segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Acumulam-se as nuvens da guerra

imagemCrédito: PCB


por KKE (Partido Comunista Grego)
"A nossa oposição a uma possível intervenção imperialista na Síria ou um ataque semelhante contra o Irã não significa que nos demitamos da atitude crítica que o nosso partido mantém em relação aos regimes burgueses desses países".
1. A crise capitalista, as dificuldades que a União Europeia mostra em a gerir – especialmente na zona do euro –, assim como os EUA, as suas consequências mesmo em países que ainda têm altas taxas de desenvolvimento, reforçam a competição, as contradições e a agressividade imperialista no sudeste asiático, no Mar Cáspio e na Ásia central, em África e na América Latina.
A evolução dos acontecimentos no Mediterrâneo oriental, e não só, é particularmente perigosa. Este facto é visível na concretização do plano imperialista que visa o alargamento da actividade dos grandes grupos empresariais dos estados membros da UE e dos EUA no Médio Oriente, no Norte de África, no Golfo Pérsico, assim como a aquisição de vantagens geoestratégicas na competição frente à Rússia, à China, e à aliança do BRICs que ameaça a supremacia dos EUA na pirâmide imperialista.
Esta situação está ligada à canalização do capital para conflitos militares como meio de controlar a crise capitalista.
A evolução dos acontecimentos está a demonstrar, constantemente e de modo mais persistente, a relação capitalismo-crise-guerra.
2. O principal objectivo de todas as potências imperialistas é o controlo e a exploração dos recursos naturais, do petróleo, do gás natural, da água, da energia e das "artérias" de transporte, para que os monopólios possam aumentar os seus lucros adquirindo maiores quotas nos mercados.
É esta a meta subjacente das guerras imperialistas que foram desencadeadas pelos EUA, pela NATO (OTAN) e pela UE – com a Grã-Bretanha e a França na linha da frente – no Afeganistão em 2001, no Iraque em 2003 e, recentemente, na Líbia. Estas guerras foram organizadas e travadas usando os pretextos do "combate ao terrorismo", da "prestação de ajuda humanitária" e de outras coisas que continuam a ser utilizadas hoje na preparação da nova guerra imperialista contra a Síria e o Irão.
3. O conflito militar na Síria, que começou em Março de 2011 e já causou a morte de milhares de pessoas, está constantemente a apresentar novos elementos, que estão ligados à intervenção estrangeira nos assuntos internos da Síria e ao conflito de potências imperialistas, regionais e globais, sob as condições da crise capitalista global.
Depois dos três vetos nos últimos meses da Rússia e da China no Conselho de Segurança, que deste modo impediram a "legitimação" internacional da intervenção militar estrangeira para o derrube do regime de Assad, assistimos ao reforço da operação dos EUA, da NATO, da Liga Árabe, da França, assim como dos "actores regionais", em especial da Turquia, do Qatar e da Arábia Saudita, no que se refere ao armamento e ao apoio mais geral das forças armadas anti-regime.
As posições nas "zonas de exclusão de voo", das "zonas de protecção aos refugiados", assim como o reconhecimento do governo das forças anti-regime, fazem parte do plano para preparação do ataque imperialista.
Em simultâneo, quando Obama invoca o perigo de o regime de Assad usar armas de destruição maciça (químicas, biológicas), que os EUA consideram como o "risco traçado na areia", está a preparar o terreno para uma possível provocação e intervenção militar, como no caso do Iraque.
No quadro da planejada intervenção militar, as potências imperialistas estão a concentrar forças aéreas e navais no Mediterrâneo oriental e no Golfo Pérsico.
Um factor básico que até agora tem atrasado e impedido a intervenção militar dos EUA, da NATO e da UE na Síria, é em particular a postura da Rússia que possui uma base militar no porto sírio de Tartus, assim como a postura da China que apoia o regime sírio.
A postura destas potências é ditada pelos principais interesses económicos, militares e políticos na região do Mediterrâneo oriental, do Golfo Pérsico e da Ásia central, que ficam ameaçados se os regimes na Síria e no Irão forem derrubados e substituídos por forças políticas que coloquem obstáculos na cooperação com a China-Rússia.
Os apoiantes de base do governo sírio são o Irã e o Hezbollah. O Irã, que sabe muito bem que, se o governo de Assad for derrubado, o nó corredio se apertará em volta do seu pescoço, já está a fornecer apoio político, económico e militar à Síria.
O conflito armado na Síria e a confrontação mais geral já alastrou às regiões vizinhas, conforme se verifica pelos conflitos no Líbano e no Sudeste da Turquia. A situação tem sido exacerbada pelas reacções desencadeadas na sequência do filme provocatório nos EUA, que insultou os islamitas.
A agudização da agressividade imperialista contra o Irã recrudesceu nos últimos meses com o embargo às exportações de petróleo e outras intervenções destinadas a deitar abaixo o seu governo.
Estas intervenções e a pressão para o adiamento e cancelamento do programa nuclear do Irão estão ligadas às ameaças e planos de Israel para bombardear as instalações nucleares do Irão.
Cada vez se torna mais óbvio que uma mudança na Síria, assim como o enfraquecimento do Hezbollah no Líbano, irá facilitar os planos de Israel para um ataque contra o Irão, planos que, se forem implementados, podem conduzir a uma guerra generalizada na nossa região com graves consequências, perda de vidas humanas e destruição material, e novas vagas de refugiados e de imigrantes.
4. Os acontecimentos que começaram há 18 meses na Síria têm as suas raízes nos problemas económicos, sociais e políticos no seio do país, problemas que a classe trabalhadora e outros estratos da população estão a sofrer. Esses problemas têm sido exacerbados nos últimos anos devido à linha política de reestruturações capitalistas (privatizações, redução dos direitos e dos rendimentos dos trabalhadores e da população) que são promovidos no interesse da classe burguesa interna para poder melhorar a sua posição no mercado capitalista internacional.
Em simultâneo houve a tentativa de uma intervenção imperialista nos assuntos internos da Síria, feita pelos EUA, UE, NATO, Israel, Turquia, Qatar e Arábia Saudita. Tornou-se óbvio que os EUA, a UE e Israel estão interessados na desestabilização e no enfraquecimento do equilíbrio das forças no seio do regime burguês sírio, porque os seus dirigentes são aliados das forças na Palestina, no Líbano e se opõem às posições imperialistas e aos planos para a região, planos que estão a ser promovidos pelos EUA, pela NATO e por Israel, que continua a ocupar território palestino, sírio e libanês.
O enfraquecimento do regime sírio, ou até mesmo o seu derrube, pode despertar o apetite não só dos planos imperialistas para atacar o Irão mas para um novo desmembramento de estados na região, para um efeito de dominó de desestabilização e banho de sangue, uma coisa que provocará novas guerras e intervenções imperialistas.
Em conclusão, podemos dizer que os festejos das forças burguesas e oportunistas em relação à chamada "Primavera Árabe" não tiveram razão de existir, foram subestimados ou ocultaram os objectivos imperialistas dos planos para um "Novo Médio Oriente", assim como os objectivos das classes burguesas desses países para desanuviar e manipular as reacções da população e para salvaguardar a perpetuação dos regimes capitalistas. Esta conclusão é sustentada, entre outras coisas, pela evolução das coisas na Tunísia e no Egipto que, além disso, reforçaram o seu papel na região.
Nestas condições, o KKE sublinha que o percurso da Síria é uma questão interna e que o nosso partido se concentra no elemento mais importante que, nesta altura, é a guerra imperialista e intervenções semelhantes na região, também com a participação da Grécia. A nossa oposição a uma possível intervenção imperialista na Síria ou um ataque semelhante contra o Irã não significa que nos demitamos da atitude crítica que o nosso partido mantém em relação aos regimes burgueses desses países.
5. A situação está a complicar-se devido à agudização da competição que tem sido desencadeada por causa dos hidrocarbonetos na EEZ [Zona Económica Exclusiva] de Chipre, da sua exploração na região da Grécia, assim como a tensão nas relações israelo-turcas.
Israel está a tentar compensar a quebra de relações com a Turquia através da melhoria da sua intervenção (económica, política, militar) em Chipre e na Grécia. Os seus planos foram fomentados durante o Verão através de repetidas visitas dos seus funcionários à Grécia e a Chipre.
6. O nosso partido afirma à classe trabalhadora e às populações na região que os seus interesses estão identificados com a luta conjunta anti-imperialista e anti-monopólios, o desligar-se das organizações imperialistas, a retirada das bases militares estrangeiras e das armas nucleares, o regresso a casa das forças militares em missões imperialistas e a integração desta luta na luta pelo poder. Só nesta base é que os povos podem viver pacifica e criativamente e usar os recursos naturais que serão propriedade da população para seu próprio benefício e para satisfazer as suas necessidades.
Neste momento é preciso reforçar a luta para impedir qualquer envolvimento, qualquer participação do nosso país nas guerras imperialistas!
18/Setembro/2012
Comissão Política do CC do KKE
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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