sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Guerra e Paz no Mediterrâneo Oriental / Oriente Médio

11 SETEMBRO 2013 
D. Khaled HADADAH – Secretário Geral do Partido Comunista Libanês
A crise estrutural em que o capitalismo global está imerso há mais de uma década - e mais precisamente no ano de 2012 - foi uma das mais mortais, mas também mais importante para o mundo árabe e para o Oriente Médio.
De fato, durante esta década, as guerras imperialistas (inclusive israelenses) no Iraque, Afeganistão, Líbia, Líbano e Palestina fizeram milhões de mortes e dezenas de milhões de pessoas flageladas e deslocadas à força, para não mencionar a destruição de cidades e de infra-estrutura. Mas, ao mesmo tempo, este período foi o das revoltas populares no Egito, na Tunísia, bem como em todo o Golfo Pérsico, contra os sistemas oligárquicos totalitários e ditaduras que, desde o fim da II Guerra Mundial, pressionaram os povos em nome de uma economia rentista e da subserviência completa ao imperialismo, particularmente ao imperialismo dos EUA.
A economia rentista é baseada principalmente em petróleo e gás, as duas fontes de energia mais usadas atualmente e, deve-se dizer que, para o nosso infortúnio, o solo do mundo árabe e as águas do Mediterrâneo Oriental possuem essas riquezas energéticas. Da mesma forma, o Canal de Suez, que era a principal rota desses preciosos recursos, agora está duplicado e, após a dissolução da União Soviética, a segunda rota em que concorrem Estados Unidos e Rússia - ou seja, a rota que pode levar o petróleo russo e de ex-repúblicas soviéticas para a Europa – foi objeto de numerosas guerras levadas a cabo por Washington, ajudado pela aliada Turquia, tanto na Chechênia, entre a Geórgia e a Ossétia do Sul, como agora na Síria e outra vez, quem sabe, no Líbano e nos territórios palestinos ocupados.
Para este fim, os Estados Unidos, desde a presidência de George Bush pai, não economizou recursos. Eles têm atualizado um projeto antigo do Secretário de Estado Henry Kissinger denominado "Grande Oriente Médio", que tornou-se, alguns anos mais tarde, em 2006, quando o Exército israelense bombardeava o Líbano, o "Novo Oriente Médio". Este, como bem definiu Condoleezza Rice,  só poderia ser posto em prática mediante a dor de nosso povo. Este projeto baseia-se no uso de divisões internas, especialmente religiosas e confessionais, a fim de implodir o mundo árabe em mini-Estados em guerra e facilitar o roubo da riqueza árabe.
Além disso, e por causa do fracasso da guerra contra a resistência libanesa, era preciso restaurar a posição de Israel como ponta de lança do imperialismo na região, mas também destruir o último exército árabe que permanece fora do mapa imperialista, justamente o da Síria. Para fazer isso, um novo projeto é implementado: a transformação de Israel em Estado judeu por todo a região e a liquidação da causa palestina, a partir da liquidação da Resolução 194 das Nações Unidas, que estabelecia o direito de retorno dos refugiados palestinos e a recuperação de suas terras. Projeto este reforçado pela tentativa de colocar em marcha, com a ajuda da Arábia Saudita e do Qatar, um movimento islamista na liderança dos países árabes que tentam libertar-se da supervisão conjunta dos imperialistas e da burguesia local que lhe é subserviente.
Assim, a fase atual da guerra no Oriente Médio tem um objetivo quádruplo:
- O primeiro é acabar com a segunda fase do projeto “Novo Oriente Médio”, ou seja, a derrubada da Síria e do Líbano.
- O segundo é de liquidar a causa palestina.
- O terceiro é de retomar em suas mãos a situação do Egito e recolocar em evidência a Irmandade Muçulmana, fazendo assim do Egito,  depois da Turquia e do Paquistão, o terceiro Estado do Oriente Médio a se basear numa ditadura militar-muçulmana sunita, capaz de assim conter a expansão militar-muçulmana xiita do Irã - que deve ser debelada segundo as determinações da administração estadunidense - antes que esta possa irradiar-se por muitos países árabes, sobretudo diante do exemplo do que se passa agora no Iraque e não indica nada de bom para Washington e seus “amigos” na região.
- O quarto visa impedir que a Rússia se torne a líder de um segundo pólo internacional que poderia exigir "sua parte" na nova divisão do mundo, como resultado do fracasso dos últimos 23 anos da política hegemônica do imperialismo global dos EUA.
Hoje, o Mediterrâneo Oriental, como o Golfo Pérsico há uma década atrás, se transformou em um arsenal onde pululam os navios de guerra e onde a menor explosão pode levar a uma nova guerra mundial... sem esquecer das armas de contaminação química e nuclear. E os riscos de guerra estão aumentando a cada dia diante dos nossos olhos.
A humanidade está ameaçada em sua própria existência. Toda a humanidade, e não somente os povos da nossa região; e tudo isso para possibilitar que uma ínfima minoria possa garantir seus interesses e obter ganhos.
Há quase cem anos, a Primeira Guerra Mundial, saída de uma outra crise capitalista, havia devastado o mundo, sendo logo seguida pela ascensão do nazismo e do fascismo que destruiu o planeta.
Novamente, os povos estão enfrentando o mesmo flagelo. E enquanto os governos consideram normal matar mais de 100.000 pessoas na Síria e se revoltam apenas quando se trata de armas químicas, enquanto eles acreditam e tentam convencer o seu povo, mais uma vez após a Bósnia e o Iraque, que eles não têm nada a ver com o terrorismo e que apenas os pequenos ditadores (que eles tinham apoiado por um tempo muito longo) são os únicos culpados, serão as massas populares que irão sofrer: morte e destruição por um lado,  desemprego e marginalização, por outro.
A única maneira de acabar com a escória imperialista é a classe trabalhadora internacional e os povos do mundo se unirem para deter o avanço imperialista e tomar o controle de seu destino. Uma sociedade sem discriminação ou exploração, uma sociedade sem guerra está a ser construída. No entanto, todos os meios devem ser usados para prevenir a guerra. As ruas são nossas.
Fonte: solidnet
Tradução: PCB (Partido Comunista Brasileiro)

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