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A insustentabilidade do capitalismo e a luta dos trabalhadores
A Conferência da Organização das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente, a se realizar em junho de 2012, 20 anos
após a Rio 92, vem recebendo importante destaque na mídia e atraindo a
atenção e o interesse de pessoas e movimentos sociais preocupados com a
sustentabilidade. O fórum – mais um dos megaeventos promovidos nesta
cidade –, será fortemente marcado não apenas pela aceleração da
degradação ambiental mundial mas também pela grave crise econômica que
se mantém, forte, no plano internacional, e foi fator determinante para o
fracasso da Conferência anterior (Copenhagem - 2009).
Os fatos são claros: não há como negar
as drásticas mudanças climáticas, o desmatamento, a desertificação, a
perda acelerada da biodiversidade, o esgotamento iminente de reservas de
recursos naturais. Já foi ultrapassada, para muitos fatores, a
capacidade de absorção dos sistemas naturais, como no caso da emissão de
gás carbônico (CO2) e outros gases causadores do efeito estufa – o
aquecimento da atmosfera acima de sua taxa natural –, ou no que diz
respeito ao lançamento de poluentes nos rios, lagos e mares; tampouco há
como esconder-se a miséria, o desemprego em grande escala, a
deterioração das condições de vida e trabalho que afligem a maioria da
humanidade, agravadas, ainda mais, pela crise econômica.
A possibilidade de uma crise ambiental
mundial, com consequências nefastas para a produção agrícola e
industrial, há muito foi levantada. Em 1972, o chamado Clube de Roma –
associação de cientistas e personalidades voltados para a temática
ambiental – divulgou relatório com projeções para as tendências de
crescimento da população, consumo de recursos naturais, produção
industrial e poluição. O resultado apontava para o esgotamento dos
recursos e para um colapso nos sistemas naturais que atingiria, por
conseguinte, a sociedade como um todo. A proposição apresentada para que
a catástrofe fosse evitada – o “crescimento zero” para as economias de
todos os países – recebeu, então, inúmeras críticas, pois manteria
inalteradas as condições de vida dos países mais ricos e condenaria à
miséria perpétua as nações mais pobres.
As razões para a crise ambiental estão
na lógica do sistema capitalista, hoje internacionalizado e monopolista,
fundado na produção material como base da geração de riqueza e na
exploração da classe trabalhadora pelas empresas privadas. Assim como a
apropriação dos valores gerados pelos trabalhadores, mundialmente, se dá
de forma desigual entre estes e os proprietários dos meios de produção,
a quem cabe uma parcela infinitamente superior dos ganhos, é também
extremamente desigual a apropriação dos recursos da natureza pelas
classes sociais. Para a burguesia, a energia, os recursos naturais
transformados em matérias primas; para os trabalhadores, a devastação, o
lixo, as doenças, o custo social da poluição.
Está na natureza do capitalismo a busca
de escalas crescentes de produção de bens de consumo, de muitos milhões
de automóveis, aparelhos eletrônicos, alimentos industrializados, de
mais viadutos, anúncios luminosos. O sistema capitalista cria novas
necessidades de bens supérfluos que exigem mais consumo – opulento para a
burguesia, limitado para a maioria e mesmo inexistente para grande
parte da humanidade –, com mais investimentos em novas tecnologias que
alimentam esta escala de produção e a competição entre as empresas
privadas. Para manter este estado de coisas, usam-se cada vez mais
matérias primas, cada vez mais energia, conformando um quadro claramente
insustentável para o meio ambiente.
A ação das grandes empresas se estende à
busca de garantias de fornecimento de seus insumos de produção. Os
grupos econômicos apoiam-se no poder dos Estados para a garantia desses
suprimentos, para o petróleo, o carvão e o urânio – responsáveis pela
maior parte da energia gerada no planeta –, para o minério de ferro, o
chumbo, a prata e outros recursos naturais, comercializados como
qualquer outra mercadoria, essenciais para a fabricação de inúmeros
produtos. Os Estados, por sua vez, agem em conformidade com os
interesses da classe que domina a sociedade, a classe burguesa,
favorecem as empresas no plano de cada país, garantem aos grupos
privados a terra em grandes lotes, o acesso às jazidas, a liberdade de
explorar recursos florestais e pesqueiros com pouco ou nenhum ônus e as
apoiam na obtenção de contratos de suprimento por preços baixos.
O novo Código Florestal brasileiro
recentemente aprovado é um claro exemplo da proteção dada pelo Estado
brasileiro aos ruralistas, responsáveis por grande parte do desmatamento
da Amazônia, Cerrado e outros biomas do país, cuja produção sequer
prioriza os alimentos para o consumo interno. A destinação de mais de
50% do orçamento público brasileiro para a amortização de dívidas e
pagamento de juros aos bancos privados, em detrimento dos investimentos
em saúde, educação e outras áreas sociais mostra, igualmente, a
vinculação prioritária do Estado à satisfação das necessidades
burguesas.
Este poder das grandes corporações,
apoiadas diretamente pela ação dos Estados, o Imperialismo, conforme a
análise de Lênin, se exerce pela sua força de monopólio, determinante
na dominação dos mercados, pelo exercício da hegemonia política no plano
mundial ou mesmo pela presença militar dos países mais fortes nas
regiões produtoras de matérias primas importantes, e se volta para a
imposição dos valores do capitalismo e a garantia da prevalência dos
interesses empresariais e dos Estados mais fortes.
Nesse sentido, as recentes ações
militares comandadas pelos Estados Unidos e seus aliados no Iraque, no
Afeganistão e na Líbia (detentora de grandes reservas de água, além do
petróleo), a reentrada em operação da IV Frota Naval norteamericana no
Atlântico Sul para acesso à s reservas de petróleo e gás natural
brasileiras, a escalada de construção de novas bases militares dos EUA
em diversas regiões do globo e a manutenção de bases nos países do
Oriente Médio e outras regiões estratégicas, para a garantia de
fornecimento de petróleo e outros recursos estratégicos são exemplos do
uso da forma militar; a forte presença de empresas internacionais, como a
Nestlé, na produção agrícola de países africanos – à custa de
significativo desmatamento –, das petrolíferas e mineradoras
multinacionais em países menos desenvolvidos são casos ilustrativos da
ação direta das companhias com o apoio dos Estados que lhes dão base; a
estrutura e a ação da maioria dos organismos multilaterais, que, mesmo
posicionando-se de forma positiva em relação às questões ambientais, são
dotados de poucos recursos para financiar ações efetivas para a
promoção da sustentabilidade, são exemplos do exercício da hegemonia
capitalista.
Mesmo o controle da água potável,
imprescindível para a vida humana, torna-se instrumento de controle
imperialista e burguês, como já demonstram as reservas de empresas como
Nestlé e Coca-Cola, e a presença de uma base militar norte-americana
sobre o aquífero Guarany, no Paraguai. Neste aspecto, cabe lembrar como
guia de ação de todos nós as ações promovidas pelo povo boliviano quando
da tentativa de privatização da chuva, naquele país.
A hegemonia burguesa está presente
também nas conferências e eventos internacionais que tratam da questão
da sustentabilidade. Ainda que muitos avanços venham sendo obtidos, como
a primeira definição de desenvolvimento sustentável, produzida no
âmbito da ONU, em 1987 – a satisfação das necessidades das gerações
atuais sem o comprometimentos da satisfação das necessidades das
gerações futuras –, o estabelecimento na Rio 92, de uma Agenda para os
Estados promoverem ações no rumo da sustentabilidade, incluindo a
redução de gastos militares e a promoção da educação pública, muito
pouco foi feito no plano concreto.
A criação do Protocolo de Quioto, nos
anos 90, sob forte influência do ideário neoliberal então hegemônico na
maioria dos países, e a sua entrada em vigor em 2004, mesmo sem a adesão
dos EUA, embora tenha produzido ações efetivas, tampouco se constituiu
num mecanismo capaz de combater as causas sistêmicas da degradação. É
fato que o Protocolo, contribuiu para a causa ambiental ao estabelecer
metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa dos países
desenvolvidos – com a possibilidade de “repasse” de suas quotas para os
países em desenvolvimento, mediante a oferta de financiamento para os
respectivos projetos, no que se geradas por sua estrutura de mercado
delimitam muito o seu potencial, e a flutuação do valor dos títulos
sofre a influência de fatores como a própria credibilidade e importância
atribuída ao sistema. Com o alastramento da crise econômica mundial e o
fracasso da Conferência de Copenhaguem, reduziram-se as operações e,
hoje, mesmo que venha a ser renovado ao final de 2012 (quando será
revisto), o Protocolo deverá sofrer uma significativa redução em sua
efetividade.
No terreno mercantil estão também, em
sua grande maioria, as proposições da chamada Economia Verde, que, tendo
como base teórica a economia de mercado e a propriedade privada dos
meios de produção, parte do pressuposto de que é possível melhorar as
condições ambientais sem alterações de fundo na estrutura produtiva
capitalista. com base na mercantilização e precificação de todos os bens
ambientais, como a água, esta corrente identifica boas oportunidades de
negócios. São apresentadas, assim, soluções como a busca de substitutos
mais amigáveis para os insumos poluentes ou em vias de exaustão, o uso
mais eficiente das atuais fontes energéticas, o uso mais intensivo das
fontes renováveis e a pesquisa de novas fontes e a maior utilização de
materiais recicláveis, entre outras. Pela educação de vontades, que
faria dos consumidores cidadãos mais conscientes em suas escolhas,
levando à seleção de produtos mais amigáveis, e pela construção de uma
responsabilidade ambiental das empresas, que estimularia investimentos
em processos menos poluentes, com menos gastos de energia para produtos
menos lesivos ao meio ambiente, a sociedade seria conduzida para um
mundo sustentável, melhor e mais limpo.
A hegemonia capitalista responde,
também, pela base de análise e pelo tom da maioria das propostas de
intervenção e das iniciativas tomadas por movimentos e grupos diversos
que buscam contribuir para a melhoria das condições ambientais e para a
proposição de alternativas para a construção do desenvolvimento
sustentável. Embora alguns destes movimentos denunciem certos aspectos
do capitalismo, sua grande maioria não propõe mudanças de fundo na
estrutura da produção e da sociedade e estas proposições traduzem-se, em
geral, em ações de pequeno porte que produzem pouco impacto na
sustentabilidade. Mais ainda, estas ideias atribuem aos indivíduos a
possibilidade de mudar as coisas, deixando de lado qualquer aceno à
organização, à reflexão e à ação coletiva. A “conscientização” proposta,
ao não focalizar as razões estruturais para a crise ambiental, age como
uma luz que lança trevas e impede a constatação do problema real pela
maioria da população.
Como afirmava Marx, o capitalismo não
cairá de podre pelo efeito mecânico de suas contradições. Tampouco se
pode afirmar que o sistema deixará de existir por conta da poluição ou
mesmo da possibilidade de exaustão de recursos naturais, como no caso,
mais iminente, dos combustíveis fósseis, que respondem, hoje, por mais
de dois terços da produção de energia no mundo.
Devemos atuar na Rio + 20 e para além da
Conferência com a convicção de que, para que haja uma efetiva mudança
de rumo, apontando para a superação do quadro de degradação ambiental
que ameaça a continuidade da própria vida na Terra, há que atacar-se as
causas de fundo da questão. Há que combater-se o capitalismo em suas
bases econômicas, nas estruturas de poder que engendra, no campo das
ideias, nos mecanismos que criam e reproduzem sua hegemonia política.
É preciso encarar a luta pela
sustentabilidade como uma luta anticapitalista. Devemos seguir na
batalha pelo desenvolvimento sustentável, mas entendendo-o como um
processo que leve todas as sociedades do planeta à justiça e à
igualdade social, não repetindo, assim, a trajetória dos países
capitalistas desenvolvidos, que construíram sua riqueza às custas da
exploração dos trabalhadores, da exclusão social, da destruição dos
sistemas naturais e da exaustão dos recursos.
O combate às causas reais da degradação
exige a estatização, sob controle popular, das grandes empresas
industriais e agrárias, exige o fim da exploração privada dos
transportes para a expansão dos sistemas públicos, da produção e
distribuição de energia, do sistema financeiro e de outros setores
essenciais da sociedade, para que seja empreendido um novo tipo de
desenvolvimento, efetivamente sustentável, nos planos ambiental e
social, com a reordenação da produção para o atendimento das
necessidades materiais básicas de todos, a promoção da universalidade do
acesso aos alimentos, ao emprego, à moradia, à cultura, à educação em
todos os níveis, a todas as garantias sociais para os trabalhadores.
Para levar avante esta luta, devemos construir, desde já, o Poder
Popular.
Os movimentos sociais e as forças
políticas que identificam o caráter anticapitalista da luta ambiental
devem ter como objetivos a construção de uma nova ordem mundial, com uma
profunda alteração na estrutura de poder das organizações
multilaterais. A criação de uma Organização das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, com poder real de intervenção, com a taxação dos fluxos
financeiros internacionais para a cobertura das ações necessárias, pode
vir a ser um primeiro passo nesta direção.
O Ser Humano é fruto e senhor da
natureza. Cabe à maioria da humanidade a decisão sobre seu destino, que,
em nosso entendimento, deve voltar-se para o desenvolvimento pleno de
todas as potencialidades do ser humano, o que somente será possível com a
superação da exploração da exploração do Ser Humano pelo próprio Ser
Humano, com o fim do capitalismo e a construção do Socialismo, apontando
para a sociedade sem diferenciação de classes, a sociedade Comunista.
Junho de 2012
Comitê Central do PCB - Partido Comunista Brasileiro
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