quarta-feira, 18 de agosto de 2010

VIOLÊNCIA INOMINÁVEL

Azelea Robles*

Há algumas semanas foi descoberta na Colômbia de Uribe e Juan Manuel Santos uma fossa comum com 2.000 cadáveres por identificar, perto da cidade de Macarena. Uribe e o seu ex-ministro da Defesa e actual presidente, Juan Manuel Santos, têm de explicar o monstruoso crime, que políticos e meios de comunicação de todo o mundo procuram, cumplicemente, silenciar.

Na Colômbia descobriu-se recentemente a maior fossa comum da história contemporânea do continente americano, o que foi quase totalmente silenciado pelos mass-media da Colômbia e do mundo. A fossa comum contém os restos de, pelo menos, 2.000 pessoas, está em Macarena, departamento de Meta. Desde 2005 que o exército deslocado na zona, ali sepultou milhares de pessoas sem nome.

A população da região, alertado pelas filtrações putrefactas dos cadáveres para as nascentes das aguas de consumo, e fustigada pelos constantes desaparecimentos já tinha denunciado a existência da fossa por várias vezes, durante o ano de 2009: em vão, pois o ministério público não investigava. Foi graças à perseverança dos familiares de desaparecidos e à visita de uma delegação de sindicalistas e parlamentares britânicos que investigava a situação dos direitos humanos na Colômbia, em Dezembro de 2009, que se conseguiu destapar este crime horrendo cometido pelos agentes militares de um Estado que lhes garante a impunidade.

Trata-se da maior fossa comum do continente. Mais de dois mil corpos numa fossa comum é o assunto grave para o Estado colombiano, mas os seus media e os media internacionais, cúmplices do genocídio, encarregaram-se de o manter sob um quase absoluto silencio, sobre um facto que só encontra atrocidade parecida se recuarmos às fossas nazis…
Este silenciamento mediático está indubitavelmente ligado aos imensos recursos naturais da Colômbia e aos mega-negócios que ali são feitos sob os massacres.

A Comissão Asturiana dos Direitos Humanos, que visitou a Colômbia em Janeiro de 2010 ( menos de um mês após a descoberta da fossa) interrogou as autoridades sobre o assunto… e as respostas foram preocupantes: na Procuradoria, no ministério do Interior, na ONU… todos querem esconder o assunto. Entratanto, «trabalham» na fossa para a minimizar, mas a delegação britânica verificou-a e as mesmas autoridades reconheceram pelo menos 2.000 cadáveres. Em Dezembro, «o alcaide próximo do governo também denunciou o facto junto ao necrotério», mas depois o número de corpos NN…

A delegação asturiana denunciou a vontade ostensiva de alterar a cena do crime: «ali ninguém está protegido. Ninguém está a impedir que se possam disfarçar as provas. Que um tractor entre por ali afora, carregue os cadáveres anónimos e os leve para outro lugar» [1]. «Solicitamos às instituições responsáveis do governo e do Estado colombianos que implementem as medidas cautelares necessárias para assegurar as informações já registadas nos documentos oficiais, que tomem as medidas cautelares necessárias para defender o perímetro e prevenir a alteração da cena, a exumação ilegal dos cadáveres e a destruição do material probatório ali existente (…), fundamental para a criação de um Centro de investigação Forense em Macarena, a fim de conseguir a individualização e a identificação dos cadáveres NN ali sepultados» [2].

A delegação Asturiana transmitiu às autoridades outra denúncia. As autoridades alegaram desconhecimento e incapacidade operacional, pois «há tantas fossas comuns no nosso país que»… Trata-se do município de Argélia em Cauca: um “matadouro” de gente, onde as famílias não puderam ir buscar os corpos dos seus desaparecidos, pois os paramilitares não as deixaram regressar às suas comunidades: deslocaram os sobreviventes. As vítimas sobreviventes relataram: «havia pessoas amarradas a que açulavam cães famintos para as irem matando a pouco e pouco.»

Na Colômbia, a Estratégia Paramilitar do Estado Colombiano, combinada com a actuação dos polícias e dos paramilitares foi o instrumento de expansão dos latifúndios. O Estado colombiano fez desaparecer mais de 50.000 pessoas através de aparelhos oficiais (polícias e militares), e do seu aparelho encoberto: a sua Estratégia Paramilitar [3]. O Estado colombiano é o instrumento da oligarquia e das multinacionais para a sua guerra de classes contra a população: é o garante do saque, a Estratégia Paramilitar insere-se nessa lógica económica [4].

A invisibilização de uma fossa comum das dimensões da fossa de Macarena obedece aos negócios das multinacionais e das oligarquias e no facto da fossa ser o resultado de assassínios feitos directamente pelo exército nacional da Colômbia, o que é mais uma prova do carácter genocída do Estado colombiano, para além do presidente Uribe, cujos negócios e ligações com o narcotráfico e o paramilitarismo estão mais que comprovados [5]. A cumplicidade dos media é criminosa, tanto a nível nacional como internacional. Todos nós devemos romper a barreira de silencio com que se pretende ocultar o genocídio. É urgente um movimento de solidariedade internacional: a Colômbia é, indubitavelmente, um dos lugares do planeta em que o horror do capitalismo se plasma de forma mais evidente na sua violência mais absoluta.

Notas:


(4) Ver mais ssobre a fossa comum e o Terror Estatal:
www.lahaine.org/index.php?p=42954

* Jornalista, historiadora

Este texto foi publicado em www.kaosenlared.net

Tradução de José Paulo Gascão

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