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Sábado, 14 de Julho de 2012
Os guerrilheiros, muitos dos
quais indígenas ao nosso redor, que vêem e escutam os comentários de
Caracol, agregam que “a guerrilha no Cauca está constituída em sua
maioria por indígenas”. Como seria possível levantar barreiras um
quilômetro além do zona urbana se não fosse pela base social que temos
em Toribío e no Cauca em geral?
(Guerrilleros de las FARC. FOTO: DICK EMANUELSSON)
A bofetada das FARC a Santos em Toribío
Por Dick e Mirian Emanuelsson, ANNCOL
MONTANHAS da COLÔMBIA / JULHO de
2012 / Durante mais de uma semana as FARC mostraram literalmente que
são um exército irregular capaz de enfrentar em suas áreas de controle o
exército e a força aérea oficial.
Eram 19h de quarta-feira, 11 de julho.
Os canais de televisão Caracol e RCN veicularam como notícia de “ÚLTIMO
MINUTO” a derrubada de um avião Supertucano*, moderna aeronave utilizada
no combate contrainsurgente. A apresentadora da Caracol estava
consternada quando apresentou os membros do governo que diziam que a
guerrilha havia derrubado um destes 25 aviões vendidos por Lula ao
regime de Álvaro Uribe Vélez, cujo ministro da defesa era Juan Manuel
Santos, atual presidente da Colômbia.
AO NOSSO REDOR, ESCURIDÃO. Se
escutva apenas a voz metálica da jornalista da Caracol, os grilos, os
sapos e os pássaros da úmida selva colombiana. Mas de repente se
escutaram as expressões de muitos guerrilheiros sentados a nosso lado,
ao saber das notícias desta noite. Não podiam conter sua alegria pelas
notícias da ação de seus companheiros em outra parte do país, Toribío,
município do departamente de Cauca no sudoeste colombiano.
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Durante mais de uma semana, nossas forças combateram o inimigo, que
não pode conosco, diz um guerrilheiro na multidão de companheiros. Seus
olhos brilham quando refletem um raio de luz da lua que entra pela densa
selva. A apresentadora entrega o outro desastre militar: “um
helicóptero foi atingido e incendiado por guerrilheiros das FARC em El
Mango, e os pilotos foram levados pela guerrilha”. Caracol mostra um
vídeo amador com o helicóptero em chamas.
-
Os pilotos têm que explicar à guerrilha o que andavam fazendo por lá,
num inferno de guerra com bombardeios, combates e enfrentamentos.
Muitas vezes, o exército utiliza os supostos “privados” para realizar
operações de inteligência e, assim, os envolvem na guerra, agrega outro
guerrilheiro vizinho, sentado na sala do acampamento insurgente.
COMO SE O PESADELO DESTA NOITE fosse pouco para os generais, a apresentadora lança um terceiro golpe midiático à moral castrense:
“Em meio às afrontas das FARC às forças
públicas, as FARC mantêm barreiras a apenas um quilômetro da zona urbana
onde o presidente Santos instalava um conselho de segurança”, protegido
por mais de três mil soldados.
E a tela do televisor mostra como os
guerrilheiros visam e checam os documentos das pessoas e veículos que
transitam a apenas 15 minutos da malha urbana de Toribío. Caracol chega
ao lugar e conversa tranquilamente com os guerrilheiros, que relatam o
porquê da barreira e explicam que sua missão é conter o avanço das
forças militares.
Em Toribío, Juan Manuel Santos, também pálido como a apresentadora da Caracol, quase balbucia e quase roga às FARC:
“Desmobilizem-se, desmobilizem-se”!, repete, “refaçam suas vidas como seus companheiros que agora gozam a vida, eehhh”!
O comandante do acampamento onde
permanecemos diz que há 15 dias o apoio a Santos vem caindo
vertiginosamente nas pesquisas, e “continuará caindo devido à
incontrolável e complicada situação do país”.
SANTOS FALA AOS JORNALISTAS e diz que
convidará os líderes indígenas para que cheguem a um acordo com o
governo e o Estado. Posando de atraente, Santos oferece entregar meio
bilhão de pesos para melhoramentos do saneamento, outros serviços
públicos, ofertas e promessas que o povo colombiano escutou a vida
inteira, conhecendo o verdadeiro valor e o conteúdo desta política
loquaz.
Os indígenas não querem sentar-se à mesa
com Santos, e apenas entregam um documento com suas exigências, sendo a
principal a saída das forças militares da jurisdição de Toribío.
Caracol gira a câmera, mostrando a estação de polícia de dois andares.
Para proteção, os agentes ergueram trincheiras e o homem da televisão se
pergunta “a quem protege a polícia contrainsurgente em Toribío, se eles
mesmos se escondem atrás destas bolsas cheias de areia para proteger-se
das FARC, que têm este município cercado”?
(Indígenas tapan trincheras de Ejército en cerro de las Torres. Foto: Ivan Noguera / El Tiempo)
SANTOS SAI À RUA e é
hostilizado pela população. Durante o dia anterior, mulheres indígenas
derrubaram essas fortificações, exigindo a retirada da força pública. As
mesmas mulheres e toda a população rechaçam a visita de Santos, que
reponde que não vai “desmilitarizar um só milímetro da cidade porque ela
faz parte do território nacional”. Nesta frase, reconhece que o Estado
militarizou a região.
Caracol tenta salvar de algum modo a
deteriorada imagem de Santos, um presidente rechaçado pela comunidade em
massa, afirmando que “os indígenas querem que a guerrilha, ela também,
saia de seu território”. O que Caracol oculta é o fato de que a
guerrilha é móvel e várias de suas frentes nasceram neste território,
como parte da luta camponesa e indígena pela terra e pelo território
cobiçado pelas transnacionais. Mais: nesta região, o Estado quer ocupar
os territórios para entregá-los às mineradoras, já que estes contêm
grandes reservas de ouro e de outros minerais na cordilheira.
Os guerrilheiros, muitos dos quais
indígenas, a nosso redor, que vêem e escutam os comentários de Caracol,
acrescentam que “a guerrilha no Cauca está constituída em sua maioria
por indígenas. Como seria possível erguer barreiras a um quilômetro da
zona urbana se não fosse pela base social que temos em Toribío e no
Cauca em geral”?
(Una guerrillera indígena de las FARC-EP, una de miles. Foto: D.E.)
A VIOLACÃO DO Direito Internacional Humanitário, DIH,
é flagrante em Toribío. A polícia militarizada utiliza a população
civil como escudo, colocando um posto policial no meio da zona urbana
quando o DIH diz claramente que todos os postos policiais e guarnições
militares em um país com conflito armado têm de ser instalados fora das
zonas mais povoadas, para evitar que os civis sejam alvejados pelos
enfrentamentos.
A isto acrescentamos as provocações
permanentes do exército e da aviação que, para impedir os avanços da
guerrilha, bombardeia indiscriminadamente aldeias e aglomerados de
casas. Em 2005, outro presidente colombiano, Álvaro Uribe, foi atingido
em Toribío quando as FARC derrubaram um helicóptero Black Hawk.
Mobilizou batalhões para enfrentar a guerrilha, batalhões que só puderam
avançar poucos metros por dia, ainda que viessem com tanques, aviões e
helicópteros.
No dia 11 de julho de 2012 os mesmos
guerrilheiros voltaram a dar uma bofetada em um presidente, desta vez em
Juan Manuel Santos, que várias vezes declarou o fim da guerrilha das
FARC. E agora estamos talvez no começo de uma nova etapa da guerra, que a
cada dia se parece mais com a guerra do Vietnam, uma era em que ao que
parece a aviação já não poderá fazer das suas tão facilmente.
As FARC têm foguetes antiaéreos?
Foi no município de Suárez, também no departamento de Cauca, onde a guerrilha, segundo vídeo que circula na internet [http://youtu.be/z0yFsDy9ynA], estreou seus próprios mísseis antiaéreos, Made in FARC.
Estes artefatos que têm alcance de vários quilômetros foram desde então
objeto de análise e estudo dos generais, sobretudo da Força Aérea
Colombiana, FAC, mas também do Pentágono.
Não são mísseis com grande precisão,
mas, como diz uma fonte das FARC, “estamos todo o tempo aperfeiçoando e
melhorando a arma para que cumpra sua meta: derrubar os aviões e
helicópteros da força aérea”.
Na noite anterior, foi exibido no acampamento o vídeo [http://youtu.be/PeWTxn83BZI],
feito pelo jornalista francês Romeo Langlois. Ele havia saído uma
madrugada desde a base militar de Larandia, sob o controle do Comando
Sul do exército dos Estados Unidos, para fazer uma reportagem sobre o
tema do "cultivo de folhas de coca", junto a um comando de cerca de
trinta soldados e oficiais das forças especiais do exército. Mas sua
aventura terminou em um desastre tático quando a unidade militar se
enfrentou contra guerrilheiros da 15ª Frente das FARC no vilarejo de San
Isidro, departamento de Caquetá.
O vídeo é muito interessante do ponto de
vista militar, porque mostra um suposto "Comando Selva", muito
especializado, mas que no decorrer de sua manobra mostra-se pouco
profissional.
INEFICÁCIA MILITAR
A outra observação que salta aos olhos é
que depois do primeiro tiro, o capitão que havia falado de forma
marcial em frente à câmera do jornalista francês na saída da expedição,
muito assustado pedia por rádio a seu coronel apoio com aviões e
helicópteros. Sua ineficácia militar foi evidente e sua linguagem,
grosseira e vulgar. Coisas totalmente proibidas em comunicações
militares. Enquanto isso, os guerrilheiros avançaram lentamente cercando
o “Comando Selva”. Eram objetivos militares invisíveis às rajadas dos
helicópteros.
Caiu morto o sargento que protegia o
repórter francês, seguido pelo capitão e mais dois soldados. Langlois se
deu conta de que ele também poderia morrer se não se passasse ao outro
lado com seu braço ferido. E assim foi: atrás de Langlois, em outro
setor, caíram mortos em combate outros 15 soldados e mais 10 ficaram
feridos pelo fogo insurgente. A guerrilha respeitou a rendição de
Langlois e lhe prestou os primeiros socorros por sua ferida.
A DIFERENÇA GUERRILHEIRO-SOLDADO
Se a guerrilha agora possui mísseis
antiaéreos, estaria se configurando um fator de desmoralização para as
tropas de infantaria, que, como demonstra o vídeo de Langlois, dependem
muito do apoio aéreo para suas operações. É exatamente como na guerra do
Vietnam, onde a aviação americana lançava “cortinas” de bombas com seus
aviões B-52 para garantir o desembarque de suas tropas. Quando o
desequilíbrio militar que impunha o domínio dos ares foi neutralizado
pela artilharia vietnamita, os invasores ianques se viram obrigados a
abandonar o país de Ho Chi Minh.
O sargento que protegia Langlois
confessou, em meio às balas, que sua família não estava de acordo em que
arriscasse sua vida por uma guerra que não era sua. E aí está a
diferença entre guerrilheiros de todas as idades e soldados a soldo. Uns
sabem por que expõe o peito e a vida por uma causa, por um ideal,
enquanto os outros o fazem porque na Colômbia o povo é vítima do sistema
capitalista, que condena milhões de seres humanos à miséria por falta
de postos dignos de trabalho.
Dick Emanuelsson
Os aviões Supertucano do Brasil de ´Lula´
* O paradoxal neste tema dos 25 aviões
Supertucano é que foi o socialista Inácio ´Lula´ da Silva, ex-presidente
do Brasil, que deu permissão para vendê-los ao país com o conflito
armado e social mais antigo do continente americano. O custo era de 240
milhões de dólares, que o povo colombiano segue pagando através de
diversas formas de impostos.
As bombas destes aviões brasileiros
acabaram com as vidas de revolucionários como Raúl Reyes, Jorge Briceño
(el Mono Jojoy) e centenas de outros guerrilheiros vitimados pelas
bombas destes aviões. Para os brasileiros traficantes da guerra, as
notas manchadas de sangue não fedem.
NOTAS:Comunicado de guerra FARC-EP 28 de setembro de 2011 Suarez, Cauca
http://youtu.be/z0yFsDy9ynA
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