Crédito: PCB | |
Miguel Urbano Rodrigues
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército Popular (FARC-EP) comemoraram 48 anos no dia 27 de Maio.
O acontecimento foi festejado nas selvas
e montanhas do país pelos milhares de combatentes que se batem por uma
Colômbia independente, democrática e progressista.
Não há precedente na história da América
Latina para uma saga revolucionária comparável. Fundada há quase meio
século, aguerrilha das FARC-EP luta contra o mais poderoso exército do
Sul do Hemisfério (300 000 homens), armado e financiado pelo
imperialismo estadounidense.
Cedendo a pressões de Washington, as
FARC-EP foram colocadas pela ONU e pela União Europeia na lista das
organizações terroristas e os membros do seu Estado-maior Central têm a
cabeça a prémio por milhões de dólares.
Uma campanha de âmbito mundial, montada
pelo Pentágono e a CIA, colou às FARC-EP o rótulo infamante de
«narcoguerrilha».Sucessivos governos anunciaram ao longo dos anos em
Bogotá o seu fim iminente. Mas não há calúnia nem discurso
dospresidentes e generais da oligarquia que possa esconder o óbvio: as
FARC-EP, que se assumem como uma guerrilha-partido marxista leninista,
prosseguem a luta em múltiplas Frentes rumo à conquista distante do
poder, e todos os meses os comunicados do secretariado do seu Estado
Maior Central tornam publicas acções de combate em que são infligidas
pesadas baixas ao exército.
O actual presidente colombiano, Juan
Manuel Santos, usando outro discurso, prossegue, no fundamental, a
politica neofascista deÁlvaro Uribe. A sua estratégia de «Segurança» dá
continuidade a uma politica de repressão e terror; o Plano «Prosperidade
paraTodos» é um slogan de humor negro forjado para aumentar a
desigualdade social em benefício da classe dominante. A adesão da
Colombia ao Tratado de Livre Comercio com os EUA contribuiu para
reforçar a situação de semi- colónia do país .
Oito novas bases militares dos EUA foram
instaladas no país, que é, depois de Israel, o aliado que recebe de
Washington a mais volumosa «ajuda» financeira. Não surpreende que os
grandes media norte americanos definam hoje a Colombia como uma
«democracia modelo», atraente para os investidores, e identifiquem nela
um exemplo para a América Latina.
O presidente Obama voltou, alias, na
Cimeira de Cartagena de Índias a elogiar «a politica de pacificação» e
de «abertura aodiálogo» de Juan Manuel Santos. Sabe que mente. Na
repressão desencadeada contra participantes na Marcha Patriótica pela
Paz – 100 000 pessoas vindas de todo o país - ficou transparente a
politica de violência do regime.
A desindustrialização avança, a miséria
alastra, as máfias do narcotráfico actuam impunes, em alianças
subterrâneas com oparamilitarismo e altas patentes das Forças Armadas.
Como era de esperar, a imagem que os
porta vozes do Governo português transmitem da Colombia é a da
«democracia modelo», a grande aliada dos EUA na América Latina. Em
meados de Junho, o primeiro-ministro visitará Bogotá acompanhado de
umacomitiva de empresários, esperançados em grandes negócios.
Passos Coelho e Juan Manuel Santos vão
certamente entender-se maravilhosamente. Falam a mesma linguagem, têm o
mesmo desprezo pelo povo. São frutos da mesma árvore.
A Colombia que respeito e admiro é
outra, incompativel com a da oligarquia financeira e dos terratenientes,
financiada e colonizada pelo imperialismo.
A minha Colombia é a sonhada por
Bolívar, aquela cujos filhos se bateram em Boyacá e Ayacucho pela
liberdade e pelaindependência, a Colombia que aprendi a conhecer e amar
no convívio dos guerrilheiros das FARC-EP, num acampamento de Raul
Reyes, algures nas selvas do Caquetá .
Já escrevi e repito que foi para mim um
privilégio ter conhecido revolucionários com a têmpera dos comandantes
ManuelMarulanda, Raul Reyes (assassinado no Equador em operação pirata,
com a cumplicidade do Pentágono, da CIA e da Mossad), Alfonso Cano,
Jorge Briceño (assassinados em bombardeamentos criminosos), Simon
Trinidad (sequestrado em Quito e extraditado para os EUA).
No 48º aniversário das FARC-EP
comunistas como eles inspiram-me comovida admiração. Encarnam bem a
coragem, a esperança, a tenacidade e o espírito de luta dos povos da
América Latina, oprimidos e humilhados pelo imperialismo estadounidense,
hoje o grande inimigo da humanidade.
Vila Nova de Gaia, 30 de Maio de 2012
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