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Caracas, 16 de janeiro de 2012, Tribuna Popular TP/Agencias
Há 3 anos, David Arrabali publicava na ALAINET uma nota para recordar um novo aniversário do assassinato de Rosa Luxemburgo. Hoje, quando se cumprem 93 anos de tão bárbaro e covarde crime, queremos reproduzir essa nota para prestar homenagem a uma das mais extraordinárias figuras do movimento comunista internacional e do pensamento marxista do século vinte.
E, de passagem, recordar também seu inseparável companheiro de luta e cofundador do Partido Comunista alemão, Karl Liebknecht, um heroico intelectual e militante assassinado de forma selvagem na mesma operação em que os paramilitares da socialdemocracia alemã mataram a revolucionária polaca. Há um dado adicional que, como latino-americanos, nos faz parentes do luto de Rosa: seu cadáver desapareceu durante o nazismo, desejoso de eliminar qualquer vestígio de suas ideias e de suas práticas políticas. O que fizeram as ditaduras da região já o havia feito Hitler na Alemanha. E com Rosa ocorreu o mesmo que sucedeu com o cadáver de Che, mas com pior sorte: se o do revolucionário argentino-cubano pôde finalmente ser recuperado e transladado ao seu mausoléu em Santa Clara, não ocorreu o mesmo com o de Rosa que nunca pôde ser reencontrado. Sua tumba está vazia, não alberga nenhum resto mortal.
A imprensa alemã informou há dois anos que, em 2007, na coleção anatômica do Hospital Universitário Charité de Berlim, se havia descoberto um misterioso cadáver, decapitado e com suas manos e pés amputados que supostamente seria o da desaparecida. Não obstante, todos os estudos realizados até hoje impedem de afirmar com segurança que o mesmo foi o de Rosa Luxemburgo. De toda maneira, Rosa logrou derrotar seus verdugos e seus cúmplices: suas ideias são imortais e suas lutas seguem sendo nossas lutas. Daí esta pequena homenagem em sua memória.
“Seus assassinos odiavam tudo o que esta mulher havia representado na Alemanha durante duas décadas: a firme crença na ideia do socialismo, o feminismo, o antimilitarismo e a oposição à guerra.”
“Há 93 anos, na noite de 15 de janeiro de 1919, em Berlim, Rosa Luxemburgo foi presa: uma mulher indefesa com cabelos grisalhos, abatida e exausta. Uma mulher mais velha, que aparentava muito mais dos 48 anos que tinha.”
Um dos soldados que a rodeavam lhe obrigou a seguir sob empurrões e a multidão zombeteira e cheia de ódio que se amontoava no vestíbulo do Hotel Eden lhe saudou com insultos. Ela levantou sua cabeça diante da multidão e olhou com seus olhos negros e orgulhosos os soldados e os hóspedes do hotel que faziam gozação dela. E aqueles homens em seus uniformes desiguais, soldados da nova unidade de tropas de assalto, se sentiram ofendidos pela olhar desdenhoso e quase compassivo de Rosa Luxemburgo, “a rosa vermelha”, “a judia”.
Insultaram-lhe: “Rosinha, aí vem a puta velha”. Eles odiavam tudo o que esta mulher havia representado na Alemanha durante duas décadas: a firme crença na ideia do socialismo, o feminismo, o antimilitarismo e a oposição à guerra, que eles haviam perdido em novembro de 1918. Nos dias prévios, os soldados haviam esmagado o levante de trabalhadores em Berlim. Agora eles eram os amos. E Rosa lhes havia desafiado em seu último artigo:
“‘A Ordem reina em Berlim!’ Estúpidos sequazes! Vossa ‘Ordem’ está construída na arena. Amanhã a revolução se ‘levantará ela mesma com um estrondo’ e anunciará com uma fanfarra, para o vosso terror: EU FUI, EU SOU, EU SEREI!”
A empurraram e a golpearam. Rosa se levantou. Então quase haviam alcançado a porta traseira do hotel. Lá fora esperava um carro cheio de soldados, que, segundo haviam comunicado, a conduziriam à prisão. Mas um dos soldados se dirigiu até ela levantando sua arma e golpeou sua cabeça com a culatra. Ela caiu no chão. O soldado lhe deu um segundo golpe na têmpora. O homem se chamava Runge. O rosto de Rosa Luxemburgo jorrava sangue. Runge obedecia ordens quando golpeou Rosa Luxemburgo. Pouco antes ele havia derrubado Karl Liebknecht com a culatra de seu fuzil. Também a ele haviam arrastado pelo vestíbulo do Hotel Eden.
Os soldados levantaram o corpo de Rosa. O sangue brotava de sua boca e de seu nariz. A levaram ao veículo. Sentaram Rosa entre os dois soldados no assento de trás. Há pouco o carro havia partido quando dispararam um tiro à queima-roupa. Pôde-se ouvir no hotel.
Na noite de 15 de janeiro de 1919, os homens do corpo de assalto assassinaram Rosa Luxemburgo. De uma ponte lançaram seu cadáver no canal. No dia seguinte toda Berlim já sabia que a mulher que nos últimos vinte anos havia desafiado todos os poderosos e que havia cativado aqueles que assistiram inúmeras assembleias, estava morta. Enquanto se buscava seu cadáver, um Bertold Brecht de 21 anos escrevia:
“A Rosa vermelha agora também desapareceu.
Donde se encontra é desconhecido.
Porque ela aos pobres a verdade há dito.
Os ricos do mundo a extinguiram.”
Poucos meses depois, em 31 de maio, se encontrou o corpo de uma mulher junto a uma eclusa do canal. Se podia reconhecer as luvas de Rosa Luxemburgo, parte de seu vestido, um pingente de ouro. Mas o rosto era irreconhecível, já que o corpo há tempo que estava decomposto. Foi identificada e a enterraram em 13 de junho.
Em 1962, 43 anos depois de sua morte, o Governo Federal alemão declarou que seu assassinato havia sido uma “execução de acordo com a lei marcial”. Há somente doze anos que uma investigação oficial concluiu que as tropas de assalto, que haviam recebido ordens e dinheiro dos governantes socialdemocratas, foram os autores materiais de sua morte e de Karl Liebknecht. Rosa Luxemburgo foi assassinada pelas tropas de assalto a serviço da socialdemocracia.
Junto dela morreu seu camarada Karl Liebknecht
Havia nascido em 5 de março de 1871. Muita gente segue a tradição da Alemanha oriental de assistir a manifestação para recordá-la, demonstram seu respeito depositando cravos vermelhos no monumento dedicado à “Rosa Vermelha” e aos socialistas e comunistas que trabalharam por um mundo melhor. “Que extraordinário é o tempo que vivemos”, escrevia Rosa Luxemburgo em 1906. “Extraordinário tempo que propõe problemas enormes e estimula o pensamento, que suscita a crítica, a ironia e a profundidade, que desperta paixões e, diante de tudo, um tempo frutífero, prenho”. Rosa Luxemburgo viveu e morreu em um tempo de transição, como o nosso, nele que o velho mundo desmoronava e outro surgia dos escombros da guerra.
Seus companheiros intentaram construir o socialismo, seus assassinos e inimigos ajudaram Adolf Hitler a subir ao poder. Hoje, quando o capitalismo demonstra mais uma vez que a guerra não é um acidente, senão uma parte irrenunciável de sua estratégia, quando os partidos e organizações “tradicionais” se vêem obrigados a questionar suas formas de atuar diante o abandono das massas.
Quando a esquerda transformadora advoga exclusivamente pelo parlamentarismo como via para a mudança social; quando nos encontramos diante de uma enorme crise do modelo de democracia representativa e os argumentos políticos se reduzem ao “voto útil”. Hoje, dizemos, Rosa Luxemburgo se converte em referencial indispensável nos grandes debates da esquerda. Não é senão a sua voz a que se escuta sob o lema, aparentemente novo: “Outro mundo é possível”. Ela o formulou com um pouco mais de urgência: “Socialismo ou barbárie”. Seu pensamento, seu compromisso e sua transbordante humanidade nos servem de referência em nossa luta para que este novo século não seja também o da barbárie.
Marcham pelas ruas de Berlim para comemorar o 93º aniversário do assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht
(VIDEO) 93º aniversario do assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht
Mais de 20 mil pessoas marcharam pelas ruas de Berlim para comemorar o 93º aniversário do assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. O protesto se converteu numa tradição para a esquerda alemã e também conta com a participação de imigrantes provenientes de outros países. teleSUR.
Traduzido por Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves (Partido Comunista Brasileiro – PCB)
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