segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A banalidade do mal




ISRAEL & PALESTINA
Laércio Lopes, na edição 809
É absolutamente lamentável, quase criminosa, a omissão da imprensa internacional sobre as verdadeiras causas do massacre perpetrado contra os palestinos pelo Estado de Israel. A palavra massacre não é sequer mencionada nos órgãos da grande imprensa, formadores da opinião pública. Durante o recente agravamento do conflito, muito poucas palavras a imprensa dedica à usurpação territorial e às chamadas colônias, que constituem uma provocação sem precedentes na história recente da Humanidade. Nos tempos modernos, é absolutamente inédito um país ampliar a colonização de um povo aumentando a dominação do seu território. Durante o século 20,vários países colonialistas enfrentaram guerras coloniais, mas em nenhum caso o território colonizado aumentou. A grande imprensa nada fala a respeito do ineditismo de tal fenômeno.
“Estupra, mas não mata.” Se pode evitar o assassinato, pelo menos apenas estupre. A vítima agradecerá a “graça” concedida pelo agressor estuprando-a e salvando-lhe a vida. O tratamento dispensado por Israel ao povo palestino obedece ao princípio dessa frase cunhada por ninguém menos do que o notório Paulo Maluf. Paradoxal que possa parecer, o caso envolvendo a Palestina equivale a “massacrar para não desocupar”. O mal menor passa a ser o massacre. Ao executá-los periodicamente, Israel desloca do centro da discussão a questão da ocupação ilegal da Palestina (proibida pela Comunidade Internacional através da Resolução 242 da ONU) para o simples fim do massacre. A “graça” é a interrupção do massacre. Cessado, a Comunidade Internacional agradece a “graça” concedida e a questão da usurpação territorial torna-se secundária.
Seguindo a mesma lógica de raciocínio, deslocar discussão para outro aspecto: a ação violenta israelense se justificaria pela atitude “agressiva” do Hamas ao lançar foguetes sobre o território de Israel, como não tivessem os palestinos qualquer razão para executar tão “tresloucado” ato de “agressão” ao pacífico, inocente e bondoso Estado vizinho, detentor de uma das maiores indústrias bélicas do mundo, de um dos maiores arsenais do mundo, inclusive com bombas atômicas. Como se Israel não ocupasse território que de direito pertence ao povo palestino, que o vê diminuir dia a dia, impunemente usurpado e colonizado. Na opinião do Estado sionista eseus aliados, aos palestinos é vedada qualquer forma de luta que constitua “agressão” ao verdadeiro agressor. Na França, manifestações ou quaisquer apoios à reivindicação da usurpação territorial da Palestina pelo Estado sionista são vistos como atitude “antissemita”.
Apoio dos EUA
Como se sabe, em 1947, durante a discussão da questão da Palestina suscitada pela Inglaterra nas Nações Unidas, a Assembleia Geral decidiu pela divisão do território em dois Estados, um judeu e outro árabe, além do controle internacional de Jerusalém. Na prática, a ação de Israel impede o cumprimento de decisão da comunidade internacional. A ONU, única responsável pela criação de Israel, tem o dever moral de fazer valer sua decisão original anulando os efeitos da usurpação territorial. As centenas de aldeias palestinas arrasadas em 1948 durante a nakba(catástrofe, no idioma árabe) deveriam ser devolvidas aos seus proprietários legítimos. Os 750 mil cidadãos palestinos e seus descendentes, condenados ao exílio tendo proibido o retorno às suas casas pela legislação israelense, a elas retornariam e nenhum foguete seria mais lançado sobre o território israelense.
A punição de Israel remete à famosa tática criminosa de atribuir à vítima a responsabilidade pela sua própria morte. Além de deslocar a discussão do ponto essencial, os sucessivos massacres banalizam-se, não constituindo mais qualquer surpresa à comunidade internacional. Remetem à famosa expressão da filósofa judia Hannah Arendt para caracterizar a ação nazista de massacre e limpeza étnica: “banalidade do mal”. O que faz agora Israel é justamente “banalizar o mal” consubstanciado nos sucessivos massacres, com características de limpeza étnica. A ação israelense não difere fundamentalmente dos atos perpetrados pelos nazistas contra judeus e ciganos nos campos de concentração, prática devidamente condenada e abominada pela humanidade.
Movimentos de judeus em vários países do mundo denunciam essa ação e reivindicam o desmantelamento das colônias atuais e a devolução aos palestinos dos seus territórios de forma a assegurar uma solução justa para a reparação da expulsão dos palestinos em 1948. Além do interesse específico de Israel em ter acesso à água, a outra dificuldade é que qualquer atitude da ONU terá que ter o apoio dos EUA, que financiam o Estado de Israel e são os maiores interessados na utilização do Estado sionista como ponta-de-lança para a defesa de seus interesses estratégicos e petrolíferos através da dominação da região.

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