sexta-feira, 25 de março de 2011

DECLARAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA DOS EUA (PCEUA) SOBRE A SITUAÇÃO NA LÍBIA

imagemCrédito: CPUSA


As Partidos fraternos, indivíduos e organizações progressistas e o público geral:

O Partido Comunista dos EUA (PCEUA) deplora os ataques das forças dos EUA, França e Inglaterra contra a Líbia. Com a projeção de poder pelos EUA e outros governos da OTAN, a crise, que foi iniciada pelo governo da Líbia, quando suas forças de segurança abriram fogo contra manifestantes desarmados que pediam a democratização, levanta a possibilidade de transformar-se em uma guerra civil sustentada pela intervenção imperialista. Com uma interpretação rasteira e interesseira do voto do Conselho de Segurança da ONU, na quinta-feira, 17 de Março, diversos estados membros da OTAN, incluindo os EUA, o Reino Unido e a França, começaram um bombardeio aéreo e marítimo à Líbia, aumentando o perigo para as vítimas civis e militares de todos os lados e ameaçando a integridade da Líbia como uma nação soberana com controle de seus próprios recursos. Enquanto jatos franceses e ingleses destruíram alvos líbios, os EUA, no primeiro dia, atingiram a Líbia com, no mínimo, 100 mísseis Tomahawk lançados de seus navios, sem definição de alvos específicos.

A despeito de todos os crimes e abusos evidentes do regime de Kadafi, uma guerra civil com intervenção massiva do exterior não interessa nem ao povo líbio nem ao povo norteamericano, e nem tampouco à humanidade no geral, que querem somente a paz e a cooperação entre as nações. O Oriente Médio é uma das áreas mais conflituosas e instáveis no mundo e há um perigo real de que uma guerra civil na Líbia possa levar a uma conflagração ainda maior. Essa escalada precisa ser reduzida, também, por causa do mau precedente que abre para outras a intervenções da OTAN e / ou dos EUA em situações de conflito interno em todo o mundo. Devemos relembrar as situações no Iraque, Afeganistão e Iugoslávia para perceber como tais intervenções militares, levadas a cabo por conta de pretextos humanitários, terminaram causando mais morte, sofrimento e destruição que as situações que, supostamente, deveriam remediar. Na sua recente reunião em Lisboa, Portugal, a OTAN anunciou ao mundo que ela poderia projetar sua força armada para além da área do “Atlântico Norte”. Claramente, o propósito dessa força não é nem defensivo nem humanitário, mas sim o de servir aos interesses econômicos dos países capitalistas ricos e das corporações multinacionais. Para entender a hipocrisia da atual campanha de ataque, devemos perguntar: Por que não houve intervenção em qualquer outro país do Oriente Médio governado por tiranos? Por que não no Iêmen ou no Bahrein?

Somos da opinião de que o interesse especial por parte do imperialismo na intervenção na Líbia só pode estar relacionada à política do petróleo. A Líbia é o maior país fornecedor de petróleo para muitos países da OTAN (especialmente a Itália) e tem sua própria produção nacional de petróleo desde 1969. O atual levante na Líbia está centrado na parte Oriental do país, onde se encontra uma larga proporção de produção de petróleo líbio. Se as forças da OTAN conseguirem um controle substancial da produção de petróleo da Líbia, mesmo que não seja privatizada para as mãos de corporações multinacionais, deve haver um impacto em fatores como as quotas de produção da OPEP. A instabilidade atual na Líbia está contribuindo para um aumento dos preços do petróleo que afeta a nós, também, nos Estados Unidos.

Mais ainda, a derrubada dos regimes clientes da Tunísia e do Egito e as convulsões que vem sendo experimentadas por outros países da região, tais como Bahrein, Iêmen, Marrocos e outros, enfraquece a influência do imperialismo nesta área vital. Não podemos eliminar a possibilidade que o imperialismo veja a crise da Líbia como um meio de restabelecer parte de sua influência no Oriente Médio.

Diversos estados e organizações internacionais, alguns dos quais votaram pela Resolução do Conselho de Segurança ou se abstiverem – quando deveriam ter votado “não” ou, até mesmo, vetado a Resolução – estão, agora, tendo outra opinião quanto à correção das ações que vem sendo feitas. China, Rússia, Turquia, Índia e a Liga Árabe, assim como os países da Aliança Bolivariana na América Latina, criticaram os ataques à Líbia. Nós esperamos que o governo norte-americano, que não estava, inicialmente, apoiando fortemente uma ação militar para a criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia, tenha, também, um novo pensamento a respeito.

Desta maneira:

O PCEUA reivindica:

  1. Um cessar fogo imediato de todas as partes envolvidas (o governo Líbio, os insurgentes e as forças externas) a ser monitorado por forças neutras;
  2. Um acordo negociado que preserve a soberania nacional da Líbia e o controle de seus recursos naturais, especialmente suas reservas e sua produção de petróleo e gás, ao mesmo tempo em que responda às demandas do povo Líbio por uma transformação democrática de sua sociedade e sistema político e dê um fim à repressão ao dissenso;
  3. Proteção para a segurança dos setores vulneráveis da população Líbia, incluindo trabalhadores estrangeiros migrantes sujeitos a uma situação que não foi criada por eles;
  4. Ação internacional que permita a saída, da Líbia, dos refugiados cuja sobrevivência esteja ameaçada pela situação atual, mais acesso para todas as áreas da Líbia à ajuda humanitária e a restauração dos serviços de eletricidade, internet e outros;
  5. Apoio de todos os progressistas à luta do povo Líbio por seus direitos trabalhistas, eleições livres e democráticas, liberdade de expressão, de imprensa e de associação e ao fim da repressão.

COMITÊ NACIONAL, PARTIDO COMUNISTA DOS EUA (PCEUA)

Traduzido por Eduardo Serra

Fonte: http://www.cpusa.org/

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