Jovens Pela Paz: relatório revela saque irregular de R$ 6 milhões
Publicada em 29/09/2010 - JORNAL O GLOGO
Carla Rocha e Sérgio Ramalho
WILSON SOMBRA: ex-coordenador nega ingerência sobre os recursos do projeto, que chegou a ter 12 mil bolsistas.
RIO - Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revela que foram feitos 28 saques em dinheiro da conta do programa Jovens pela Paz , entre 2005 e 2006, na gestão de Rosinha Garotinho. As retiradas totalizam R$ 6,2 milhões. Segundo o órgão, a movimentação, considerada "atípica", teria sido feita pelo CPF do ex-coordenador do programa e ex-secretário de governo, Wilson Pinheiro Sombra. No entanto, ele nega os saques e disse que pode até se submeter a um exame grafotécnico, se houver sua assinatura em algum documento.
O documento foi anexado ao inquérito da Delegacia Especial de Crimes Contra a Fazenda, a Administração Pública e o Patrimônio do Estado que investiga o ex-governador Anthony Garotinho, Rosinha, a filha deles a vereadora Clarissa Matheus, Sombra e o ex-prefeito de Nova Iguaçu Mário Marques, por irregularidades no Jovens pela Paz. Integrantes do programa seriam recrutados para trabalhar em campanhas políticas do PMDB.
Investigação apura também irregularidade em convênio
Ao todo, cerca de dez pessoas são investigadas no inquérito por formação de quadrilha e peculato (crime praticado por servidor contra a administração). A investigação, que foi desmembrada em dois inquéritos, também apura se houve irregularidades no convênio, com dispensa de licitação, com a Associação Candido Mendes de Ensino e Pesquisa (Acamep). Quarta-feira, o professor Candido Mendes, presidente da entidade, não foi localizado.
O relatório do Coaf detalha os 28 saques que teriam sido realizados por Sombra. Entre 2005 e 2006, ele fez vinte retiradas numa agência do Itaú, no Centro, no valor de R$ 158 mil, quatro de R$ 400 mil, três de R$ 300 mil e um de R$ 600 mil, perfazendo R$ 6,2 milhões.
Os investigadores vão cruzar dados do Coaf com informações da Receita Federal e do Banco Central, referentes à quebra de sigilo bancário e fiscal dos investigados. O objetivo é rastrear o caminho feito pelos R$ 6,2 milhões. Uma das suspeitas é de que os recursos tenham financiado campanhas políticas.
Quarta-feira, o ex-governador Garotinho classificou as denúncias de "politicagem". Já a vereadora Clarissa Matheus (PR) se defendeu dizendo que, no período, não era servidora pública, não podendo ser investigada por peculato. Na época, Clarissa presidia a Juventude do PMDB, que está no centro das investigações. Ao rebater a denúncia de que os jovens eram recrutados em 2004 para trabalhar em campanhas, Clarissa disse que o pai se candidatou à Presidência em 2002, mas omitiu que ele voltou a se candidatar em 2006. Garotinho já foi denunciado pelo Ministério Público por ter recebido doações eleitorais de empresas ligadas a ONGs beneficiadas por repasses de recursos do estado, entre 2003 e 2006.
' Nunca saquei dinheiro do programa'
Surpreso, o ex-coordenador do Jovens Pela Paz, Wilson Sombra, negou ter qualquer ingerência na gestão financeira do programa. Ele afirmou que toda a parte administrativa era responsabilidade da Associação Candido Mendes. Funcionário da Justiça, Sombra disse que é pobre e nunca tocou em dinheiro público.
- Nunca fiz saques na conta do programa. Vivo do meu salário. Minha honra não pode ser atingida por algo que não fiz. Se isto aconteceu, é grave porque não havia motivos para retiradas em dinheiro. Todos os integrantes tinham contas bancárias e cartões para sacar a ajuda de custo que recebiam - afirmou Sombra.
Sombra, que é filiado ao PMDB, mas diz estar afastado da política, admitiu que coordenadores do programa - na Zona Sul e na Zona Norte do Rio - eram filiados ao partido. Segundo ele, isso acontecia porque eram cargos de confiança, o que seria comum em programas governamentais. Mas voltou a negar que houvesse assédio aos bolsistas, cujo número chegou a 12 mil no estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário