quarta-feira, 9 de junho de 2010

NÃO HÁ UNIDADE SOB HEGEMONISMO E ANEXAÇÃO

Por Ailton Lopes *

Depois de intenso processo de fragmentação da esquerda política em nosso país, diante da cooptação de diversos instrumentos da classe trabalhadora pelo Estado, nestes últimos dois anos, vivemos intenso momento de debate em torno da necessidade em recompor a classe que estava dividida entre diversos setores combativos.

Foi pela compreensão da unidade da classe como valor estratégico, em torno dos diversos setores combativos e que não se renderam ao Estado ou ao capital, que um setor significativo da Intersindical decidiu abrir o diálogo permanente de construção de uma alternativa mais ampla capaz de unificar, organizar e mobilizar os trabalhadores (as) do nosso país.

Um processo extremamente difícil, em que perdemos parte significativa da Intersindical, que ainda não considerava ser este o momento para selar uma unidade orgânica especialmente com a Conlutas, apesar de quase uma década de governo Lula e, pelo menos, duas décadas, de progressiva adaptação da direção majoritária da CUT ao sindicalismo cartorial, de resultado, burocrático e, posteriormente, governista.

A nossa aposta foi, portanto, a da unidade. Uma aposta de que, neste processo, futuramente setores outros que não participaram num primeiro momento, poderiam vir a compor depois conosco neste novo instrumento. Para tanto, era importante que o novo instrumento, que estávamos dispostos a criar, fosse capaz de representar não apenas sua pluralidade circunstancial, mas a do porvir.

Assim, juntos (as) com o MAS, MTST, Pastoral Operária, MTL e a Conlutas, partimos para debates diversos que conduziram à realização do CONCLAT – Congresso da Classe Trabalhadora, realizado nestes 05 e 06 de junho em Santos (SP).

O debate, no entanto, ainda não havia sido o suficiente para transpor diversas divergências entre os setores que participavam deste processo. Diante disto, nós, da Intersindical propomos, em 2009, à Conlutas que, neste ano de 2010, fosse realizado um Congresso Fundacional, remetendo as maiores divergências para outro Congresso. De tal modo que pudéssemos, de fato, conjuntamente, amadurecermos não apenas o debate, mas a própria relação entre todos os setores que estariam construindo este novo instrumento. E que o nosso primeiro Congresso pudesse ser um espaço maior de convergências, de debate em torno de uma agenda para fora, ampla, capaz de armar a classe trabalhadora para o enfrentamento contra o Capital e o Estado, representado em seus diversos governos.

No entanto, a Conlutas/PSTU não aceitou nossa proposta. Ao contrário, só aceitaria um Congresso e fundação da Central se todas as polêmicas fossem a voto. Nós, da Intersindical, cedemos mais uma vez, em nome da unidade, apostando que, no debate até o Congresso, as questões, mesmo as polêmicas, pudessem encontrar alguns acordos possíveis capazes de garantir a unidade.

Durante todo este processo, buscamos construir lutas e atos unificados no país inteiro, numa demonstração clara de unidade nas lutas.

O Congresso começava num clima de unidade, apesar das divergências. Mas com o tempo, foi-se percebendo que o PSTU/Conlutas estava blocado para a disputa. E não cederia, nem pactuaria absolutamente nada.

Entre as polêmicas estavam a composição da direção, o caráter da Central e o seu nome. O debate em torno de tais polêmicas trazia consigo questões de fundo muito mais abrangentes, que diziam respeito à concepção de movimento sindical e estratégias de atuação política. Como principal aliado, o PSTU/Conlutas contou com o MTL, que incorporou todas as propostas do PSTU.

A proposta de direção da Conlutas era manter a mesma fórmula construída para si na próxima Central. Eleição indireta das instâncias de direção. Ao contrário de elegê-las pelos delegados (as) no Congresso, a direção seria indicada pelas entidades que comporiam a Central, levando inclusive a distorções, uma vez que entidades menores e de pouca representatividade na base, teriam o mesmo peso que as de representatividade muito maior. A Conlutas manteve sua proposta, com a única ressalva de que a Executiva Nacional poderia ser eleita no Congresso. Já a Coordenação Nacional, bem como as estaduais seguiriam o mesmo critério adotado já pela Conlutas. Ganharam esta votação.

Quanto ao caráter da Central, o PSTU/Conlutas insistiu em que na sua composição participassem, com 05% de peso, estudantes e movimentos contra opressões.

Contrários a esta proposta, nós da Intersindical, UNIDOS, MAS e MTST, propúnhamos uma Central Sindical e Popular. Por compreender ser a Central Sindical uma Central Classista, capaz de representar e organizar os trabalhadores e trabalhadoras em luta na favela, na cidade e no campo, desempregados (as), terceirizados, etc.

Logo, organizar as mulheres trabalhadoras, os gays trabalhadores, os jovens trabalhadores (as), os negros (as) trabalhadores (as), porque a opressão que se abate contra a jovem negra da favela não é a mesma contra a jovem negra da burguesia. O corte da nossa Central é um corte classista. E não deveria, portanto, compor com movimentos policlassistas. Além disso, tais movimentos têm suas próprias formas de organização, possuindo alguns deles um caráter de transitoriedade significativo.

Ademais, representa uma incongruência a defesa da participação destes movimentos, limitando de início um corte de representatividade de 05%. Por isso, defendemos um Fórum Nacional de Mobilização, capaz de dar mais liga à unidade da classe, com setores que hoje ainda não comporiam a nova Central, como os camaradas da ASS e PCB que construíram coletivamente a Intersindical conosco. E contar com a participação do MST, e de todos os movimentos sociais de esquerda, em torno de uma pauta concreta de lutas contra o capital.

No entanto, por mais uma vez contar com a maioria dos delegados (as), o bloco PSTU/Conlutas/ MTL, venceu.

Por fim, a gota d’água.

Durante todo este processo, buscamos um acordo com a Conlutas e todos os setores que participaram do CONCLAT, em torno de um nome que fosse capaz de representar a amplitude e o significado deste processo de unidade, que não se resumiam a uma fusão entre Conlutas e Intersindical, uma vez que participavam dele o MAS, MTL, MTST, Pastoral Operária. E mais do que isso, um nome que pudesse representar a concepção e compreensão desta unidade com capacidade de atrair outros setores para a composição da Central, especialmente os camaradas da Intersindical que não vieram conosco (ASS e PCB). Não se tratava de uma questão meramente designativa ou de marketing político, mas de expressão política da unidade destes setores e do papel a que se dispunha cumprir esta unidade.

Porém, até o fim, o PSTU recusou-se a um acordo, mantendo o nome Conlutas-Intersindical e, como adereço, o sub-título Central Sindical e Popular. Para tanto, contaram mais uma vez com o apoio do MTL. Tal nome era uma forma do PSTU/Conlutas preservarem sua marca. Incapaz de dialogar com outros setores. E ainda apontar este processo como uma simples fusão.

Utilizando inclusive para fundamentar seus argumentos exemplos de centrais pelegas e burocráticas como AFL/CIO.

O que marcou este Congresso foi a recusa do PSTU/Conlutas em rever suas posições, todas já blocadas pelo Congresso que realizaram antes. E nos grupos de discussão, tentaram evitar que fosse a Plenário outros nomes apresentados.

Em nenhum momento chegamos com um nome fechado, para que fôssemos capazes de chegar a um acordo, uma unidade política. Até o último instante, ainda na hora da votação, buscamos o acordo. O PSTU negou-se.

Diante da recusa do PSTU, nós da Intersindical, juntamente com o MAS (Movimento Avançando Sindical) e a UNIDOS (fração da Conlutas), propusemos o nome CECLAT – Sindical e Popular (Central da Classe Trabalhadora) .

Fomos mais uma vez derrotados. Estas derrotas demonstraram claramente que o PSTU/Conlutas manteve o formato e caráter da “nova” Central, exatamente como era o da Conlutas. Logo, não havia nada de novo, a não ser a incorporação ou, melhor dizendo, anexação dos demais setores à política do PSTU/Conlutas.

A revolta de nossa base com a forma como foi construído todo o processo, como a tentativa de evitar os grupos de discussão no primeiro dia do Congresso, o dirigismo nos grupos de discussão pelo PSTU, as seguidas provocações, e a total indisposição do PSTU para construção da unidade, corroborando com uma prática hegemonista de simples anexação dos outros setores ao formato da Conlutas, levaram a base da INTERSINDICAL, da UNIDOS e do MAS (Movimento Avançando Sindical) a se retirar do Congresso.

Ao invés de um Congresso que pudesse unificar de conjunto todos os setores, fazer política para fora, sair com um Calendário Unificado de Lutas, e armados para a disputa contra o peleguismo sindical e o capital, o PSTU/Conlutas optou pela sistemática disputa interna, na imposição de suas posições, numa prática completamente hegemonista, de quem quer construir hegemonia, por uma matemática simples do número de crachás. Dirigir atropelando, dividindo e não somando, compartilhando.

Não se pode invocar a democracia operária para justificar as pretensões anexadoras do setor majoritário, com base numa matemática simples de crachás, sob a insígnia: “A maioria decidiu”. Evidente que o PSTU/Conlutas, blocado com o MTL, tinham a maioria dos crachás do Congresso. Mas ser maioria também exige um saber e uma responsabilidade que o PSTU/Conlutas demonstrou não ter. Num momento fundacional de um novo instrumento, o PSTU/Conlutas ignorou seus aliados em nome de uma disputa sectária interna.

Ao invés de agregar, segregou, dividiu, demarcou.

Ao invés de dialogar, impôs.

Tão ruim e equivocado quanto o peleguismo sindical, é o hegemonismo político de quem, em função de seu peso, pretende instalar a vontade e decisão suas aos demais.

Se um Congresso é construído tão somente para homologar as decisões da maioria, não se faz necessária a participação dos demais.

O PSTU abriu mão da grande política. Abriu mão de ser maioria política, de ser maioria respeitada, por uma disputa demarcatória, como parece ser esta uma característica imanente a eles. De todo o resto, o PSTU/Conlutas não abriu mão, não mediou; simplesmente impôs “democraticamente” pelo voto.

(*) Ailton Lopes – militante do PSOL e do MAIS – Movimento de Autonomia e Independência Sindical/Bancários e da coordenação estadual da Intersindical.

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