Crédito: PCB | |
Um dos 11 membros do Comitê Central do
PCB desaparecidos pela ditadura militar nos idos de 1974 e 1975, João
Massena foi homenageado in memorian pelo Partido com a Medalha Dinarco Reis.
A entrega da medalha ocorreu durante o
Ato Público que celebrou os 90 anos de PCB, em 23 de março deste ano, na
Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Recebeu a homenagem sua neta, Joana
Massena, cujo nome é uma homenagem ao camarada cujos restos mortais
estão em local ainda desconhecido.
Joana fez uso da palavra e emocionou o público presente ao afirmar que "não
tive aquele avô dos almoços de domingo; mas meu outro avô, também
comunista, me disse que isso aconteceu porque o João foi avô de todas
crianças do mundo".
JOÃO MASSENA
João Massena Melo nasceu em 18 de agosto
de 1919, em Palmares, Pernambuco, filho de Sebastião Massena Melo e
Olímpia Melo Maciel. Operário tecelão da Fábrica de Tecidos Nova América
e, posteriormente, operário metalúrgico, era casado e tinha três filhos
quando desapareceu em 1974, então aos 55 anos.
Integrou o Comitê Central do Partido
Comunista Brasileiro (PCB), partido pelo qual começou a militar e por
cuja legenda foi eleito vereador no antigo Distrito Federal, em 1945.
Seu mandato foi extinto em 1948, com o fechamento do Partido e sua
cassação. Em 1962, foi eleito Deputado Estadual pelo antigo Estado da
Guanabara pela legenda do Partido Social Trabalhista (PST). Teve
novamente seu mandato cassado, de acordo com o artigo 10 do Ato
Institucional n° 1, de 9 de abril de 1964, decretado pela ditadura. A
partir daí, usou os codinomes de João Augusto, Jacinto e Mário.
Foi condenado pelo Conselho Permanente
de Justiça Militar a cinco anos de reclusão, em 7 de julho de 1966.
Preso, em 1970, por agentes da 2ª Auditoria da Marinha, foi brutalmente
torturado. Toda sua família foi presa e levada para a Ilha das Flores.
Sua casa foi saqueada. Posto em liberdade em fevereiro de 73, foi
novamente preso na cidade de São Paulo, no dia 3 de abril de 1974.
Trechos do livro “Desaparecidos
Políticos”, de Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, nos esclarecem que
“Massena permaneceu preso durante dois anos e sete meses apenas com a
prisão preventiva decretada. Mas nesse período não puderam
desaparecê-lo, no dizer de sua mulher, afinal ele fora preso com
testemunhas. Massena foi solto em fevereiro de 1973.”
“A libertação de Massena, para sua
mulher, foi uma verdadeira armadilha. Eles - os organismos de repressão -
ficaram à espreita e, na primeira oportunidade, apanharam o
ex-deputado. Massena escreveu sua última carta para a família. Marcava
um encontro com sua mulher, que seria realizado num fim de semana, entre
os dias 5 e 6 de abril. Ela foi ao encontro, esperou todo o fim de
semana, mas Massena não apareceu. Então julgou que alguma coisa
acontecera, mas ainda não colocara a prisão dele como uma possibilidade.
No dia 20 de abril, o homem na casa de quem Massena se hospedara em São
Paulo lhe informou que Massena saiu de casa dia 3 ou 4 de manhã,
‘apenas com a roupa do corpo, dizendo que voltaria para o almoço e não
voltou'."
Sua família, então, passou a desenvolver
intensa busca, seguindo o mesmo ritual das outras famílias de
desaparecidos: foi a São Paulo e buscou os conhecidos órgãos de
repressão, foi a hospitais de emergência, cemitérios, Instituto Médico
Legal. Ninguém sabia do seu paradeiro. Em documentos referentes a João
Massena arquivados no antigo DOPS de São Paulo, foram encontradas as
seguintes anotações: “Em 24 de junho de 1974, sua filha Alice Massena
Melo solicitou ao Presidente da República, General Ernesto Geisel,
providências no sentido de localizar seu pai”.
A família impetrou um habeas corpus no
STM, que foi negado sob a alegação de que Massena não se encontrava
preso em nenhuma dependência militar. Seu julgamento, uma farsa devido
ao desaparecimento, só ocorreu em 20 de setembro de 1978.
Matéria da Folha de São Paulo publicada
no dia seguinte, 21, com o título "Auditoria da Marinha absolve acusados
do PC", afirma que "O Conselho Permanente de Justiça absolve, por
prescrição da ação penal, Luiz Carlos Prestes, Marco Antônio Tavares
Coelho, Dimas de Assunção Perrim, João Massena Melo, Elson Costa,
Orlando Rosa, David Capistrano, Luiz Inácio Maranhão Filho, Hiran de
Lima, Itair José Veloso, Jaime Amorim, entre outros"
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