quarta-feira, 9 de maio de 2012

Entrevista com o secretário de Solidariedade Internacional do PCB, José Renato



imagemCrédito: Flickr


O Portal do PCB entrevista Jose Renato André Rodrigues, membro do Comitê Central do PCB que esteve presente na Marcha Patriótica, na Colômbia. Nessa conversa, José Renato explica as reivindicações da Marcha e fala um pouco sobre a realidade colombiana.
- Qual sua percepção sobre esses dias na Colômbia? Como se desenvolve a luta de classes no país, pelo que você pode observar?
Pude ver muita mobilização e ação das forças anticapitalistas da cidade e do campo, além do movimento estudantil.
- A violência estatal se faz presente nas cidades?
Sim.Há muitos policiais nas ruas, me parece que a polícia é subordinada ao Exército e funciona como uma Guarda Nacional. Talvez por isso os camaradas colombianos tenham tido muito cuidado com nossa segurança, os estrangeiros que ali estávamos, principalmente com os europeus. Nós brasileiros, e outros latino-americanos, nos confundíamos com os colombianos. O Estado colombiano é um estado militarizado, e as burguesias o olham como modelo de segurança publica.
- A Marcha Patriótica abarcou que setores da sociedade?
Indígenas, afrodescendentes, mulheres, estudantes, camponeses e outros. Nas cidades ocorre o problema da criminalização e perseguição das lideranças sindicais, além da cooptação de parte do movimento sindical urbano. A CUT, central unitária dos trabalhadores, está cooptada pelo governo, o atual vice-presidente foi do movimento sindical. As medidas de impacto, que prometem emprego, habitação e consumo, conseguem confundir uma parcela das classes trabalhadoras urbanas.
- Quais as principais reivindicações da Marcha? E os encaminhamentos por ela tirados?
A Marcha aponta para a solução dos reais problemas econômicos das grandes massas trabalhadoras colombinas, a ampliação de direitos sociais, o fim da política privatista como a expansão do ensino privado e a demarcação das terras indígenas. Além disso, pede o fim das discriminações de todo tipo, liberdade para os presos políticos, respeito aos Direitos Humanos, a construção de habitações populares e a remoção de famílias das regiões de risco, além da ampliação dos serviços médicos, de transportes, o crédito ao pequeno agricultor.
Há ainda a cobrança de uma solução política para o conflito colombiano e o reconhecimento das FARC-EP como força beligerante. Somado a tudo isso o pedido de retirada das bases dos Estados Unidos e o fim dos acordos militares da Colômbia com o imperialismo.
- De que forma o capitalismo brasileiro está presente na Colômbia?
Através de um acordo militar, o Brasil vem fornecendo armas como os aviões Tucano às Forças Armadas colombianas, que utilizam o equipamento para assassinar trabalhadores. Há ainda acordos e troca de informações nas áreas de segurança, como entre o Estados do Rio de Janeiro e as cidades de Medellín e Bogotá.
Basta ver a proliferação das milícias no Grande Rio, e grupos de extermínio na Baixada Fluminense. São exemplos desta mesma "política" de segurança que é aplicadas lá. Não há ausência e sim conivência do Estado com estes grupos, tanto lá quanto aqui.
Pelas informações divulgadas na imprensa, podemos saber ainda de contratos com empresas brasileiras e muitos acordos entre os empresários dos dois países para expandir os interesses comuns e fortalecer ambas as burguesias.
- Houve algum tipo de repressão ou represália? E intimidações de forças paramilitares?
Sim. Enquanto estivemos lá um dirigente da Marcha Patriótica desapareceu, e pelo que sei continua desaparecido. Além disso, assassinaram um dos seguranças do camarada do Partido Comunista Colombiano, o Carlos Lozano.
- De que forma o PCB pode contribuir para a luta por paz com justiça social na Colômbia?
O PCB possui um longa tradição internacionalista. Roberto Morena,David Capistrano, Dinarco Reis e outros saíram do Brasil para lutar na Guerra Civil Espanhola contra os fascistas. De lá lutaram na Resistência Francesa. O nosso partido esteve na linha de frente contra o envio dos soldados brasileiros à Guerra da Coréia. Temos ainda nossa participação na solidariedade ao Vietnã, Cuba e Nicarágua.
Agora, na questão colombiana, não podíamos estar de fora, mesmo que custe a imprensa burguesa nos acusar por conta de nossa solidariedade ao povo colombiano, como acontece muitas vezes. Estamos construindo com outros segmentos a Agenda Colômbia-Brasil, estamos lutando para articular os diversos segmentos para sensibilizar a opinião publica a buscar uma solução política para o conflito colombiano, estamos de corpo e alma com a nossa militância na solidariedade internacionalista ao povo colombiano

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