domingo, 8 de junho de 2014

PCB presente na comemoração dos 50 anos das FARC-EP na Venezuela




Stefano Motta (*)
Como parte do firme compromisso do PCB com o internacionalismo proletário e a solidariedade internacional com os povos que lutam contra o imperialismo e a barbárie capitalista, nosso partido participou da atividade de comemoração dos 50 anos de fundação das FARC-EP, Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejercito del Pueblo, realizada em Caracas.
Foi uma atividade de solidariedade cheia, emocionante e muito importante politicamente, pelo papel chave que joga hoje o conflito colombiano no cenário politico latinoamericano. Hoje o futuro da América Latina está sendo jogado na luta do povo colombiano e venezuelano contra as oligarquias locais e o imperialismo e nos diálogos de paz entre as FARC-EP e o governo colombiano em Havana. Assim, foi importante que, desde a Venezuela, desde um teatro e uma praça publica de Caracas lotados de lutadores sociais de vários países pudéssemos mostrar ao mundo inteiro aquilo que o mesmo Estado terrorista, fascista e paramilitarista da Colômbia foi obrigado em reconhecer, que as FARC não são nenhuma organização terrorista mas sim uma força politica encarnada no povo colombiano que defende um projeto politico do qual nos sentimos parte, projeto da classe trabalhadora colombiana contra os interesses oligárquicos e imperialistas.
A atividade se desenvolveu em vários momentos ao longo do dia, entre o Teatro Cantaclaro, na sede do Partido Comunista de Venezuela, um dos principais organizadores da atividade junto com o Movimento Continental Bolivariano, e o 23 de Enero, conjunto de favelas bastião da revolução, de onde desceu em 2002 o povo a resgatar Chávez e derrotar o golpe de estado. A celebração começou no Teatro Cantaclaro com uma apresentação fotográfica e de vídeos em que pôde-se dar a conhecer a história e o trabalho politico das FARC ao longo desses 50 anos. À continuação, se realizou um ato político, no mesmo teatro lotado, com a intervenção de varias organizações politicas venezuelanas e de outros países, entre outras a do nosso partido que reportamos abaixo, com uma linha politica unificada de apoio firme à insurgência, a sua forma de luta e ao projeto politico por esta defendido, assim como de crítica forte ao reformismo e à aquela esquerda que de forma irresponsável pede às FARC que deponha as armas.
No mesmo ato houve a participação em videoconferência (https://www.youtube.com/watch?v=FMYrYZoLPaE&feature=share&list=PL4BUlQBKuHemBgA5JEUAimjdyGknZDO04) da comandância das FARC através de seu Comandante e chefe da delegação de Paz, Ivan Marquez, que saudou a emocionante atividade que estávamos realizando em Caracas e enviou uma mensagem sobre o atual momento histórico que se vive hoje em Colômbia. O Comandante Marquez destacou a importância desse atual momento onde as FARC e o povo colombiano estão travando a batalha decisiva e mais importante dos últimos 50 anos, chamando a unidade dessas forças para integrar uma frente ampla e um sólido bloco de poder que permita exercer o direito de ser governo. Sobre os diálogos de paz em Havana, relatou que as bandeiras radicais contra a injustiça se mantem vivas e fortalecidas pelo forte movimento popular que enche hoje as ruas colombianas. Também que estamos frente a uma disjuntiva, que antes a situação de crise em todo os níveis que vive hoje Colômbia, ou se produzirá a consolidação do regime fascista e de suas políticas neoliberais ou entraremos num processo constituinte capaz de produzir uma força social para uma transformação radical da Colômbia. Sinalizou a necessidade de lutar por uma Assembleia constituinte como condição para refundar o Estado colombiano mas ao mesmo tempo destacou um elemento importante, que manda um recado àquelas forças politicas presas a uma fé nas constituições, nas leis e as reformas politico-jurídicas do Estado burguês: “nossa visão de pais não está limitada a uma nova Constituição”, assinalou Marquez, e chamou à criação de um processo constituinte que não termine nos marcos da Assembleia mas que encontre nela um lugar para potencializar o bloco de poder revolucionário e levar a luta a um outro patamar, num contexto caracterizado pela continuidade do conflito e do antagonismo de classe. Essas reflexões limpam o terreno de visões oportunistas sobre a paz que utilizam esse termo com fins eleitorais e nos lembram que só conseguiremos a paz com a extinção das classes, o que supõe muita luta e enfrentamento dos trabalhadores ao poder burguês. Finalmente o Comandante Marquez apresentou a plataforma programática que as FARC foram construindo junto com as diferentes organizações populares colombianas: 1) democratização real e participação na vida social; 2) reestruturação democrática do Estado; 3) desmilitarização da vida social; 4) desmonte dos poderes mafiosos e das estruturas narcoparamilitares; 5) justiça para a paz e materialização dos direitos das vitimas do conflito; 6) desprivatização e desmercantilização das relações econômico-sociais; 7) recuperação socioambiental dos recursos naturais e reapropiação social dos bens comuns; 8) reorganização democrática dos territórios urbanos e rurais; 9) novo modelo econômico e instrumentos de direção da economia para o bem-estar e bom viver; 10) reestabelecimento da soberania e integração da Nuestra America.
Sucessivamente, a atividade teve continuidade numa praça publica no 23 de Enero, num clima de festa, com a apresentação de vários grupos musicais e a participação de vários coletivos e organizações populares das favelas que foram e são ainda hoje chave para a consolidação de um poder popular revolucionário e comprometido com a radicalização do processo venezuelano para a transição ao socialismo: entre outras, lembramos algumas dessas organizações como o Movimento Tupamaru, o Coletivo Alexis Vive, o Coletivo Fabricio Ojeda, a Coordenadora Simon Bolivar, a Radio “Al son del 23” com as quais nosso partido estabeleceu ótimas relações de solidariedade. Fomos já convidados duas vezes em programas de rádio da “Al son del 23” e em um cine-forum e esperamos manter e fortalecer nossos laços de solidariedade com todas essas organizações revolucionárias do povo venezuelano e colombiano com as quais, hoje mais do que nunca, precisamos reforçar nossa ação internacionalista.
Intervenção do PCB no ato político
Companheiros presentes, lutadores sociais e militantes das diferentes organizações revolucionárias recebam um forte, cálido e solidário saludo de parte do Partido Comunista Brasileiro. É para nós um grande orgulho participar desse importante ato de comemoração dos 50 anos das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – Ejercito del Pueblo. O que celebramos hoje são os 50 anos de luta heroica do povo colombiano, 50 anos de uma guerrilha encarnada em seu povo e com um claro projeto político, projeto do qual nos sentimos parte, o da superação de toda forma de exploração humana e opressão e a construção do socialismo, a superação da ordem capitalista que na Colômbia assume as facetas mais fascistas e barbaras.
Não quero me estender em minhas palavras, pois gostaria de ler uma mensagem do nosso Secretário Geral do Partido Comunista Brasileiro, assim como membro da Presidência Coletiva do Movimiento Continental Bolivariano, Ivan Pinheiro:
Viva o cinquentenário das FARC-EP
As comemorações pelo aniversário de 50 anos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –Exército do Povo (FARC-EP) coincidem com um momento em que ocorrem os Diálogos de Havana, em que a insurgência e o governo colombiano buscam caminhos para uma solução política para o conflito militar e social que marca esse país desde muito antes da constituição formal da guerrilha.
Surgiu como consequência da necessidade, muitos anos antes, que os camponeses colombianos tiveram de criar organizações de autodefesa armada, para enfrentar a violência dos latifundiários e da oligarquia colombiana na defesa de suas famílias, seus lares e suas pequenas lavouras que garantiam o seu sustento. Surgiu na esteira do assassinato do líder da luta contra os conservadores,o liberal Jorge Eliézer Gaitán e a consequente grande revolta popular que ficou conhecida como El Bogotazo, em 1948.
Na primeira década do presente século, o imperialismo e a oligarquia a seu serviço coincidiram em montar contra as FARC um aparato militar sem precedentes em nosso continente. Haviam resolvido exterminar a insurgência a qualquer custo e fazer da Colômbia um bunker militar na região, para exercer papel semelhante ao que Israel desempenha no Oriente Médio e seu entorno.
As Forças Armadas colombianas chegaram a um contingente de 400 mil efetivos; os Estados Unidos instalaram sete bases militares no país e o transformaram num dos principais destinos da “ajuda militar” norte-americana. O estado terrorista colombiano criou e armou bandos paramilitares, assessorou-se de agentes da Cia e do Mossad. Foram assassinados centenas de militantes dos movimentos sociais, expulsos de suas terras dezenas de milhares de camponeses. Até hoje, são mantidos 9.500 presos políticos no país.
Mas esse macabro plano do imperialismo fracassou. As FARC sobreviveram. Apesar de algumas perdas significativas, como a morte natural do Comandante Manuel Marulanda Vélez, o covarde assassinato de Raul Reys e as perdas em combate dos comandantes Jacobo Arenas, Ivan Rios, Alfonso Cano, Jorge Briceño e de centenas de heroicos guerrilheiros e guerrilheiras, a insurgência não se abateu. Resistiu de forma organizada e impôs duras baixas aos inimigos, mostrando se tratar de uma organização enraizada na massa, firme ideologicamente e com direção política coletiva. Entre perdas e ganhos em duras batalhas, mantém-se invicta na guerra.
O fato de o estado colombiano procurar sentar-se à mesa, em Havana, com uma delegação oficial das FARC significa o reconhecimento de sua força e da impossibilidade de resolver o conflito pela via militar. Em toda a história – e o Vietnã é o maior exemplo – o imperialismo e a burguesia só negociam com os que não se deixam derrotar.
Com o advento dos diálogos, as FARC se transformaram em porta-voz da pauta dos trabalhadores e proletários colombianos, o que contribuiu para o ressurgimento e crescimento do movimento de massas mais expressivo da história da Colômbia, quiçá da América Latina. O imperialismo e as oligarquias colombianas, ao que parece, fizeram um cálculo errado, achando que a guerrilha estava derrotada e a ponto de depor suas armas. Achavam que conseguiriam uma paz rápida e sem custos sociais, econômicos e políticos. E que depois exterminariam os insurgentes e militantes políticos e sociais, como fizeram nos anos 80, no genocídio da União Patriótica, quando o estado burguês traiu o acordo de paz que havia firmado.
A vitória do povo colombiano, no rumo ao socialismo, não depende do resultado eleitoral deste dia 25 de maio, mas da manutenção da capacidade de resistência das guerrilhas e da organização e do protagonismo das massas populares.
O PCB tem militado no apoio internacionalista à luta do povo colombiano, por entender que nesse país se joga uma batalha decisiva contra o imperialismo e pelo futuro da América Latina.
Ivan Pinheiro
Secretário Geral do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e membro da Presidência Coletiva do MCB (Movimento Continental Bolivariano)
Para terminar, queria ler um poema de outro heroico guerrilheiro e poeta salvadorenho, Roque Dalton; um poema que gostaríamos dedicar a todos os heroicos guerrilheiros e lutadores sociais que caíram nesses 50 anos de luta contra o Estado terrorista colombiano e para a construção de uma nova sociedade. Sabemos que suas mortes não foram em vão e que seu exemplo de luta refloresce todos os dias nos milhares de combatentes que hoje enchem as ruas e as montanhas da Colômbia.
El Descanso Del Guerrero
Los muertos están cada día más indóciles.
Antes era fácil con ellos:
les dábamos un cuello duro una flor
loábamos sus nombres en una larga lista:
que los recintos de la patria
que las sombras notables
que el mármol monstruoso.
El cadáver firmaba en pos de la memoria:
iba de nuevo a filas
y marchaba al compás de nuestra vieja música.
Pero qué va
los muertos
son otros desde entonces.
Hoy se ponen irónicos
preguntan.
Me parece que caen en la cuenta
de ser cada vez más la mayoría.
Companheiros combatentes caídos na luta…. presentes, presentes… agora e sempre!!!
Que Viva a heroica luta do povo colombiano!!! Que Viva os 50 anos das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia!!!
(*) Stefano Motta é militante do PCB do Rio de Janeiro

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