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Partidos radicais ganham força às vésperas de eleição na Grécia
Com a sociedade grega fraturada por dois anos de medidas de austeridade e recessão, pequenos partidos, alguns deles radicais, dividem a preferência do eleitorado na votação de domingo (6) para o Parlamento.
Segundo as pesquisas, mesmo unindo forças os dois principais partidos gregos, Nova Democracia e Pasok, devem ter cerca de apenas 38% dos votos. O restante seria distribuído por outros 30 partidos, com pelo menos mais 5 conseguindo representação legislativa.
'Desde os anos 1970 os dois principais partidos costumavam ter ao redor de 70% dos votos', explica a grega Daphne Halikiopoulou, da London School of Economics and Politics (LSE), que está em Atenas para acompanhar a votação.
'É impossível prever se uma coalizão poderá ser formada ou se teremos impasse e instabilidade, cenário agravado pelo aumento dos votos nesses grupos mais extremistas.'
Entre os partidos menores com chances de eleger deputados estão o Chrysi Avgi (Amanhecer Dourado), de extrema-direita, que usa em sua bandeira um símbolo semelhante a uma suástica nazista. Atraindo eleitores com um discurso que associa imigração a criminalidade, pode obter 5% dos votos, chegando pela primeira vez ao Parlamento.
Seus membros costumam advogar em favor da supremacia do povo grego e foram chamados de neonazistas, embora a direção do partido negue o rótulo.
Entre suas propostas, segundo Halikiopoulou, estariam a revisão das fronteiras marítimas com a Turquia e a ampliação da influência grega no Norte do Chipre.
Já o Partido Comunista Grego (KKE) prega a retirada da Grécia da zona do euro e a derrocada do sistema capitalista na Grécia. Pesquisas indicam que o partido pode obter 10% dos votos.
O KKE defende que o fim do regime soviético foi apenas um percalço na revolução comunista que
ainda deve se espalhar pelo globo - partindo de países como a Grécia.
'Trata-se de um partido comunista ortodoxo, cujas propostas não mudaram muito com o fim da Guerra Fria', explica Othon Anastasakis, especialista em política grega da Universidade de Oxford.
Outro partido inusitado é o Gregos Independentes, mais moderado, liderado por um dissidente do Nova Democracia que conseguiu reunir seguidores para criar o novo partido via Facebook. Com 10% das intenções de voto, Panos Kammenos aposta em um discurso anti-Alemão.
'A Alemanha não trata a Grécia como se fosse nosso parceiro, mas como chefe. Está tentando transformar uma Europa de estados independentes em uma Europa sob seu domínio', disse Kammenos em entrevista recente à agência de notícias Reuters.
'Berlim é responsabilizado pelas medidas de austeridade e não é difícil capitalizar um sentimento anti-Alemão em um país com uma história de ocupação nazista', explica Anastasakis.
Outros partidos são o Esquerda Radical com algo entre 10 e 11% dos votos e o Esquerda Democrática, com 8,5%
Voto de protesto
O que todos esses partidos menores têm em comum é o discurso contra o pacote de medidas de austeridade adotado por pressão da União Europeia e instituições financeiras internacionais. Só o partido comunista, porém, é abertamente a favor de tirar a Grécia da zona do euro.
Para Athanasia Chalari, também da LSE, o voto nesses pequenos partidos reflete o sentimento de revolta contra o Nova Democracia e o Pasok, responsabilizados pela crise econômica.
'Mesmo quem ainda vota nos partidos tradicionais o faz por medo, não porque acredita em seus projetos políticos', diz a especialista. 'A Grécia que vai às urnas é um país acuado, onde ninguém consegue apresentar uma saída viável, então cada um corre para um lado.'
Segundo Anastasakis, caso os principais partidos gregos não consigam formar uma coalizão é possível que outra eleição tenha de ser convocada.
Fonte: G1
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