Crédito: PCM | |
Pável Blanco Cabrera.
Primeiro Secretário do Partido Comunista do México
Nosso querido camarada Alfonso Cano, Comandante em Chefe das FARC-EP, morreu em combate.
Há dois meses, operativos militares no Cañón de las Hermosas e na região do Cauca, com bombardeios permanentes de grande escala e com a mobilização de milhares de efetivos da oligarquia, buscavam tal objetivo. Várias vezes anunciaram sua morte.
Todas as vozes do poder exigiam sua rendição. Desertores grotescos da esquerda se somaram, dançando conforme a música indicada por Santos. O papel do renegado aponta sempre para a imobilização, para a quebra da insubmissão, para o esquecimento da rebeldia. Uns quantos segundos de glória midiática nas páginas do El Tiempo bastaram para jogar fora as ideias prévias que os enalteciam, não de culto à violência, mas da defesa do direito do povo de lutar pela liberdade e pela emancipação. A eles, respondeu o Comandante Alfonso Cano, na entrevista concedida ao diário espanhol Público: “Desmobilizar-se é sinônimo de inércia, é entrega covarde, é rendição e traição à causa popular e ao ideário revolucionário que cultivamos e lutamos pelas transformações sociais, é uma indignidade que leva implícita uma mensagem de desesperança ao povo que confia em nosso compromisso e proposta bolivariana”.#.
Diferentemente deles, o camarada Alfonso Cano escolheu o caminho da consciência, o difícil e árido solo pelo qual se deve transitar com bastante alegria, com uma boa dose de ânimo, com a confiança infinita no povo trabalhador – sujeito da História – e com convicção objetiva e inabalável na Revolução. Caminho tão iluminado pelos vagalumes da esperança e no qual cada passo alivia, pois é “a satisfação do dever cumprido”, onde as bandeiras levantadas tremulam de dia e de noite.
Alfonso Cano, militante comunista íntegro, sólido intelectual marxista-leninista, profundo conhecedor da história da América e de Bolívar, estrategista político e militar, organizador. Sem dúvidas nos despedimos, com dor, de um dos quadros comunistas de maior valia do Continente, como Mella, Mariátegui, Che, Arismendi.
Oriundo da melhor escola de qualquer parte do mundo, a Juventude Comunista, chegou a completar sua formação ao lado de Manuel Marulanda e Jacobo Arenas. E, como comunista, dos de verdade, foi um homem de ideias e de ação.
O camarada Alfonso Cano é indissociável da FARC-EP. Todo revolucionário, se o é, se dissolve na obra coletiva, na organização, no Partido, e por ele seu nome brilha mais alto. Quando, há 20 anos, meio mundo abjurou, renegou, se curvou, em consonância com o covil contrarrevolucionário que se seguiu ao fim da construção socialista, as luzes da resistência intensificaram seu resplendor; em nosso continente, o maior das Antilhas e das montanhas da Colômbia. Não vamos julgar os processos de negociação de El Salvador e da Guatemala, porém estamos no dever de reconhecer que as FARC-EP fizeram o correto: mantiveram a espada do Libertador em riste, alçaram o fuzil, a bandeira vermelha e a consigna vigente, de uma nova e socialista Colômbia. Consequente com a história de sua organização, o Comandante Alfonso Cano, não se rendeu, não se vendeu, não se entregou e morreu em combate.
O Comandante Alfonso Cano, cumprindo as tarefas de sua organização, impulsionou a Coordenadoria Guerrilheira Simón Bolívar e os diálogos pela paz. A experiência da UP (União Patriótica) mostrou aos camaradas das FARC-EP que a luta não pode deter-se até que o povo tome o poder, e esse viria a ser o marco das maiores colaborações estratégicas do Comandante Alfonso Cano: a organização do Partido Comunista Colombiano (Clandestino) e do Movimento Bolivariano por uma Nova Colômbia. Sementes sobre as quais germinará a Revolução Colombiana. Consciente que a libertação de toda Nossa América é uma necessidade, o camarada Alfonso Cano fazia parte da presidência do Movimento Continental Bolivariano.
Numa organização revolucionária, perder a vida na luta é uma possibilidade. A luta baseada no método caudilhista não resistiu à prova. Porém, a nascida em Marquetalia é uma genuína obra coletiva. O mito dizia que, com a morte do Comandante Manuel Marulanda, as FARC-EP não sobreviveriam, menos com os golpes que iniciaram em 1º de Março de 2008, contra os Comandantes Raúl Reyes e Iván Ríos. Porém, Alfonso Cano, em seu papel de Comandante em Chefe, superou o obstáculo e, com criatividade estratégica, reposicionou a luta no combate desigual com a oligarquia e com a intervenção militar norte-americana. Sua morte nos machuca, mas sabemos que nossa organização irmã, com seu exemplo, permanecerá lutando até a vitória.
O melhor balanço de sua vida e obra será feito pelos próprios camaradas das FARC-EP. Para nós que estamos irmanados em ideais, só podemos reconhecer a grandeza de todos os combatentes e a exemplar consciência do Comandante Alfonso Cano, marxista-leninista, bolivariano, guerrilheiro, comandante, estadista, libertador, homem que possuía uma confiança infinita na luta de massas.
Na hora de sua morte, aparecem as cenas prévias da história de nossos povos. Há meses se via claramente que o imperialismo e a oligarquia centraram seu objetivo militar em dar-lhe a morte. Isso nos lembra a perseguição a Francisco Villa e o execrável cartaz onde se oferecia recompensa por sua captura, vivo ou morto. O Comandante Alfonso Cano se manteve na linha. Dizer que foi assassinado, é diminuir os méritos acerca de sua disposição combativa, me dizia Marco Riquelme, coordenador do Movimento Patriótico Manuel Rodríguez, do Chile, e tem razão. Caiu combatendo. Das várias agências citadas pelo diário mexicano La Jornada, de 5 de Novembro, extraímos o seguinte: Segundo um soldado entrevistado por rádio, “o homem (Alfonso Cano) não se entregou e praticamente enfrentou a tropa até morrer”. Assim são os combatentes de Manuel Marulanda, desse tipo, assim são os homens do Partido, assim vivem e morrem os comunistas.
Ao morrer combatendo, o Comandante Alfonso Cano defendeu, até o último alento, o direito dos povos à rebelião, deixando-o intacto, salvaguardando-o. Fica o exemplo. Sua organização, no breve comunicado, rende imediatamente a melhor homenagem: a luta segue, não abandonarão as armas, juram cumprir.
Também cumpriremos nossos deveres internacionalistas de solidariedade com tão digna organização.
Adeus querido camarada Alfonso Cano. Até logo, Comandante Alfonso Cano.
Tradução: PCB (Partido Comunista Brasileiro)
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