Depois de uma longa batalha contra o câncer e os efeitos do
tratamento da doença, que o deixaram bastante debilitado, descansou
nosso querido camarada ARISTéLIO TRAVASSOS DE ANDRADE.
Nasceu em 18 de março de 1934, na cidade de Timbaúba, Estado de
Pernambuco, na chamada ex-Zona da Mata, de onde seus pais saíram,
para morar no Rio de Janeiro, quando então tinha 3 anos de idade.
Estudou no Instituto Teológico Adventista, onde hoje funciona o
Colégio Petropolitano de Ensino. Fez contabilidade trabalhando de
dia na Casa Turuna, na Avenida Passos. Quando se formou, ficou doente
dos pulmões e foi morar em São José dos Campos. Um ano depois, com
a doença controlada, fez concurso para o Centro Técnico de
Aeronáutica. EM 1952, trabalhando no meio da nata dos golpistas da
Aeronáutica, entre ele o major Burnier, famoso depois de 1964,
INGRESSOU NO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO, do qual nunca se afastou.
Trabalhou no CTA até final de 1956, quando voltou ao Rio para
trabalhar no Tribunal de Contas da União. Nesta altura da vida, já
estava namorando Marly, companheira admirável que lhe acompanhou
até o fim da vida. Foi quando se iniciou a construção da refinaria
Duque de Caxias, e o Partido lhe deu como tarefa fazer o concurso para
a Petrobras. Ingressou na empresa em 1958. Na Reduc, foi fundador de
um amplo movimento político, em defesa dos princípios que nortearam
a fundação da Petrobras, com destaque para a luta em prol do
monópolio estatal do Petróleo, o Movimento 2004 (número da lei que
criou a Petrobras).
Na batalha pela fundação do Sindicato da Reduc, o Movimento 2004
ganhou notoriedade. Foi eleito Secretário do Sindicato e atuava como
elemento político da organização interna, conseguindo, dentre
outras conquistas, fazer com que os engenheiros ingressassem no
Sindicato e participassem das assembleias junto com os operários. O
Sindicato da Reduc esteve presente em todos os grandes momentos da
vida nacional. Desde a greve dos marinheiros, a assembleia dos
sargentos e o comício na Central do Brasil. Por isso mesmo foram
violentamente perseguidos em 1964. Nenhuma unidade da Petrobras teve
o número de cassados que teve a refinaria, e o número de demitidos
passou de 300. Tal era a fama do Sindicato e dos comunistas da
refinaria, que, nas palavras de Aristélio, “foi criado um campo de
concentração para nós”. Muitos foram torturados. Todos perderam
seus empregos. Mesmo cassados, refundaram o Movimento 2004, que deu
origem à Comissão de Anistiados da Petrobras, que até hoje luta
pelos direitos destes trabalhadores.
Em 1964, Aristélio ficou preso no DOPS e, depois, no Presídio
Ferreira Viana, na famosa Rua Frei Caneca. Não conseguia mais
emprego e acabou virando jornalista, transformando-se num dos mais
competentes e respeitados profissionais da área, sempre lembrado e
admirado por antigos colegas e pelos leitores, quando se tornou
colunista. Trabalhou no Jornal dos Sports, no Correio da Manhã, na
sucursal do Estadão, da Folha de São Paulo e em O Globo. Após
várias batidas policiais, resolveu ir para São Paulo trabalhar na
Editora Abril. Trabalhou na enciclopédia Conhecer, na revista
Realidade e fundou a revista Placar com Maurício Azêdo. Voltou ao
Rio como chefe da redação do Placar e, quando foi demitido, com o
dinheiro da indenização, comprou um chalé em Mury, bucólico
distrito de Nova Friburgo.
Foi trabalhar na TV Manchete e, dois anos depois, regressava à
Petrobras, dessa vez trabalhando não mais como técnico de
contabilidade e sim como jornalista, assumindo a função de chefe de
setor de divisão e, depois, superintendente adjunto do Serviço de
Comunicação da Petrobras. Quando Collor foi eleito, pediu demissão
e veio para Friburgo ser diretor de jornalismo da TV Serra Mar, na
época de propriedade de Cláudio Chagas Freitas, onde trabalhou por
um ano. Bateu de frente com os maus prefeitos da região, chegando a
ser ameaçado, tendo sido obrigado a se afastar.
Para sobreviver, abriu o restaurante japonês Kyori (que funcionava
em uma das lojas embaixo do estádio do Friburguense), com o sócio
Yoshiuke Ban. Como ele mesmo dizia: “Ensinamos o friburguense a
comer de pauzinho”.
Dez anos depois, voltou ao Rio para trabalhar no Tribunal de Contas
do Município, como assessor do Maurício Azêdo, então Conselheiro
do TCMRJ, que desejava gente de confiança e honesta ao seu lado.
Tornou-se colunista do jornal friburguense A Voz da Serra, onde,
durante vários anos, produziu deliciosas crônicas sobre a cidade, o
estado e o país, falando de tudo: política, futebol, samba e jazz,
de que era grande entendedor, por isso mesmo integrante do Clube de
Jazz.
Passou a lutar para dar um melhor destino à Associação Brasileira
de Imprensa (ABI), tendo sido eleito, em maio de 2004, diretor
tesoureiro da entidade. Neste mesmo ano, aceitou o desafio lançado
pelos camaradas do PCB de Nova Friburgo e foi candidato à
prefeitura, arrebanhando quase 8.000 votos (cerca de 7% da
votação), numa das mais significativas performances obtidas por um
candidato de esquerda no município, talvez a maior da história da
cidade, levando-se em consideração ter sido candidatura própria,
sem coligações. Dois anos depois, cumpriu de novo a tarefa de ser
candidato pelo PCB, desta vez a deputado estadual, mas a saúde já
debilitada não permitia mais muitas andanças.
Hoje, 05 de março de 2010, descansou o bravo camarada Aristélio,
de tantas batalhas contra a ditadura, as desigualdades e injustiças
promovidas pelo capitalismo, de tantos belos textos em defesa da
nossa cultura, da democracia e do socialismo, de 58 anos
ininterruptos de militância no PCB. Deixa saudades profundas na
família (salve, guerreira Marly!), nos inúmeros amigos feitos ao
longo da vida, nos militantes do PCB e da esquerda brasileira e em
grande parte dos eleitores friburguenses, que ainda sonhavam na
oportunidade de votar de novo em Aristélio para Prefeito.
CAMARADA ARISTÉLIO, PRESENTE!
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