segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

LYCIO E HELIA HAUER, PRESENTES!

A família e os amigos comunicam o falecimento de Lycio e Helia Hauer. O velório acontecerá nesta segunda-feira, 5 de dezembro, a partir de 9 horas da manhã, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Palácio Tiradentes). O enterro acontecerá no mesmo dia, às 16h, no Cemitério São Francisco Xavier (Caju).
LYCIO E HELIA HAUER, PRESENTES!
Lycio Silva Hauer nasceu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1919, filho de Julio Cesar Hauer e Esther Silva Hauer. Cresceu com seus irmãos Urania, Isis, Dario, Norma, Timeu e Icléa no bairro de Santa Teresa. Quando terminou seus estudos secundários, sua mãe o aconselhou a prestar concurso público. Passou para Tribunal de Contas da União. Mas diferentemente do que se espera da vida pacata de um funcionário público padrão, Lycio fez de seu trabalho uma aventura cheia de peripécias.
Trabalhou em várias cidades, começando por Cuiabá – onde chegou depois de subir o rio Paraguai até Corumbá e de lá seguir de avião teco-teco, com sua primeira esposa Yolanda e seu filho recém-nascido. Lycio e Yolanda tiveram seis filhos: Niepce, Yonne, Licíola, Kátia, Viktor e César. Em 1945, quando visita os pais no Rio de Janeiro, encontra a cidade em ebulição política após o fim do Estado Novo e a convocação de eleições gerais. É nessa ocasião que se filia ao Partido Comunista do Brasil (PCB) e inicia sua militância, retornando a Cuiabá com a tarefa de fundar o Partido na cidade e participar ativamente da campanha para a Constituinte de 1946.
Por conta do envolvimento político, Lycio acabou sendo transferido para Florianópolis, onde deu prosseguimento à sua militância, depois de ser indicado ao comitê estadual de Santa Catarina através de uma credencial, assinada pelo próprio Luiz Carlos Prestes, que o qualificava como “elemento valoroso, combativo e grandemente imbuído dos princípios comunistas”. Lá iniciou sua formação em Direito, foi eleito para o diretório acadêmico da faculdade e logo teve que mudar novamente de cidade, agora para Vitória, sua última parada antes de retornar ao Rio de Janeiro.
Em 1949, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e o principal centro do funcionalismo público federal, sendo o lugar perfeito para iniciar uma luta reivindicatória pela melhoria dos salários e das condições de trabalho dos servidores. Em pouco tempo, com um trabalho político intenso, respaldado pelo Partido Comunista, Lycio liderou um movimento de massas que na década de 1950 reuniu mais de cem mil assinaturas em prol da causa dos servidores, organizou manifestações nas ruas do Rio, levou a uma comissão para negociação vitoriosa do aumento salarial e culminou com a fundação da União Nacional dos Servidores Públicos Civis (UNSP), primeiro sindicato nacional de servidores do Brasil. Com a UNSP, Lycio voltou a percorrer o país em congressos, reuniões e atos políticos, integrou diversas comissões e foi recebido por Ministros e Presidentes da República, de Getúlio Vargas a João Goulart.
Devido ao seu grande prestígio entre os servidores, Lycio Hauer foi lançado pelo PCB como candidato a deputado federal pela legenda do PTB, em 1958, e eleito sem mesmo fazer campanha – o PCB estava na ilegalidade desde 1947. No Congresso Nacional, Lycio foi um legítimo representante dos trabalhadores, levantando sempre a bandeira dos servidores públicos, que o elegeram, e das causas políticas defendidas pelos comunistas brasileiros. Como parlamentar, foi um exemplo de dedicação e coerência com a luta dos trabalhadores, sempre como militante do PCB, até ser cassado com o golpe de 1964.
Sindicalista, parlamentar e militante comunista, Lycio participou das lutas e compartilhou dos sonhos de mudança política e social que foram interrompidos com o golpe militar de 1964 e o exílio.
No início da década de 1960, Lycio conhece sua segunda esposa Helia, jovem militante e companheira de luta e de vida.
Helia Maciel Hauer nasceu em 28 de setembro de 1937, em São José dos Campos, filha de Joaquim e Geralda Mira Maciel, irmã caçula de Elza e Maria Aparecida ("Filhinha"). Antes de conhecer, Lycio, Helia teve seu primeiro filho Joaquim. Lycio e Helia tiveram quatro filhos: Monica e Lícia, nascidas no Brasil, e Kepler e Dario, no Chile.
Exilados, Lycio e Helia percorreram diversos países da Europa até resolverem viajar para o Chile, país da América do Sul onde ainda podia se respirar o ar da democracia. Lá mantiveram suas atividades políticas, trabalhando na Corporación de la Reforma Agrária (CORA) e atuando na militância junto ao Partido Comunista Chileno. Engajaram-se na construção do socialismo e viveram o entusiasmo do povo durante o governo Allende. Em 1973, mais um golpe militar e novo exílio. Lycio, Helia e seus filhos rumam para a cidade de Umea, na Suécia.
No exílio sueco, Helia lecionou pedagogia na universidade, ensinando sobre suas experiências com o método paulofreireano, enquanto Lycio trabalhou como pesquisador universitário, em estudos sobre a esquerda católica na América Latina. Participaram ativamente dos comitês pela anistia que se organizaram na Suécia e retornaram ao Brasil em 1979.
De volta ao Brasil, trabalharam na Câmara Municipal do Rio de Janeiro como assessores parlamentares de vereadores como Antonio Carlos Carvalho, Pereirinha, Sérgio Cabral (pai), Aloísio de Oliveira e Maurício Azêdo, até se retirarem para Petrópolis, em 1989. Helia permaneceu ainda por alguns anos trabalhando como secretária do vereador Maurício Azêdo, onde deixou sua marca de grande auxiliar em projetos importantes de interesse do município do Rio de Janeiro.
Lycio e Helia juntos viveram os últimos anos de suas vidas e juntos partiram para a longa viagem sem volta. Lycio morreu dormindo em sua poltrona, no último 21 de novembro, e Helia morreu no hospital em que estava internada com problemas respiratórios, dois dias depois, em 23 de novembro.

Numa entrevista no ano 2000, contando um pouco da história de sua luta, Lycio refletiu otimista: "Não há dúvida que isso vai acontecer, imagina um dia, a gente vai para a revolução, a revolução popular, não tenha dúvida. A questão aí é tempo, o que são 40 anos na vida social? Não é nada. A unidade da luta social não é um ano, quando muito uma década. Foram quatro décadas de luta, o que é isso? Não é nada. Claro, a gente envelhece, aí vêm outros, mas tem uma experiência, alguma coisa que a gente pode transmitir".

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