terça-feira, 16 de abril de 2013

Os desafios de Maduro – Vitória apertada do chavismo




imagem Por: Rafael Rico Ríos

Tribuna Popular TP – OPINIÓN.- (jornal do Partido Comunista da Venezuela) Às 23:16 horas, hora venezuelana, o Centro Nacional Eleitoral (CNE) apresenta o primeiro boletim com resultados irreversíveis. Com a contagem de 99,12% dos votos, Nicolás Maduro Moros ganha as eleições presidenciais de 2013, com 50,66% e 7.505.338 votos, diante de 49,07% e 7.270.403 votos de Capriles Radonsky. Á noite, em Caracas, rompe um silêncio tenso que parecia interminável com uma avalanche de gritos que até o próprio Chávez pode escutar do além.
São 17 vitórias do chavismo em 18 processos eleitorais ao longo de 14 anos e a primeira na ausência de Hugo Chávez. A participação foi de 78, 71%, o que supõe apenas 3% menos que nas eleições presidenciais de 7 de outubro. O chavismo ganha por apenas uma diferença de 300.000 votos, com resultados muito menores que os prognosticados nas pesquisas. A oposição venezuelana pede a contagem de todos os votos para reconhecer os resultados.
Ainda assim, trata-se de uma nova vitória do Chavismo, cuja primeira conclusão é que se confirma que a Revolução Bolivariana não é somente Hugo Chávez e sim um verdadeiro movimento político e social. Por outro lado, nesta campanha eleitoral ficou evidente que a oposição venezuelana é formada por um grupo heterogêneo de partidos políticos, sem uma direção clara, cujo nexo de união, mais que uma questão ideológica, vem sendo, até agora, tirar Chávez do poder e acabar com o Chavismo.
Isto demonstra que um dos mais importantes legados de Hugo Chávez foi formar um poderoso movimento ideológico de esquerdas e romper com o paradigma da política venezuelana, caracterizada pelo jogo de partidos unidos apenas por um conjunto de interesses pessoais, sem fundo ideológico.
Esta campanha eleitoral foi muito curta, apenas 10 dias, caracterizada por maratonas de marchas e exibições de convocatórias por um ou outro lado, onde o debate político esteve marcado pelas questões sociais. O Chavismo conseguiu que a direita venezuelana centrasse seu discurso nos aspectos sociais e que os mais pobres sejam os protagonistas das campanhas.
Apesar desta nova orientação social do discurso da direita, os meios de comunicação comerciais trataram de alienar a campanha, centrando sua campanha comunicacional em boatos e ridicularizando o Chavismo. Em alguns casos, o Chavismo caiu na armadilha e se enredou no debate destes boatos difundidos pelos meios comerciais, no lugar de analisar a profundidade do debate de luta de classes e construção de uma nova sociedade mais justa.
A sociedade venezuelana, com sua Revolução Bolivariana, conseguiu colocar em pauta o debate das contradições sociais. O votante chavista, que manteve o apoio ao processo, demonstrou que não importam os boatos, nem a imagem, nem as formas. O que importa é o compromisso político adquirido nos últimos tempos e, muito especialmente, com a morte de Hugo Chávez.
A campanha eleitoral foi marcada pela força do lema: “Chávez, te juro”. Um lema que vai além do “Chávez, juro, meu voto é para Maduro”, como se cantou várias vezes durante toda a campanha. “Chávez, te juro”, nasceu de um sentimento popular surgido dias após a morte de Hugo Chávez. Trata-se de um forte compromisso político interiorizado por milhares de venezuelanos e venezuelanas, forjado dias depois da morte de Chávez e que dá uma nova dimensão a este processo.
A direita derrotada, que uma vez mais vê como os imensos recursos energéticos da primeira reserva mundial de petróleo escaparam de seu controle por uma diferença de apenas 300.000 votos, não aceita os resultados e tentam denunciar uma fraude eleitoral.
No entanto, o sistema eleitoral venezuelano foi observado, auditado e analisado por especialistas internacionais, que reconheceram sua idoneidade, transparência e confiança. O ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, através do Centro Carter, atua como observador internacional em distintos processos eleitorais de todo o mundo, inclusive o venezuelano. Carter afirma que: “Das 92 eleições que monitoramos, eu diria que o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo”. A Venezuela possui um sistema de votação totalmente automatizado desde o ano 2004, com 16 auditorias, em todas as fases do processo eleitoral, que são acordadas e aprovadas por todos os partidos políticos participantes.
Os desafios de Maduro ante uma vitória apertada Com esta mínima vitória do Chavismo, se inicia uma nova etapa na historia da Venezuela, onde Nicolás Maduro tem que responder à responsabilidade de continuar com a Revolução Bolivariana e deve avançar na construção de uma nova sociedade com uma ideologia chamada socialismo do século XXI. Além disso, tem que manter a unidade do Chavismo, defender o processo dos ataques da direita e superar os grandes erros na gestão do governo bolivariano, cujas faturas lhes estão sendo cobradas.
Deverá superar os principais problemas que mais preocupam a sociedade venezuelana, como a violência, a corrupção, a ineficiência na gestão pública e as distorções econômicas, que geram fenômenos que afetam os setores populares como a inflação. Deverá aplicar o Programa da Pátria 2013-2019, onde estão contidas as bases de desenvolvimento da Venezuela, projetadas por Hugo Chávez para este período presidencial. Um período presidencial que pode ser interrompido pela metade do mandato por um referendo revocatório, contemplado na Constituição Bolivariana, no caso de o governo bolivariano não melhorar sua gestão.
No plano internacional, deverá continuar com a integração latino-americana, com a ALBA, UNASUL e CELAC, além de aprofundar as relações Sul-Sul e o modelo de cooperação para os países do Sul, a relação da América e da África, a relação com os Estados Unidos da América, a integração no Mercosul e a construção de um mundo multipolar.
Por outro lado, continuará a batalha contra os meios de comunicação comerciais e contra os interesses que defendem. Deverá melhorar a eficiência dos meios de comunicação públicos para transmitir os progressos na gestão do governo, aprofundar o direito à informação e esclarecer o papel dos meios alternativos dentro do Sistema Nacional de Meios Públicos.
No social, necessitará cumprir com o reimpulso e a revisão das missões sociais, fortalecer o sistema educativo e o sistema de saúde. Continuar o debate do papel da mulher na nova sociedade, sobre o desenvolvimento integral das crianças, a questão indígena e seu enfrentamento aos grandes proprietários de terras, avançar nas políticas de inclusão social e continuar com a luta contra a marginalidade.
Na ciência, tecnologia e o conhecimento, deverá aprofundar a soberania tecnológica, continuar com a implantação do Software Livre na administração pública, debater sobre a propriedade intelectual e seu impacto no desenvolvimento econômico e buscar mecanismos de inovação ligados ao desenvolvimento produtivo e social.
Deverá potencializar a produção agropecuária, a indústria de alimentos e diminuir a importante importação de alimentos. Continuará o debate sobre a questão petrolífera, sobre a recuperação dos setores estratégicos do país e melhorar a gestão das quase 1200 empresas expropriadas. Terá que apostar na industrialização do país, historicamente abandonada. Deverá resolver o debate dos modelos de cogestão e autogestão operária, empresas comunais, o cooperativismo, as empresas mistas e as empresas públicas transnacionais.
Quanto à organização política e social e ao poder popular, deverá continuar o debate sobre a função do poder popular e suas organizações sociais, a necessidade da organização política, fomentar o surgimento de novas lideranças, os conselhos comunais e a comuna, o sindicalismo e o desenvolvimento do movimento operário e o campesinato.
No ideológico, deverá desenvolver o chamado socialismo do século XXI, o socialismo bolivariano e refletir sobre o Estado burguês, a burguesia e a construção de um novo Estado.
Porém, o grande desafio para Nicolás será ganhar a confiança de todos os setores que apoiam o Chavismo, que votaram por ele e que, por pedido de Hugo Chávez, depositaram nele suas esperanças de manter o processo. Porque o que o levou à vitória foram milhões de juramentos. A partir de agora, deverá ganhar um apoio que tem relação com a identificação de classe entre líderes e povo, dar um passo ao poder popular e a uma liderança coletiva. Essa identificação de classe e o compromisso interno desse “Chávez, te juro”, de cada um desses milhões de venezuelanos e venezuelanas que agora são Chávez, é o que pode manter viva a Revolução Bolivariana.
Fonte: http://rebelion.org/noticia.php?id=166766

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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