Jacob David Blinder
Mesmo levando em consideração que a primavera árabe poderia ter sido um processo desestabilizador totalmente artificial conduzido pelos sistemas de “inteligência” dos Estados Unidos, de alguns países europeus e de Israel ou até mesmo de mercenários nativos e estrangeiros infiltrados em países árabes/alvo ou vítimas – pode-se também inferir a conclusão que as massas populares (milhões de indivíduos em movimento, irados e protestando contra situações específicas em seus países) podem extrapolar a encomenda realizada, radicalizar processos e com isso desestabilizar simultaneamente o "establishment" do pais/alvo e também dos países seus mentores estrangeiros.
E se isso acontecer poderemos constatar que o feitiço pode virar contra o feiticeiro e frustrar a encomenda inicial. Tal situação pode ser comprovada pelas posições que estão assumindo Rússia/China inicialmente de perplexidade, depois de advertência ao nível diplomático dirigida aos países desestabilizadores e agora abertamente militarista (enviando militares armados à zona do conflito) ou mesmo municiando o país alvo/vitima com equipamentos militares sofisticados de defesa (tipo mísseis terra/ar e outros).
E no artigo abaixo transcrito temos uma clara advertência do grupo BRICS – que podem paralisar ao nível diplomático a potencial encomenda maquiavélica de desestabilizar artificialmente países e regiões.
Jacob David Blinder
PS: Em se brincando com o povo pode-se saber onde está o começo da brincadeira – mas ninguém pode saber como ela termina.....
SEXTA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2011
BRICS bloqueiam os EUA no Oriente Médio
25/11/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
BRICS blocks he USA on Middle East
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
A reunião dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países BRICS em Moscou, ontem, sobre a situação no Oriente Médio e Norte da África é evento de grande importância, como se vê pelo Comunicado Conjunto. Os principais elementos do Comunicado são:
a) Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) assumiram posição comum sobre o que hoje se conhece como “Primavera Árabe”. Identificaram-se os princípios básicos dessa posição: o foco deve ser diálogo nacional pacífico; nada justifica qualquer tipo de intervenção estrangeira; o papel central nas decisões compete ao Conselho de Segurança da ONU.
b) Os BRICS adotaram posição comum sobre a Síria. A frase chave do Comunicado é “Fica excluída qualquer tipo de interferência externa nos assuntos da Síria, que não esteja conforme o que determina a Carta das Nações Unidas.”
c) Os BRICS exigiram “revisão completa” para avaliar a adequação [orig. appropriateness] da intervenção da OTAN na Líbia; e sugeriram que se crie missão especial da ONU em Trípoli para conduzir o processo de transição em curso; dessa comissão deve participar, especificadamente, a União Africana.
d) Os BRICS rejeitaram a ameaça de força contra o Irã e exigiram negociações e diálogo continuados. Muito importante, os BRICS criticaram as ações de EUA e União Europeia de impor novas sanções ao Irã, chamando-as de medidas “contraproducentes” que só “exacerbarão” a situação.
e) Os BRICS saudaram a iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo, que encontrou saída negociada para o Iêmen, como exemplo a ser seguido.
É momento sumamente importante para os BRICS – e também para a diplomacia russa. Cresceu consideravelmente a credibilidade dos BRICS como voz influente no sistema internacional. Espera-se que, a partir da posição comum agora construída sobre as questões do Oriente Médio, os BRICS passem a construir posições comuns também em outras questões regionais e internacionais.
Parece evidente que a Rússia tomou a iniciativa para o encontro da 5ª-feira e o Comunicado Conjunto mais ou menos adota a posição que a Rússia já declarou sobre a Primavera Árabe. É vitória da diplomacia russa, que ganha diplomaticamente, ter obtido o endosso dos países BRICS também no que diz respeito às graves preocupações russas quanto à situação síria, ante o risco, cada dia maior, de o Irã sofrer ataque de intervenção ocidental semelhante ao que ao que a Líbia sofreu.
Recentemente, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, manifestou vigorosamente as crescentes preocupações russas. Moscou mostrou-se frustrada com o ocidente e a Turquia, que têm interferido claramente no caso sírio, não só contrabandeando armas para o país e incitando confrontos que, cada vez mais, empurram o país para uma guerra civil, mas, também, sabotando ativamente todas as tentativas para iniciar um diálogo nacional entre o regime sírio e a oposição.
A posição dos BRICS também será bem recebida em Damasco e em Teerã. Mas, ao contrário, implica dificuldades para os EUA e seus aliados, que investem muito em fazer crescer a tensão contra a Síria e o Irã. A Índia ter participado da reunião em Moscou, e ter assinado o Comunicado conjunto também é notícia particularmente importante. Washington registrará. A Rússia, na prática, conseguiu que os BRICS assinassem clara censura às políticas intervencionistas dos EUA no Oriente Médio.
Muito claramente, não há caminho aberto, agora, para que os EUA consigam arrancar autorização do Conselho de Segurança da ONU para qualquer tipo de intervenção na Síria. A Turquia, em relação à Síria, pode ter dado passo maior que as pernas. E Israel também recebeu uma reprimenda.
A formulação que se lê no Comunicado conjunto dos BRICS – “segurança igualitária e confiável” para os países do Golfo Pérsico, a partir de um “sistema de relações” – pode ser vista, sim, como repúdio ao advento da OTAN como provedor de segurança para a região. O Comunicado Conjunto dos países BRICS pode ser lido em inglês.
Em: “Mideast events may show West’s wish to make up for lost grip – Lavrov”
MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/11/brics-bloqueiam-os-eua-no-oriente-medio.html
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