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(Nota Política do PCB)
A Comissão Política Nacional (CPN) do
Partido Comunista Brasileiro (PCB) vem a público saudar a Articulação
Nacional pela Memória Verdade e Justiça - uma entidade que congrega
organizações políticas, movimentos sociais, sindicatos, coletivos de
juventude, grupos artísticos e familiares de mortos e desaparecidos - e
manifestar seu apoio ao trabalho que vem sendo desenvolvido no sentido
de construir um grande movimento de massas para que se apurem os crimes
da ditadura, se estabeleçam as ligações entre os grupos empresariais,
funcionários públicos e a máquina da tortura no Brasil e crie condições
para que se possa punir os torturadores e assassinos de toda uma geração
de jovens, trabalhadores, camponeses, sindicalistas e militantes
sociais e políticos que lutaram contra a ditadura no Brasil.
A CPN avalia como positiva a instalação
da Comissão da Verdade pelo governo. Lembramos, todavia, que foi preciso
uma condenação do Brasil por parte da OEA para que o governo pudesse
tomar essa medida, que protelava para não melindrar as Forças Armadas e
os setores conservadores de sua base de sustentação. Mas alertamos que
esta comissão tem uma composição heterogênea e não possui sequer
representantes dos familiares dos mortos e desaparecidos. É um sinal de
que a Comissão foi composta para uma conciliação nacional, ou seja,
“virar esta página da história” e o Brasil seguir em frente na direção
de se transformar numa potência capitalista.
Por isso, é necessária a organização de
um grande movimento social, envolvendo organizações sindicais,
estudantis e de bairro, manifestações de rua em todo o País, para que o
resultado dos trabalhos não se transforme numa conciliação com os
algozes de nosso povo. O PCB, como uma das organizações que mais
brutalmente foi reprimida pela ditadura - basta dizer que um terço de
seu Comitê Central foi assassinado na tortura e desaparecido - se
compromete a levar esta luta até o fim, em homenagem não apenas aos
nossos mortos e torturados, mas também a todos que sofreram e tombaram
na luta contra a ditadura.
A CPN também avalia que este não é o
momento de privilegiar o debate das divergências sobre as formas de
lutas das organizações de esquerda durante a ditadura, até mesmo porque a
ditadura prendeu, torturou e assassinou camaradas de todas as
organizações. Este é o momento de reverenciar todos os que lutaram
contra o regime militar, especialmente aqueles que rubricaram com sangue
a luta contra a ditadura. São todos eles nossos heróis, desde os que se
alçaram em armas nas cidades, os guerrilheiros de Caparaó e do
Araguaia, até aqueles que desenvolveram silenciosamente um paciente
trabalho de organização dos trabalhadores nas fábricas e nos sindicatos,
aqueles que organizaram a população nos bairros, os jovens nas
organizações estudantis, os intelectuais e o mundo da cultura em geral.
Continuaremos a sua luta e não daremos trégua aos inimigos do nosso
povo.
As recentes informações de um agente da
ditadura de que os corpos de vários companheiros foram incinerados em um
forno de uma usina de açúcar em Campos chocaram a opinião pública e
mostraram a bestialidade com que os facínoras da ditadura agiam contra
os prisioneiros políticos. Entre os corpos incinerados estariam os de
quatro camaradas do PCB: Davi Capistrano, João Massena, Luiz Maranhão e
José Roman.
Associamo-nos à correta iniciativa do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no sentido de que
esta fazenda de Campos seja desapropriada para fins de reforma agrária e
que sua sede sejatransformada em um memorial da tortura e da
brutalidade da ditadura. Ali se encontra o verdadeiro cemitério de
nossos heróis, independente da organização a que pertenciam.
Para reforçar esta luta, achamos
fundamental que a Articulação Nacional pela Memória Verdade e Justiça
organize um expressivo e unitário ATO NACIONAL na fazenda onde foram
incinerados os nossos camaradas, com ocupação de suas terras, para
honrarmos a trajetória de lutas desses nossos heróis.
A Comissão Política Nacional do PCB
manifesta sua solidariedade a todos os familiares dos presos, mortos e
desaparecidos e às entidades que se constituíram para denunciar os
crimes da ditadura e reafirma que esta luta não foi em vão e que todo
trabalho de denúncia, investigação, de acúmulo e documentação realizado
nestes anos será não só um precioso aporte para a memória dos nossos
heróis mortos e desaparecidos, mas também um importante testemunho para
as novas gerações.
Não silenciaremos enquanto toda a verdade não for apurada!
Não silenciaremos enquanto a justiça não for feita!
São Paulo, 13 de maio de 2012
(Comissão Política Nacional do PCB)
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