por Antonio Carlos Mazzeo, segunda, 9 de agosto de 2010 às 15:55
Meus amigos, não quero entrar em debates inúteis nem ofender ninguém, mas paciência tem limite! Daí, permitam-me um desabafo que vem do coração. Juro que é só de leve e bem rápido, mas não menos importante.
Nessas épocas de mares turbulentos e de pescadores em águas turvas, temos visto de tudo. Até falsificações da história que chegam às raias de um verdadeiro estelionato da memória do movimento operário brasileiro e mundial!
Então, para encurtar o "causo" vamos ao que nos interessa dizer:
O PCB foi fundado em 1922, como Seção Brasileira da Internacional Comunista (SBIC) e como seção da IC, levava o nome de Partido Comunista do Brasil com a sigla PCB.
Em 1960, em meio às reformulações políticas no campo do Movimento Comunista Internacional (MCI), muitos Partidos Comunistas adequaram seus nomes, retirando a designação "do", que os definia como seções nacionais de um organismo internacional, nacionalizando seus nomes.
Foi o que ocorreu com o PCB em 1960. Em plena campanha pela legalidade, o PCB resolve alterar seu nome de Partido Comunista do Brasil para Partido Comunista Brasileiro, mantendo, porém a mesma sigla, PCB.
O impacto do XX Congresso do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) e das denúncias dos crimes de Stalin, feitas por Nikita Kruchev, acabou proporcionando um giro ao centro de muitos PCs no mundo. O PCB não ficou imune ao clima vigente no MCI da época. A opção pela "via pacífica" ao socialismo, que privilegiava a atuação dos comunistas na institucionalidade burguesa - delineada na famosa Declaração de Março de 1958, base para a guinada reformista da década de 1960 - acabou gerando descontentamentos e divisões internas no PCB. A primeira e mais significativa delas foi a ruptura de 1962, quando uma minoria do Comitê Central liderada pelos históricos comunistas João Amazonas e (avô de nosso camarada Igor Grabois), Maurício Grabois, rompem com o PCB e fundam o PCdoB, que mais tarde rompe também suas ligações com a União Soviética, assumindo o maoísmo com linha teórico-prática, vinculando-se politicamente, primeiro à China de Mao-Tsé Tung e depois, com a Albânia de Enver Hoxa.
O PCdoB proporcionou a Guerrilha do Araguaia, por compreender que a luta política no Brasil deveria ser a partir do campo, buscando cercar a cidade. Como sabemos, essa posição política foi derrotada tanto no plano militar como no campo da política, em que pese o heroísmo e a abnegação dos combatentes que caíram em confronto com a ditadura em nome do socialismo. Enquanto isso, o PCB priorizou a luta de massas na frente anti-ditatorial, em torno do velho MDB, ação política que se demonstrou correta e consequênte.
No período que vai de 1962 a 1992, o PCdoB, não só definia o campo socialista ligado à União Soviética (incluindo-se aí Cuba) como "social-imperialista" e reformista, como chamava o PCB de "bando de Prestes".
O curioso disso tudo, é que o PCdoB, exatamente após a divisão ocorrida nas fileiras do PCB, em 1992, dá um "cavalo de pau" em sua linha histórica, formatada em 1962, e passa a reivindicar o que havia repudiado por 30 anos e que tinha sido o motor da ruptura com o Comitê Central do PCB, em 1962: o campo socialista soviético e a história do PCB à qual havia renegado!
De um momento para outro, eles, que chamavam Prestes de bandido (não esqueçamos que o PCB era para eles o "bando de Prestes") passam a reivindicar também a história do Cavaleiro da Esperança. E mais, para o PCdoB Cuba já não é pertencente ao "social-imperialismo", mas é socialista!
Na maior cara de pau, e numa escandalosa mistificação, a história do PCB é simplesmente apropriada pelo PCdoB, como faz um vampiro que suga a vida de outro para manter a sua própria, como um NOSFERATU da política e da memória do movimento operário brasileiro!
Enquanto o PCB ficou reduzido e pequeno, durante os Anos da Resitência, foi fácil fazer prosperar a mistificação, no plano nacional e principalmente no plano internacional. Os "do B" chegavam a aparecer como o próprio PCB em algumas reuniões internacionas!
Cantaram de galo no terreiro alheio, lançando mistificações de si. Mas isso até chegar o velho Partidão, galo vermelho rejuvenecido e pronto para por o vampiro para correr!
Agora chega. Não vamos mais tolerar mentiras ou mistificações em nosso nome!
O PCB é o PCB e o outro é o "do B", aliás, como sempre foi e pronto.
Tenho dito.
PS: Há uma vasta bibliografia sobre o PCB que explica esse complexo processo. Dentre eles destaco:
Moisés Vinhas, O Partidão - A Luta por um Partido de Massas, SP, Huicitec, 1982;
R. Chilcolt, O Partido Comunista Brasileiro - Conflito e Integração, RJ, Civ.Bras., 1980;
Edgard carone, O PCB, SP, Difel, 1982;
J.Foster Dulles, Anarquistas e Comunistas no Brasil, RJ, Nova Fronteira,1980;
J. Quartim de Moraes (org) História do Marxismo no Brasil, Edunicamp, 1985;
J. Gorender, Combates nas Trevas, SP, Ática, 1987; .
Del Roio, A Classe Operária na Revolução Burguesa, MG, Oficina de Livros, 1990;
E. Pacheco, O Partido Comunista Brasileiro (1922/1964) , SP, Alfa-Omega, 1984;
A. Pereira, Formação do PCB, SP, Alfa-Omega, 1979;
C.Prado Jr., A Revolução Brasileira, SP, Brasiliense, 1989;
L.C. Prestes, Comment je suis Venu ao Parti - Nouvelle Revue Internationale, 174, Paris, fev. 1973;
L.M. Rodrigues, O PCB: os dirigentes e a organização, in História Geral da Civilização Brasileira, SP, Difel, 1981, vol. X, cap.VIII;
A.C.Mazzeo, Sinfonia Inacabada - A Política dos Comunistas no Brasil, SP, Boitempo, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário