sexta-feira, 4 de maio de 2012

Usina Cambaíba em polêmica de Nazismo

Jornal Folha da Manhã

Mario Sérgio
Arquivo FManha
Conforme declarações feitas no livro “Memórias de uma guerra suja”, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Cláudio Antônio Guerra afirmou que, pelo menos, dez corpos de militantes executados durante a ditadura, nos anos 70 e 80 no Brasil, teriam sido incinerados na extinta Usina Cambahyba, pertencente ao ex-deputado federal e ex-governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro Gomes, falecido em 1992. A família de Heli ficou revoltada com a situação e disse que as afirmações de Cláudio Antônio são absurdas e irreais.

Em trecho do livro publicado na internet, na última quarta-feira, Guerra diz ter se aproveitado da amizade com Heli para utilizar o forno da usina e sumir com os corpos dos militantes. “O local foi aprovado. O forno da usina era enorme. Ideal para transformar em cinzas qualquer vestígio humano”, dizia parte do livro. Guerra declarou ainda que levou o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar), ao local para que fosse efetuada a suposta incineração.

Segundo o livro, teriam sido queimados João Batista, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski, Wilson Silva, David Capistrano, João Massena Mello, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho. Ainda de acordo com Guerra, que após o serviço a Usina Cambahyba teria passado a receber benefícios. “A usina passou, em contrapartida, a receber benefícios dos militares pelos bons serviços prestados. Era um período de dificuldade econômica e os usineiros da região estavam pendurados em dívidas. Mas o pessoal da Cambahyba, não. Eles tinham acesso fácil a financiamentos e outros benefícios que o Estado poderia prestar”, contou em outro trecho do livro.

No site de promoção do livro, editado pela Topbooks, Guerra disse que se arrepende dos feitos na época no regime. “Sou um homem de 71 anos, mudado pela vida. Não posso dizer que não me arrependo. As tarefas que cumpri me trouxeram dores dos ossos à alma, os rostos nunca se apagaram da minha memória”, declarou. O ex-delegado afirmou também que resolveu revelar os segredos em livro em prol das famílias que ainda tem esperanças de saber o destino de seus parentes. “Para tentar ajudar as famílias das vítimas resolvi dizer o que sei. Estou sereno, não podia deixar de fazer o que estou fazendo”, finalizou.
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