Acaba de ser lançado por um selo da Expressão Popular o livro “140 anos da Comuna de Paris”, que tem a autoria e organização do professor Milton Pinheiro. Trata-se de uma reflexão coletiva feita por professores de diversas universidades brasileiras e, de fora do Brasil, sobre esse grande acontecimento histórico.
Por Sofia Manzano
Comuna de Paris randÃ?mica
De que maneira as análises sobre a Comuna de Paris podem contribuir para refletirmos sobre os acontecimentos que, na atual conjuntura mundial, estão no centro do processo de transformação, no sentido de construirmos uma luta global que impeça o avanço da barbárie?
O cenário dos acontecimentos da Comuna é estudado na perspectiva da apreensão de um movimento que capte a necessidade da luta. Nesse sentido os ensaios do livro nos apresentam um rigoroso olhar sobre o futuro.
O prefácio do professor Armando Boito joga luz sobre o amplo debate que se estabeleceu no Brasil sobre essa efemeridade, realçando o papel da literatura marxista entre nós, bem como o desenvolvimento de instrumentos de divulgação com grande aprofundamento temático, que é o conjunto de revistas teóricas, a exemplo da Crítica Marxista, Novos Temas, Princípios, e tantas outras.
Os ensaios contidos no livro repercut em uma diversidade de análises que só qualifica o debate e a pesquisa em torno do tema. O trabalho do professor Osvaldo Coggiola, discute os antecedentes e as consequências desse fenÃ?meno histórico. O contexto histórico e o processo de luta direta são analisados pelo autor e organizador do livro, Milton Pinheiro. O pioneiro dos estudos sobre a Comuna no Brasil, Sílvio Costa, aprofunda o debate sobre os ensinamentos da Comuna. O cientista político português, João Bernardo, de forma polêmica debate o que ele considera os mitos disseminados sobre a Comuna. Mauro Iasi debate a questão do Estado, como enfim a forma encontrada por Marx, nos seus textos sobre a guerra civil em França, particularmente na questão sobre a ditadura do proletariado. David Maciel aprofunda a questão da emancipação dos trabalhadores, como um elemento real na experiência da Comuna. Luciano Martorano entra no debate sobre a Comuna sempre analisando a questão da socialização, e fazendo uma leitura sobre esse debate em Karl Korsch. No texto de Valério Arcary encontramos uma análise sobre a derrota da Comuna, as versões sobre o pensamento de Engels e as polêmicas sobre o comportamento da II Internacional. Por fim, o texto do Professor Zacarias, entra no mérito da Comuna como uma possibilidade de transição, tratando esse acontecimento como o primeiro ensaio da revolução permanente, na interpretação do autor.
Resgato uma parte da orelha do livro, escrita pelo organizador, como um ponto de conexão entre as lutas de ontem e de hoje: “Hoje, os trabalhadores estão nas ruas. Apresentaram-se nas contradições do norte da África, estão se agigantando nas passeatas das grandes cidades europeias, chegaram ao centro do sistema com as movimentações em Wall Street, nos EUA. Está cada dia mais difícil controlar as mobilizações de dezenas de milhares de jovens e trabalhadores, em Portugal, Espanha, França, Itália, Chile, Inglaterra, Alem anha e na África. Essas lutas precisam de uma politização e da movimentação dos trabalhadores para colocar na ordem do dia, a questão do poder. Já não basta sair às ruas para dizer que querem um mundo melhor, pois no capitalismo isso não é possível. A vanguarda precisa estar integrada ao processo em curso e, coesa no sentido de construir uma hegemonia, que coloque o bloco histórico em luta aberta e direta no cenário dos confrontos de classes.”
Para concluir, faço minhas as palavras escritas pelo professor Milton Pinheiro: “O que precisamos no momento é unir o legado da Comuna de Paris, que há 140 anos fez tremular a bandeira vermelha em defesa da humanidade, com as possibilidades abertas na atual vaga de luta social, para marchar contra o sistema.”
Boa leitura!
*Sofia Manzano é Economista e professora universitária.
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