Blog do Pedlowisk
Eu
sei que a palavra "populismo" é tida como ofensa por muitos,
especialmente por aqueles que praticam esta forma de fazer política. O
populismo, ainda que não seja criação latino-americana, tem por aqui um
peso significativo nas práticas que a maioria das forças partidárias
realizam. A causa disto não precisa ser procurada nas qualidades ou
defeitos pessoais das lideranças que o utilizam para manter as "massas'
presas num verdadeiro atoleiro social.
O
populismo é muito mais do que uma mostra de falta de caráter de seus
praticantes. Esta forma de fazer política-partidária e de governar tem
tudo a ver com aquilo que o sociólogo Florestan Fernandes alcunhava de
desenvolvimento heteronômico, que vem a ser uma forma particular pelo
qual o avanço do Capitalismo no Brasil se deu de uma forma subordinada
aos interesses do grande capital internacional, nos colocando numa forma
de contínuo subdesenvolvimento. É neste quadro de dependência cultural e
econômica que o populismo se estabelece e dissemina.
Se
olharmos para a situação política e econômica de municípios como Campos
dos Goytacazes e São João da Barra poderemos entender perfeitamente
como a elaboração teórica de Florestan Fernandes ecoa nas práticas
cotidianas das lideranças políticas. Uma coisa comum entre as
diferentes facções que se degladiam pelo poder é que as respostas sempre
vêm de fora, seja através da Petrobras ou de Eike Batista. Aliás, no
caso de Campos, a resposta já foi um dia a chegada da McDonald´s que foi
associada pelo líder mór do populismo "made no Norte Fluminense" como
uma demonstração de que o progresso havia finalmente chegado à planície
outrora habitada pelos Goytacazes.
Mas,
convenhamos, o ex-governador, atual deputado federal, e primeiro damo
da cidade de Campos pode ser apenas o mais hábil dos populistas, mas
está de longe de ser o único. Alás, o que eu mais vejo por aqui é gente
que anda, fala e gesticula como populista, mas se ressente de não ter o
mesmo carisma e a mesma lábia de Anthony Garotinho. Mas se olharmos de
uma distância até grande, veremos os mesmos traços das práticas que são
condenadas em Garotinho, sendo abraçadas e praticadas pelos seus
detratores.
Para
mim uma marca indisfarçável do populismo é a ojeriza pela organização
autônoma dos trabalhadores e da população em geral. Em função disto, tem
muito sindicato por estas bandas em que os chefes e gerentes presidem
os sindicatos de classe, o que deixa os sindicalizados na condição
impossível de ir reclamar seus direitos no sindicato, sob pena do chefe
ora travestido de sindicalista telefonar para a empresa e ordenar a
confecção da carta de demissão por justa causa. E não pensem que isto só
acontece em Campos, pois sei que isto também acontece na Eikelândia.
Outra
característica singular do populismo é que seus lideres adoram ocupar o
papel de Messias. Afinal, o messianismo político serve para que os
seguidores se desvinculem da necessidade de analisar criticamente o que
fazem seus líderes. E como muita gente aceita esse modelo de salvação em
buscas de benesses, os reais perdedores são aqueles que ficam na ponta
do sistema apenas sendo usados em períodos eleitorais para apertar o
botão da urna eletrônica e decidir qual populista ocupará o poder por um
determinado período. Mas a verdade é que sejam quais as diferenças que
existam entre este e aquele "messias", o traço comum é a ojeriza ao
pensamento crítico e à ação política autônoma. E aquele paradigma
defendido pelo Messias original de "dar a outra a face", isto então, nem
pensar.
A
questão é que o populismo só será ameaçado (pensar em acabar com ele
deverá ser trabalho de várias gerações) por aqui quando tivermos
lideranças que ousem se descolar de todos os líderes populistas para
abraçar uma agenda de mudança verdadeira. Do contrário, continuaremos
condenados a ver as alternâncias de grupos populistas no poder e de
sentir os efeitos de sua fome irrefreável sobre os bens de natureza
coletiva.
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