domingo, 19 de setembro de 2010

CIGANOS SÃO DISCRIMINADOS E VIVEM NA POBREZA

No centro de uma controvérsia continental, ciganos são discriminados em vários países da Europa e vivem na pobreza

Publicada em 18/09/2010 às 20h08m
Graça Magalhães-Ruether - Correspondente O GLOBO

BERLIM - Com a deportação de milhares de ciganos romenos e búlgaros para seus países de origem por ordem do governo francês nas últimas semanas, mais uma vez a atenção do mundo volta-se para a minoria mais desprivilegiada do continente - a maior parte vivendo no Leste Europeu. Mesmo com o ingresso dos países dessa área na União Europeia (UE), os milhões de ciganos de Romênia, Hungria ou Bulgária continuaram a viver em guetos, como ilhas do Terceiro Mundo na rica UE. Alvos da violência neonazista na Hungria, ameaçados na Romênia, os ciganos tornam-se bodes expiatórios também nos seus países de origem.

- Sempre que a situação fica mais difícil, os ciganos voltam a ser perseguidos, como em tantas vezes na História - lamenta Florian Cioaba, de Sibiu, na Romênia, vice-presidente da Associação Mundial dos Ciganos.

Embora a situação geral tenha melhorado na Europa Oriental com o fim do comunismo há 20 anos e ingresso na UE, para a minoria, as mudanças trouxeram retrocesso. Na era comunista, eram integrados ao sistema de produção, embora em profissões simples. Muitos trabalhavam como ajudantes na construção civil. Com a privatização e o fechamento de empresas, foram os primeiros demitidos em consequência da baixa qualificação. E perderam de novo com o ingresso na UE. Com a pressão pelo saneamento das finanças públicas, foram cortadas verbas para minorias pobres, agravando a situação.

Autoproclamado rei dos ciganos, Cioaba, de 57 anos, diz recear o pior. Segundo ele, a ação francesa poderia desencadear "uma reação em cadeia" na Europa. Cioaba teme que mesmo os ciganos da Alemanha ou França, há séculos nesses países, poderiam terminar vítimas de mais discriminação. O medo não é gratuito: uma pesquisa da Comissão Europeia, em 2008, mostrou que 25% dos cidadãos da UE sentiriam desconforto em ter um cigano como vizinho, contra 6% que manifestaram o mesmo em relação a outra minoria. Romani Rose, presidente do Conselho Central dos Ciganos da Alemanha, vê com preocupação o anticiganismo. Segundo ele, a discriminação atinge um nível nunca visto desde a Segunda Guerra, quando o nazismo assassinou 500 mil ciganos.

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