domingo, 21 de março de 2010

CAMARADA NINA ARUEIRA: PRESENTE!

Há exatamente 75 anos, falecia a jovem Nina Arueira. Trazemos abaixo um pouco de sua trajetória.
As gerações jovens precisavam ter contato com a vida e a obra de Nina Arueira, uma das maiores campistas deste século. Maior, porque viveu antes de seu tempo. Numa época em que predominava o conservadorismo, Nina surgiu em Campos como uma revolucionária das idéias. Morreu com 19 anos, em 18 de março de 1935.
Estudou no Grupo Escolar João Clapp e no Liceu de Humanidades de Campos. Não chegou a concluir o Normal mas, se posicionou na história, muitos anos luz à frente de todos nós.
O nome NINA ARUEIRA é fruto de um pseudônimo, porque o nome de batismo era Maria da Conceição Rocha e Silva. De seu apelido na intimidade que era “pequenina” e do sobrenome do pai, Arueira, formou um nome muito forte e que viria a ser conhecido em muitos lugares fora de Campos.
Em época de fortes preconceitos, quando se iniciavam os anos 30, tempos revolucionários de Vargas, de tenentismos, de vitoriosas manifestações machistas, ela desponta no cenário cultural da cidade e consegue espaço no Jornal “Monitor Campista”, no qual militava a nata da cultura da época, aparece Nina, revelando talento, novas idéias, liderança, principalmente para as mulheres.
Em 1931 já publicava poemas, onde versos sem conta mostravam a profundidade do seu espírito, sua maturidade, sua evolução e a formação moral de que se revestia.
Certa vez escreveu: “Encontrei meu amor no caminho do mundo... Abri minha alma inteira para lhe dar guarida. E pelo amor de amar o trouxe para a vida”.
Com poesias, artigos e palestras, Nina passou a ser conhecida, na capital cultural do estado. Talvez por isso mesmo, começou a ser olhada de forma inversa pelo conservadorismo.
Foi acusada de comunista porque defendia idéias mais liberais para as mulheres. Sustentava que estas deviam criar associações onde pudessem se defender contra a exploração do trabalho, do preconceito, da liberdade. Disse Evaristo Penha, talvez o único biógrafo da nossa destemida Nina, que quando ela pegava um bonde de retorno à casa ou indo ao centro da cidade, muitas pessoas que a conheciam, costumavam se afastar e mudavam de lugar para não ter contato com “esta comunista”. Ela sempre pensava, como são retrógrados e ignorantes esses indivíduos. Nina Arueira era altamente espiritualizada. Um passo à frente para a mentalidade de então. Ela escreveu o seguinte conceito de Deus:
“Deus é o oceano interminável e nós somos cada qual um mediterrâneo nas reentrâncias da terra”.
Os que não entendiam Nina e até os que ainda hoje comentam Nina, supõem que ela era realmente uma comunista porque não aceitava e não admitia a desigualdade entre os homens e sonhava com um bem-estar coletivo. Em verdade sonhava com uma sociedade fraterna, com esperança de ver com seus próprios olhos, um mundo melhor. A busca desse ideal não podia ser compreendido por uma sociedade como a daquele tempo. Inclusive seus parentes mais próximos.
O professor Waldir Carvalho em seu livro “Gente que é nome de rua”, fala com muita propriedade que Nina Arueira se preocupava muito com os valores interiores. Por isso mesmo, ainda jovem, ligou-se a uma Sociedade Teosófica do Brasil, uma instituição de caráter espiritualista.
Deve ter sido muito difícil para aquela jovem dos anos 30, fazer com que suas idéias espirituais, sua sensibilidade poética, sua lucidez, sua capacidade de perceber o futuro, encontrasse espaço soberano, no meio machista e conservador de uma época complexa da vida do país. Mas ela lutou, atravessou as divisas de sua terra, avançou em direção a outros estados através de suas publicações em revistas poéticas e jornais.
A considerada comunista Nina Arueira, pouco tempo antes de morrer escreveu: “Deus é uma força infinita, e nós somos, cada qual uma força. Expanda-se, porque Deus está muito além da simples crença e o coração muito além da inteligência”.
Maria da Conceição Rocha e Silva ou NINA ARUEIRA lutou o bom combate. Ultrapassou as mulheres de sua geração e até hoje ainda é lembrada, enquanto os medíocres desapareceram na poeira do tempo, junto com suas discriminações.
Que as mulheres campistas relembrem NINA, nos gestos, nas atitudes, na grande elevação moral, na espiritualidade, que a levou para os planos do espírito, de onde ainda vela e inspira sua terra que ela gostaria de ver livre, espiritualizada, coberta de fraternidade, destacando apenas a beleza e a capacidade da “Mulher Campista”.

Confira abaixo dois dos mais belos poemas de Nina Arueira:


“Encontrei meu amor no caminho do mundo...
Abri minha alma inteira para lhe dar guarida.
E pelo amor de amar o trouxe para a vida.

Meu amor infinito é mais que um sentimento...
É um espírito de luz no espírito de ânsias
Que tenho dentro de mim...
É uma vida votada a um grande sonho
E acorrentada a uma grande e real ilusão!

Meu amor infinito
Não pode ser de um só!
E pelo amor de amar
Amo a vida e os homens
E os universos todos...

Meu amor infinito,
Por ser tão infinito,
Não pode ser compreendido por um homem...
Porque se amo a vida, e toda a vida,
E as criaturas todas,
Um ente só seria um quase nada
Para satisfação do meu amor...

E por ser o infinito, meu amor é um céu,
Que cerca todo o céu, e cerca toda a terra,
E venturas e dores, tristezas e alegrias,
E noites de procelas e luar, e interminíssimos dias...
Só pelo amor de amar...”
(Nina Arueira).

“Meu espírito vibrou na mudez da matéria...
Minha alma se exaltou na vibração da luz...
Eu vivi sobre a terra na espiração sidérea
De tocar com a minha alma a lira de Jesus...

Da vida não vi mais que a enganosa aparência,
Fictício tesouro que a mim não seduziu,
Porque meu coração era feito da essência
Evolada do céu e para o céu subiu.

O mundo veio a mim cheio de adulações...
E o mundo e a sua corte, altiva, repeli...
Não conheci da vida as tristes ambições,
Mas, a ambição de lá feliz, eu conheci...”
(Nina Arueira).


(Texto do Prof. Jorge Renato Pereira Pinto)
(Pesquisa: Hélvio Gomes Cordeiro)
Postagem: Leandro Lima Cordeiro.
Postado por Instituto Historiar

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