (Equador), com uma delegação composta pelos camaradas Ivan Pinheiro (Secretário Geral) e Edmilson Costa (Secretário de Relações Internacionais), que apresentou ao Plenário o documento preparado pelo Comitê Central do Partido, que publicamos abaixo:
INTERVENÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), NO 16° ENCONTRO INTERNACIONAL DOS PARTIDOS COMUNISTAS E OPERÁRIOS (Guayaquil, 13 a 15 de novembro de 2014)
O Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB) saúda a todos os partidos comunistas e operários presentes neste evento e cumprimenta o partido anfitrião, o nosso querido Partido Comunista do Equador.
O sistema capitalista mundial vive uma das mais graves crises de sua história, que o vem castigando , há mais de seis anos, sem que os gestores do capital encontrem uma saída para a retomada do crescimento econômico e a superação da crise. Pelo contrário, as medidas que vêm sendo adotadas pelos governos centrais para manter os privilégios do capital, como o corte dos gastos públicos e a redução dos salários e pensões, aprofundam ainda mais a crise, pois aumentam o desemprego, reduzem a renda da população e levam à recessão.
Essa crise sistêmica que envolve a economia global - crise de superacumulação que se combina com manifestações de superprodução e anarquia das finanças - condensa o mesmo fenômeno analisado por Marx: quanto mais cresce o capital, mais ele produz a crise que é concernente à sua natureza. Como sempre, os efeitos dramáticos das crises são repassados aos trabalhadores, pois o capitalismo se reproduz promovendo novas formas de exploração da força de trabalho e renovando os mecanismos de dominação.
Reafirma-se categoricamente a contradição entre capital e trabalho em nível global como a contradição fundamental a exigir a organização da classe trabalhadora na luta contra o sistema dominante. A crise acirra as contradições interimperialistas, intensificando a corrida armamentista e a agressividade na disputa pelo controle dos recursos minerais e dos mercados.
Na Ucrânia, o conflito tem origem numa intervenção golpista dos EUA e da UE, que levou ao surgimento de um governo reacionário, nos marcos da competição com a Rússia capitalista. O Oriente Médio transformou-se num barril de pólvora, em razão da ofensiva dos EUA e da OTAN pelo controle do Iraque, da Síria, do território curdo, desta vez se valendo de mercenários a serviço das potências ocidentais, da Turquia, da Arábia Saudita e seus satélites.
Esta ofensiva tem como objetivos a captura das fontes de energia da região e a ocupação de posições estratégicas em relação ao Irã, à Rússia e à China. A escalada da agressão sionista à Palestina é parte desta guerra de posições imperialista, numa região em que Israel é a cabeça de ponte do imperialismo norte-americano.
Na América Latina, o Paraguai está se transformando numa plataforma estratégica da ação imperialista no Cone Sul. Na Venezuela, segue a ofensiva da direita. É preciso reforçar nossa firme solidariedade ao governo e às forças políticas que apóiam o processo, em especial ao Partido Comunista de Venezuela e ao proletariado venezuelano.
Segue o bloqueio a Cuba Socialista, apesar de rechaçado esmagadoramente, mais uma vez, pela Assembléia Geral da ONU. O êxito da Mesa de Diálogos de Havana não é apenas um problema dos colombianos, mas de todos os povos da América Latina. Os interesses do povo colombiano e da insurgência, que se fundem na mesa de diálogo, são de uma solução política com justiça social e econômica, consolidada através de uma Assembléia Constituinte soberana.
A vergonhosa ocupação do Haiti acaba de completar 10 anos. Governos latino-americanos, sob o comando do Brasil, se submeteram à determinação dos Estados Unidos e do Conselho de Segurança da ONU para ocupar militarmente o Haiti e respaldar o golpe executado pelo imperialismo em 2004.
Estudando o capitalismo brasileiro, o PCB chegou à conclusão de que a economia do país é plenamente desenvolvida, com uma industrialização integrada e instituições burguesas em pleno funcionamento. Com esta análise, chegamos à compreensão lógica de que a contradição fundamental da sociedade brasileira se dá entre o capital e o trabalho, o que nos leva a concluir que o caráter da revolução brasileira é socialista. Isto não significa que em nosso país o socialismo está à vista, pois se as condições objetivas estão dadas faltam ainda condições subjetivas, hoje profundamente dificultadas, entre outros fatores em função da hegemonia reformista e oportunista no campo que se define genericamente como ”esquerda”.
Na visão do PCB, não há contradições significativas entre a burguesia brasileira e o imperialismo. Este, no caso do Brasil, não é um inimigo externo a ser combatido pela nação, numa frente de conciliação de classe entre o proletariado e a burguesia “nacional”. Pelo contrário, o Brasil é parte do sistema imperialista mundial, apesar de suas contradições e de ser ainda um ator coadjuvante em ascensão.
O desenvolvimento dos monopólios e oligopólios, das fusões, da concentração e centralização dos principais meios de produção nas mãos de grandes corporações monopolistas, nos setores industrial, bancário e comercial, torna impossível separar o capital de origem brasileira ou estrangeira, assim como o chamado capital produtivo do especulativo, já que, nesta fase, o capital financeiro funde seus investimentos tanto na produção direta como no chamado capital portador de juros e flui de um campo para outro de acordo com as necessidades e interesses da acumulação privada, sendo avesso a qualquer tipo de planejamento e controle. Por isso, a luta anticapitalista no Brasil é hoje, necessariamente, uma luta anti-imperialista.
Do ponto de vista político, é preciso acabar com a ilusão de que o governo brasileiro é progressista e antiimperialista. O Partido dos Trabalhadores (PT) é hoje um partido da ordem capitalista. Ao longo de seus últimos 12 anos de governo, cooptou e desmobilizou os trabalhadores, despolitizou a sociedade, gerando um apassivamento político que tem sido profundamente prejudicial ao desenvolvimento da luta de classes. Esse quadro ainda se torna mais difícil pois o PT deixou intacta a hegemonia da mídia burguesa, que funciona como um forte poder político dirigido pelos setores mais reacionários do capital.
A política econômica e a política externa do Estado brasileiro estão a serviço do projeto de fazer do Brasil uma grande potência capitalista mundial, nos marcos do imperialismo.
Hoje, o governo brasileiro é o organizador da transferência da maior parte da renda e da riqueza produzida pelo país para a burguesia. Grande parte do orçamento se destina a pagar os juros e a amortização da dívida (externa e interna), para satisfação dos banqueiros internacionais e nacionais, assim como para os rentistas brasileiros (que não chegam a 1% da população). O consumo é aquecido pelo crédito farto e caro e não por aumentos salariais. O resultado é que as famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas.
As alianças com o centro e a centro-direita para garantir a governabilidade institucional fizeram com que esse governo, em doze anos, governasse para o capital e proporcionasse à população mais pobre apenas políticas compensatórias, que não representam sequer 10% do pagamento dos juros da dívida. Ao contrário, promoveram contrarreformas. Não se pode chamar o governo brasileiro sequer de reformista: trata-se de um governo social-liberal que gerencia o capitalismo adotando medidas paliativas para aliviar a pobreza extrema.
Os resultados são a retomada das privatizações em grande escala, sob a forma de concessões ao setor privado, a entrega das reservas de petróleo, como o Campo de Libra, a opção pelos grandes monopólios, a desoneração de impostos para o capital, a precarização do trabalho (com mais e piores empregos), a política de superávit primário, com o sucateamento do serviço público, a banalização da corrupção, a falta de perspectiva para a juventude, o descrédito na política e nos partidos políticos.
Exatamente no auge da crise do capitalismo, em que as agressões do sistema aos direitos trabalhistas, sociais e políticos dos povos abrem possibilidades de mobilização e organização dos trabalhadores, seguimos carentes de um vigoroso movimento comunista internacional de orientação revolucionária.
As estratégias reformistas implicam em alianças com a burguesia, em privilegiar a luta no campo institucional. Transmitem aos trabalhadores a ilusão de que é possível humanizar o capitalismo e caminhar até o socialismo pela democracia burguesa, em etapas, por meio de avanços seguros e graduais e através de formas de luta exclusivamente pacíficas.
Os partidos reformistas que participam de governos socialdemocratas ou social-liberais não contribuem para conquistas dos trabalhadores e muito menos na construção do socialismo. Pelo contrário, participam da gestão do sistema e desmobilizam os trabalhadores, iludindo-os de que suas conquistas dependem do desenvolvimento do capitalismo.
O oportunismo reflete-se na crise política, ideológica e organizativa do movimento comunista internacional, que não pode ser reconstruído apenas na diplomacia, na busca de consensos, em declarações vazias, sem conteúdo de classe. Não podemos deixar de lado o debate das divergências, para manter uma unidade artificial. A unidade de que necessitamos tem que ser baseada nos princípios do marxismo-leninismo, do internacionalismo proletário.
Na América Latina, necessitamos uma articulação de partidos e forças revolucionárias, anticapitalistas e antiimperialistas, para fazer frente à hegemonia do Foro de São Paulo, que a cada ano aprofunda seu processo de institucionalização como instrumento para a governabilidade institucional dos chamados governos progressistas e a integração capitalista da América Latina, sob a hegemonia brasileira.
Percebe-se uma articulação do Foro de São Paulo e da versão européia do reformismo (o Partido da Esquerda Europeia), com o objetivo de constituírem uma alternativa internacional socialdemocrata, inclusive com partidos denominados comunistas, em contraposição ao movimento comunista internacional.
O PCB continuará atuando no sentido de fortalecer o bloco de partidos comunistas alinhados com a luta anticapitalista e antiimperialista, buscando contribuir para o desenvolvimento de uma luta sem tréguas contra o reformismo, que ainda impera em várias organizações que se reivindicam de esquerda ou comunistas, e construir um poderoso pólo comunista internacional que fortaleça ideologicamente as posições marxistas-leninistas e seja capaz de conduzir, em cada país, o movimento dos trabalhadores por sua completa emancipação.
Viva o marxismo-leninismo!
Viva o internacionalismo proletário!
Quayaquil, 14 de novembro de 2014
PCB (Partido Comunista Brasileiro)

Morre Leandro Konder, filósofo marxista

13 NOVEMBRO 2014 
Faleceu em sua casa no Rio de Janeiro, aos 78 anos, no dia de ontem, um dos maiores pensadores marxistas contemporâneos. Leandro Konder, nascido em Petrópolis (RJ) em 1936 e pertencente a uma família de comunistas, muito jovem abraçou a militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Formou-se em Direito, mas dedicou-se prioritariamente ao jornalismo e à filosofia, tendo dado seus primeiros passos como ensaísta, unindo as duas atividades, na revista Estudos Sociais e no jornal Novos Rumos, publicações do PCB nas décadas de 1950 e 1960, até a vigência do golpe empresarial-militar de 1964. Membro do Comitê Cultural do PCB, junto com Carlos Nélson Coutinho, foi pioneiro na divulgação das ideias de György Lukács e Antonio Gramsci no Brasil, ainda nos anos 60. Posteriormente, publicou obras e textos sobre outros pensadores do campo do marxismo, como Walter Benjamin, Theodor Adorno, Hebert Marcuse, Jean-Paul Sartre. “Marxista de profundo espírito crítico”, nas palavras de Coutinho, não aprendeu o marxismo nos manuais da antiga Academia de Ciências da URSS, mas diretamente nos textos clássicos dos teóricos do socialismo. Respeitado por sua vasta produção intelectual, produziu mais de vinte livros e publicou inúmeros textos em jornais e revistas. Depois de 1964, escreveu para Revista Civilização BrasileiraPaz e TerraTemas de Ciências Humanas, as publicações do PCBFolha da SemanaVoz Operária (esta produzida no exílio, na década de 1970), Voz da Unidade (nos anos oitenta) e, após deixar o partido em 1982, também para a grande imprensa, como Jornal do Brasil O Globo. A exemplo de vários intelectuais e militantes de esquerda, foi obrigado a exilar-se em 1972, após ter sido preso e torturado pelos algozes da ditadura. Morou na Alemanha e depois na França, tendo regressado ao Brasil em 1978. Leandro doutorou-se em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi professor do Departamento de Educação da PUC-RJ e do Departamento de História da UFF. Em 2002, foi eleito o Intelectual do Ano pelo Fórum do Rio de Janeiro, da UERJ. Coordenou, juntamente com Michael Löwy, a coleção Marxismo e literatura, da Editora Boitempo.
O Comitê Central do PCB vem a público externar seu pesar pela perda deste inovador pensador do marxismo contemporâneo, que nos legou uma obra marcada pelo antidogmatismo e pela forte presença do pensamento dialético. Como deixou claro no livro autobiográfico “Memórias de um intelectual comunista”, Leandro Konder continuou, até o fim de sua vida, acreditando no socialismo como caminho possível para a instauração de uma sociedade igualitária e verdadeiramente democrática.

PCB - Mauro Iasi - Pan Africanismo e Marxismo

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