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Patrick O´Connor
A Anistia Internacional, secção dos Estados Unidos, revelou ontem que tinha evidência do massacre de 53 pessoas efetuado por combatentes anti-Kadafi na devastada cidade líbia de Sirte. Os cadáveres, alguns com suas mãos amarradas às costas de seus corpos antes de serem alvejadas na semana passada, e encontrados no Hotel Mahari, distrito de Sirte.
A Anistia Internacional registra: “Os filetes de sangue por baixo dos corpos, buracos de balas visíveis no chão, e cartuchos descarregados de rifles AK-47 e FN-1 espalhados em volta sugerem fortemente que algumas, se não todas as vítimas foram mortas no local onde foram localizadas.”.
Pessoas locais identificaram dois dos homens assassinados como funcionários do governo de Kadafi e um oficial do exército, mas observaram que muito outros eram moradores de Sirte que tentaram fugir quando as forças “rebeldes” apoiadas pela OTAN devastavam a cidade. O relatório da Anistia Internacional continua: “Outras vítimas possivelmente receberam alta do Hospital Ibn Sina, de Sirte, afirmaram, após tratamentos por ferimentos relacionados com o conflito. A alegação de que algumas das vítimas foram liberadas pelo hospital é procedente, pois constataram-se ferimentos enfaixados em alguns corpos”.
O hotel estava sob controle de forças anti-Kadafi procedentes de Misrata quando as 53 pessoas foram assassinadas. Inscrições grafitadas nas paredes indicavam que cinco grupos milicianos tinham ocupado o edifício.
A matança foi executada no estágio final do cerco de Sirte reforçado pelas incursões da OTAN, envolvendo descargas irregulares de morteiros, foguetes e outros mísseis em áreas civis. Nenhum edifício na cidade deixou de ser atingido, e vastas áreas encontram-se reduzidas a escombros. A operação culminou na selvagem eliminação de Muammar Kadafi e no massacre de seus assessores, de guardas e de seu filho Mo´tassim.
A Anistia Internacional relatou: “No local onde Muammar Kadafi foi capturado, encontramos os restos de 95 pessoas que aparentemente morreram naquele dia. A vasta maioria visivelmente pereceu lutando e no decorrer dos ataques antes da captura de Kadafi, mas entre seis e dez dos mortos parecem ter sido executados à queima roupa com tiros na cabeça e noutras partes do corpo”.
Mais detalhes surgem a respeito dos maus tratos e tortura de Kadafi antes que fosse atingido na cabeças por disparos de um combatente “rebelde”. Em cenas de vídeo tomadas após sua captura e antes de sua execução, publicadas no sítio GlobalPost Kadafi, parece sodomizado com algum objeto por um dos milicianos. Tracey Shelton, do GlobalPost, afirmou: “Há alguma dúvida se o instrumento usado foi uma faca na ponta de uma arma, que os líbios chamam de Bicketti, ou uma ferramenta conhecida como faca Becker, vulgarmente chamada BKT”
A conclusão da bárbara campanha militar da OTAN na Líbia demonstra a fraude da declarada “libertação” do país. O Conselho de Transição Nacional (CTN) foi instalado como uma administração títere de Washington e seus aliados, através de operações bélicas neo-coloniais travadas em violação da lei internacional. O objetivo foi o de defender a geoestratégia imposta em toda região e para garantir o controle das ricas e lucrativas reservas petrolíferas líbias.
O presidente do Conselho Nacional de Transição Mustafá Abdel-Jalil anunciou ontem a formação de um comitê especial para investigar as circunstâncias da morte de Kadafi – mas trata-se apenas de um acobertamento. Jalil tem afirmado que Kadafi foi morto num “fogo cruzado” ou, ainda mais absurdamente que ele foi fuzilado por seus guardas ou por legalistas.
Jalil e outros componentes do CNT no entanto têm a obrigação de pormenorizar as detenções arbitrárias e as torturas de milhares de prisioneiros políticos alegadamente partidários e combatentes de Kadafi.
O Washington Post observou no domingo que, considerada a legislação internacional, combatentes de guerra civil devem ser liberados após a cessação dos combates, salvo se cometeram crimes tais como ataque a civis. Sob o tacão do CNT, porém, o Post assinalou: “Quase 7.000 prisioneiros de guerra estão apinhados em prisões lúgubres e improvisadas espalhadas pela Líbia, onde definham há semanas sem acusações, suportando abusos e até mesmo tortura, de acordo com organizações de direitos humanos e entrevistas com os detidos”.
O CNT é um órgão autonomeado, em sua maioria composto de ex-servidores do regime de Kadafi, de diferentes facções islâmicas e de agentes da inteligência ocidental. Sua instalação como novo governo líbio nada tem a ver com “democracia”, conforme proclamam o presidente Barack Obrama, o presidente francês Nicolas Sarkozy e o
britânico David Cameron.“
Parte do discurso de “libertação” pronunciado no domingo por Jalil, ex-ministro da justiça de Kadafi, foi um apelo às forças islâmicas no interior da disparatada coalizão que atuou com a OTAN contra o governo anterior. Jalil classificou a Líbia como um “estado islâmico”. Insistindo que qualquer “lei contrária aos princípios islâmicos da xaria era legalmente nula”, Ele decretou que não haveria proibição de poligamia e que a usura seria banida.
Por trás da retórica oficial sobre uma Líbia “livre”, as grandes potências prosseguem com sua partilha do rico estado possuidor de grandes reservas petrolíferas. Poucas pretensões têm os governos envolvidos de que a alegada reconstrução da Líbia nada mais é que o petróleo e a presa de suas reservas monetárias.
O secretário de defesa britânico, Philip Hammmond, declarou à BBC: “Eu tenho a esperança de que as companhias britânicas, isto é, seus diretores comerciais, estejam arrumando suas valises e procurando viajar à Líbia a fim de participar da reconstrução do país tão cedo lhes seja possível... A Líbia é um país relativamente rico de reservas petrolíferas e espero que tenham oportunidades para o envolvimento de empresas britânicas e outras nas operações”.
Daniel Kawaczynski – parlamentar de influência no Partido Conservador da Grã-Bretanha, que atuou como presidente do grupo de todos os partidos pró-Líbia – revelou os cálculos mercenários das principais potências em termos ainda mais grosseiros, exigindo que a nova administração líbia assuma a conta pelas incursões da aviação britânica durante a campanha da OTAN. Kawczynski declarou: “A Líbia de forma alguma é um país sem recursos. Não devíamos esquecer que ao ajudarmos a libertação do povo da Líbia da opressão, também ajudamos a liberar uma economia rica em reservas naturais que exportou mais de 34 bilhões de dólares em produtos petrolíferos no ano de 2009 e tinha um PNB estimado em mais de 85 bilhões de dólares anuais”.
Executivos britânicos, franceses e de outros países europeus já viajaram a Trípoli e Bengazi em delegações patrocinadas por seus departamentos nacionais de comércio e de investimentos. A corporação britânica UK Trade e Investment estimou que os contratos de petróleo e gás – como também projetos envolvendo reconstrução, engenharia civil, educação e telecomunicações – alcançarão 320 bilhões de dólares nos próximos dez anos.
Os Estados Unidos estão perseguindo tenazmente seus interesses corporativos. O web site InvestorPlace comentou ontem: “A Líbia será um negócio multibilionário para os capitais estadunidenses se a política estabilizar-se com a reconstrução. E corporações como a Exxon, General Electric e a Caterpillar serão as primeiras e beneficiar-se da reconstrução”. Entre outros “potenciais ganhadores” identificados incluem-se a Chevron, a ConocoPillips e a Halliburton.
Obama está sendo instado para que estas e outras corporações não sejam frustradas por suas rivais européias. O senador republicano Lindsay Graham a semana passada externou a preocupação de que permitir-se que a Grã-Bretanha e a França liderassem a campanha da OTAN significasse que “quando um dia semelhante chegasse, não tenhamos a infra-estrutura no lugar de que precisamos”. E acrescentou: Que ocupemos nosso lugar. Há um montão de dinheiro a ganhar futuramente na Líbia. Muito petróleo para extrair”.
Artigo divulgado em 25 deste mês pelo web site http://www.wsws.org em 25 de outubro de 2011 sob o título Mass killings, arbitrary detention under new Lybian regime, de Patrick O´Connor. Tradução de Odon Porto de Almeida.
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