11/12/2011
Vivian Oswald, Enviada especial / MOSCOU
O Mundo População lamenta fim de benefícios e lembra época da superpotência
MOSCOU. Aos 70 anos, Lyudmila A. não revela o sobrenome e nem se deixa fotografar. Mas conta em detalhes sobre o quanto tem saudades da URSS. Garante ter tido uma vida boa naquela época e se queixa de, hoje, após tantos anos de trabalho, não conseguir viver da aposentadoria. Complementa a renda trabalhando num museu. Num depoimento emocionado, a eleitora do Partido Comunista da Federação Russa (KPRF) fala das mudanças pelas quais passou.
— É como se você estivesse em outro país. É como se tivesse sobrevivido a uma guerra difícil e longa. O pior é que essa guerra continua — diz, reclamando das aposentadorias. — Antes dava para viver bem, viajar, e agora não. Antes todos ganhavam apartamentos e, agora, ninguém tem como comprar seu imóvel.
Sputnik, Gagarin, Lênin, a foice e o martelo
Lyudmila lembra de uma época em que havia trabalho para todos. Se a pessoa se tornasse alcoólatra, maltratasse a mulher ou crianças, era enviada a uma instituição especial. Nas empresas, havia o tavarishki sud, uma espécie de julgamento feito pelos colegas. Esposas poderiam reclamar de infidelidade, e o marido acabar rebaixado no emprego. Trabalhadores podiam recorrer a jornais ou órgãos especializados para reclamar de chefes, lembra.
— Tudo isso dava a sensação de que você estava protegido, que tinha apoio do governo e do coletivo. Isso já não existe. É uma sensação horrível de solidão, sem saída e de que se tem que lutar para viver. Muitos agora temem o futuro. Isso não havia na URSS — conta Lyudmila.
A aposentada não está só. A nostalgia dos velhos tempos de potência permeia a sociedade. Daí o fato de agradar tanto o discurso mais forte e patriótico do premier Vladimir Putin ou a retórica dos comunistas.
Os símbolos soviéticos ainda são onipresentes. Vão desde o monumento ao Sputnik e a homenagem a Iuri Gagarin no meio da Avenida Lênin, em Moscou, ao metrô e suas referências à URSS. Por cima do relógio da fachada da Agência Central dos Correios da capital, a dois quarteirões da Praça Vermelha, chamam a atenção a imensa foice e o martelo. A dupla está no alto dos prédios, nas grades dos parques, nas praças e no metrô. Também está nos mastros que permanecem nos edifícios onde bandeiras são hasteadas nas datas comemorativas.
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Publicado no Jornal Extra edição de 11/12/11
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