Antonio Gramsci – La Cittá Futura – 11.02.1917
Odeio os indiferentes.
Como Friederich Hebbel, acredito que “viver significa tomar partido”.
Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade.
Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário.
Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida.
Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador e a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que o peito de seus guerreiros, porque engole nos sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e, às vezes, os leva a desistir da gesta heróica. (...)
Odeio os indiferentes também porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes.
Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe cotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas.
Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura, que estamos a construir (...)
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.
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