Ivan Pinheiro
Foram necessários apenas dez meses do governo Fernando Lugo para a esquerda paraguaia ter a sabedoria e a responsabilidade de constituir uma frente, para reforçar a unidade de ação na luta contra as oligarquias, que jogam tudo para manter seus privilégios e cooptar e domesticar o novo governo. Como outros Presidentes de países do Cone Sul, inclusive Lula, Lugo tem optado pela governabilidade institucional ao invés do respaldo do movimento de massas para promover mudanças, opção dos governos da Bolívia, Equador e Venezuela.
Num Congresso Unitário Popular, que reuniu no último 19 de junho quase dois mil militantes de cinco Partidos políticos e diversos movimentos sociais paraguaios (*), foi criado o ESPAÇO UNITÁRIO POPULAR. Trata-se de uma frente de esquerda voltada para a luta de massas e não uma mera coligação eleitoral. As próximas eleições nacionais só serão em 2013. A frente não terá registro civil nem eleitoral, que pode ou não, no futuro, vir a ser formalizado, a depender do estreitamento da unidade de ação e da capacidade de mobilização popular que venha a suscitar. O principal objetivo da frente é a construção do poder popular.
Só não aderiram à frente, apesar de convidados, dois partidos de esquerda, sendo um de orientação maoísta, com influência junto ao campesinato, e outro trotsquista, ligado à LIT - Liga Internacional dos Trabalhadores, com atuação no movimento estudantil.
Como se vê no manifesto de fundação da frente, as forças que a criaram não têm ilusão na democracia burguesa e sabem que o programa com que Lugo se elegeu não será levado adiante na base de acordos e alianças com setores conservadores. Diz o texto, que divulgaremos em breve:
“A grande tarefa hoje é exigir o cumprimento do programa com que Fernando Lugo se comprometeu perante nosso povo e do qual até agora se fez pouco ou quase nada... O processo de mudanças é independente deste e de outro governo e só pode avançar com unidade, mobilização e luta popular.”
A partir de agora, o ESPAÇO UNITÁRIO POPULAR começa sua organização a partir das bases, com a realização de Congressos distritais, municipais e estaduais, que criarão coordenações regionais. A coordenação nacional, que decide por consenso, é constituída por cinco dirigentes, cada um indicado por um partido. A frente tem uma plataforma política, em que se destacam três pontos:
- democratização radical, com participação popular;
- reforma agrária integral, com protagonismo camponês;
- recuperação da soberania nacional, especialmente sobre Itaipu e Yasyretá (**) e os territórios ocupados pelas transnacionais da soja.
O PCB, único partido brasileiro convidado ao Congresso Unitário, esteve presente com uma delegação que, além do Secretário Geral, incluiu três de seus militantes do fronteiriço Estado do Paraná.
Na intervenção do PCB na Plenária do Congresso, reiteraram-se os termos do documento distribuído aos delegados, em espanhol, expressando nossa solidariedade ao povo paraguaio na luta pela renegociação do acordo que criou a binacional Itaipu e nossa indignação pelo fato de a oligarquia brasileira de turno ter levado nosso país a participar da famigerada “Guerra do Paraguai”, em verdade um dos maiores extermínios já cometidos em nosso continente.
Foi bem recebida entre os participantes do Congresso, incluindo as delegações de outros países do continente, nossa proposta de realizarmos uma grande manifestação internacionalista na Tríplice Fronteira, para expressar a confraternização entre os povos irmãos da região e a unidade na luta antiimperialista e socialista.
Ivan Pinheiro
Secretário Geral do PCB
(*) Partido Popular Tekojoja, Partido Comunista Paraguayo, Partido Convergencia Popular Socialista, Partido del Movimiento al Socialismo, Frente Patriótico y Popular, Frente Social y Popular, Espacios Unitarios de San Pedro, del Alto Paraná, de Misiones, de Caaguazú, de Caazapá, de Guairá e de Ñeembucú.
(**) usina hidroelétrica na fronteira com a Argentina.
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