domingo, 18 de março de 2012

À mocidade de minha terra

À mocidade de minha terra

Nina Arueira

Nasceu em 07/01/1916
Desencarnou em 18/03/1935

Acordai, gente de minha terra, porque o dia se alevanta por sobre tudo, a noite dos sonhos e das insônias se diluiu na luz; cortejos brancos de fulgores venceram as trevas e sobre elas implantaram sua vitória...

Despertai para o trabalho; despertai para a vida... Vossas almas são capazes; estirai vossos membros, distendi vossos nervos, firmai vossa vontade, cantai vosso hino de alegria e entusiasmai-vos com o sol, com os pássaros, com as flores...

A criação palpita; a natureza canta; os elementos rumorejam...

E vossos corações palpitam inutilmente, moços de minha terra? E vossos Espíritos não se expandem em vós? Vossos cérebros estacionam em vós? E vossos raciocínios não evoluem em vós?

Sonhai sonhos de glórias, de altitudes e caminhai valentes para os vossos ideais; parti como bandeirantes sobre o destino e mostrai ao mundo vossos esforços...

Tende consciência de que sois homens; homens úteis; homens fortes; homens sábios.

Odiai o tédio; odiai a inutilidade, odiai o pessimismo... Tudo que é humano vos é possível.

Não sejais nunca fracos, parasitas e imprestáveis. Criai uma lei para o vosso culto: o Dever. Uma sabedoria para o vosso exemplo: a Disciplina. Não vos orgulheis de vossas vitórias, mas orgulhai-vos de vosso fito.

(...)

Cantai a alegria, glorificai a vida; sede otimistas, porque sereis fortes, sereis bons.

Não vos deixeis prender por preconceitos e por idéias alheias; convencei-vos de que deveis ser os reformadores da civilização, os implantadores de um novo mundo.

(...)

Vós, que nascestes num mundo mais propício por que não sois grandes, maiores que os maiores?

Tendes asas; por que não voais? Tendes poder; por que não governais?

Que estranha sucuri vos tolhe os membros que não vos moveis, que não vos agitais? Que houve de tão extraordinário que vossas vozes não retumbam?

Envergonhai-vos de não serdes... Levantai-vos e sede. Que a morte não vos desfaleça o ânimo; vossos filhos serão vossos continuadores; a posteridade lembrar-se-á de vós.

Não temais a grandeza de vossos ideais. Se os não realizardes todos, o amanhã terminará vossas obras.


(...)

Não vos arreceeis de rugidos; as feras rugem, mas, podeis domá-las para não serdes vencidos por elas.

Não vos desanimem os obstáculos; os obstáculo são fatais; convencei-vos de que sois mais fortes que as barreiras e arredai-as.

Tende por obrigação realizar o melhor em cada dia; formai vossos métodos diários e segui fiéis, a disciplina que houverdes adotado em vossos hábitos. Não digais nunca que “não tendes tempo”; procurai dividir vossas horas de ocupações e recreio e sempre tereis uma hora para outra qualquer coisa; cantarolai em vossos descansos; fantasiai vossos momentos de folga; ride, ride de tudo e para tudo; procurai a música; não vos é difícil encontrar essa grande amiga do Espírito, esse seio amigo onde vossos cérebros podem repousar, deliciosa e confiantemente.

Procurai a arte; deleitai vossos olhos na harmonia das cores ou na pureza das linhas; cercai-vos do Belo, criai-o em vós.

(...)

Caminhai, pois, mocidade de minha terra; caminhai liberta de idéias alheias; firme no propósito de galgar as maiores altitudes; certa de que nada vos cortará o vôo; caminhai moços de minha terra e fazei da mocidade campista a primeira mocidade do mundo...

Segui; se a vaidade vos sussurrar que já alcançastes muito, perguntai a vossos feitos e eles vos apontarão a ânsia que substitui cada descoberta vossa; quanto mais caminhardes para a curva do infinito, tanto mais distante ele vos seduzirá, de instante a instante mais belo, de novos cambiantes e de outros mistérios.

Enchei vossos sonho de altitudes; enchei vossos olhos de sonhos e parti; alcançareis vitórias, mas que elas não apaguem da vossa mente o ideal da última vitória...

A última glória é a geração dinâmica que preparais... Avante!



Nota:
Texto escrito por Nina Arueira em 17.11.1931, quando contava apenas 15 anos de idade.
É difícil conceber que uma quase menina possuísse tal profundidade de conceitos a respeito da Vida e demonstrasse tamanha grandeza de ideais, os quais defendia com entusiasmo.
Desencarnou aos 19 anos, mas a sua Vida é um poema de exaltação aos ideais de liberdade, conclamando sempre a mocidade de sua terra ao destemor e nunca à acomodação.

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