A comunista alemã, Clara Zetkin, no II Congresso Internacional das
Mulheres Socialistas, em Copenhagen (1910), propõe a existência de uma
data para a lembrança/comemoração das lutas das mulheres. A data nos
remete às operárias têxteis de Nova York (EUA) que, em 1857 (ou em 1910,
para algumas historiadoras, em função das greves por igualdade salarial
e melhores condições de trabalho para homens e mulheres, foram mortas,
por intolerância patronal, em um incêndio na fábrica na qual
trabalhavam. O dia 8 de março também remete às trabalhadoras russas, que
contribuíram com a revolução soviética, em suas campanhas pelo direito
ao voto, contra as discriminações, a fome, a guerra, a exploração entre
os anos de 1911 e 1917.
As mulheres trabalhadoras organizadas vão, ao longo da história,
construindo na luta essa data – o Oito de Março – desde 1921/1922
(reconhecida oficialmente pela ONU apenas em 1975), já que a dominação e
a exploração sobre as mulheres é um processo que assumiu diferentes
formas ao longo da história da humanidade.
Para nós, do COLETIVO ANA MONTENEGRO, a questão
central, aquela que guia nossas análises e nossa ação, é luta contra a
exploração do trabalho assalariado, contra o trabalho não remunerado, a
demissão imotivada, em síntese, a contradição capital-trabalho,
concebendo o Feminismo como sujeito político, com protagonismo das
mulheres nessas lutas.
Debatemos o papel feminino na política, articulando a luta das mulheres
com a luta pela emancipação da classe trabalhadora, aprofundando o
debate e a luta contra o caráter social e histórico da opressão das
mulheres inseridos na exploração de classe, uma vez que ambos compõem
elementos da mesma totalidade: o modo de produção e reprodução social
capitalista. Nesse sentido, o socialismo é a resposta mais possível para
a questão da violência contra a mulher!
Trabalhamos dialogando, no âmbito do movimento feminista, em parceria
com os demais movimentos sociais que acumulam e ampliam ações de ruptura
com as instâncias que perpetuam as desigualdades sociais e econômicas e
estruturam os pilares da dominação patriarcal capitalista na
contemporaneidade. Atuamos em conjunto com aqueles e aquelas que
reivindicam a unificação da luta das mulheres num processo de
transformação radical das relações sociais em sua totalidade, a partir
da luta anticapitalista e anti-imperialista.
A crise econômica mundial, sistêmica no capitalismo, presente no Brasil,
atinge sobretudo as mulheres, em suas precárias relações de trabalho,
sob o tacão do capital, que lança uma ofensiva contra os trabalhadores e
as trabalhadoras, através do ACE (Acordo Coletivo Especial) proposto
pelo outrora combativo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, pretendendo
autorização legislativa para negociar as relações de trabalho,
flexibilizando ainda mais a legislação e os direitos trabalhistas, com o
beneplácito do Governo Dilma. Soma-se a isso a violência de gênero e
classe, o assédio no ambiente de trabalho em função das relações
assimétricas de poder postas pelo capitalismo, a sobrecarga de
responsabilidades não socializadas com a casa e família. Não há
perspectivas para as mulheres nos marcos do capitalismo, porque o modo
de produção não se limita à atividade econômica imediata, atingindo a
vida social, o modo de existência, o cotidiano das mulheres.
O caráter de classe do estado brasileiro, os laços entre o governo
brasileiro e o capital , a forma de atuação hoje nem mesmo dissimulada,
na perspectiva de manutenção da ordem capitalista, com seu ciclo burguês
plenamente consolidado, parte integrante do processo de acumulação
mundial, se escancara: no trabalho das mulheres, no aprofundamento do
descompasso entre a produtividade e os salários (aumento da
produtividade do trabalho sem que os salários sigam a mesma proporção),
nos ataques aos direitos trabalhistas e previdenciários, nas tentativas
de controle sobre a gravidez das mulheres, na não legalização do aborto,
na privatização das creches e serviços de saúde, na concentração de
terras pelo agronegócio, no endividamento das famílias, na concessão dos
veículos de comunicação sem marco regulatório, permitindo a formação de
verdadeiros impérios fortalecedores da dominação ideológica no país,
que insistem em desrespeitar a imensa diversidade étnico-cultural dos
trabalhadores e das mulheres brasileiras.
O imperialismo atinge todos os povos, homens e mulheres, com guerras,
ameaças e, principalmente, saqueando as riquezas naturais dos países
periféricos e emergentes. Daí a necessidade do exercício do
internacionalismo proletário, com a nossa solidariedade às mulheres do
mundo contra a opressão, especialmente as do mundo árabe, com particular
atenção para com o povo palestino, massacrado pelo Estado terrorista de
Israel, da Somália, do Sahara Ocidental. Toda solidariedade aos
trabalhadores e trabalhadoras europeus, com destaque para gregos e
irlandeses, que bravamente lutam contra a crise do capital e, na América
Latina, ao Haiti ocupado, a Cuba socialista, que continua sofrendo os
embargos econômicos impostos pelos EEUU, aos lutadores da Colômbia, que
buscam a paz com igualdade social. Estendemos especial solidariedade aos
homens e mulheres da Venezuela, neste momento de extrema comoção
popular pela morte de Hugo Chávez, mantêm-se alertas em defesa da
Revolução Bolivariana.
É preciso atenção para com a vaga reacionária em curso no mundo, de
caráter fascista, que criminaliza os movimentos sociais, que pratica a
homo e a lesbofobia, que age com discriminação e violência contra os
imigrantes expulsos de seus países em função do caráter exckudente do
capitalismo. Também presente no Brasil, a onda conservadora traduz-se no
aumento da humilhação e do assédio às mulheres no trabalho (a exemplo
das operadoras de telemarketing), na revivência do trabalho escravo (no
norte do país e, em São Paulo, com as mulheres bolivianas na indústria e
comércio de roupas; em canteiros de obras e no campo, em propriedades
do latifúndio assassino). Definitivamente: o capitalismo não oferece
solução aos problemas da humanidade.
As feministas do PCB queremos a construção de uma sociedade livre da
exploração do trabalho pelo capital, em um estado laico. Na luta de
classes, levamos em conta as demandas específicas das mulheres: direito a
uma vida sem violência, com políticas públicas efetivas de não
violência contra a mulher, com moradia digna e reforma agrária, fim da
mercantilização do corpo da mulher, prevenção e atenção à saúde integral
da mulher com a legalização do aborto, garantia de trabalho, redução da
jornada de trabalho sem redução salarial, não demissão imotivada, não
ao ACE (acordo coletivo especial pelo qual o negociado prevalece sobre o
legislado), socialização do trabalho doméstico com a criação de espaços
como restaurantes e lavanderias públicas e creches de qualidade,
medidas que promovam a conscientização e a participação política das
mulheres, ensino público, laico, de qualidade, não sexista, não racista e
não lesbofóbico, desmascaramento dos processos de higienização social
que ocorrem no país ditados pelos interesses capitalistas (escondidos
sob falsas campanhas gigantescas, como shows pirotécnicos, copas
esportivas, lutas contra as drogas ou simplesmente especulação
imobiliária), nos quais o Estado afasta de forma brutal e violenta as
mulheres de suas casas.
Queremos e formaremos com as feministas revolucionárias um bloco
histórico, a partir da unidade de ação, respeitando os ritmos e cultura
de cada organização, buscando avançar na realização do poder popular, na
construção de uma hegemonia econômica, política, cultural, filosófica e
moral socialista, enfim, uma verdadeira contra-hegemonia ao modo de
produção e de vida capitalista, criando condições de luta pelo fim da
exploração e opressão sobre as mulheres e sobre a humanidade.
Ousar lutar, ousar vencer!
Coletivo Ana Montenegro
08. 03.2013
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