Folha de São Paulo 07.3.2010
ELIO GASPARI
As masmorras de Hartung aparecerão na ONU
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O economista bem educado governa no ES um sistema prisional que
envergonharia o soba do Uzbequistão
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NA PRÓXIMA segunda-feira, dia 15, o governador Paulo Hartung (PMDB-ES)
tem um encontro marcado com o infortúnio. Depois de anos de negaças, o
caso das "masmorras capixabas" será discutido em Genebra, num painel
paralelo à reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Hartung tem 52 anos, um diploma de economista e a biografia de um novo
tipo de político. Esteve entre os reorganizadores do movimento
estudantil no ocaso da ditadura. Filiou-se ao PSDB, ocupou uma
diretoria do BNDES, elegeu-se deputado estadual, federal, e senador.
Na reunião de Genebra estará disponível um "dossiê sobre a situação
prisional do Espírito Santo". Tem umas 30 páginas e oito fotografias
que ficarão cravadas na história da administração de Hartung. Elas
mostram os corpos esquartejados de três presos. Um, numa lata. Outro
em caixas e uma cabeça dentro de um saco de plástico. Todos esses
crimes ocorreram durante sua administração. Desde a denúncia da
fervura de presos no Uzbequistão o mundo não vê coisa parecida.
As "masmorras capixabas" são antigas, mas a denúncia teve que ser
levada à ONU porque as organizações de defesa dos direitos humanos não
conseguem providências do governo do Espírito Santo, nem do
comissariado de eventos de Nosso Guia. Sérgio Salomão Checaira,
presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,
demitiu-se em agosto do ano passado porque não teve apoio do
Ministério da Justiça para reverter o quadro das prisões de Hartung.
Há um mês, uma comitiva que visitava o presídio feminino de Tucum (630
presas numa instituição onde há 150 vagas) foi convidada a deixar o
prédio. Se quisessem, poderiam conversar com as prisioneiras pelas
janelas.
O Espírito Santo tem 7.000 presos espalhados em 26 cadeias, com uma
superlotação de 1.800 pessoas. Há detentos guardados em contêineres
sem banheiro (equipamento apelidado de "micro-ondas" ). Celas
projetadas para 36 presos são ocupadas por 235 desgraçados. Alguns
deles ficam algemados pelos pés em salas e corredores.
Os governantes tendem a achar que os problemas vêm de seus
antecessores, que as soluções demoram e que, em certos casos, não há o
que fazer. Esquecem-se que têm biografias.
O relatório com fotos dos esquartejados está no seguinte endereço:
http://www.estadao. com.br/especiais /
2009/11/crimesnobra sil_if_es. pdf
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