quarta-feira, 23 de julho de 2014

A COPA DO CAPITALISMO GLOBAL: Copa, prá quem foi?


23 JULHO 2014 
Paulo Oliveira*
A história da realização da Copa do Mundo no Brasil será contada a partir dos interesses em jogo, de um tripé, formado pelo capitalismo global, sua ponta de lança a FIFA e pelo Estado burguês brasileiro. Esses interesses, na maioria das vezes não conflitantes, começam a se materializar em 2007.
Naquele longínquo outubro, na gélida Zurich, na Suiça, iniciava-se a trama para levar a cabo um dos maiores, se não o maior espetáculo de ponta do capitalismo mundial, ou seja a Copa do Mundo de Futebol.
Afinal de contas tratava-se de um empreendimento no país onde mais se pratica tal esporte, parte integrante da cultura desse país, o Brasil, e esporte mais praticado no mundo.
Além de todos esses fatores, colocava-se para o capitalismo global um horizonte de lucros absolutamente fantásticos. Se na Alemanha, em 2006, a organização da Copa do Mundo garantira à FIFA um faturamento de R$ 4,4 bilhões, na África do Sul, em 2010 R$ 7 bilhões, as previsões para o Brasil estavam na ordem de R$ 9,7 bilhões.
Para que a lucratividade do capital se consumasse, muito contribuiu o cenário político brasileiro à época. Em 2007, o presidente Lula ainda lambia as feridas deixadas pelo mensalão, e preparava-se para uma dura sucessão sem, aparentemente, um herdeiro que encarnasse com seu carisma o legado petista. Por outro lado, no Rio de Janeiro, o governador Sergio Cabral Filho estava às voltas com uma complicada tentativa de reeleição, acuado por sucessivas greves no serviço público, ao que se somava o aumento da violência, principalmente na cidade do Rio, fruto mesmo da chamada “guerra às drogas”.
Nunca antes na história deste país, tantos interesses se complementavam como naquele momento. Lula desejando perpetuar o PT no poder, Cabral sonhando com uma final no Maracanã, e a FIFA de olho nos lucros que viriam neste país de proporções continentais.
Assim, em outubro de 2007, o povo brasileiro é brindado com a foto para a posteridade, onde Blatter, Lula e Cabral, braços erguidos, comemoram a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014. De quebra, Lula impõe o aumento do número de sedes para os jogos, de 8, como queria a FIFA, para 12. Afinal, como nos tempos da ditadura militar, onde o PT vai mal, uma sede do Mundial...
A cronologia, a partir daí, é conhecida: em 2010, Lula elege Dilma, Cabral se reelege, e a Copa começaria em junho de 2014. Como aperitivo, a Copa das Confederações, em 2013.
Para o bom andamento dos negócios capitalistas tornou-se necessário entrar em campo o binômio utilizado pelo imperialismo em escala mundial: segurança e informação.
Os protestos de junho de 2013, durante a Copa das Confederações, se constituíram na culminância de um processo de insatisfação social, que já se manifestava no pipocar de greves em São José dos Campos e no ABC paulista. Além do mais, a deterioração dos serviços públicos de educação e saúde, somados ao encarecimento dos preços das passagens do transporte público em todo o país, vão engrossar o caldo de cultura que explode na grande passeata no Rio de Janeiro, no dia 20 de junho, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas.
Esse processo político-social não estava nas previsões dos organizadores da Copa/2014. Apresenta-se como imprescindível que fosse montado um palco de tranquilidade para os jogos e negócios do capital. Aí, a liderança imperial dos EUA se faz sentir.
Desde 2012 o governo americano investia em treinamento policial para os megaeventos que seriam realizados no Brasil. Sob os auspícios do Departamento de Estado, às vésperas do início da Copa, em maio de 2014, agentes do FBI treinavam policiais no Rio e em São Paulo, para a contenção de protestos durante a Copa, fato comemorado em prosa e verso pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Esta mesma equipe do FBI, proveniente de Chicago e Los Angeles, já percorrera, sem grande alarde, as dependências policiais da polícia cearense, treinando agentes lotados em Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Belo Horizonte, além de terem também prestado seus serviços em Brasília, na PM do Distrito Federal. Assim, as principais sedes da Copa estariam cobertas pelo manto da segurança oferecida pelo FBI.
Em complemento ao ostensivo aparato de segurança pública, estabeleceu-se ainda um sistema de vigilância que se caracterizaria pela investigação digital de celulares. Tal monitoramento da privacidade dos cidadãos, brasileiros ou estrangeiros, ficou a cargo , a partir de novembro de 2013, da empresa israelense Cellebrite, mundialmente famosa por sua tecnologia de extração de dados de aparelhos celulares.
Finalizando esta parte, com a palavra o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, que comanda a Secretaria de Segurança para Grandes Eventos (SESGE): “EXISTE O QUE A GENTE CHAMA DE UM ACORDO MACRO, UM GUARDA-CHUVA ONDE OS CURSOS SÃO OFERTADOS, A GENTE FAZ A ANÁLISE DO INTERESSE PARA A SECRETARIA E PARA O EVENTO, E SE É DE INTERESSE A GENTE FAZ A INDICAÇÃO DOS PROFISSIONAIS. NÓS NÃO PEDIMOS, NÃO PROPUSEMOS, NÃO INDICAMOS NENHUM CURSO ESPECÍFICO. A ORGANIZAÇÃO, A DINÂMICA, OS INSTRUTORES, O CUSTEIO, O LOCAL, É TUDO A CARGO DO GOVERNO NORTE-AMERICANO.”
Assim, garantidos o controle social por meio da montagem de um aparato de segurança pública inédito, somado a um esquema de invasão da privacidade digital dos nativos e estrangeiros no cenário da Copa, mãos à obra, entendida a frase em seu sentido mais literal.
A principio, juras e promessas de que os estádios, 12 no seu total, novos ou reformados, teriam suas obras tocadas em mais de 70% pela iniciativa privada.
No entanto, o que se viu foi uma repetição da história mais recente desse país. Os recursos do Estado brasileiro, fruto de sangue, suor e lágrimas de seu povo, foram apropriados pelo cartel formado pelas grandes empreiteiras, no caso Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Correa e OAS, financiadas a juros mais do que generosos por bancos públicos, em especial o BNDES e a Caixa Econômica Federal.
Essa parceria entre governo, empreiteiras e grandes patrocinadores da Copa/2014 vem sendo estreitada desde a eleição de Dilma. Explica-se: OS GASTOS DE CAMPANHA DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF, ELEITA EM 2010, SOMARAM R$ 176,5 MILHÕES. NAQUELA OCASIÃO ENTRE OS DOADORES ESTAVAM O BANCO ITAÚ, A CERVEJARIA AMBEV (LEIA-SE BRAHMA E BUDWEISER), E AS CONSTRUTORAS CAMARGO CORREA E ANDRADE GUTIERREZ.
Para complementar o banquete da burguesia durante a Copa, a cereja do bolo: os lucros com os direitos de transmissão do espetáculo que seria visto por mais de 3 bilhões de pessoas em volta do planeta Terra.
A REDE GLOBO, QUE NA COPA DA ÁFRICA, EM 2010, OBTIVERA UM LUCRO DE R$ 490 MILHÕES, AGORA NA COPA DAS COPAS DA PRESIDENTE DILMA, COMERCIALIZOU COTAS DE PATROCÍNIO NO VALOR DE R$ 1,4 BILHÃO. UM AUMENTO DE QUASE 200% EM SEU FATURAMENTO!
Portanto, enunciemos o verdadeiro legado da Copa para o povo trabalhador brasileiro:
*educação, saúde, transporte público, moradia, continuam, em julho de 2014, da mesma forma que em junho de 2013, quando se iniciam as manifestações, se não piores;
*política de segurança pública que se caracteriza por uma violência cada vez mais sofisticada contra os que lutam e denunciam o capitalismo nas ruas;
*remoção de aproximadamente 250.000 pessoas em todo o Brasil, na esmagadora maioria das vezes retiradas de suas casas de forma extremamente violenta;
*mortes de mais de uma dezena de operários nas obras dos estádios – números oficiais -, revelando a precarização do trabalho no Brasil, resultado das terceirizações, e até quarteirizações, praticadas pelas grandes empreiteiras;
*implantação de um estado de sítio, como previsto na lei federal 499/2013, que prescreve pena de ATÉ 30 ANOS PARA QUEM PROVOCAR OU INFUNDIR TERROR OU PÂNICO GENERALIZADO MEDIANTE OFENSA OU TENTATIVA DE OFENSA Á VIDA, ´A INTEGRIDADE FÍSICA, Á SAÚDE OU Á PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DE PESSOA”. As declarações do ministro da Justiça !sic) José Eduardo Cardozo, justificando a brutal repressão policial na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, sobre uma manifestação pacífica no dia do encerramento da Copa, demonstram claramente que o governo federal escolheu um lado em todo esse processo: o lado da defesa dos interesses do capital.
PORTANTO, A COPA DAS COPAS DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF CUMPRIU SEU PAPEL , QUAL SEJA, MAXIMIZAR OS LUCROS DAS CLASSES DOMINANTES, NACIONAL E ESTRANGEIRA, COM A REALIZAÇÃO DO ESPETÁCULO E AUMENTAR O CONTROLE SOCIAL SOBRE A POPULAÇÃO QUE SE MANIFESTA NAS RUAS, ATRAVÉS DA SOFISTICAÇÃO DE UM APARATO DE SEGURANÇA PÚBLICA JAMAIS VISTO EM NOSSA HISTÓRIA.
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*Paulo Oliveira é membro do Comitê Central do PCB

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