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Nota dos Editores da página do PCB:
Ao publicarmos esta matéria
na página do PCB, estamos certos de que, se houve mais desapropriações
no governo FHC, isso se deveu principalmente à unidade das esquerdas e à
sua combatividade, juntamente com a dos movimentos sociais, que
OBRIGARAM o governo neoliberal de FHC a desapropriar mais terras no
Brasil, ao passo que, com a desmobilização das lutas, em função de que
alguns partidos de esquerda e movimentos sociais passaram a agir como
base de sustentação dos governos social-liberais petistas, estes se
viram DESOBRIGADOS a promover mais desapropriações.
Alexandre Conceição: O governo Dilma é o que menos desapropriou imóveis rurais desde Collor.
O governo Dilma é o que menos desapropriou imóveis rurais para fazer reforma agrária nos últimos 20 anos.
Reportagem da Folha de S. Paulo, publicada neste domingo, revela que na primeira metade do mandato, 86 unidades foram destinadas a assentamentos.
O número supera só o de Fernando Collor
(1990-92), que desapropriou 28 imóveis em 30 meses, comparando ao mesmo
período das administrações anteriores desde o governo Sarney (1985-90).
“O governo Dilma é refém dessa aliança
com o agronegócio, que é o latifúndio modernizado, que se aliou com as
empresas transancionais. O governo está iludido pela proteção que a
grande mídia dá a essa aliança e com os saldos na balança comercial. Mas
esquece que esse modelo é concentrador de terra e de renda, desemprega
muita gente, desmata o meio ambiente, sobrevive usando cada vez mais
venenos agrícolas, que vão se transformar em câncer”, disse Alexandre
Conceição, da coordenação nacional do MST, em entrevista à Folha.
“O governo Lula e Dilma não são governos
do PT nem de esquerda. São governos de uma frente politíca de classes
que reúne um amplo leque de classes sociais brasileiras. Desde a grande
burguesia, o agronegócio, a classe média, a classe trabalhadora, os
camponeses e os mais pobres. Essa natureza de composição dá estabilidade
política ao governo e amplas margens de apoio na opinião pública, mas
impede reformas estruturais, que afetariam os interesses das classes
privilegiadas”, analisa Alexandre.
Abaixo, leia a íntegra da entrevista concedida pelo dirigente do MST à Folha, que publicou trechos.
Como o senhor avalia o histórico
dos números de desapropriações e assentamentos? A quantidade de
famílias assentadas e desapropriações vêm caindo desde 2008/2009.
Infelizmente, nos últimos dois anos do
governo Lula e agora no governo Dilma, foi abandonada a política de
desapropriação de latifúndios. Isso é um desrespeito à Constituição, que
determina que todo latifúndio improdutivo deve ser desapropriado e
dividido para quem quiser trabalhar. Em segundo lugar, a política do
governo favorece a concentração da propriedade da terra em todo o país.
Os latifundiários agradecem, embora depois votem nos tucanos, como o
mapa eleitoral demonstrou em 2010.
Como o senhor avalia o desempenho da reforma agrária durante a gestão petista, desde 2003?
O governo Lula e Dilma não são governos
do PT nem de esquerda. São governos de uma frente política de classes
que reúne um amplo leque de classes sociais brasileiras. Desde a grande
burguesia, o agronegócio, a classe média, a classe trabalhadora, os
camponeses e os mais pobres.
Essa natureza de composição dá
estabilidade política ao governo e amplas margens de apoio na opinião
pública, mas impede reformas estruturais, que afetariam os interesses
das classes privilegiadas. Assim, nesse tipo de governo, estão
bloqueadas não só a reforma agrária, mas também a reforma tributária, a
reforma política, a reforma do judiciário, a reforma industrial, a
reforma urbana e a reforma educacional. O governo não consegue nem
aprovar a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, que é
uma questão civilizatória e que os países do capitalismo industrial já
adotou.
Como o senhor avalia o desempenho do governo Dilma Rousseff nestes dois anos, com apenas 76 imóveis desapropriados?
Uma vergonha! O governo Dilma é refém
dessa aliança com o agronegócio, que é o latifúndio modernizado, que se
aliou com as empresas transancionais. O governo está iludido pela
proteção que a grande mídia dá a essa aliança e com os saldos na balança
comercial. Mas esquece que esse modelo é concentrador de terra e de
renda, desemprega muita gente, desmata o meio ambiente, sobrevive usando
cada vez mais venenos agrícolas, que vão se transformar em câncer. 500
mil novos casos de câncer aparecem por ano pelos alimentos
contaminados. E o câncer é democrático, porque pega todo mundo. É um
modelo predador do meio ambiente e só aumenta os índices de desigualdade
nos municípios aonde é hegemônico. Perguntem aos prefeitos eleitos se
eles querem grandes propriedades exportadoras e isentas de ICMS ou
querem um meio rural de agricultura familiar? A história vai cobrar
desse governo no futuro. Mas aí será tarde…
Como mudar esse cenário para 2013? O que o MST pretende fazer e o que espera do governo federal?
O MST vai continuar lutando e ocupando
os latifúndios improdutivos para forçar as desapropriações e, ao mesmo
tempo, costurar alianças que levem a um novo projeto para o país. No
entanto, a reforma agrária agora não é apenas o aumento do número de
desapropriações. Isso é uma obrigação constitucional. A reforma agrária
agora representa a necessidade de mudança do modelo agrícola. Deixar o
agronegócio de lado e reorganizar a agricultura baseada na produção de
alimentos sadios para o mercado interno. Reforma agrária é reorganizar o
setor agroindustrial, baseado em cooperativas e não grandes empresas
transnacionais como agora. Adotar a matriz tecnológica da agroecologia,
preservar o meio ambiente e frear o êxodo rural para as grandes cidades.
Mas para isso é preciso um novo projeto para o Brasil. Esse projeto
depende da construção de alianças de classe que extrapolam as bases
sociais e a força politica dos movimentos camponeses.
http://www.viomundo.com.br/denuncias/mst-alianca-do-governo-dilma-com-agronegocio-emperra-reforma-agraria.html
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