Fátima Lacerda (jornalista da APN), Rio de Janeiro, 4 de setembro de 2013
Mesmo admitindo que as gravíssimas denúncias de espionagem por
agências estadunidenses (NSA e CIA), a ela e ao presidente do México,
tinham como alvo o petróleo, até o momento a presidenta da República do
Brasil Dilma Rousseff não aventou a possibilidade de suspender o leilão
de Libra ou a participação das petrolíferas dos Estados Unidos no
leilão. Ao contrário.
A Agência Nacional de Petróleo (ANP) preferiu burlar a lei a correr o
risco de adiar o 1º Leilão do Contrato de Partilha, marcado para 21 de
outubro. A notícia da confirmação do leilão pelo ministro das Minas e
Energia, Edson Lobão, foi divulgada antes que o Tribunal de Contas da
União (TCU) autorizasse a licitação, contrariando a legislação em
vigor. O ministro justifica, em entrevista concedida ao jornal O Globo,
que “o TCU não teria sugestão, observação ou crítica a fazer, portanto,
está tudo dentro dos conformes”.
Não é o que afirmam os autores de uma representação protocolada no
TCU em 30 de agosto e entregue em mãos ao relator do processo, ministro
José Jorge, e ao presidente do Tribunal, Ministro Augusto Nardes. O
documento é assinado pela Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet)
e pelo Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro
(Sindipetro-RJ) . Em três páginas, lista várias irregularidades contidas
no edital. Portanto, seria prematuro adiantar a posição do órgão
fiscalizador, como fez Lobão, antes da apreciação do recurso e da
posição oficial dos ministros.
Em síntese, são questionadas partes do contrato que estão em
desacordo com o modelo de partilha aprovado pelo Congresso. A primeira
objeção trata do ressarcimento do bônus de R$ 15 bilhões, pelo governo
brasileiro, ao consórcio que vencer o leilão: “Significa que o bônus
será abatido da parcela que o consórcio vai pagar à União, o que fere a
Lei 12351/2010” – diz o documento.
O segundo e o terceiro questionamentos foram antecipados na semana
passada pelo Brasil de Fato: no edital, a ANP introduz uma variação de
percentual, determinada em função da produção e do preço do barril no
mercado internacional, que é “altamente favorável aos consórcios e
prejudicial à nação brasileira” – dizem os autores da denúncia. De
qualquer forma, essas condições variáveis não estão previstas na lei.
Terceira irregularidade: a União também terá que devolver à
petrolífera que vencer o leilão o valor destinado ao Fundo Social, o que
igualmente não está na lei. Ao todo, a representação da Aepet e do
Sindipetro-RJ ao TCU lista nove razões que fundamentam a necessidade de
se anular o edital de licitação de Libra. A íntegra do documento está
disponível em www.apn.org.br (Razões para Anular o Leilão de Libra)
Diante disso, cabe perguntar por quê tanta pressa em garantir a data
da licitação e a validade de um edital provavelmente negociado com as
petrolíferas que vão concorrer ao leilão. Por que a pressa em
entregar Libra, que teria reservas estimadas em mais de um trilhão de
dólares e está sendo oferecido por 15 bilhões de reais, a serem
ressarcidos em suaves parcelas ao comprador (conforme edital da ANP)?
Por que 21 de outubro, dois dias antes do encontro marcado, nos Estados
Unidos, entre Dilma e Obama?
Cabe a contestação do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que vai
integrar uma comissão formada no Senado para apurar a espionagem dos
Estados Unidos ao Brasil: se o objetivo do governo americano era obter
ilegalmente dados que pudessem favorecer suas empresas em disputas
comerciais, o governo brasileiro deve deixar as empresas ianques fora de
disputas, como a venda de caças ao Brasil e a concorrência pela
exploração do Campo de Libra
Nenhum comentário:
Postar um comentário