terça-feira, 17 de junho de 2014

SOBRE O PERIGO FASCISTA NO BRASIL:


17 JUNHO 2014 
Conversando com Frei Betto
Paulo Oliveira*
Frei Betto, num pequeno ensaio, repercute a onda midiática petista: votar em Dilma é votar contra o fascismo que ronda o Brasil.
De início, ao descrever a ascensão da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu, o decantado frei começa sua análise demonstrando que seus sonhos de liberdade do passado se transformaram em pesadelos pós-modernos. Melhor transcrever as assertivas do frei: “A queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias”. Portanto, quem está soterrado precisa de ar para respirar, senão morre. E este ar viria de onde? Do voto em Dilma, contra o fascismo que se avizinha. O frei não explicita é que, dentro da tão propalada “democracia brasileira”, o voto em Dilma vem num pacote que contém Sarney, Collor, Renan Calheiros, Maluf.
Continuando, nosso assustado frei constata: “A esquerda europeia foi cooptada pelo neoliberalismo”. Somos informados por frei Betto que os partidos socialistas de Portugal, da Espanha, da Grécia, eram partidos de esquerda. Talvez a distância geográfica tenha turvado a visão de nosso ensaísta, que poderia se valer das modernas mídias para saber que tais citados partidos de há muito, mais precisamente, até antes da crise de 2008, já se alinhavam dentre as formações políticas que procuravam uma “solução mais humana” dentro dos limites do capitalismo.
E prossegue o frei, falando do Velho Mundo: “...não há nenhuma força política significativa capaz de apresentar uma saída ao capitalismo”. Na primeira parte do pensamento exposto há um vício de análise, próprio dos comentaristas políticos burgueses que somente consideram significativas as ações daquilo que eles denominam de política, isto é os feitos e os “mal feitos” dos PMDB, dos PT, dos PSDB da vida. Numa vesguice política, o frei não leva em consideração as diversas manifestações e greves que os povos da Europa continuam fazendo, resistindo às agressões capitalistas, greves e manifestações, essas sim significativas.
Na segunda parte, a incapacidade de haver força política capaz de apresentar uma saída ao capitalismo. Os povos da Europa, principalmente nos países mais atingidos pela crise, como Grécia, Portugal e Espanha, já começam a se transformar nessa força política que frei Betto não é capaz de enxergar. Talvez a saída não seja do agrado do frei: pela via real do socialismo, rumo ao comunismo.
Agora, o trecho brasileiro do pequeno ensaio. Deixemos falar o frei: “Aqui no Brasil nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um futuro alternativo a esse sistema (capitalista)...”. Bem, quanto a nós do PCB, resta uma recomendação ao equivocado frei: a leitura de nossos textos, resoluções, notas políticas.
Após considerações sobre as experiências fascistas europeias no século XX, frei Betto se interroga: “Caminha-se de novo para o fascismo?”. E cita o escritor venezuelano Luís Britto Garcia, que frisa: “...uma das características marcantes do fascismo é a estreita cumplicidade entre o grande capital e o Estado”. Neste momento nosso indigitado frei parte para o suicídio analítico. Quem lê a frase do intelectual venezuelano, e olha para o panorama sócio-econômico e político do Brasil, vai identificar o grande capital no Bradesco, no Itaú, na Odebrecht, na Gerdau, no Grupo Votorantim, somente para exemplificar. E do lado do Estado? BNDES, Banco do Brasil, Caixa, todos cumprindo as diretrizes do Palácio do Planalto e sua Esplanada dos Ministérios, numa cumplicidade explícita com o sistema capitalista nacional e estrangeiro.
Por último, o frei revela sua verdadeira intenção nas frases finais: “Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.” No Brasil, o PARTIDO DOS TRABALHADORES, formação política de escolha de frei Betto, está há 12 anos governando com o escancarado apoio do grande capital. O mesmo grande capital que foi decisivo no golpe de 1964 e que financiou a famigerada Operação Condor e os porões dos centros de tortura da ditadura.
Assim, é uma falsa questão colocada pelo frei: Dilma ou o fascismo. Desde 2002, ao endossarem a Carta aos Brasileiros os intelectuais petistas, alguns por ingenuidade política, outros por má fé, continuam brincando com o ovo da serpente.
Sabemos, por experiência própria, que frei Betto pode ser tudo, menos ingênuo.
*Paulo Oliveira é Secretário Político do PCB-RJ e membro do CC

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