segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CARTA ABERTA AO COMANDANTE CHÁVEZ, À CELAC, À UNASUL E OS ACORDOS COM A COLÔMBIA

imagemCrédito: MCB


É uma ideia grandiosa pretender fundar em todo o novo mundo uma só nação com um só vínculo que ligue as suas partes entre si e com o todo.

Simón Bolívar

Como organizações comprometidas com o socialismo como via única para acabar com o regime sangrento do imperialismo, como coletivos unidos na construção de uma sociedade de iguais onde a justiça reine para todos por igual, como sujeitos de transformação dispostos a caminhar sem descanso até a construção da Pátria Grande, saudamos a criação CELAC, um espaço de integração que poderá reunir os países de Nossa América em um território de paz com justiça social. Este passo é particularmente importante porque se contrapõe a um organismo fundamental da máquina político-militar ianque: a OEA [Organização dos Estados Americanos].

Neste contexto, e também no marco da próxima reunião de Chefes de Estado da UNASUL [União de Nações Sul-Americanas] nos dias 4 e 5 de dezembro, queremos aportar elementos internacionalistas para o impulso de uma nova territorialidade nesta Nossa América, vinculada à libertação dos povos que sofrem a violência despótica do capital.

  • Desde a perspectiva do internacionalismo revolucionário se podem estabelecer acordos entre governos de caráter popular e governos sujeitos aos interesses do capital, sempre e quando tais acordos não golpeiem o desenvolvimento da luta popular no interior de tais sociedades.

  • O internacionalismo Bolivariano traça um caminho que não pode estar atravessado por interesses alheios aos dos homens e mulheres que vivem neste continente. Nesse sentido, os acordos que sejam assinados no contexto da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos] e da UNASUL devem estar em consonância com a construção de um continente soberano.

No nosso entender, o respeito pela autodeterminação e pela autonomia dos distintos Estados não pode equivaler a guardar silêncio frente à subjugação e repressão dos povos do Continente, frente à injustiça e à rendição diante aos interesses norte-americanos. Como não se pronunciar sobre a eliminação sistemática de opositores em Honduras? Isto em claro desprezo aos acordos estabelecidos depois da repatriação do presidente Zelaya. Como não se pronunciar sobre a justa saída ao mar para a Bolívia? E as constantes evasões e obstaculizações, a partir de argumentos retóricos e formalismos por parte do Governo neoliberal de Sebastián Piñera [presidente do Chile]? Como não levantar a voz frente à recuperação das Malvinas como parte integral do território argentino, hoje em processo de exploração petroleira por parte do imperialismo inglês? Como não se pronunciar diante da negativa do senado paraguaio para a aprovação da Venezuela como membro pleno no MERCOSUL? Como não exigir a erradicação das bases militares norte-americanas no continente? Por acaso podemos aspirar o fortalecimento da Pátria Grande se esquivando das necessidades urgentes de seu povo?

Isso se torna particularmente relevante ao analisar as relações da Venezuela com a Colômbia. Dessa maneira, queremos manifestar algumas reflexões, inquietações e propostas do movimento revolucionário venezuelano e continental colhidas através de vários coletivos e organizações populares; nosso objetivo neste sentido é trazer elementos de análise sobre os vínculos estatais entre Venezuela e Colômbia – relações cujas evidentes contradições e dilemas no político e no ético não podem nos deixar indiferentes.

Estas deliberações se fazem mais urgentes diante da reunião Chávez-Santos de 28 de novembro, frente a qual temos que expressar nossa preocupação sobre os acordos que estão sendo assinados entre Colômbia e Venezuela, e sobre os que se podem ainda vir a assinar.

Não é necessário nos aprofundarmos caráter eminentemente entreguista (ao imperialismo) e repressivo (contra os setores populares) do Estado colombiano. As evidências saltam à vista: sete bases norte-americanas e acordos militares com Grã-Bretanha e Israel, inumeráveis casos de violações aos direitos humanos, que vão desde as expulsões das terras e a tortura até os assassinatos de sindicalistas e outros dirigentes populares, os falsos positivos e os desaparecimentos massivos. Somente desde que Santos chegou ao poder, foram registrados, segundo cifras oficiais, mais de cem ativistas de direitos humanos vítimas do terrorismo de Estado. Recordamos amargamente que os delitos de lesa-humanidade não formam parte do passado na Colômbia, mas são parte do cotidiano macabro do presente.

É por isso que nos alerta e surpreende a política de colaboração que o governo venezuelano tem desenvolvido com o país vizinho através da assinatura do funesto Acordo de Cartagena, entre cujos pontos se encontra, segundo o próprio ex-ministro de defesa colombiano Rodrigo Rivera, um marco jurídico que permitirá às autoridades de ambos países “compartilhar informação de inteligência, fortalecer a cooperação judicial e as operações em todos níveis, unindo elos”. Como revolucionários, compreendemos que estes passos abrem uma profunda fenda em nosso processo bolivariano. Neste sentido, perguntamos: onde está nossa solidariedade internacionalista com os homens e as mulheres que lutam pela autodeterminação popular da Colômbia? O que ocorreu com o discurso do governo bolivariano que há três anos reconheceu a beligerância da insurgência colombiana? Ou será que devemos suportar em silêncio todo o peso do pragmatismo sem ética da realpolitik?

Preocupam-nos as recentes palavras da Chanceler colombiana, María Ángela Holguín, amplamente divulgadas pelo Sistema Nacional de Mídias Venezuelanas, nas quais declarava que o governo de Santos tem confiança de que logo se assinará um acordo de cooperação militar (“colaboração direta entre exércitos”, segundo disse Holguín) com o executivo venezuelano. Assinar um acordo com este caráter poderia representar a entrega de nossa soberania.

Em nosso entender, colaborar com a Colômbia no aspecto militar é um golpe duplo à moral revolucionária: por um lado implica a colaboração de fato com os Estados Unidos e, por outro, o colaboracionismo com o terrorismo da oligarquia colombiana até a eliminação da resistência popular no país vizinho, que não somente passa pela guerra contra-insurgente, mas que intenta acabar também com toda oposição política na Colômbia, a saber, movimentos operários, camponeses, indígenas, estudantis, etc.

Neste sentido, recordemos que as revoluções latino-americanas conheceram as consequências nefastas das alianças militares dos governos que respondiam aos interesses do capital e do imperialismo, com a aplicação na década de 70 do Plano Condor; portanto, vemos com profunda preocupação a assinatura de acordos militares na atual correlação de forças no continente.

Como organizações comprometidas com o avanço do processo bolivariano, com o socialismo e a Pátria Grande, insistimos ao nosso governo a se desvincular do projeto sanguinário da oligarquia colombiana. Repudiamos as alianças com um exército que volta suas armas contra seu próprio povo, que tem sido o responsável por massacres, expulsões dos pequenos agricultores de suas terras, valas comuns, falsos positivos e demais crimes de lesa-humanidade.

Em conclusão, colhemos duas breves frases, uma de Bolívar e outra de Martí, que guiam nosso pensamento e nosso compromisso: “A Pátria é a América” aponta a uma territorialidade integradora e revolucionária do projeto Bolivariano, e “A Pátria é a humanidade” determina o caráter essencialmente internacionalista e classista de uma revolução.

Trabalhemos pois pela construção de uma América Latina guiada pelos sentimentos humanistas e revolucionários que expressaram Bolívar e Martí: O radiante pensamento deles há de guiar nossas ações internacionalistas e nosso destino soberano!

Novembro de 2011

Movimento Continental Bolivariano, Capítulo Venezuela

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