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por KKE (Partido Comunista Grego)
"A nossa oposição a uma possível
intervenção imperialista na Síria ou um ataque semelhante contra o Irã
não significa que nos demitamos da atitude crítica que o nosso partido
mantém em relação aos regimes burgueses desses países".
1. A crise capitalista,
as dificuldades que a União Europeia mostra em a gerir – especialmente
na zona do euro –, assim como os EUA, as suas consequências mesmo em
países que ainda têm altas taxas de desenvolvimento, reforçam a
competição, as contradições e a agressividade imperialista no sudeste
asiático, no Mar Cáspio e na Ásia central, em África e na América
Latina.
A evolução dos acontecimentos no
Mediterrâneo oriental, e não só, é particularmente perigosa. Este facto é
visível na concretização do plano imperialista que visa o alargamento
da actividade dos grandes grupos empresariais dos estados membros da UE e
dos EUA no Médio Oriente, no Norte de África, no Golfo Pérsico, assim
como a aquisição de vantagens geoestratégicas na competição frente à
Rússia, à China, e à aliança do BRICs que ameaça a supremacia dos EUA na
pirâmide imperialista.
Esta situação está ligada à canalização do capital para conflitos militares como meio de controlar a crise capitalista.
A evolução dos acontecimentos está a demonstrar, constantemente e de modo mais persistente, a relação capitalismo-crise-guerra.
2. O principal
objectivo de todas as potências imperialistas é o controlo e a
exploração dos recursos naturais, do petróleo, do gás natural, da água,
da energia e das "artérias" de transporte, para que os monopólios possam
aumentar os seus lucros adquirindo maiores quotas nos mercados.
É esta a meta subjacente das guerras
imperialistas que foram desencadeadas pelos EUA, pela NATO (OTAN) e pela
UE – com a Grã-Bretanha e a França na linha da frente – no Afeganistão
em 2001, no Iraque em 2003 e, recentemente, na Líbia. Estas guerras
foram organizadas e travadas usando os pretextos do "combate ao
terrorismo", da "prestação de ajuda humanitária" e de outras coisas que
continuam a ser utilizadas hoje na preparação da nova guerra
imperialista contra a Síria e o Irão.
3. O conflito militar
na Síria, que começou em Março de 2011 e já causou a morte de milhares
de pessoas, está constantemente a apresentar novos elementos, que estão
ligados à intervenção estrangeira nos assuntos internos da Síria e ao
conflito de potências imperialistas, regionais e globais, sob as
condições da crise capitalista global.
Depois dos três vetos nos últimos meses
da Rússia e da China no Conselho de Segurança, que deste modo impediram a
"legitimação" internacional da intervenção militar estrangeira para o
derrube do regime de Assad, assistimos ao reforço da operação dos EUA,
da NATO, da Liga Árabe, da França, assim como dos "actores regionais",
em especial da Turquia, do Qatar e da Arábia Saudita, no que se refere
ao armamento e ao apoio mais geral das forças armadas anti-regime.
As posições nas "zonas de exclusão de
voo", das "zonas de protecção aos refugiados", assim como o
reconhecimento do governo das forças anti-regime, fazem parte do plano
para preparação do ataque imperialista.
Em simultâneo, quando Obama invoca o
perigo de o regime de Assad usar armas de destruição maciça (químicas,
biológicas), que os EUA consideram como o "risco traçado na areia", está
a preparar o terreno para uma possível provocação e intervenção
militar, como no caso do Iraque.
No quadro da planejada intervenção
militar, as potências imperialistas estão a concentrar forças aéreas e
navais no Mediterrâneo oriental e no Golfo Pérsico.
Um factor básico que até agora tem
atrasado e impedido a intervenção militar dos EUA, da NATO e da UE na
Síria, é em particular a postura da Rússia que possui uma base militar
no porto sírio de Tartus, assim como a postura da China que apoia o
regime sírio.
A postura destas potências é ditada
pelos principais interesses económicos, militares e políticos na região
do Mediterrâneo oriental, do Golfo Pérsico e da Ásia central, que ficam
ameaçados se os regimes na Síria e no Irão forem derrubados e
substituídos por forças políticas que coloquem obstáculos na cooperação
com a China-Rússia.
Os apoiantes de base do governo sírio
são o Irã e o Hezbollah. O Irã, que sabe muito bem que, se o governo de
Assad for derrubado, o nó corredio se apertará em volta do seu pescoço,
já está a fornecer apoio político, económico e militar à Síria.
O conflito armado na Síria e a
confrontação mais geral já alastrou às regiões vizinhas, conforme se
verifica pelos conflitos no Líbano e no Sudeste da Turquia. A situação
tem sido exacerbada pelas reacções desencadeadas na sequência do filme
provocatório nos EUA, que insultou os islamitas.
A agudização da agressividade
imperialista contra o Irã recrudesceu nos últimos meses com o embargo às
exportações de petróleo e outras intervenções destinadas a deitar
abaixo o seu governo.
Estas intervenções e a pressão para o
adiamento e cancelamento do programa nuclear do Irão estão ligadas às
ameaças e planos de Israel para bombardear as instalações nucleares do
Irão.
Cada vez se torna mais óbvio que uma
mudança na Síria, assim como o enfraquecimento do Hezbollah no Líbano,
irá facilitar os planos de Israel para um ataque contra o Irão, planos
que, se forem implementados, podem conduzir a uma guerra generalizada na
nossa região com graves consequências, perda de vidas humanas e
destruição material, e novas vagas de refugiados e de imigrantes.
4. Os acontecimentos
que começaram há 18 meses na Síria têm as suas raízes nos problemas
económicos, sociais e políticos no seio do país, problemas que a classe
trabalhadora e outros estratos da população estão a sofrer. Esses
problemas têm sido exacerbados nos últimos anos devido à linha política
de reestruturações capitalistas (privatizações, redução dos direitos e
dos rendimentos dos trabalhadores e da população) que são promovidos no
interesse da classe burguesa interna para poder melhorar a sua posição
no mercado capitalista internacional.
Em simultâneo houve a tentativa de uma
intervenção imperialista nos assuntos internos da Síria, feita pelos
EUA, UE, NATO, Israel, Turquia, Qatar e Arábia Saudita. Tornou-se óbvio
que os EUA, a UE e Israel estão interessados na desestabilização e no
enfraquecimento do equilíbrio das forças no seio do regime burguês
sírio, porque os seus dirigentes são aliados das forças na Palestina, no
Líbano e se opõem às posições imperialistas e aos planos para a região,
planos que estão a ser promovidos pelos EUA, pela NATO e por Israel,
que continua a ocupar território palestino, sírio e libanês.
O enfraquecimento do regime sírio, ou
até mesmo o seu derrube, pode despertar o apetite não só dos planos
imperialistas para atacar o Irão mas para um novo desmembramento de
estados na região, para um efeito de dominó de desestabilização e banho
de sangue, uma coisa que provocará novas guerras e intervenções
imperialistas.
Em conclusão, podemos dizer que os
festejos das forças burguesas e oportunistas em relação à chamada
"Primavera Árabe" não tiveram razão de existir, foram subestimados ou
ocultaram os objectivos imperialistas dos planos para um "Novo Médio
Oriente", assim como os objectivos das classes burguesas desses países
para desanuviar e manipular as reacções da população e para salvaguardar
a perpetuação dos regimes capitalistas. Esta conclusão é sustentada,
entre outras coisas, pela evolução das coisas na Tunísia e no Egipto
que, além disso, reforçaram o seu papel na região.
Nestas condições, o KKE sublinha que o
percurso da Síria é uma questão interna e que o nosso partido se
concentra no elemento mais importante que, nesta altura, é a guerra
imperialista e intervenções semelhantes na região, também com a
participação da Grécia. A nossa oposição a uma possível intervenção
imperialista na Síria ou um ataque semelhante contra o Irã não significa
que nos demitamos da atitude crítica que o nosso partido mantém em
relação aos regimes burgueses desses países.
5. A situação está a
complicar-se devido à agudização da competição que tem sido desencadeada
por causa dos hidrocarbonetos na EEZ [Zona Económica Exclusiva] de
Chipre, da sua exploração na região da Grécia, assim como a tensão nas
relações israelo-turcas.
Israel está a tentar compensar a quebra
de relações com a Turquia através da melhoria da sua intervenção
(económica, política, militar) em Chipre e na Grécia. Os seus planos
foram fomentados durante o Verão através de repetidas visitas dos seus
funcionários à Grécia e a Chipre.
6. O nosso partido
afirma à classe trabalhadora e às populações na região que os seus
interesses estão identificados com a luta conjunta anti-imperialista e
anti-monopólios, o desligar-se das organizações imperialistas, a
retirada das bases militares estrangeiras e das armas nucleares, o
regresso a casa das forças militares em missões imperialistas e a
integração desta luta na luta pelo poder. Só nesta base é que os povos
podem viver pacifica e criativamente e usar os recursos naturais que
serão propriedade da população para seu próprio benefício e para
satisfazer as suas necessidades.
Neste momento é preciso reforçar a luta
para impedir qualquer envolvimento, qualquer participação do nosso país
nas guerras imperialistas!
18/Setembro/2012
Comissão Política do CC do KKE
O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-09-19-apofasi-pg-diethni/ .
Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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