Crédito: 3.bp.blogspot | |
Ele me disse: ‘Se você sair viva daqui, o
que não vai acontecer, você pode me procurar no futuro. Eu sou o chefe,
sou o Jesus Cristo [codinome do delegado de polícia Dirceu Gravina]’.
Ele falava isso e virava a manivela para me dar choque. Ele também
dizia: ‘Que militante de direitos humanos coisa nenhuma, nada disso,
vocês estão envolvidos’. E virava a manivela. Havia umas ameaças assim:
‘Vamos prender todos os advogados de direitos humanos, colocá-los num
avião e soltar na Amazônia’. Nos outros interrogatórios, eles
perguntavam qual era a minha opção política, o que eu pensava, quem
pagava os meus honorários, quais eram os meus contatos no exterior, o
que eu pensava do comunismo. Para mim, fi cou muito claro que eles
queriam atemorizar advogado de preso político. Havia uma mudança no tom
das equipes. Eram três, e ia piorando. Durante o interrogatório da
segunda equipe, eu levei uma bofetada de um e o outro me segurou: ‘Está
bravinha porque levou uma bofetada?’. E os homens da terceira equipe
diziam: ‘Saia disso, onde já se viu defender esses caras, gente
perigosíssima, não se meta nisso!’. Eu estava formada havia menos de um
ano, e trabalhava desde o segundo ano no escritório do advogado José
Carlos Dias, defendendo presos políticos. Essa era a forma que eu tinha
de resistir à ditadura militar, foi minha opção de participação na
resistência. Eu fui presa sem nenhuma acusação, fiquei três dias lá sem
saber porque estava presa. No terceiro ou quarto dia, eu descobri o
motivo: teriam achado num ‘aparelho’ um manuscrito do Carlos Eduardo
Pires Fleury, que tinha sido banido do país e que foi meu colega e
cliente no escritório. Eu não fui das mais torturadas. Levei choque uma
manhã inteira, acho que para saber se eu tinha algum envolvimento com
alguma organização clandestina e paraque os advogados soubessem que não
era fácil para quem militava.
MARIA LUIZA FLORES DA CUNHA BIERRENBACH
era advogada de presos políticos quando foi presa em 8 de novembro de
1971, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, onde é procuradora
do Estado aposentada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário