Crédito: PCB | |
Do Hoje em Dia -
Acervo foi reunido nos últimos anos e faz parte da documentação da Comissão da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil
FREDERICO HAIKAL
Parte da história de mineiros que
desapareceram durante a ditadura veio à tona a partir de 138 documentos
inéditos obtidos pelo Hoje em Dia. O material, que será remetido à
Comissão da Verdade, também será apresentado ao Ministério Público
Federal em Minas a fim de corroborar com as investigações referentes à
morte de cinco mineiros, ocorridas entre 1969 e 1979, e um
desaparecimento, em 1975. O acervo foi reunido nos últimos anos pelo
assessor especial da Comissão da Verdade da Ordem dos Advogados do
Brasil em Minas, Betinho Duarte.
A abertura das ações civis públicas pela
procuradoria de Direitos do Cidadão foi motivada pela morte do
ex-sargento da Aeronáutica e militante do Comando de Libertação Nacional
(Colina) João Lucas Alves em 1969. Na época, as autoridades divulgaram
que o mineiro teria pulado da janela de uma delegacia de Belo Horizonte,
mas essa versão é contestada em cartas de amigos e familiares e
depoimentos de colegas de guerrilha de Alves inéditos.
Um dos documentos que será entregue ao
MPF, traz declarações do exilado mineiro Angelo Pezzuti, morto em 1975,
contando detalhes das torturas sofridas pelo colega João Lucas Alves e
do encontro que teve com ele depois de preso. Ele também cita
fotografias onde Alves aparece machucado e com ossos quebrados. No
relato, Pezzuti aponta os nomes dos torturadores que atuavam na
delegacia de Furtos e Roubos da capital.
Outro caso que também está sendo
investigado pelo MPF é o da morte de Therezinha Viana de Assis. Ela foi
encontrada agonizando na porta de seu apartamento em Amsterdã, na
Holanda, onde foi exilada. Sua irmã Selma Viana de Assis enviou a
Betinho Duarte uma carta contando sobre os últimos meses de vida de
Terezinha. De acordo com a irmã, ela vinha sofrendo ameaças de morte e
que seu apartamento havia sido invadido.
Oficialmente, as autoridades declararam
que ela se suicidara. Também foram encaminhados documentos pessoais como
carteira de identidade, diploma de graduação em ciências econômicas e o
postais.
Cartas trocadas entre mães e filhos
também serão entregues por Betinho ao MPF com o objetivo de que outros
inquéritos sejam abertos para a investigar as mortes dos mineiros. “Vou
entregar tudo, pois existem casos contundentes que merecem ser
investigados.
Também vamos lutar para que o MPF
mineiro instale um grupo de trabalho de Justiça de Transição, como já
existe no Rio, pois todos os casos em Minas estão parados. Não sei de
uma pessoa que foi convocada para depor”, denunciou. O Hoje em Dia não
conseguiu contato com a promotora Silmara Goulart, responsável pela
promotoria.
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