segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ministério dos Esportes: muda o piloto; a máquina continua!

site do PCB

imagemCrédito: ebc


Luiz Carlos da Silva (*)

A nomeação de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) como novo ministro dos Esportes lembra a velha máxima dos políticos conservadores: mudar para não mudar nada.

Sinceramente, não acredito que os supostos desvios no Ministério fossem para favorecer pessoalmente o ministro anterior ou algum militante e nem que os dirigentes desse partido sejam corruptos, como a maioria dos políticos burgueses. A degeneração desse partido é política e ideológica.

Só compensaria ao PCdoB continuar à frente do Ministério, se fizesse uma profunda, sincera e radical autocrítica pública por ter caído na vala comum do financiamento de campanhas com desvios de verbas públicas. Mudar de ministro, sem assumir os erros, é condenar o substituído, para tentar pilotar a mesma máquina, de forma mais competente e discreta, passando a impressão de que, a partir de agora, tudo será diferente.

Só compensaria também manter o Ministério se condicionasse à luta para garantir ao Brasil sua soberania frente aos absurdos privilégios que exigem a FIFA e o COI (Comitê Olímpico Internacional), que vem obrigando o país a mudar leis de caráter social para satisfazer a sanha do capital, que em megaeventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas só se preocupa com a mercantilização do esporte.

A manutenção do Ministério com o PCdoB desmascara a campanha que fez para evitar a queda do ministro anterior, baseada em denúncias de ameaças à democracia, de anticomunismo, de macarthismo, apesar das provas concretas apresentadas. Na queda de outros cinco ministros, não havia risco de golpe; e o desvio de dinheiro público praticado no Ministério dos Esportes era nobre, diferente dos casos anteriores.

Mas a direita só pratica o anticomunismo contra quem se comporta como comunista.

A solução de trocar o ministro desgastado sem trocar o partido que dirige o ministério foi uma genial engenharia política, que resolve uma questão conjuntural mas que criará problemas políticos e ideológicos mais graves no médio e no longo prazos.

O novo ministro é o comunista preferido da burguesia, o mais confiável. É a garantia de que os interesses capitalistas representados pela FIFA e pelo COI agora darão as cartas no Ministério dos Esportes, impondo todas as suas exigências, sem qualquer resistência.

Quando a Câmara dos Deputados estava mais que desmoralizada sob a gestão de Severino Cavalcanti, chamaram Aldo Rebelo para garantir "ar de moralidade" para a casa.

Quando os ruralistas precisaram fazer um Código Florestal sob medida para seus interesses, foi ao novo ministro que procuraram para relatar e defender o projeto.

Quando os militares precisaram de um "braço esquerdo" para manipular a Comissão da Verdade, lá estava o atual ministro, que já foi cotado por eles para ser ministro da Defesa no início do governo Lula. É pau para toda a obra, de empreiteiras e ruralistas.

O Ministério dos Esportes cai como uma luva para o Deputado Aldo Rabelo. Nas últimas eleições, ele tem recebido fabulosas doações de campanha das empresas patrocinadoras da CBF, entre outras: Banco Itaú, Ambev, Pão de Açúcar.

Já as empreiteiras que estão fazendo as obras dos estádios e infra-estrutura para os megaeventos, todas financiaram as campanhas milionárias do novo ministro: Mendes Júnior, Odebrecht e Camargo Correia. Estas informações estão na página do TSE.

O Ministério agora, mais do que nunca, estará a serviço dos grandes lucros dos megaeventos, do lazer de ricos nacionais e estrangeiros, às custas da remoção de comunidades, da criminalização da pobreza.

A pretexto dos megaeventos, já começou a privatização dos aeroportos e dos estádios, a começar pelo Maracanã.

O povão assistirá pela Rede Globo, entre os anúncios dos patrocinadores do Ministro, pela única emissora que absurdamente o governo federal permite exclusividade para exibição dos jogos da Seleção Brasileira, da Libertadores, do Campeonato Brasileiro, da Copa, das Olimpíadas!

Os trabalhadores só entrarão nos estádios para trabalhar na conservação, na limpeza e em serviços. Alguns tentarão ficar em torno dos estádios, para tentar vender alguma coisa. Mas serão reprimidos, como na Copa na África do Sul. Só os monopólios ligados à máfia do esporte nacional e internacional terão a exclusividade de faturar com os megaeventos.

E infelizmente vimos agora que, desde a sua fundação no governo Lula, o Ministério dos Esportes não cumpriu sua função principal, para a qual foi criado: que o Brasil não fosse apenas uma potência no futebol, basquete e vôlei, mas também em todas as modalidades olímpicas.

Acabamos de assistir no México, a pequena ilha de Cuba, com todo o bloqueio e dificuldades financeiras, numa população menor do que a do Estado do Rio de Janeiro, ganhar com folga mais medalhas de ouro do que o Brasil, cujo capitalismo, este sim, transforma-se a cada dia numa potência mundial.

(*) jornalista, Mato Grosso do Sul

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