KABUL – A matança de civis inocentes, entre os quais mulheres e
crianças, em ataques recentes pela Força Internacional de Assistência à
Segurança [orig. International Security Assistance Force (ISAF)]
comandada pelos EUA-OTAN, contra insurgentes Talibãs, só faz aumentar os
sentimentos antiamericanos entre os afegãos e põe sob risco qualquer
possibilidade de assinar-se qualquer acordo bilateral de segurança entre
Cabul e Washington.
Nos recentes ataques do dia 6/4, na província de Kunar, forças dos
EUA-OTAN assassinaram 11 crianças afegãs e feriram seis mulheres.
O presidente Hamid Karzai denunciou a matança de civis pela coalizão
EUA-OTAN e alertou que os repetidos ataques contra civis afegãos pode
ter impacto negativo nas relações entre EUA e Afeganistão.
Declaração emitida pelo gabinete da presidência do Afeganistão diz
que Karzai fez saber ao presidente dos EUA Barak Obama de suas graves
preocupações com a continuada matança de civis afegãos, e citou
especificamente a recente operação militar das forças de EUA-OTAN na
província de Kunar.
Karzai disse a Obama na 3ª-feira que a repetição desse tipo de ação
cria impedimentos adicionais à assinatura de qualquer acordo bilateral
de segurança, pelo qual os EUA esperam conseguir manter presença
militar, embora limitada, no Afeganistão, mesmo depois da retirada de
todas as tropas estrangeiras, em 2014.
“Não há dúvidas de que a matança de civis por tropas da coalizão
EUA-OTAN tem impacto adverso na percepção, entre os afegãos, de qual é o
objetivo das forças estrangeiras no país. E já está comprometendo a
credibilidade de nosso governo, ao qual cabe proteger os cidadãos nessa
sempre prolongada guerra ao terror” – disse Pariani Nazari, editor-chefe
do jornal afegão Daily Mandegar.
Residentes em Shalton, no distrito de Shigal na província de Kunar,
onde as 11 crianças foram mortas, levaram os cadáveres para o centro
administrativo do distrito, semana passada. Exigiam que o governo
levasse a julgamento os responsáveis pela carnificina.
Mortes de civis pelas forças de EUA-OTAN são fonte de tensão crescente entre Cabul e Washington.
Karzai tem dito em várias ocasiões que a guerra contra terroristas
nas vilas afegãs não é abordagem acertada, dado que, segundo o
presidente afegão, os verdadeiros esconderijos e santuários dos Talibãs e
outros grupos insurgentes armados não estão em território afegão, mas
nas áreas de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. O Paquistão
porém negou que haja bases dos Talibã em solo paquistanês.
Em março, o principal porta-voz de Karzai, Aimal Faizy, criticou a
guerra ao terror liderada pelos militares de EUA-OTAN no Afeganistão,
como “pouco inteligente e sem objetivo claro”; disse também que a
maioria dos afegãos querem o fim dos ataques que se fazem como parte
daquela “guerra ao terror”.
Ao longo de todo o ano passado, funcionários do Afeganistão e dos EUA
tentaram alinhavar um Acordo do Estado das Forças [ing. State of the
Forces Agreement, SOFA], até agora sem terem chegado a coisa alguma.
Washington insiste em que o acordo assegure plena imunidade aos
militares norte-americanos que permanecerão em território afegão depois
de 2014, cláusula que existe, como uma espécie de cláusula padrão, em
todos os acordos SOFA que os EUA mantêm com outros países.
Karzai tem dito que a imunidade – que porá os militares dos EUA fora
do alcance da lei afegã – é cláusula a ser decidida pela Loya Jirga – a
grande assembleia constituída de chefes tribais, personalidades afegãs e
servidores públicos.
No início de fevereiro, depois de reclamações de funcionários na
província de Wardak, Karzai ordenou a retirada das Forças Especiais dos
EUA da província central, decisão recebida com festas pela população
local.
Tradução: Vila Vudu
Fonte: Mirante
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