quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A QUEDA

O muro caiu há 20 anos. Mas na cabeça de quem?


Ruínas lembram a queda do muro de Berlim. O capital inernacional aproveitou o fato histórico para disseminar as idéias neoliberais no mundo

Madrugada de 13 de agosto de 1961. A Alemanha Oriental começa a construir o muro de Berlim. A linha de concreto não demarcava apenas os novos limites do país, dividido pelo controle da União Soviética ao leste e dos EUA a oeste, após a vitória dos aliados sobre as tropas nazistas. O mundo estava divido em dois grandes blocos ideológicos: socialista e capitalista.

Há vinte anos, no dia 8 de novembro de 1989, ainda como conseqüência do colapso do comunismo soviético, grande parte do povo alemão derrubava o muro. O fato é hoje comemorado pela burguesia e pela mídia como a vitória da “democracia” e do capitalismo. Mas a versão da mídia para o fato esconde verdades que os neoliberais festivos jamais nos contarão.

A primeira é que, certo ou errado, a construção tinha uma função estratégica. Os países socialistas tinham de se defender das tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um contingente de mais de 1,3 milhão de soldados armados até os dentes, inclusive com ogivas nucleares.

Além do aparato militar, os governos socialistas enfrentavam o bombardeio da propaganda capitalista financiada pelos EUA e apoiada pelo Vaticano.
A CIA contribuiu para a derrubada de governos democráticos de esquerda e ajudou a implantar ditaduras de direita no mundo inteiro. Mas, em nome da”democracia”, agiu pesado contra os governos socialistas, inclusive a União Soviética.

Dicotomia ideológica

A revolução socialista de 1917 rompeu a hegemonia capitalista e trouxe décadas de noites de insônia à burguesia internacional.

Quando o muro de Berlim caiu, a propaganda capitalista foi à forra. Anunciaram o “fim da história”, o fim das dicotomias, o fim do comunismo, o fim de tudo. Não havia momento mais propício para a direita disseminar o neoliberalismo.

Reagan e Margaret Thatcher eram os porta-vozes da nova ordem mundial, inspirada no chamado Consenso de Washington, encontro de intelectuais que deu ao imperialismo capitalista a legitimação acadêmica para disseminar o neoliberalismo.

Neoliberalismo e o mito da modernidade

No Brasil, a revista Veja, as Organizações Globo e toda a mídia, no ano da queda do muro, tiraram o governador de Alagoas, Fernando Collor, do quase anonimato. Banqueiros, capital estrangeiro, mídia, a CIA, todo o aparato investiu alto para inventar e eleger o mito do Caçador de Marajás. Conseguiram impedir a vitória de um governo de esquerda, na época encarnado por Brizola e Lula.

O governo desastroso de Collor obrigou as oligarquias a rever seu apoio ao candidato que, sem partido, sem história e sem equilíbrio mental, quase levou o sonho neoliberal à derrocada.

As oligarquias viram no sociólogo, que se dizia social-democrata, um nome mais preparado e confiável. A mídia fez de Fernando Henrique Cardoso o pai do Plano Real e o candidato ideal.

Inspirado pela hegemonia capitalista e com o discurso da “modernidade”, o PSDB de FHC privatizou a Vale do Rio Doce, o Banerj, o Banespa e demais bancos estaduais, a Telebras e as estradas. Foram quase 70 estatais entregues a preço de banana à iniciativa privada. Mais um pouco e teriam privatizado a Petrobras e o Banco do Brasil.

O Estado foi mantido bem longe da economia. Ou seja, colocaram a raposa no galinheiro.

Fato e versão

O muro caiu. Para o povo alemão significou a oportunidade de pais, filhos, irmãos e amigos se reencontrarem. O povo alemão não comemorava o fim do socialismo, mas a unidade de uma nação partida.

A mídia burguesa aproveitou o fato histórico para fazer propaganda ideológica a favor do capitalismo. Venceram um round sim, é verdade. Batalha vencida na guerra da informação, da propaganda e da mídia com investimento de milhões de dólares.

Com o muro, tentaram derrubar a esquerda, o socialismo, o nacionalismo e o Estado forte. Levaram milhões de pessoas a acreditar na balela neoliberal com capa de modernidade. Resultado: nunca na história do mundo houve tanta acumulação de riqueza. Milhões de trabalhadores foram demitidos. Cresceram a miséria e a desigualdade, inclusive nos chamados países desenvolvidos. A violência explodiu nos campos e nas cidades.

Os neoliberais ainda tentam fazer da queda do muro o triunfo simbólico do capitalismo. Porém, muitos trabalhadores começam a despertar. Venezuelanos, bolivianos, brasileiros, equatorianos. Muita gente começa a perceber a manipulação das elites e não querem o retorno das mazelas causadas pelo neoliberalismo.

Até nos EUA os trabalhadores buscam algo novo, longe da ortodoxia neoliberal aclamada pela direita nos anos 80 e 90. Quem diria. Os norte-americanos buscam hoje realizar em Obama o sonho que há décadas é realidade em Cuba: saúde e educação públicas de qualidade, combate à miséria e um país mais justo.

A mídia conta a sua história, a versão da burguesia, dos banqueiros, dos poderosos. Mas as lorotas neoliberais não enganam mais como no passado.
Há 20 anos o muro caiu, sim. Na cabeça do trabalhador.

Paulo Jorge (Paulão)
Diretor Executivo SEEB/RJ
paulojorge@bancariosrio.org.br
Cel 9419-4729

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